8 de dezembro de 2022

Que hei-de-fazer?


Que hei-de fazer se me moldaram assim, a vida, os pais, a sociedade? Gostos não se discutem e, além do mais, mudar os nossos gostos para alinhar com os demais, já é pedir muito. Era só o que faltava andar a dançar ao ritmo do politicamente correcto!

Já não tenho paciência nem idade para mudar assim tão em contratempo. E depois uma coisa leva à outra: Não tenho paciência porque a idade já não a permite nem a idade tem espaço para a acomodar.

Assim, em rigor estou-me borrifando para pasmos ou narizes torcidos quando elenco algumas das minhas antipatias. Gosto da maior parte das coisas e das pessoas boas, honestas, generosas, simples, humildes, inteligentes, práticas e assertivas. 

Gosto e aprecio uma mulher elegante, bem vestida, sem piercings, tatuagens ou pinturas, mas apenas o veludo puro da sua pele; aprecio as rugas de quem as tem pela força da idade e das canseiras; simpatizo com gente harmoniosa, equilibrada, de concensos; aprecio uma obra prima ou despretenciosa, nas artes plásticas, na música, na literatura ou nas ciências. 

Mas, claro está, também não gosto de muitas coisas e de algum tipo de pessoas: gente egocênctrica e vaidosa como se os seus umbigos sejam os centros do universo; gente presunçosa, mesquinha e invejosa; gente tatuada, não para si mas para os outros; gente com argolas no nariz, nas orelhas, na língua e sabe-se lá mais em que reentrâncias; gente que compra calças rotas; pessoas que andam com as calças como se o traseiro seja nos joelhos; pessoas a mostrarem as cuecas ou o rego do cú; homens idosos que se vestem como se tivessem 16 anos; gente que paga caro por roupa de marca e ainda orgulhosamente lhe faz publicidade de borla;  gente que paga balúrdios em futebol para ajudar a manter ordenados principescos a uma classe de elite e comissões escandalosas a corjas de dirigentes oportunistas; políticos que se governam com ares  de honestos; pessoas que se expõem nas redes sociais como se as suas vidas, andanças ou carinhas felizes, tenham um interesse superior para os outros ou expõem de forma excessiva os seus estados de alma, a sua mais recôndita intimidade ao voyeurismo alheio. 

E mais não escrevo porque ficaria longo o texto. 

E, contudo, todos têm esse direito e liberdade de serem quem são, como são, como vivem, se vestem, despem, ou como se comportam. Não sou de todo contra essa liberdade e direitos, mas tenho igual direito e liberdade de não gostar, de não apreciar. De resto, essas minhas antipatias ou arrelias, são apenas íntimas e a terceiros não causam mal ou prejuízo algum. É apenas uma coisa interior. Mesmo este texto, é generalista e não aponta o dedo a alguém nem fornece chapéus para serem enfiados.  Além do mais, desse grupo de coisas ou predicados com que não morro de amores, até tenho amigos e pessoas que bem considero. A coisa não é, por isso, pessoal nem de preconceitos radicais. Apenas porque não vão de todo à minha mesa.

Em resumo, até mesmo nestas coisas de exprimirmos, ou não, as nossas antipatias, os nosos gostos, andamos muito castrados, porque os cânones do politicamente correcto são já uma pandemia das nossas sociedades ditas desenvolvidas e por eles há gente que apenas sendo o que são e dizendo o que pensam, perde os cargos, empregos, negócios, amigos, etc, etc. 

Mesmo que não oficialmente, temos por todo o lado uma invisível polícia de nova moralidade, só que esta, já subvertida ou invertida. Parecem opostas, a da moralidade e a do politicamente correcto,  mas na realidade são a mesma coisa, porque ambas castram, mesmo o direito de se não gostar.