22 de março de 2022

À biqueirada


Foi já há uns valentes anos. Quantos, não sei ao certo, porque isto de calcular tempo passado, a partir dos 40 perde-se a noção porque um ano parece ter metade. 

O Ramiro, o picheleiro, tinha um grupo de malta já perra dos ossos para as coisas do pontapé na bola, uma mistura de veteranos e reformados, mas que facilmente se vendia por umas trainadas que metessem cabidelas ou rojões à minhota, e de quando em vez, lá combinava um jogo de futebol com outra qualquer equipa que padecesse mais ou menos dos mesmos males, da velhice, dos ossos e da paixão pela bola. 

Assim, de quando em vez, quase sempre ao Sábado à tarde, pegava na cana e no isco da saudade de quem já teve melhores dias e dando a volta pelo Vale, Louredo e aqui em Guisande, lá pescava um grupo suficiente de carapaus de corrida para formar uma equipa e mais alguns suplentes, porque isto de jogar sem treinos e com as pernas já cansadas obrigava a um plantel extenso.

Em Guisande o Ramiro pescava o Jorge Ferreira, o António Ribeiro, velhas glórias do Guisande F.C. e creio que o Álvaro sapateiro. Não sei porque carga de água, porque nem meti cunha, também fui pescado duas ou três vezes, quase sempre para jogar a médio ou a defesa esquerdo, talvez porque mesmo sendo destro, acertava bem como o canhoto. E então lá ía com o grupo, não porque me entusiasmasse o jogo em si, mas sobretudo pelo convívio, pelo banho e pelo jantar depois da jogatana. 

Lembro-me de uma vez em que fomos para os lados de Amarante, não sei se de Verão ou Inverno, mas deveria ser Inverno porque choveu pegado durante o jogo e dos pés à cabeça era um frio gélido e pele de galinha. O equipamento, de manga curta e calçõeszinhos brilhantes à anos 80, pouco ajudava a escapar daquele gelo e o pelado encharcado fazia lembrar um lagar. A bola, essa tinha o peso da cabeça do Zé Grande, bom defesa, e quando vinha lá do ar a cair como um míssil ninguém lhe chegava a cabeça. Só mesmo de capacete.

Para além do frio gélido, do terreno encharcado e a malta, de um lado e outro, a chutar para a frente quase como num jogo de râguebi, pouco mais me lembro, mas há uma coisa que jamais esqueço: Jogando a defesa esquerdo, estava na frente numa jogada de ataque quando a bola veio-me ter aos pés. Posicionei-me, apontei, e numa espécie de canto curto ou cruzamento longo, peguei um valente biqueiro na bola ensopada e ela sobrevoou toda a malta, defesas e atacantes e foi-se encaixar dentro da baliza no ângulo superior direito. Golo! Um bonito golo! Merecia repetição em slow motion!

Já não me recordo do resultado final. Se calhar ganhamos, ou talvez não, mas isso pouco importa, pois afinal o jogo valeu por aquele golo marcado da esquerda pelo pé que tinha mais à mão, e dessa vez, foi mesmo o direito.

Depois, veio o final do jogo, o banho, a pomada nos músculos e o gelo nas pisaduras. Confortados com cuecas quentes lá fomos para os lados da Lixa fazer a segunda parte da jornada, o convívio com uma boa jantarada oferecida pelos lorpas dos visitados. Boa gente!

Chegamos a casa quase de madrugada, perros dos ossos e pesados da barriga. O próximo jogo só dali a uns meses quando a malta estivesse restabelecida.

Há coisas assim, e num desconforto de chuva e frio lá surge um golaço como um raio de sol, mesmo que fosse de pouca dura.

21 de março de 2022

Nota de falecimento

 


Faleceu Maria Cidália Ferreira da Silva, de 65 anos. Natural de Guisande, do lugar de Estôse, cuja mãe foi sepultada no dia 23 de Fevereiro último. Vivia em Lobão, na Rua da Ponte, 1529.

Cerimónias fúnebres na Terça-Feira, na igreja matriz de S. Tiago de Lobão, pelas 16:15 horas, indo no final a sepultar no cemitério local. Missa de 7º Dia na igreja matriz de Lobão pelas 19:30 horas da Quinta-Feira, 24 de Março.

Sentidos sentimentos a todos os familiares. Paz à sua alma!

Comeres no Pedrógão

 





Com mais de um mês depois da reserva, nova visita ao restaurante "Pedrógão", na aldeia do mesmo nome, na freguesia de Moldes, Arouca.

Em anteriores visitas, o cabrito e a truta de escabeche estiveram na ementa e fizeram jus à fama. Desta feita, o "cozido-à-portuguesa", com carnes caseiras e criadas na quinta dos proprietários. A prova já esteve para acontecer há quase dois anos, mas a pandemia veio adiar a coisa, bem como porque por ali este prato só é confeccionado nos meses de Inverno, quando o frio marca presença e motivo para a matança.

O sabor e a qualidade estavam ali, naqueles travessas generosas, sendo que, pessoalmente esperava um pouco mais, talvez na variedade de alguns ingredientes. Desde logo, para além da couve branca de repolho, fazia falta couve verde, até para ajudar ao colorido da composição e diversidade de textura e sabor. Nos enchidos, para além da chouriça de sangue saborosa e salpicão, faltaria porventura alguma variedade, bem como esperava alguma carne mais fumada. Os nacos eram generosos e poderiam porventura ser servidos mais pequenos. Mas o porco seria grande e daí a dificuldade de reduzir.

