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27 de julho de 2019

Outros tempos, outros olhares - 1




Outros tempos, outros olhares. Algumas coisas, inalteradas, outras nem por isso. É o caso destes olhares no início dos anos 80 em que a nossa igreja matriz não tinha na sua frente a actual alameda nem ao lado a capela mortuária, antes um sanitário incaracterístico.
Na foto de baixo, também algo mudou, neste caso o cruzeiro bem como os muros e acessos ao campo próximo.
Guardamos muitas coisas na nossa memória mas as fotografias, sejam a cores ou sem elas, ajudam a definir essas recordações, esses olhares.

25 de outubro de 2018

Bem a mim que és pequenino


Foto de meados de 1965. Nem mais nem menos que os irmãos Benjamim e Manuel. A foto foi naturalmente tirada pelo tio de ambos, Pe. Francisco. 
Benjamim, que chegou a padre, é o mais pequenito agarrado à mão direita da mãe. Nasceu a 28 de Agosto de 1963 pelo que na data da foto teria por isso à volta dos dois anitos.
Para além de tudo, repare-se que o adro já tinha os canteiros e arbustos já com bom tamanho, tendo os mesmos sido plantados pelo final dos anos 50. Também se percebe que o salão paroquial estava já concluído.
Uma fotografia pode contar-nos uma história ou mesmo várias. Depende sempre do ponto de vista.

11 de outubro de 2018

Parecendo que não, de hoje a um mês é S. Martinho




Ufa! Como corre o tempo. Ainda ontem marchava a procissão no Viso e daqui a um mês já anda o S. Martinho a dar castanhas e vinho. 
Talvez por isso, talvez por perceber que estas raparigas guisandenses (Juventude da Acção Católica Feminina) dançavam alegres à roda da fogueira e das castanhas, num Magusto de 1957, e de lá para cá voaram mais de 50 anos,  percebe-se que a vida são mesmo dois dias.

10 de outubro de 2018

Coralistas


E com apenas nove mulheres se cantavam glórias e hinos de louvor na igreja de Guisande. Era assim, por meados de Agosto do já distante ano de 1953, o nosso Grupo Coral. Reconheço uma ou outra, como a já falecida Srª Lúcia, em cima ao meio.
A avaliar pela fotografia, certamente num momento de convívio com piquenique, já que por ali se vêem melões,  regueifas e uma garrafa (já vazia ou ainda cheia ?). Na cesta, certamente mais alguma coisa.

28 de setembro de 2018

Olha o passarinho...


Esta fotografia de 16 de Junho de 1955, é porventura, das conhecidas, uma das mais antigas relacionada à nossa igreja matriz e zona envolvente a norte e nascente, com o adro e a residência paroquial. Como se poderá perceber, foi tirada a partir de um terraço da casa da família do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, então conhecida como Casa do Sr. Moreira (sogro do Dr. Joaquim Inácio).
Pode-se observar vários pormenores, desde logo as árvores que existiam no adro, como a famosa e frondosa cerejeira, abatida em 1 de Dezembro de 1956, de que já falamos aqui. Também uma oliveira na parte mais central, à direita Por essa altura o adro estava ainda despido quanto aos arbustos que foram plantados em fase posterior, pelo início dos anos 60..
Ainda os pormenores interessantes da residência paroquial, nomeadamente a pintura da chaminé original (esta posteriormente demolida e edificada em seu lugar uma mais pequena, aquando de obras na cozinha) bem como um lambrim igualmente em pintura. Não o sabendo, seria natural que fosse em tom azulado.
Ao fundo, percebe-se ainda a antiga Casa dos Mordomos, que anos depois, no princípio dos anos 60, seria demolida parcialmente para dar lugar ao actual Salão Paroquial.
Por todos os aspectos que dela se podem obter, esta foto é em si mesma um importante documento e testemunha de um passado já algo distante (63 anos).

Abaixo a foto com a indicação do local onde foi obtida a foto de cima


Abaixo a foto com a vista geral do local, na actualidade, percebendo-se a ausência da referida chaminé existente na residência paroquial em 1955.



