Era tão bom que hoje chovesse,
Esta míngua de tudo inundasse
Até que o céu de novo rompesse
E lá de cima o sol espreitasse.
Era tão bom que hoje chovesse,
Esta míngua de tudo inundasse
Até que o céu de novo rompesse
E lá de cima o sol espreitasse.
O Grupo de Jovens de Guisande celebrou ontem, 10 de Dezembro, o seu 1.º aniversário. Tal como o fez o nosso pároco, Pe. António Jorge, endereçamos os parabéns e que o grupo possa ser frutífero em todas as frentes da sua acção na paróquia, na amizade, na partilha, nos relacionamentos humanos, no crescimento e amadurecimento da fé, mas também inclusivo e integrador de muitos mais jovens que andam deslocados destas coisas da igreja, da comunidade e da paróquia.
Em rigor, este primeiro aniversário refere-se em concreto a esta geração de jovens, já que na realidade a paróquia mesmo que com interregnos, em diferentes tempos foi tendo diversos grupos de jovens, num dos quais fiz parte pelo início da década de 1980. Um dos pontos fracos a todos eles foi a incapacidade de ser dada continuidade geracional. Por conseguinte, a experiência tem mostrado que estes grupos mais cedo ou mais tarde, acabam por ser interrompidos quando não há uma renovação que permita colmatar com entradas de novos elementos aqueles que por motivos diversos, incluindo a idade, vão saindo. Em todo o caso, mesmo nesta realidade de algo que não tem perdurado, é sempre positivo enquanto dura e por isso é importante que haja uma entreajuda e colaboração entre o grupo e a comunidade para que no fim das contas o saldo seja sempre positivo.
Bem hajam e votos de boa continuação na caminhada, nomeadamente na etapa que será a vivência da Jornada Mundial da Juventude no próximo ano em Lisboa.
Acho piada quando pelas redes sociais há malta bondosa a informar onde há radares de detecção de velocidade. Na mesma onda, a todos quantos criticam a "caça à multa".
Bem vistas as coisas, não há dúvida que o Estado é um caçador nato e tanto é assim que parece que acabou de investir milhões em mais armas pesadas que tanto detectam a velocidade máxima como a média.
Mas, por outro lado, a ter em conta o que em cada dia vamos vendo nas nossas estradas, em que as velocidades definidas são totalmente desrespeitadas, o que até é criminoso dentro das localidades, como acontece, por exemplo, na Rua Nossa Senhora de Fátima, da Leira à Gândara, em boa verdade devia haver um radar para cada português ou então os próprios veículos terem incorporados sensores de velocidade que em tempo real forneceriam os dados ás autoridades. Talvez aí fosse possível que as nossas estradas locais deixassem de ser autoestradas.
Ainda no Domingo passado, circulava eu pela nova variante no sentido Escariz-Pigeiros e alguém atrás de mim "cagou" na velocidade máxima indicada e ultrapassou-me a alta velocidade transpondo não uma mas duas linhas contínuas, quando o poderia fazer de forma adequada 200 metros mais abaixo. Pergunta-se: O que é que um caramelo destes merecia? Deve ser avisado da proximidade de um radar, ou dar-lhe sinais de luzes a avisá-lo que à frente está a patrulha da GNR a mandar parar?
No mínimo acho piada quando vêm falar e enaltecer o "espírito da nossa selecção de futebol", mostrando fotografias dos jogadores a abraçarem-se, o Pepe a enfiar subalternamente a braçedeira de capitão ao CR7, e por aí fora com os habituais lugares comuns.
Confesso, que mesmo não sendo muito espirituoso, tivesse eu o prestígio a fama e sobretudo o proveito dessa condição de jogadores, pagos todos a peso de ouro, e com bons prémios à espera dos resultados, também eu estaria todo imbuído desse espírito.
Vá lá, divirtam-se, mas poupem-nos!
Que hei-de fazer se me moldaram assim, a vida, os pais, a sociedade? Gostos não se discutem e, além do mais, mudar os nossos gostos para alinhar com os demais, já é pedir muito. Era só o que faltava andar a dançar ao ritmo do politicamente correcto!
Já não tenho paciência nem idade para mudar assim tão em contratempo. E depois uma coisa leva à outra: Não tenho paciência porque a idade já não a permite nem a idade tem espaço para a acomodar.
Assim, em rigor estou-me borrifando para pasmos ou narizes torcidos quando elenco algumas das minhas antipatias. Gosto da maior parte das coisas e das pessoas boas, honestas, generosas, simples, humildes, inteligentes, práticas e assertivas.
Gosto e aprecio uma mulher elegante, bem vestida, sem piercings, tatuagens ou pinturas, mas apenas o veludo puro da sua pele; aprecio as rugas de quem as tem pela força da idade e das canseiras; simpatizo com gente harmoniosa, equilibrada, de concensos; aprecio uma obra prima ou despretenciosa, nas artes plásticas, na música, na literatura ou nas ciências.
Mas, claro está, também não gosto de muitas coisas e de algum tipo de pessoas: gente egocênctrica e vaidosa como se os seus umbigos sejam os centros do universo; gente presunçosa, mesquinha e invejosa; gente tatuada, não para si mas para os outros; gente com argolas no nariz, nas orelhas, na língua e sabe-se lá mais em que reentrâncias; gente que compra calças rotas; pessoas que andam com as calças como se o traseiro seja nos joelhos; pessoas a mostrarem as cuecas ou o rego do cú; homens idosos que se vestem como se tivessem 16 anos; gente que paga caro por roupa de marca e ainda orgulhosamente lhe faz publicidade de borla; gente que paga balúrdios em futebol para ajudar a manter ordenados principescos a uma classe de elite e comissões escandalosas a corjas de dirigentes oportunistas; políticos que se governam com ares de honestos; pessoas que se expõem nas redes sociais como se as suas vidas, andanças ou carinhas felizes, tenham um interesse superior para os outros ou expõem de forma excessiva os seus estados de alma, a sua mais recôndita intimidade ao voyeurismo alheio.
