8 de setembro de 2023

Árvore bendita



No chão, uma semente esquecida, encoberta,

A terra, com rudeza, a envolve indiferente,

Mas a vida, nesse seio, se faz descoberta,

E nele irrompe a árvore em luta inclemente.


Ramo a ramo alevanta-se, rija, obstinada,

Numa leito de fraga da dureza da serra.

Depois é sombra e dádiva a troco de nada,

Onde os bichos encontram a paz da guerra.


Árvore bendita, que tudo em ti é festa,

Presença austera ou delicada, mas de fé;

És tu mesma, em solidão ou em floresta,

Vivendo generosa até à morte, em pé.


A.Almeida - 210302023

Figuras típicas e castiças e pouco ou nada

Há pelas nossas terras, sobretudo pelas pequenas aldeias, pessoas que pelas suas particularidades se tornaram de algum modo emblemáticas, castiças ou ditas típicas. Seja pelas características físicas e de idade, de linguagem, de profissão ou outras, certo é que adquiriram esse estatuto perante a comunidade, mesmo que em rigor nada fizessem por isso.

Ora nos tempos que correm, tão ligados à importância da imagem e do antes parecer que ser, temos a tendência de colocar essas pessoas num certo pedestal, que mais não seja a modos de exibição, e neste aspecto as redes sociais dão uma grande ajuda, senão toda.

Apesar disso, e dessas pessoas só por si representarem esse estatuto perante os seus concidadãos, nem sempre correspondem a uma valorização decorrente de um ponto de vista de qualidade de cidadania e intervenção cívica no próprio meio onde habitam e têm o seu espaço.

Não faltam, pois, por aí, figuras bem típicas e castiças, que se expostas nas redes sociais colhem uma catrefada de gostos, mas que em rigor nunca nada fizeram de concreto como acto de cidadania ou de participação em todos os momentos comunitários. Nunca fizeram parte dos movimentos políticos, de uma junta ou assembleia de freguesia; nunca integraram uma comissão de festas de arraial ou de igreja; jamais participaram num passeio ou num evento comunitário; nunca estiveram em grupos ligados à paróquia ou ao apoio social; também passaram ao lado das responsabilidades numa associação cultural ou clube desportivo; mesmo quando solicitados em peditórios e campanhas de angariação de verbas para os diversos fins da comunidade, não aparecem à porta ou se sim com as mãos vazias e ainda a soltar cães ou a pregar sermões.

Apesar de tudo, mesmo com todo este estatuto de nada fazerem nem mexerem uma palha a favor da comunidade onde se inserem, continuam a ser tidos como figuras importantes, singulares. Pelo contrário,  aqueles que em todos os momentos foram participando activamente, contribuindo e colaborando na vida comunitária, só porque não tão típicos ou castiços, porventura mais discretos nas suas acções, acabam tantas vezes esquecidos e pouco ou nada valorizados e até mesmo desconsiderados. Esta é uma situação que ocorre em muitas comunidades e mesmo aqui em Guisande temos exemplos concretos de ambas as situações, os típicos que nada fizeram e os que muito contribuiram mas desconsiderados.

Em resumo, devemos valorizar todos os nossos concidadãos, é certo, mas sempre na justa medida e dar mais apreço a quem de facto se destingue pelo que faz e não apenas pelo que parece ser, por mais típico que seja. Acima de tudo devemos, tanto quanto possível, ser justos já que nem sempre o somos e custa-nos a reconhecer os méritos de tantos só porque não são das nossas relações, do nosso clube, do nosso partido ou não vão connosco à bola.

Nesta como noutras situações, fica sempre bem "o seu a seu dono" ou mesmo "separar as águas".


[imagem: D´Évora com Amor]

7 de setembro de 2023

Sem sede


Sob o sol escaldante a terra ressequida

Geme, ou mesmo grita de não sei que dor,

Numa sede aflita, em desencontro da vida,

Como uma semente que não brotará flor.


A paisagem pinta-se em tons de chama,

Sem tintas do suave céu e da erva verde;

Triste sina esta a de um homem que ama,

Com uma fonte nos olhos mas já sem sede.


