29 de agosto de 2023

Trail do Viso Guisande - 2023

O Guisande F.C. e a sua secção de trail running, com o apoio do município e da Junta de Freguesia, vai organizar uma prova de trail e caminhada, designada de Trail do Viso - Guisande.

Será no dia 29 de Outubro de 2023, no Monte do Viso, na parte da manhã.

De acordo com a organização, é um evento desportivo com duas vertentes, um Trail com cariz competitivo e uma Caminhada com cariz recreativo que permitirá aos participantes partir da Capela do Viso em Guisande.

Neste Trail e Caminhada podem participar atletas individuais ou atletas inscritos em qualquer associação do país, organizações populares ou escolas.

Em rigor é uma prova de atletismo na variante de corta-mato, a que modernamente se prefere designar de trail. Nestes moldes modernos será a primeira vez em Guisande, sendo que provas de atletismo já tiveram lugar na nossa freguesia, não sendo por isso novidades, então organizadas pelo Centro Cultural e Recreativo "O Despertar", sobretudo na década de 1980 e 90, tendo sido realizados pelo menos uma dúzia de provas, algumas delas com localização precisamente no Monte do Viso.

Na actualidade este tipo de provas, onde se paga para participar, são bastante populares e concorridas e quase todas as freguesias as promovem. É, pois, importante que a nossa freguesia também tenha a sua, pois é uma forma de mostrar as suas potencialidades e de incentivo à prática do desporto nesta modalidade de corrida.

Os pormenores e inscrições podem ser consultados e realizadas no endereço traildoviso.com.

Nota de falecimento

 


Faleceu Vitor Manuel Pereira, meu cunhado, por parte da minha esposa. Era marido de Elsa Gonçalves e pai de André Gonçalves Pereira. Vivia no lugar da Igreja, em Guisande. 

Natural das Caldas de S. Jorge, nasceu em 12 de Março de 1955 - Tinha 68 anos de idade.

De uma situação relativamente inesperada, para natural consternação da família, esposa e filho, não resistiu e partiu.

Um bom ser humano, bom marido e bom pai, que se pautava pela simplicidade, com as mesmas fragilidades, virtudes e defeitos de qualquer um de nós, e que agora cumpriu o seu destino. Seria natural que pela idade lhe fossem permitidos ainda mais alguns bons anos de vida na companhia dos seus e de todos, mas o nosso destino, sendo certo, tem hora e momento incertos.

Um profundo abraço de pesar para a esposa e minha cunhada Elsa e para o filho e meu sobrinho André, e para toda a restante família, particularmente para os irmãos do Vitor.

Que Deus o tenha já em sua companhia e em eterno descanso.

Em princípio, sendo que ainda sujeito a posterior confirmação, as cerimónias fúnebres terão lugar na próxima Quinta-Feira, dia 31 de Agosto, pelas 16:00 horas, aqui em Guisande, indo no final a sepultar no cemitério local. 


- Actualização:

Confirma-se o funeral para as 16:00 horas de Quinta-Feira, 31 de Agosto, com cerimónia de missa de corpo-presente na igreja matriz aqui em Guisande.

Missa de 7.º dia no Sábado, 2 de Setembro, pelas 17:30 horas na igreja matriz de Guisande.

27 de agosto de 2023

Zé brasileiro português de lado nenhum


Não é apenas uma percepção de quem anda por zonas urbanas e frequenta serviços, sobretudos ligados ao turismo, como alojamentos e restauração, de que estamos "infestados" de estrangeiros e principalmente de brasileiros nessas actividades, mas, também me parece, é mesmo uma constatação notória.

Confesso que nada tenho contra estrangeiros, incluindo os brasileiros, até porque uso a máxima de que todos são bem-vindos se vierem por bem e acrescentarem valor, a eles próprios, naturalmente, mas também ao país, cidades, vilas e aldeias que escolheram para, de algum modo, encontrarem melhores condições de vida para si e para os seus. Quem não vier nem estiver cá com esses pressupostos básicos, para além do respeito por cultura, religião e história locais, querendo impor as suas, não é bem-vindo e estará cá a mais. Nós, portugueses, sempre fomos exímios nesse respeito e por isso sempre fomos bem sucedidos e admirados nas várias partes do mundo para onde emigramos.