27 de setembro de 2018

E a mocidade de Guisande foi à praia


Verão de 1967. Parecendo que não, já passaram mais de 50 anos, meio século sobre o momento aqui retratado. Nesse Verão  parte da boa mocidade guisandense foi  a banhos, pelo menos molhar os pés. 
Infelizmente alguns dos aqui retratados já são apenas saudade. Curioso o pormenor de apenas dois homens entre onze mulheres. Se não me engano, o da esquerda é o Sr. José Santos, da Lama (ou talvez não) e o da direita parece-me falecido Sr. António Gomes, marido da Celeste Fonseca (ao seu lado esquerdo), de Cimo de Vila. 
Repare-se que por detrás deste grupo em pose quase de equipa de futebol, estão mais alguns "artistas", certamente também de Guisande. Claro que neste grupo há por ali muita gente conhecida, como a já falecida Lucinda Monteiro, mas fica o suspense para quem dos mais velhos quiser identificar as demais figuras.
Saudades!

10 de setembro de 2018

Saudades


Parece que foi ontem, mas já quase há 30 anos (15 de Agosto de 1989), aquando das Bodas de Ouro Sacerdotais do Padre Francisco Gomes de Oliveira. Em todo o caso, nesta correria que é o tempo, das pessoas aqui fotografadas três já partiram deste mundo (Padre Francisco, Germano Gonçalves e Elísio Mota). 
Os vivos, esses naturalmente entre nós, mas já mudados e moldados com a carga própria de três décadas, porque o tempo esse é democrático e envelhece tanto crianças como adultos, tanto presidentes de junta como de câmara. 

8 de abril de 2018

Meninos, é hora do recreio


Muitos recordarão esta cena e este local. Muitos outros, os mais novos, seguramente não. Mas trata-se, julgo, de um fotografia  dos anos 50, da Escola do Viso, junto ao recreio do lado nascente. Pelo aspecto da brincadeira, seria em tempo de magusto pois vê-se a pequenada, alguns de pés descalços, à roda da fogueira. Curiosamente apenas se veem rapazes, o que não é de admirar pois por esses tempos, os rapazes tinham uma sala (lado nascente) e as raparigas outra sala (lado poente) e não havia misturas, pelo que o mais provável é que do outro lado do recreio também as meninas estivessem a ter o seu magusto. 
Obviamente que hoje o local está muito mudado. Se o edifício principal ainda existe, embora incorporado no Centro Social, e já, infelizmente, sem a função de escola, toda aquela zona do recreio alpendrado, com as características colunas em "tijolo burro", foi demolida e agora só apenas em algumas escassas fotografias e sobretudo no álbum de memórias  na cabeça de muitos e muitos guisandenses que por ali passaram e aprenderam as primeiras (e últimas) letras. Afinal de contas, a cavalgada do tempo.

Adenda 1: Já depois desta publicação e partilha no Facebook, ali alguém perguntou se a professora aqui de costas, seria a D. Célia Azevedo. Sem ter certezas, até porque esta fotografia em princípio será dos anos 50, mas sem confirmação se da primeira ou segunda metade, respondi que tenho indicações que não será a Prof.ª Célia Azevedo, já que esta terá começado ali a leccionar apenas pelo início dos anos 60.
Assim, e estando de costas, o que não ajuda a identificação, poderá ser a Prof. Noémia, que ali deu aulas nos primeiros tempos, ou ainda a Prof.ª Georgina, que por ali também leccionou nos anos 50. Mas, dependendo da real data da fotografia, não está posta de parte a possibilidade de ser a Prof.ª Célia, logo no início da sua actividade. É uma interessante dúvida e que certamente havemos de resolver. Ainda por esses tempos também ali leccionou a Prof.ª Balbina, a qual em Guisande conheceu e veio a casar com o Custódio da Casa do Santiago.
É claro que durante todo o tempo em que funcionou como tal a escola primária do Viso, foram muitas as professores e professores que ali passaram. Pela parte que me toca, mesmo tendo nascido quase à sombra da escola, apenas ali leccionei a primeira classe, seguindo depois para a então recente escola primária da Igreja onde completei o ensino primário. Nessa minha primeira classe tive como professora a D. Lúcia, de Gião, ainda minha parente. Esta professora leccionou ainda durante vários anos em Guisande.

