E pronto, depois de algumas semanas em obras, reabriu o velhinho "Café
Progresso", no Largo de Casaldaça, "Tasca do Quezílias" para os amigos.
Para festejar, "pernil no espeto a preço convidativo.
Nova cara,
mais espaço e uma decoração acolhedora, com um grande painel a
preto/branco da cidade do Porto vista do lado de Gaia.
Esperemos que volte a encher e seja um espaço de convívio e tertúlia.
Parabéns aos proprietários Manuel e Fátima e ao autor do projecto, o
filho e arquitecto Vitor Oliveira. Guisande precisa deste espaço.
Como curiosidade acerca do "Café Progresso", em Casaldaça - Guisande, há
pelo país outros conhecidos estabelecimentos de cafés com esse nome,
nomeadamente o "Café Progresso" na cidade do Porto, já centenário,
aberto em 1899, o "Café Progresso" em Ovar, aberto desde 1949 e ainda um
Café Progresso, em Lisboa, em Santo António dos Cavaleiros.
Pela
nossa breve e desinteressada pesquisa, a designação Café Progresso -
Porto, está registada, assim como o seu logotipo. Resta descobrir se a
simples designação "Café Progresso", não associada à designação PORTO
também é propriedade desse estabelecimento portuense ou não. Pelo que
conseguimos apurar essa designação terá sido requerida por um dos
antigos proprietarios, Mário Henriques Pinto, em 1967, mas o registo
encontra-se caduco desde 1990 por falta de pagamento das taxas. Seja
como for, tudo indica que será este estabelecimento portuense o legítimo
proprietário da marca ou designação de "Café Progresso" ou pelo menos o
seu requerente. Confirmar ou não, é obviamente um assunto que escapa do
nosso interesse.
Os proprietários iniciais deste
estabelecimento guisandense eram o Sr. Elísio dos Santos, comerciante e
taxista, e a esposa Amélia da Conceição, naturalmente já falecidos.
Segundo informações do Joaquim Santos, um dos filhos mais velhos, o café
terá sido aberto ao público na segunda metade da década de 50, altura
em que a mercearia e venda de vinhos ali existente foi deslocada para
uma parte adjacente ampliada (que ainda se mantém), dando lugar ao café.
O edifício é agora propriedade da filha, Fátima e do marido Manuel os
quais já haviam realizado obras aquando da sua reabertura depois de um
interregno.
É claro que desse antigo café hoje só resiste o local,
as paredes e o velhinho relógio de parede. Com estas recentes obras
foram-se os anteriores vestígios, nomeadamente o tecto de madeira, o
volume da escada interior que subia da cozinha para o Andar sob o qual
se desenvolvia o balcão do café.
Nos anos 80 abriu ao lado,
um pouco abaixo na rua, o estabelecimento "O Meu Café", que resistiu
quase 30 anos. Durante esse tempo e com essa concorrência, o Café
Progresso foi também ele resistindo, mais pela vontade e disponibilidade
da proprietária, a Sr.ª Amélia, mas obviamente perdendo importância e
servindo alguns clientes da velha geração. Com o encerramento de "O Meu
Café", o Café Progresso voltou a reavivar e agora com as recentes obras
certamente que ainda com mais impulso.
Lembro-me do velhinho
café repleto de malta ao Domingo à tarde, com um bilhar de matraquilhos
ao centro e mesas quadradas de pedra de mármore, onde se jogava a sueca e
o dominó, e o cheiro de regueifa e broa de milho que escapava do amplo
forno na cozinha, espaço que agora foi aglutinado ao café. Ao balcão,
aviava-se quarteirões de maduro acompanhados de azeitonas e amendoins.
Tudo muda, precisamente em nome do progresso e adequação aos novos
tempos, regulamentos de higiene e salubridade e hábitos de consumo mas
importa ter sempre presente que estes espaços, mesmo que de pedras e
paredes, têm história e alma e são sempre uma evocação de outros tempos,
outras pessoas e outros momentos. Afinal de contas, da massa com que é
feita a história de uma terra e sua comunidade.
- A. Almeida