Apesar de termos em Portugal um historial de crimes recheado de brasileiros, e quem percebe da poda vai dizendo que a bandidagem brasileira encontra por cá bom paradeiro, políticas displicentes, uma autoridade sem autoridade, um regime penal suave, etc, creio, todavia, que no global são pessoas de bem e que facilmente se integram e também são bem acolhidos pela sua natural proximidade linguística, de simpatia e mesmo de competência. Vejo isso, por exemplo, na minha dentista, que é brasileira ou junto de outros profissionais com quem tenho cruzado. De resto tenho familiares e amigos do e no Brasil.

Por conseguinte, com uma politica de décadas que tem levado a uma baixa de natalidade consistente e por isso com a população a regredir a olhos vistos, mesmo com um território pequeno, resulta claro que o nosso país está a ficar despovoado, concretamente no interior. Assim, o fluxo imigratório é importante se bem orientado para que, de algum modo, se possa pelo menos estagnar algumas hemorragias no nosso tecido populacional. Mas mesmo isso será sempre difícil porque no geral quem cá chega como imigrante, tal como os portugueses, opta pelo litoral, pelas zonas urbanas e assim as zonas interiores continuam a padecer do mesmo problema. Os que por lá passam são no geral em contextos de trabalho sazonal e mesmo precário e por isso o problema continua e até, porventura, agravado pela natureza dessa precariedade e descontrolo.

Em todo o caso, este é um assunto para os especialistas da demografia e das políticas de migração e trabalho. A minha opinião e percepção é apenas a de um simples cidadão.

Mas todo este prefácio para chegar a uma questão que, pelo menos a mim, importa: Por exemplo: Ainda por estes dias, num hotel de uma zona interior deste nosso Portugal, fui servido por um funcionário, português, a quem me interessou saber o nome e se era dali da zona ou de outro local do país. O Rui disse-me que sim, que era mesmo dali e por conseguinte, durante as várias refeições, com ele fui travando uma certa relação com alguma simpatia e cordialidade. Não sei como os outros fazem e gostam de fazer, mas seja num hotel ou num restaurante, gosto de saber o nome das pessoas que me servem e de onde são. Talvez um dia sejamos servidos por máquinas - o que já é verdade em muitas situações - e nessa altura saber se é a Maria ou o Manel, a Alexa ou a Siri, servirá de tanto como limpar o cu a um ouriço de castanhas. Mas por enquanto é algo a que ainda valorizo e faço por cultivar.

Assim, nesse contexto de alguma proximidade que se foi gerando, naturalmente que a um nível meramente profissional, fui questionando o Rui sobre alguns aspectos locais, sobre um ou outro lugar, monumento ou até de tradição e cultura. E o Rui mostrou que sabia da poda e mais do que isso, sentia o que dizia porque, afinal, falava de coisas que conhecia mas que fizeram parte da sua condição de homem daquela terra e região. 

Ora eu pergunto-me se a experiência seria a mesma se fosse servido por um qualquer Édson brasileiro de Florianópolis ou um ucraniano de olhos azuis? O homem até poderia aprender e dominar a língua, estudar a geografia e a história e informar-me, se eu fosse inculto ou ignorante a esse ponto, sobre as coisas daquele local ou região. E até poderia fazê-lo com eficiência mas não seria a mesma coisa pela simples e natural razão de que falaria como um autómato, porque a verdadeira vivência e conhecimento intrínseco, esses nunca os poderia ter. O Rui explicou-me, com um brilho no olhar, o "gancho de Loivos", o atalho para o Senhor do Monte, as particularidades do Arcossó, a tradição do S. Frutuoso, a recta do Sabroso e suas histórias, e muitas outras coisas que não vêm nos mapas ou nos roteiros nem nunca seriam do conhecimento de um Zé brasileiro. 

Nestas, como noutras coisas, cada um que coma o que gosta, e há até quem vá aqui, ali e acolá, só para marcar o ponto como na baliza de uma prova de orientação, para dizer à malta e ao mundo que já esteve em todos os sítios XPTO, incluindo na galeria de vinhaça do Oxalá, mas nada se compara a ir a uma aldeia remota e deixar-se embalar pelas memórias e vivências de um velhinho alquebrado, a descansar à sombra de um pé de videira ou de um Rui, profissional da restauração, a servir Arcossó branco e a falar não só do que percebe mas do que sente.