Adenda 2 - Lançada a curiosidade sobre a eventual identificação da professora que na foto acima aparece de costas e, mais do que isso, sobre o interesse histórico e documental, conversei pessoalmente com a Prof.ª D. Célia Azevedo, a qual, sem prejuízo de uma futura conversa com mais calma e mesmo biográfica, deu algumas interessantes informações. Desde logo que acabada a sua formação iniciou a sua carreira de professora precisamente na Escola Primária do Viso. Começou no dia 1 de Outubro de 1960 e por ali andou até 1970, altura em que passou para a então novinha Escola Primária da Igreja, onde leccionou mais 23 anos, por isso com uma carreira de ensino de 33 anos.
Nesse começo na Escola do Viso, dava aulas aos rapazes na parte da tarde enquanto que as raparigas tinham como mestra a professra Noémia, natural de S. Roque - Oliveira de Azeméis (que viverá actualmente em Milheirós de Poiares).
Por sua vez, na parte da manhã eram professoras A D. Brilhantina Porto, de Louredo e Maria Balbina, a tal que veio a conhecer e a casar com o Custódio da Casa do Santiago, das Quintães.
A professora Georgina, natural do Porto, muito falada entre os mais velhos, foi de facto a primeira a leccionar na Escola do Viso, logo após a sua construção, por isso aproximadamente de 1950 até quase 1960.
É certo que, como já dissemos, pela Escola do Viso foram passando muitas professoras ao longo dos anos, mas a D. Célia do seu tempo no Viso recorda-se também de professoras como a D. Fernanda,  de S. João de Ver, a Alcinda, essa sim, filha do professor Cabral, de Duas Igrejas - Romariz e ainda de uma colega a quem a rapaziada, pela forma muito disciplinadora, com muitos castigos à mistura, chamavam de "Preta". Na altura da nossa conversa não tinha a memória fresca quanto ao seu nome, mas com uma ideia de que se chamaria Fernanda, vinda de Grijó - Vila Nova de Gaia.
Aos poucos procuraremos aprofundar mais esta questão, mas penso que algumas peças do puzzle estarão já encaixadas.

5 de março de 2018

A alegre casinha

Creio que todos reconhecem a casa abaixo retratada. Trata-se da casa do Ti Pereira, no lugar do Viso, ao lado da capela, actualmente propriedade de herdeiros. Entre uma e outra fotografia, passam quase sessenta anos. A primeira foi retratada num dia 4 de Agosto de 1958, um sábado de Festa do Viso e a segunda tem dias.
Na foto de 1958, a casa tinha acabado de ser construída, mas ainda faltava parte do muro de vedação á face do então caminho bem como portões e grade no muro. Esse muro em falta foi feito de seguida e anos mais tarde demolido para possibilitar o alargamento da rua e construção de passeio. Curiosamente, também na parte nascente do prédio, nessa altura existia um espigueiro implantado à face do caminho e que também acabou por ser demolido para permitir o alargamento. Apesar disso, manteve-se o muro em alvenaria de granito defronte da casa, em harmonia com a arquitectura desta.
As fotografias de um mesmo local em diferentes épocas podem dar-nos este ar de surpresa decorrente da transformação das coisas e dos sítios, quase como um passe de mágica.
A casa na actualidade está com bom aspecto até porque foi recentemente alvo de obras de conservação por parte do actual proprietário.



28 de fevereiro de 2018

Bate leve, levemente




As notícias de hoje, 28 de Fevereiro, dão conta de fortes nevões que estão a assolar muitos países europeus, incluindo Portugal, sobretudo nas regiões montanhosas do norte e centro, afectando cidades como Bragança, Vila Real, Guarda, entre outras.
Por cá, a neve ainda não caiu e não é expectável que caia, mas, sendo rara, não é novidade em Guisande, como aconteceu nomeadamente em 3 de Fevereiro de 1963, num sábado, como demonstram as fotos antigas que aqui trazemos à memória. Vê-se a zona da igreja matriz  e adro cobertos desse sempre belo manto branco tecido pela mãe-natureza.  Recém nascido, obviamente que não assisti e foi preciso esperar mais vinte e um anos, no Carnaval de 1984 para ver a neve a cair em Guisande e redondezas com alguma significância.


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

(...)
A Balada da Neve - Augusto Gil

26 de fevereiro de 2018

Perceber da poda


Fotografia de final dos anos 60. O nosso saudoso pároco, Pe. Francisco Oliveira, a podar os belos arbustos que o mesmo plantou uns anos antes.
Pessoalmente, embora anos mais tarde, ainda me recordo desta cena pois era frequente ver o Pe. Francisco a tratar carinhosamente dos seus arbustos, dando-lhes pacientemente a forma desejada. Neste mesmo arbusto, uns anos mais tarde esculpiu umas letras, como mostrarei um dia destes.
Infelizmente, esta saudosa cena jamais se repetirá, porque tanto o Pe. Francisco como os arbustos já não existem, mas apenas na nossa memória. Ora esta não se apaga, tanto mais que reforçada com estes raros apontamentos fotográficos.