Quisera eu ter a garganta ressequida,

Os olhos secos, em cegueira constante,

Para te beber e ver mais doce e pura,

Numa sôfrega bebedeira consentida,

Possuir-te no leito suave como amante,

Numa fome estrangulada pela fartura.


A. Almeida - 02092023

1.º Direito e 2.º Esquerdo

A propósito, ou não, de um certo programa de apoio e acesso à habitação, em sequência ou consequência de uma certa  estratégia local de habitação, que grosso modo aproveita financiamento da teta europeia do dito Plano de Recuperação e Resiliência (PRR):

O tal programa visa apoiar a promoção de soluções habitacionais para pessoas que vivem em condições habitacionais indignas e que não dispõem de capacidade financeira para suportar o custo do acesso a uma habitação adequada. Coisas bonitas.

Mesmo tendo lido na diagonal os documentos e apesar dos bons pressupostos, há à partida, parece-me, um princípio de igualdade que não é lá muito bem equacionado.

Um exemplo: Um agregado familiar que reúna os requisitos de baixos rendimentos para ser apoiado, mas que tem uma habitação de razoável qualidade e com todas as condições de habitabilidadde, e têm-na porque para a construir ou comprar contraiu um empréstimo ao Banco, à qual está hipotecada, e que paga mensalmente até à sua idade da reforma, fica de fora desta equação apesar de continuar com as dificuldades económicas inerentes ao peso da prestação do crédito habitação. 

Assim vamos tendo gente em habitação social acomodada, com bons carros, bom viver e a escapar aos inconvenientes de comprar terreno, fazer projecto, construir casa e pagar o crédito habitação e ainda os injustos IMIs como uma renda. Em rigor, o Estado e muitas autarquias limitam-se a apoiar a habitação a quem pouco ou nada faz por tê-la, mesmo que com as mesmas condições e rendimentos de milhares que o fizeram. Os exemplos estão à vista de todos. O pior cego é aquele que não quer ver.

Em resumo, estas políticas apresentam-se como boas intenções, e aproveitará sempre a uns quantos, mas que depois na realidade não servem nem se adaptam à generalidade dos casos.

Além do mais, muitos dos pressupostos do programa cheiram a esturro porque casos há em que os cidadãos se metem a requalificar uma velha habitação e só porque abrem uma janela ou uma porta extra, são esbarrados, coimados e confrontados com a  necessidade de licenciamentos que regra geral são demorados e caros, desde os projectos às taxas de urbanização e licenças. Poderia passar por aí alguma ajuda até porque os ditos planos de reabilitação dos nossos núcleos urbanos não passam dos PDFs e das intenções.

Por conseguinte, é tão bonito passar as ideias para PDFs e lançar uns programas jeitosos que depois, na realidade, servirão a poucos. Um pouco como certas câmaras municipais e juntas de freguesias a darem cheques a mamás e e papás, pobres ou ricos, como se isso sirva para alterar os problemas de fundo da natalidade e demografia. Quem não gosta de prendas? Todos gostamos e tiramos fotografias sorridentes a recebê-las. Mas isso, para além de poder render mais uns votos futuros aos promotores, resolve o quê em concreto? 

Seja como for, tudo o que se possa fazer por quem realmente tem necessidades e dificuldades nesse direito básico que é a habitação condigna, é sempre positivo, mas dispensa-se o folclore e acima de tudo que haja um critério rigoroso para ajudar a quem realmente precisa. 

Dignidade


Sobe, sobe mais, até mesmo ao cume!

Quando lá chegado terá valido o suor,

Mais o sabor que se obtém da vista.

Fica bem ao homem quando se assume

No seu esforço tenaz, na luta, na dor

Porque se resume a isso a conquista.


Nunca desista, pois, dessa sua ânsia,

De querer mais, bem mais, mas justo,

Sem mácula,  remorso ou falsidade;

São nobres a vontade e a constância

Mesmo que elas contenham um custo:

O de se viver com honra e dignidade.