E mais não escrevo porque ficaria longo o texto.
E, contudo, todos têm esse direito e liberdade de serem quem são, como são, como vivem, se vestem, despem, ou como se comportam. Não sou de todo contra essa liberdade e direitos, mas tenho igual direito e liberdade de não gostar, de não apreciar. De resto, essas minhas antipatias ou arrelias, são apenas íntimas e a terceiros não causam mal ou prejuízo algum. É apenas uma coisa interior. Mesmo este texto, é generalista e não aponta o dedo a alguém nem fornece chapéus para serem enfiados. Além do mais, desse grupo de coisas ou predicados com que não morro de amores, até tenho amigos e pessoas que bem considero. A coisa não é, por isso, pessoal nem de preconceitos radicais. Apenas porque não vão de todo à minha mesa.
Em resumo, até mesmo nestas coisas de exprimirmos, ou não, as nossas antipatias, os nosos gostos, andamos muito castrados, porque os cânones do politicamente correcto são já uma pandemia das nossas sociedades ditas desenvolvidas e por eles há gente que apenas sendo o que são e dizendo o que pensam, perde os cargos, empregos, negócios, amigos, etc, etc.
Mesmo que não oficialmente, temos por todo o lado uma invisível polícia de nova moralidade, só que esta, já subvertida ou invertida. Parecem opostas, a da moralidade e a do politicamente correcto, mas na realidade são a mesma coisa, porque ambas castram, mesmo o direito de se não gostar.
A campaínha tocou. Pela hora adivinhava-se que seria o "cliente" do costume. Assomou à porta e confirmando-se, protestou:
- Você outra vez? Não sai daqui para fora!
- Já não passava há quase um mês! - desculpou-se do lado de fora o pedinte.
- Mas você está com bom aspecto! Não tem quem lhe arranje um emprego? - Perguntou o dono da casa para lhe medir a reacção.
- Não posso! Eu sou um homem doente! - replicou num tom lamurioso.
- Pois, olhe que não me parece, vejo-o sempre por aqui, com bom ar, a caminhar ligeiro a dar a volta à freguesia! Olhe que não é para gente doente!
- Mas dê-me lá uma moeda! - pediu, desinteressado do sermão.
- Vou dar, mas não apareça aqui antes da Páscoa! - deu-lhe uma moeda de dois euros, como se fora a juntar à moeda habitual o subsídio de Natal.
O receptor olhou para a moeda, acariciou-a, fez uma pausa e disse: - Olhe que já passo aqui há muito tempo e é a primeira vez que você me dá uma moeda de dois euros!
- Ai é? Pois para além de ter boa memória, está com sorte! Mas está a queixar-se ou falar de contente? - questionou o dador. Ele, porém, encolheu os ombros e não lhe respondeu deixando-o sem saber, levando-o a replicar:
- Bem, olhe que não é mau! Se lhe derem dois euros em cada uma de cinquenta casas por aí acima, são 100 euros. Ganhará bem o dia! Mas vá lá à sua vida! - despediu-o para não alongar a conversa.
E lá foi o pedinte à sua vida, que não terá outra. O dono da casa ficou a pensar naquela justificação do ser doente Considerou que fosse mesmo doente, o que de todo não lhe pareceu, certamente que o nosso amado estado social o socorreria. Ou será que não? Afinal estamos em 2022 e ainda há disto, pedintes, tal qual como no tempo da velha senhora. E já lá vão 50 anos sobre a mudança de direcção. Só que os do antigamente, parecia-lhe, esses pelo menos rezavam, recebiam o que calhasse e agradeciam encarecidamente. Os pedintes modernos, esses não pedem, exigem e resmungam se a moeda é pequena.
Nesta dúvida, ficou o dono da casa, e ficamos nós, sempre com muitas reservas sobre quem ainda anda de porta em porta, a pedir com verdadeiras necessidades ou sem elas. E são muitos, desde bombeiros, a supostas associações de não sei das quantas, para além dos peditórios para as diferentes situações no âmbito da freguesia e paróquia, seja para esta ou aquela festa, para a igreja, para os presuntos, para os pobres, para os ucranianos, para os africanos, para isto, para aquilo. É certo que é bem melhor poder dar do que precisar de pedir, mas para quem tem que trabalhar para poder pagar as suas contas e responsabilidades, sem chorudas pensões ou rendimentos que não sejam os do trabalho, mesmo o pouco que se dá tem peso perante tantas solicitações.
Mesmo nestas dificuldades, porventura dar dois euros a um cliente recorrente, mesmo considerando que será apenas por vício, terá algum significado e mesmo valor, para quem dá e para quem recebe. Afinal, serão poucas as casas que darão dois euros a quem com insistência toca à campainha. Porventura, quase sempre, quando alguém bate à porta de quem realmente poderia dar, não 2 mas 5 ou mesmo 10 euros, sai despedido sem nada nas mãos e a única coisa que pode almejar levar é o sermão. Esse dá-se ao desbarato.
Não está fácil, pois não, tanto para quem pede como para quem dá!
[foto: sabado.pt]