24 de outubro de 2017

24 de Outubro de 1954–Inundação na ribeira da Mota

foto_antiga_queda_ponte_lavandeira[4]

Hoje, dia 24 de Outubro de 2017 tivemos um dia quase de Verão, com céu azul e temperatura bem alta. Mas se recuarmos no tempo, mais precisamente 63 anos, por isso a 24 de Outubro de 1954, abateu-se sobre a nossa freguesia de Guisande e freguesias vizinhas, sobretudo do lado sul e poente, como Pigeiros, Caldas de S. Jorge, Fiães e Lobão, uma chuva forte e persistente, designada de tromba-de-água, que em poucas horas, naquele Domingo de manhã, galgou as margens da ribeira da Mota, arrastando dos campos, com a sua impetuosidade, toda a vegetação e medas de palha ou de canas de milho. 

Em resultado, com a pressão da água e dos detritos dos campos e margens arrastados, a ponte da Lavandeira, entre os lugares do Reguengo e Viso, acabou por ceder, desmoronando-se, sendo, pouco depois, edificada a ainda actual ponte. Provisoriamente, como se vê na foto acima, foi realizado um estrado em vigas e tábuas de madeira para assegurar a passagem de carros e pessoas. 

Ainda hoje, as pessoas mais idosas recordam-se desse Domingo chuvoso e daquela que foi certamente a maior cheia da ribeira da Mota de que há memória, o que de resto também sucedeu no rio Uíma

. Mesmo a cheia de 2001 terá sido apenas uma humilde amostra quando comparada com a de há 63 anos.

Neste foto acima vê-se o paredão norte totalmente demolido. Curiosamente percebe-se que o caudal da ribeira era quase diminuto, pelo que se deduz que estivesse a ser desviado pelos regos das levadas a montante, de modo a permitir a intervenção provisória na ponte. Também pode sugerir que essa cheia teve de facto características muito concentradas pelo que logo que passou a tromba-de-água, o caudal voltou ao seu normal.

24 de setembro de 2017

A sineta da capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna no monte do Viso


A construção da capela dedicada a Nossa Senhora da Boa Fortuna e a Santo António, erigida no alto do monte do Viso, remonta a 1869. À passagem do seu centenário, em 1969, teve profundas obras de restauro e conservação, realizadas antes do Verão desse ano, ainda antes da festa (primeiro Domingo de Agosto). 

Não conheço documentos sobre os objectivos e pormenores que levaram à edificação da capela, mas creio pessoalmente que existirão algures, faltando fazer essa pesquisa. Isto porque apesar de já com mais de 150 anos, é de uma época em que já havia a preocupação de documentar. Ademais, tendo em conta a sua função e mesmo as dimensões significativas para uma capela, é de acreditar que também tivesse que ter o prévio parecer, autorização e despacho da Diocese e do Bispo relativamente ao culto. Por outro lado, ainda, quando em 1969 se realizaram obras que incluiram o revestimento da fachada com azulejos foi incluída a inscrição ou referência à passagem do centenário. Ora essa data teria que, obviamente, ser conhecida de alguém e com base em elementos escritos porque à data poucas seriam as testemunhas vivas.

É, pois, um trabalho de pesquisa que está por fazer e seria de facto interessante saber os vários pormenores, sobre o motivo, quem mandou construir, quem pagou, quem construíu e até mesmo quem decidiu da escolha da invocação a Nossa Senhora da Boa Fortuna, que não é nem era muito vulgar.

Um dos elementos identificadores e característicos da nossa capela, para além da fachada revestida  a azulejo em tom creme com contornos e imagens de Nossa Senhora e Santo António em verde, é o seu arco encimado por um cruzeiro em granito e dentro do qual está instalada uma sineta.  Este elemento, designado na arquitectura religiosa como arco sineiro, está edificado sobre o vértice superior central da fachada principal.

Já muitos não se lembrarão, sobretudo os mais novos, mas originalmente e até às referidas obras em 1969, tal arco sineiro não existia, mas apenas o cruzeiro em granito. Também não existia o revestimento da fachada em azulejo, o qual foi colocado nesse ano por oferta do benemérito António Alves Santiago, da Casa do Santiago, das Quintães.