A. Almeida - 07092023


Uma possível interpretação:

Este meu simples e despretencioso poema pretende apresentar uma perspectiva filosófica que pode ser relacionada com temas como a ética, a busca da excelência, a realização pessoal e a moralidade. Numa perspectiva filosófica podemos ter a seguinte interpretação:

Ética e Moralidade: O poema aborda a importância da ética e da moralidade nas nossas acções. Ele sugere que é digno e nobre procurar mais e alcançar objetivos ambiciosos, desde que essa busca seja justa, sem mácula, remorso ou falsidade. Isso implica que a virtude e a integridade são princípios essenciais na jornada em direção ao sucesso.

Vontade e Constância: O poema enfatiza a importância da vontade e da constância. A busca de objectivos significativos muitas vezes requer determinação e persistência, e essas qualidades são vistas como nobres. Isso se relaciona com conceitos filosóficos como a virtude aristotélica, que valoriza a busca da excelência e a formação de hábitos virtuosos.

Conquista e Realização: O poema sugere que a verdadeira conquista não está apenas no resultado final, mas também na jornada em si. A ideia de que "o sabor que se obtém da vista" é uma recompensa pelo esforço e pelo suor investidos e pode ser vista como uma expressão do valor da experiência e do processo, em vez de apenas do resultado.

Procura da Excelência: A mensagem central do poema está relacionada com a busca da excelência e da realização pessoal. Ele encoraja as pessoas a não desistirem de seus desejos de conquistar mais e de alcançar seus objetivos, desde que isso seja feito com integridade e dignidade. Isso pode ser interpretado como uma chamada para que as pessoas procurem o melhor de si mesmas nas suas vidas.

Em última análise, o poema pode ser visto como uma reflexão filosófica sobre como viver uma vida virtuosa e significativa, alcançando objetivos elevados, mantendo a integridade e a ética, e valorizando a jornada tanto quanto o destino. Ele ressalta a importância da vontade, da constância e da honra no processo de autodescoberta e crescimento pessoais.

5 de setembro de 2023

Como no jogo da toupeira e do martelo...


O Facebook aparentemente tem opções que permitem ao utilizador ver menos publicações de um determinado tipo, como publicidades, como os reles vídeos reels, etc. 

Mas é uma tarefa inglória e faz-nos lembrar aquele jogo do martelo e da toupeira em que batemos com o martelo num buraco mas a toupeira aparece logo noutro e assim sucessivamente. 

Por conseguinte, todas as opções nas configurações são na realidade inutilidades, porque por cada assunto que denunciemos como imprórpio ou irrelevante, o sistema tem milhares de outros prontos a entrar em acção. Está mesmo infestado de toupeiras. De resto não os dispensa porque é disso que obtém lucros astronómicos.

Em resumo, a solução para de algum modo fugir a tanta contaminação nesta rede social, é mesmo, de vez em quando, fazer umas boas pausas, como de resto tenho feito ou, de forma mais eficaz,  desactivar a conta e a página. 

A continuar assim...

4 de setembro de 2023

Pergunta sem resposta

Num destes dias, na semana passada, a Rua de Fornos (EN223) voltou a ser rasgada de lés-a-lés, creio que em dois diferentes sítios. Presumo que à procura de ouro, pois já por várias vezes no mesmo sítio sem que descortine o verdadeiro motivo. 

Mas verdade se diga, quase em simultâneo foram repostos os pavimentos que, mesmo sendo  remendos, ficaram com qualidade similar à restante estrada.

Não que espere resposta, mas pergunto a mim mesmo porque é que este tipo de procedimento consecutivo (rasgar, repavimentar) não acontece nas restantes ruas? Por exemplo, na Rua de Trás-os-Lagos, que continua ali com valas por repavimentar, vai para meio ano?

Como disse, não espero respostas porque a quem cabe dá-las porventura também não saberá ou não convirá responder. 

É assim que as coisas funcionam, devagar, devagarinho, quando não paradas. Para além dos mais, gente como eu, que vem escarafunchar estas feridas, são poucas, porque a maioria essa já nem quer saber de tão dormente que está no que toca à desconsideração.