Em resumo, sabor caseiro, carnes deliciosas de porco bem criado, mas a faltar qualquer coisa para ser considerado de excelência e justificar o condizente preço por pessoa.

Em todo o caso, apesar de pessoalmente considerar que ali faltaria algo mais, coisa que os demais comensais não sentiram falta, admito que apesar do cozido-à-portuguesa não ter segredos, para além da qualidade dos ingredientes, cada casa tem a sua maneira de o preparar, envolver e apresentar. No fundo, dar valor a uma boa refeição, e tradicional como o cozido, reside também no compreender, respeitar e aceitar a identidade de cada restaurante e de quem para além da componente comercial, coloca paixão e saber na sua preparação. E isso não falta no Pedrógão.

Posto isto, valeu bem a pena a espera de mais de um mês para se conseguir vaga no pequeno mas envolvente restaurante onde se come como se fosse em casa de nossa mãe ou avó.

A entrada simples mas saborosa com presunto caseiro e cubinhos de queijo. A sobremesa esteve divinal com leite creme e "sopa seca". A rematar o café, a prova dos licores, desnecessária mas da praxe.

Fica já marcada uma próxima visita mas, claro, até para compensar os excessos, para depois de um esforçado trilho que nos há-de levar a percorrer montes e vales na companhia das ribeiras de Moldes, Bouceguedim e Pena Amarela.

Ainda o Centro Social de Guisande

Na recente apresentação pública do bonito livro de autoria de Carlos Cruz, que decorreu nas instalações do Centro Social de Guisande, no Monte do Viso, entre outras importantes figuras, esteve presente o Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Sr. António Gil Alves Ferreira que entre palavras de circunstância e no contexto do evento, teceu elogios às instalações do Centro. 

Quem o conhece, sabe que o Sr. Vereador fala bem e muito, mas no caso, tendo sido simpático, não terá dito nada de mais, apenas uma constatação, já que de facto as instalações do Centro Social têm qualidade, estão inseridas num bonito e aprazível local e por conseguinte estão aptas à actividade principal para a qual foram construídas bem como de eventos comunitários, como a sessão dessa apresentação literária, para além de que o processo de construção teve a vantagem de fazer o aproveitamento capaz e digno de um edifício emblemático para a freguesia, como é o caso da Escola do Viso. Doutro modo, estaria por ali abandonado, vandalizado, a cair de ruina ou com ocupação descontextualizada e sem algo de substancial para a freguesia.

Temos assim  um Centro que integra o antigo e o moderno, preserva a história, memórias e identidade de um local e de um equipamento onde muitas gerações de guisandeses aprenderam e moldaram-se como homens e mulheres.

Por conseguinte, só por alguma  má vontade, desconsideração ou até mesmo por má fé intelectual, alguém pode ter uma opinião e uma posição negativas para com o Centro, os seus propósitos e as suas instalações. Podemos até não simpatizar ou mesmo detestar os elementos que integram os corpos gerentes, ou de um ou outro, mas até isso tem uma solução chamada eleições, o que de resto vai acontecer no final do próximo ano (Dezembro de 2023). 

Bastará, aos interessados em mostrar e demonstrar como se faz mais e melhor, serem sócios para poderem concorrer. É o mínimo. 

Neste contexto, e até porque o actual presidente da Direcção, Joaquim Santos, não poderá recandidatar-se ao cargo, por imposição dos estatutos, será uma oportunidade de ouro para quem se considera crítico para com o Centro Social, demonstrar qual o caminho certo, dar a cara e o esforço. 

Vamos ficar á espera desse passo, dessa reviravolta.

20 de março de 2022

Ao Dia do Pai

Que linda data esta, o dia de quem é pai

E Jesus, de Deus Filho, foi-o de S. José.

No parto a mãe deitada, o pai, ali em pé,

Na fé de um  filho que nu de ambos sai.


Tão grande e lindo, profundo mistério,

Ser mãe, ser pai, afinal o nascimento,

Onde o amor criador tem merecimento

Ao contraponto da morte ou cemitério.


Ser pai, é ser tronco de uma profunda raiz,

Flor delicada transformada em doce fruto

Num merecimento, tão grande ou diminuto.


Ser pai, é uma graça bendita, tão feliz,

Pureza de um homem, no amor impoluto

Na descoberta plena de um ser absoluto.


Américo Almeida

19 de março de 2022

Soneto da dúvida


Ando no mundo, tanto tempo passado,

Num viver de apressado, galopante,

Como anão com passos de gigante,

Como quem se procura desencontrado.


Corro em frente a um destino mais além

Sem alcançar o tempo que avança lá à frente

Numa ânsia desejada, louca, premente,

Desilusão de quem  tudo tendo  nada tem.


Serei eu, afinal, nesta corrida sem meta,

Não mais que o rasto brilhante de cometa,

Uma pedra atraída como ao planeta a lua?


Ou talvez, ave sem ninho, besta sem covil,

Um banal cidadão, homem igual a outros mil

Ou somente um caminhante que avança sem rua?

Festa do Viso - 2º Torneio de Sueca 2022


A Comissão de Festas em honra de Nª Sª da Boa Fortuna e Santo António realizou mais um evento recreativo com vista à angariação de fundos. Desta feita tratou-se do 2º Torneio de Sueca que teve lugar ontem, Sexta-Feira, nas instalações do Centro Social de Guisande, no Monte do Viso, a partir das 21:00 horas. 

Boa participação, com 12 equipas, registando-se casa cheia. Parabéns pela iniciativa e que certamente terá uma próxima edição.