Se não me falha a memória de criança, que ainda se recorda das obras, tenho a ideia (a confirmar) de que até essa data a sineta estava instalada numa estrutura de ferro sensivelmente na parte central da cobertura, na zona da transição da nave principal para a nave da capela-mor, sendo accionada por uma corda ligada directamente ao compartimento poente da sacristia (divisão que em dias de festa do Viso é ocupada pela Comissão de Festeiros), junto à reentrância onde há uns anos a comissão assentava o pipo de vinho com que, servido a copo, brindava quem ia pagar a promessa.

Remonta, pois, a 1969 a construção do arco sineiro e a mudança da sineta a qual todavia continuou a ser accionada manualmente por um cabo acedido a partir da sacristia no local atrás referido. Não era tarefa fácil fazer tocar a sineta pois o sistema manual não era muito prático e exigia algum esforço.

Já pelos anos 70, ao arco sineiro foram afixadas umas três cornetas (altifalantes) para propagar o toque do relógio então instalado na sacristia, o qual ainda hoje funciona. Actualmente já não fará sentido o funcionamento e a função de tal relógio, que bate a cada quarto de hora, bem como as cornetas que são apêndices que desfeiam o arco sineiro, mas por lá vão estando.

Foi pena que nas obras posteriores, nomeadamente em 2003 quando se procedeu à reformulação da estrutura da cobertura e reconstrução do coro, não se tivesse desmontado este sistema ou pelo menos mudado as cornetas para um local com menos impacto visual, eventualmente na zona mais central da cobertura. Em todo o caso, como se disse, este relógio sonoro toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento e já há muitos anos que é companhia de quem vive a contar as horas.

Também em 2016, o arco sineiro sofreu uma intervenção, sendo ligeiramente alteado de modo a ajustar o sistema mecânico de accionamento da sineta anteriormente instalado.
Sineta, no nosso dicionário, significa pequeno sino e porque é feminino, tem um simbolismo de coisa delicada, maneirinha.

Sobre a sineta da capela do Viso, existe uma espécie de rivalidade ou disputa antigas com a freguesia de Lobão, já que os guisandenses reclamam que a capela de Santo Ovídio em tempos pertenceu a Guisande (e de facto pelo menos uma parte, a nascente, do actual arraial está em território de Guisande)(*) e por sua vez os de Lobão defendem-se argumentando que não, e que a sineta existente na capela do Viso seria a que pertencia à capela do santo mártir e bispo lendário de Braga, advogado das dores de ouvidos e dos maridos infiéis, e que terá sido roubada pelos de Guisande pela calada de uma noite de breu.

Obviamente que a parte que ao roubo ou desvio da sineta diz respeito é pura mentira ou mera brincadeira, já que na sineta da capela do Viso, para quem quiser tirar dúvidas, existe uma gravação em baixo relevo, feita no próprio momento da fundição, com uma legenda que se refere à Senhora da Boa Fortuna. De facto, como se pode ver na foto abaixo, a sineta, do lado nascente, tem fundida a data, 1874, e as iniciais NSBF - G, referentes a Nossa Senhora da Boa Fortuna - Guisande. Mas estes antigos dizeres tornaram-se lendários e fazem assim parte do nosso folclore.

Por esta data, 1874, fica-se a saber que a sineta só foi instalada na capela cinco anos após a sua construção (1869).


Nesta foto abaixo, datada de 5 de Junho de 1969, por alturas da Comunhão Solene, vê-se a procissão a descer o Monte do Viso a caminho da Igreja. Apesar de pouco nítida, observa-se o monte do Viso na sua forma antiga, ainda com a rua central, em terra batida, bem como a capela ao fundo, ainda sem o tal arco sineiro mas apenas o cruzeiro em granito e a fachada ainda sem o azulejo.

Tudo indica, pois, que as tais obras acima referidas se realizaram durante o resto do mês de Junho e Julho. Creio que por esta altura da Comunhão Solene já estariam terminadas as obras na parte interior, nomeadamente o restauro/pintura dos altares e colocação do revestimento do tecto.


(*)Ainda a propósito da capela de Santo Ovídio, apesar desta ser considerada como implantada em território de Lobão, no lugar do Ribeiro, no limite com o lugar da Gândara da freguesia de Guisande,  certo é que os mais antigos guisandenses reiteradamente foram defendendo que a mesma sempre esteve totalmente em território de Guisande.