Boas férias!

Avançando


Sim, claro, ainda me lembro disso,

Mesmo que trinta e cinco passados;

Eu e tu, ali juntinhos, enlaçados,

Nesse sim ao amor, ao compromisso.


É prosseguir, porque só avançando,

Rumo ao destino, mesmo que incerto,

A cada passo ficaremos mais perto

E o caminho só se faz caminhando.


A.A. /P.G. -27-08-1988/27-08-2023

26 de agosto de 2023

Com um brilhozinho nos olhos

 

























Quem com o nosso actual pároco, Pe. António Jorge, conversar e vier à tona das palavras as suas anteriores paróquias, antes de em nova missão o seu Bispo o ter mandado cá para a nossa de S. Mamede de Guisande, conjuntamente com as das Caldas de S. Jorge e Pigeiros, perceberá que é com um brilho no olhar que ele recorda e fala dessas terras e gentes que serviu durante uns bons anos.

Mas perceberá também que esta coisa de serviço a Deus e à Sua Igreja, tem destas singularidades e num instante o sacerdote é chamado a uma nova missão e tem que largar tudo e todos, vivências e convivências, terras e comunidades, a que por razões naturais se afeiçoou como bom pastor às suas ovelhas, mesmo às mais negras do rebanho. Até sítios que se menos espirituais, pelo menos benfazejos ao corpo, que também precisa de retemperos, como o Quinta da Lama, que, experiente, me recomendou.

Isto significa que não é fácil, porventura não tanto para o sacerdote, imbuído de base na sua formação no espírito de missão e lealdade à Igreja e seus bispos, e por estes a Deus, mas sobretudo ao homem. É que, não raras vezes, somos levados a esquecer que por detrás de um sacerdote há um homem comum, com os defeitos e virtudes como os demais, ferido das fraquezas próprias da humanidade e a elas sujeito. 

Por conseguinte, ao ver com os próprios olhos, in loco, algumas daquelas terras e comunidades que paroquiou o Pe. António Jorge, bem como a riqueza das suas paisagens e património, incluindo o de carácter românico, como os mosteiros de S. Martinho de Mancelos,  o imponente S. Salvador de Travanca ou a mais singela igreja velha de S. Salvador de Real, não custa acreditar que aquelas almas que por ali fazem vida, sejam igualmente de gente boa e generosa e de braços abertos a quem chegou em nome de Deus, como foi o caso do Pe. António Jorge. Também a sua separação  do pároco deve ter sido dura.

Perceber e distinguir estas realidades é compreender melhor o espírito de missão do sacerdócio mas igualmente o de humanidade e da dureza da despedida, do desprendimento de coisas, lugares e gentes. É certo que, com as boas estradas e bons carros, ali chega-se num repente, mas a saudade não se mata apenas com visitas ocasionais. Ajuda, mas tantas vezes, porém, com isso apenas se aumenta o peso da mesma.

Para finalizar, significa tudo isto que o melhor contributo a alguém na situação do Pe. António Jorge, nosso pároco, é fazer-lhe sentir que pode contar connosco e que também aqui, mesmo que sem as belas e graníticas igrejas românicas, também há gente tão boa quanto a de Real/Vila Meã, Mancelos, Travanca, ou outras paróquias do Vale do Odres e Tâmega com quem comungou no dia-a-dia espiritual e social. Creio que ele conta com isso e com todos, mesmo que cada um só possa dar os talentos próprios.  Cabe a Deus fazê-los render na justa proporção.

Paradoxos do tempo





Há neste nosso Portugal, em todo o lado mas sobretudo no profundo, no interior, resquícios de outros tempos, de outras formas de ser e viver, que expostos ao diafragma dos olhares destes dias, apresentam-se como nostálgicos, mas em muitos casos como simbólicos e verdadeiros paradoxos, como que dedos indicadores em riste, a acusar quem durante décadas deixou que isto acontecesse. 