Prova disso, ou equivocado, certo é que Pinho Leal, no seu "Portugal Antigo e Moderno" de 1873, a páginas 370 do vol. III, referindo-se a Guisande  diz  que "...tem uma capela dedicada a Santo Ovídio onde se fazem três festas no ano, muito concorridas. A quem tiver padecimento nos ouvidos, tem (segundo a crença da gente d´aqui) um óptimo remédio. É furtar uma telha e levá-la de presente a este santo; fica logo bom e a ouvir perfeitamente. É medicamento muito experimentado e aprovado pela gente da terra da Feira. A telha há-de ser furtada senão não o vale".

Mas admite-se que Pinho Leal (que casou com Maria Rosa de Almeida, do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, onde construiu casa e nela ali morou) tivesse feito confusão porque na sua descrição referente à freguesia de S. Tiago de Lobão também lhe atribui a pertença da capela do Santo Ovídio. Não nos parece, pois, que a capela fosse meeira das duas freguesias vizinhas nem que existissem duas distintas capelas sob a mesma invocação. Seja como for, essas referências de Pinho Leal, mais do que dissipar dúvidas, porventura aumentou-as.

Certo é, todavia, que parte do actual arraial envolvente à capela, a sua zona a nascente onde se engloba o cruzeiro, está em território de Guisande, mesmo com a mudança indevida e ao arrepio da legalidade de um dos marcos de fronteira localizado no entroncamento do caminho antigo com a actual Rua Nossa Senhora de Fátima. Basta traçar uma linha recta entre os marcos mais próximos para se tal comprovar.

De resto, tal como acontece no lugar de Azevedo, em que a freguesia de Caldas de S. Jorge se apropriou de uma ampla parcela do lugar de Estôze, reclamando-a como sua a pretexto de não perder uma parte das habitações ali edificadas entre os anos 80 e 90, os anteriores e sucessivos presidentes de Junta dessas freguesias nossas vizinhas nunca quiseram admitir a apropriação indevida de território mesmo que desmentidos perante factos. Daí que este tipo de disputas sejam antigas e comuns a muitas outras freguesias por esse nosso Portugal fora, e que invariavelmente não têm solução a não ser por imposição administrativa dos tribunais, o que raramente acontece. Em todo o caso, é tudo Portugal.

É verdade que hoje as freguesias de Lobão e Guisande fazem parte da mesma União de Freguesias, juntando-se a Gião e a Louredo, mas estas raízes de identidade  e território geram rivalidades e estas hão-de perdurar por muitos e muitos anos. Por isso, a par da sineta, a localização da capela de Santo Ovídio será sempre um tema de discussão sem fim e que de algum modo enriquece o portefólio das nossas histórias e lendas.

21 de julho de 2017

27 de fevereiro de 2017

Festa do Viso - Anos 80 - Procissão


Festa do Viso - Anos 80 - Momento da procissão solene, na subida do monte. Em destaque o padrão de Santo António.

4 de outubro de 2014

Pe. António Alves de Pinho Santiago


António Alves de Pinho Santiago nasceu no dia 14 de Dezembro de 1937 no lugar das Quintães, na freguesia de Guisande, concelho de Vila da Feira, filho de António Alves de Pinho Santiago, de quem toma o nome, e Maria da Anunciação da Costa e Pinho.

Ingressou no Colégio de Ermesinde em Outubro de 1949 onde frequentou o 1º ano do Liceu.
Em 1950 transitou para o Colégio de Trancoso, em Vila Nova de Gaia onde fez o 2º e 3º anos do Liceu.
Em 1952 passa para o Seminário de Vilar, na cidade do Porto, onde conclui o 4º, 5º, 6º e 7º anos de escolaridade. Entre os anos de 1956 e 1960 frequenta o Seminário Maior da Sé do Porto. Ainda em 1960 fez o Diaconado e a Ordenação aconteceu no dia 6 de Agosto de 1961.

A Missa Nova na freguesia de Guisande aconteceu no dia 15 de Agosto de 1961, com a paróquia em festa e todo o percurso de sua casa à igreja matriz efusivamente enfeitado com flores e verdura.
Nesse mesmo ano de 1961 recebe do seu Bispo a nomeação para coadjutor da paróquia de Lourosa, concelho de Vila da Feira, onde permaneceu durante dois anos.

Em 30 de Agosto de 1963 foi nomeado pároco de Santa Marinha de Palmaz, concelho de Oliveira de Azeméis. Anos mais tarde, em 1993, ficou também com a responsabilidade da paróquia vizinha de Travanca, no mesmo concelho.



Acima, igrejas de Palmaz e Travanca por onde paroquiou a maior parte da sua vida sacerdotal.

Em 15 de Agosto de 2011 festejou as Bodas de Ouro Sacerdotais, cuja celebração decorreu na igreja matriz de Guisande.
Manteve-se na paróquia de Palmaz durante 55 anos e na de Travanca durante 26 anos. A despedida aconteceu no final de Setembro de 2018. Para assumir as suas funções pastorais, o Bispo nomeou em 25 de Julho de 2018 o Pe. André Bruno Teixeira de Olim, como administrador paroquial de Palmaz e Travanca. Este jovem padre, nascido em 11 de Setembro de 1985, foi ordenado em 12 de Julho de 2015 e anteriormente esteve colocado na Madeira como Vigário Paroquial das paróquias do Caniço e Santo da Serra, no Arciprestado de Machico e Santa Cruz.

Concluída para além das suas forças a sua longa missão de pastor, com o peso das vicissitudes da velhice, regressou à sua terra natal, à casa paterna no lugar das Quintães, onde passou a viver na companhia de alguns dos seus irmãos.
Que Deus o conserve entre nós  por mais anos.


Acima, no dia da sua Missa Nova, a caminho da igreja matriz, ladeado pelos pais e o Pe. Francisco.




Fotografias de momentos da celebração da sua Missa Nova, na paróquia de S. Mamede de Guisande, que teve lugar no dia 15 de Agosto de 1961.
Na foto de baixo, acompanhado pelo então pároco de Guisande, Pe. Francisco Gomes de Oliveira, ainda o Pe. Domingos Moreira, de Pigeiros, e o Pe. José de Almeida Campos, de Fiães.

Abaixo várias outras fotografias de momentos diversos e importantes, como a cerimónia da ordenação na Sé do Porto, missa nova em Guisande e respectiva boda, grupo de irmãos em diferentes datas e ainda alguns momentos na sua paróquia de Palmaz.

















Na foto acima, em 2016, com o então presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, Dr. Hermínio Loureiro, na assinatura de um contrato-programa que permitiria um apoio de 30 mil euros para as obras de requalificação da envolvente da igreja matriz de Palmaz, umas das últimas e várias obras dinamizadas pelo Pe. Santiago. [foto: fonte: cm oaz]



Na foto acima, a ser entrevistado para o jornal "Correio de Azeméis", durante a festa de convívio e homenagem na despedida das suas funções pastorais, em Palmaz, em Setembro de 2018.

Nota final: Um agradecimento ao Alberto Santiago, irmão do Pe. António, por nos facultar algumas das fotografias que ilustram este artigo. Bem haja!

2 de outubro de 2014

Padre José Pereira de Oliveira


padre_oliveira

"Tudo isto valeu a pena...Se tivesse dez vidas, seria sempre sacerdote" - Pe. José Pereira de Oliveira.


O padre José Pereira de Oliveira, nasceu em Guisande, no lugar da Gândara, numa velha casa localizada onde actualmente se situa a habitação do António Mota e da esposa Matilde.

De família humilde mas remediada, era filho de Manuel Pereira de Oliveira e de Rita Joaquina de Jesus. Era neto paterno de João Pereira de Oliveira e de Ana Joaquina. Por sua vez era bisneto paterno de José Pereira e Maria de Oliveira e de Manuel José de Matos e de Maria Joaquina de Jesus.

Era neto materno de António Joaquim Gomes de Almeida e de Joaquina Antónia de Jesus. Por sua vez era bisneto materno de José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda São José Loureiro da Silva do lugar da Barrosa - Guisande.  

Foi baptizado em 7 de Outubro de 1909 pelo pároco Pe. Abel Alves de Pinho, e teve como padrinhos José Joaquim Gomes de Almeida e Margarida Alves de Santiago.

Teve três irmãos, o Mamede, que viveu em Casaldaça, marido da Sr.ª Elvira, o Domingos e o António, este pai do Sr. Mário Reis de Oliveira, do lugar da Gândara.

Nasceu em 4 de Outubro de 1909.  Com 13 anos entrou para o Colégio de S. Tomás de Aquino, em Braga, onde cursou durante cinco anos de preparatórios. Dos 36 seminaristas que com ele iniciaram, apenas 7 chegaram a sacerdotes.