Poderia o passar dos tempos ser de renovação constante e serena, sem revoluções ou, como agora é tão na moda dizer-se, de adequação, valorizando-se em nome do respeito pelos esforços de passados e antepassados, mas não. Nada, ou muito pouco se fez, porque a voragem de visões políticas com equações que nunca tiveram em conta as pessoas e muito menos as suas terras e aldeias, não se compadeceram com lirismos e assim elas padeceram e pereceram. Atenuaram-se aqui e ali uma ou outra ferida, mas no geral elas são profundas e já cicatrizes e por isso irreversíveis à delicadeza da pele dos tempos. Não é um jogo de palavras ou um fácil trocadilho de circunstância, mas a realidade.

Esta placa, na fotografia acima, ainda caiada e vigorosa na sua função de aviso, foi deixada ali na berma de um ramal de caminho de ferro, hoje em dia uma ruína, um simples passadouro de cabras ou lagartixas. Os poucos humanos que por ela passam, a correr ou de bicicleta, é para aproveitar o traçado para uma corrida de exercício físico e a maior parte deles nem se dará à canseira de ver para além do sítio onde põem os pés ou a roda dianteira. E parar para tirar umas fotografias é estragar a merda da média ou então estar a quebrar o ritmo. É pouco, é muito pouco!

A correr, por estes dias, percorri por essa, dita agora ecovia, uns quase 20 quilómetros (a ir e voltar), e se o olhar se foi enchendo de paisagens  e da aspereza delas, como são em grande parte as desse reino maravilhoso de Miguel Torga, a alma condoía-se por essa pobreza do abandono e da incúria.

Esta placa é assim uma pura inutilidade quanto ao alerta que faz, porque ali nem passam pessoas, mesmo animais, poucos e desassossegados pela dureza das fragas, alguns pássaros livres, mas seguramente por ali já não palma a terra e os carris o comboio que outrora ligava Vila Real a Chaves, ali pelos vales e encostas do Corgo e do Tâmega. De resto, dos carris, já nem sinais deles. 

Já não há comboio, nem locomotiva num lufa-lufa, nem gente a caminho das aldeias, vilas e cidades transmontanas e os apeadeiros e estações são apenas lúgubres ruínas e se neles se ouvem ecos, são seguramente de fantasmas. E serão muitos esses espíritos que por ali ainda vagueiam, mortificados por perceberem ao que isto chegou. Em grande parte, é simbólico que uma grande fatia do nosso pequeno território não seja mais que terra de fantasmas. Mas para os ver e sentir os seus ecos, é preciso sair das autoestradas e dos IP,s e entrar em ruas estreitas e vielas cagadas por algum gado que ainda é a razão de ser de alguns idosos resistentes ao apelo do litoral, e pouco mais.

Vamos ver no que a coisa dará, mas já não haverá plano de resiliência, ou seja lá o que isso for, que nos valha. O mal já foi feito há muito. 

Deslumbramento...




Seguramente a nobre e bonita freguesia de Canedo tem uma das mais caras festas de arraial do nosso concelho por este querido mês de Agosto, como cantava o saudoso Dino Meira, Tem uma fartazana de artistas da rádio, tv e disco, a quem se paga milhares, tem uma majestosa procissão com mais de 30 andores, que chama mirones de todo o concelho e arredores, alguns andores com santos e santas repetidos, numa devoção redobrada, alguns até decorados com motas, e seguramente alguns milhares de euros gastos em deslumbrantes e exóticas flores.

Dizem que é um deslumbramento! Também concordo que é, mesmo que, quem sabe se pela idade, já pouco dado a deslumbramentos e, verdade se diga, a mais do mesmo, desta vez me tenha ficado pela visita à bonita igreja, esta, felizmente afastada do habitual rebuliço festivo que se vivia no alto do monte da Senhora da Piedade numa cacofonia de sons de carrocéis e bandas filarmónicas apertadas em pequenos coretos.  Além do mais, digo eu, há sempre outras coisas para nos deslumbrarmos. Haja olhos e algum discernimento para ver paradoxos e incoerências em certos deslumbramentos.  Todavia, para mal dos nossos pecados, temos também, nós os de cá, telhados de vidro.