Seguiu depois para o curso de Filosofia durante 2 anos no Seminário das Missões do Espírito Santo em Viana do Castelo.

Entre 1929 e 1930 foi para  Orly, na periferia de Paris - França, onde professou a vida religiosa a 8 de Setembro de 1930.

De 1930 a 1934 cursou Teologia também no Seminário de Viana do Castelo. 

Foi ordenado sacerdote em Braga, em 8 de Outubro de 1933, Ano Santo da Redenção, pelo Arcebispo D. António Bento Martins Júnior.

Em 1934, terminado o curso de Teologia partiu em missão para Angola, inicialmente para o Seminário Maior, em Gaanda e depois em Abril de 1937 fixou-se no novo Seminário da Caala, a 45 Km de Nova Lisboa (actual Huambo).

Regressa a Portugal em 26 de Abril de 1941 indo paroquiar a vila de Monforte, no Distrito de Portalegre -  Alentejo.

Em 1943 é nomeado como Provincial da Congregação dos Missionário do Espírito Santo, cargo que desempenhou durante 6 anos. Segue depois para Viana do Castelo como Superior, professor e pregador.

Em 1955 é nomeado Superior dos Padres do Espírito Santo em Cabo Verde, onde permaneceu entre 1950 e 1966, essencialmente com trabalho nas ilhas de Santiago e Maio. 

Regressa a Portugal em Março de 1966 depois de 11 anos de Missão em terras cabo-verdianas, fixando-se no Seminário da Silva, em Barcelos.

Em 8 de Outubro de 1983 celebrou Bodas de Ouro Sacerdotais (50 anos) com missa no Seminário da Silva. Nessa celebração, para além de outros sacerdotes ligados aos espiritanos, estiveram o Pe. Francisco Gomes de Oliveira, pároco em S. Mamede de Guisande, sua terra natal, e o Pe. Campos, da paróquia de Fiães, ambos primos do Pe. Oliveira.

Chegou a ficar prevista para o dia 29 de Outubro desse mesmo ano que o Pe. Oliveira celebrasse também em Guisande a missa de Bodas de Ouro da sua Missa Nova, mas problemas de saúde vieram imviabilizar essa cerimónia, com muita pena sua, já que tinha formalizado um pedido: "Só peço a Deus um bocadinho mais de saúde afim de cumprir o meu compromisso em Guisande, minha terra natal".

Depois desta importante marca na sua vida sacerdotal e missionária, o Pe. José Oliveira continuou com probelmas de saúde e manteve-se pelo seminário da Silva, em Barcelos, onde veio a falecer em 24 de Fevereiro de 1986, encontrando-se ali sepultado.

Na sua missão, o Pe. Oliveira tinha como lemas "Ser para Deus e ser para os outros", "Dar Deus às almas e dar as almas a Deus".

Quem o conheceu, diz  ter sido um exemplo de um homem bom e um sacerdote cheio de ardor apostólico, um amigo sempre com uma palavra de conforto e incentivo, um missionário disponível e alegre, um espiritano que encarnava no quotidiano a experiência do "Absoluto de Deus". Um confrade que amava a comunidade e nela tinha uma presença de qualidade.

O Pe. José Pereira de Oliveira é uma ilustre guisandense relativamente pouco conhecido mas que mereceria uma melhor atenção e reconhecimento da freguesia que, espero pessoalmente, venha a acontecer num futuro próximo. 

Quando estive na Junta da União sugeri a ideia de renomear a Rua dos Quatro-Caminhos para Rua Pe. José Pereira de Oliveira, por estar relacionada à sua casa de nascimento, mas a proposta não colheu  o apoio e interesse do então presidente da Junta, tendo ficado, com pena minha, sem efeito. Poderia pelo menos ter sido feito a proposta e tentada a alteração junto dos moradores da rua.




1962  - Vista poente da casa dos pais do P.e Oliveira, no lugar da Gândara - Guisande


1941 - Saída para um passeio ao Santuário de Fátima. O P.e Oliveira  ao lado do P.e Francisco de Oliveira, recentemente nomeado pároco da freguesia de Guisande.


1959  - Praia - Cabo Verde
Ladeado por um grupo de Liamistas.


Capa do jornal "O Mês de Guisande" de Outubro de 1983 onde é dado destaque à biografia e às Bodas de Ouro Sacerdotais do Pe. José Pereira de Oliveira.