16 de dezembro de 2023

Trail da Aletria - 1.º e último

 



Trail da Aletria. Classificação: Geral: 1.º e último. Escalão M60: 1.º e último.

Uma bombástica e épica prova que me fez levantar o ego, o pénis e a auto-estima. Uau! Awsome! E baratinho, sem consumo de água, nem de powerades, redbulls,  de géis, de gelatinas, de barritas ou de suplementos xpto à campeão.

Fora de brincadeiras, e publico isto só para dois ou três amigos, porque quem andou não tem para andar, foi um treino solitário e esforçado numa bonita manhã de sábado. Amanhã sai a bicicleta!

15 de dezembro de 2023

Já não há dramas

O Ezequiel, o Sr. Oliveira como gosta que o tretem, reformado que está depois de passar o negócio das tintas ao genro, mantém ainda velhos costumes de quando foi presidente da Junta de Gueifães e assim, logo que levantado, em caminho para o Central, o único café da aldeia, montava o seu velho mercedes e lá ía dar uma volta completa e demorada pelas ruas da freguesia como um dono a assegurar-se de que tudo estava nos conformes, no seu lugar. Sim, porque mesmo que minguada de gente, a aldeia não era coisa de correr em dez minutos e por isso, se chuvia ou ventava, havia sempre umas sarjetas a mandar limpar, um muro tombado a exigir reparação, uma árvore atravessada a ser removida, uma água a alagar os baixios a ser desviada. Mas também gostava de encontrar alguém e, mesmo sem saír do carro, meter conversa, mais para tirar nabos do púcaro e a pensar na popularidade que renderia votos na reeleição do que por motivo franco.

Mantém esse hábito o Sr. Oliveira e ainda hoje, mesmo que já não todos os dias nem se preocupando agora com sarjetas entupidas ou derrocadas nas cruvas, ainda dá as suas voltas pela freguesia mas, mesmo que as dê pela fresca matina ou a meio da tarde, o resultado é quase sempre o mesmo mas com uma diferença: Tudo continua no mesmo sítio mas gente com quem conversar, e sobretudo bons conversadores, é que já não se encontra e as ruas cada vez estão mais desertas. Alguns reformados que antes ainda se viam a cavar na horta ou a podar umas videiras, com quem seria fácil meter conversa, estão agora pelos lares entretidos com actividades escolares como se voltassem a ser crianças.

Assim, invariavelmente desconsolado, lá chega ao Central para tomar o café, também ele à semana quase deserto de gente, com um ou outro surumbático a ler o jornal de fio a pavio, como o cunhado, o Nando da Micas, que nem sequer levanta os olhos para cumprimentar quem entra ou o Alfredo a foder a pensão nas raspadinhas. Ao fim de semana, sábado ou domingo, sempre se encontra mais gente mas mesmo assim não é como dantes em que era certinho e direitinho que se encontrasse o Neca do Pinho tinha ali conversa para uma ou duas horas mesmo que tantas vezes a repetirem-se histórias e episódios antes contados. Ali no Central ou junto à porta dele onde de propósito parava, gostava de ouvir o Pinho, figura austera e culta de ler jornais e ver telejornais, ainda na sua altiva pose de sargento que foi na tropa. Reconta-lhe pela enésima vez episódios a merecerem barrigadas de riso ou bocas abertas de espanto como a luta que na sua várzea travou com o Adelino, seu confrontante, em que ora por uma questão de águas, ora por uma disputa de passagem de servidão, lá se engalfinharam e puxando do canivete com que nas merendas lascava salpicão e queijo lhe subtraiu meia orelha e só não lhe cortou o pescoço porque o canivete não dava para tanto, mas que tivesse ali à mão a catana ou o foucinhão e seria de um só golpe.

Esta e outras histórias, do Pinho, mas também do Zeferino, do Fanecas e de outros mais castiços da aldeia, gostava de ouvir o Ezequiel que depois, como bom contador que era, lhes acrescentava, aos contos, os pontos necessários para lhes aumentar os enredos dramáticos ou contornos de comédia, conforme lho pedisse a plateia que o cercava quando o Central tinha clientes bastantes.

Mas o tempo passou e o Ezequiel está mais velho, o Pinho e companhia já foram à vida e já não há quem ajude o velho autarca a não só a matar o tempo que tem de sobra como para lhe aumentar o rol de histórias a meterem zangas entre comadres, disputas entre vizinhos, ameaças entre confrontantes de matos e leiras, lutas políticas e partidárias, segredos da sacristia e provocações de adeptos da bola.  Nada! Uma triste tristeza os tempos de agora em que falta gente capaz. Dos mais novos parece que já nada têm que contar e que a vida lhes passa sem qualquer desassossego, sem dramas, misérias ou estados de alma que sejam dignos de ser contados e recontados. E se os há, já não são confidenciados em surdina e sob jura de segredo ao Ezequiel. Quem quiser agora saber destas coisas, de novidades das gentes da aldeia, das sua vaidades e invejas, tem que andar a chafurdar pelas redes sociais, pelo Facebook. 

Ora o Ezequiel Oliveira sempre se teve em conta como pessoa culta e bem formada mas com as novas tecnologias é que nunca passou de um zero à esquerda e já é atrapalhação bastante o ter que usar o telemóvel a fazer e receber chamadas, quanto mais para andar nessas coisas de facebooks. 

Mas é pena, pois o Ezequiel era um bom guardador de memórias mas o tempo, os novos, não se compadecem com estas coisas, com estas virtudes e actualmente já são poucos os bons conversadores e sobretudo os que têm algo para contar. Hoje em dia andamos todos tão igualmente formatados que até parece que feitos da mesma massa e forma. Ora os que destas bases saem desformatos, com algum defeito de fabrico, são, como na cunhagem de moedas, peças raras e valiosas. Difícil e pôr-lhes os olhos em cima.

Tem que se conformar o Ezequiel porque estes são tempos novos e diferentes e quanto a conversas e conversadores, estamos conversados!

Sem crescimento, sem multiplicação

Há dias, a propósito da tradicional benção dos bebés de colo e de mulheres grávidas na missa da Imaculada Conceição, 8 de Dezembro, data para muitos considerada como o Dia da Mãe, ficamos a saber, pelo menos a ter em conta quem acedeu ao convite e participou, que a nossa freguesia de Guisande tem apenas uma mulher grávida e uma criancinha nascida neste ano da graça de 2023. Mas no dia seguinte, Sábado, afinal apareceu mais uma bebé, que ali foi baptizada.

Em resumo, mais coisa menos coisas, os dedos de uma só mão são suficientes e sobram para contar os bebés que nascem em Guisande em dois anos. Creio que não exagero ou então ando a leste de quanto ao que por cá vai decorrendo no desígnio bíblico do "crescei e multiplicai-vos".

Já o tenho escrito por aqui e não vou de novo esmiuçar razões para este problema de baixa natalidade, que nem sequer é só nosso, da freguesia e do país. É sobretudo da Europa, da nova, porque da velha era gente à fartazana, agora a desertificar-se de naturais, abrindo assim espaço, políticas e metas para poder abrir as portas ou as pernas para uma imigração sobretudo muçulmana, desmesurada e com pouco escrutínio de integração no mercado do trabalho, mas também cultural, social e mesmo religiosa porque invariavlemente a querer impor-se e sobrepor-se. Adiante!

Resulta daqui, que este rio caudaloso de motivos e realidades desagua num mar tempestuoso e de muitas incertezas. A nossa freguesia está a perder população, por isso com falta de crianças, gente nova e daí o inevitável envelhecimento da população. É certo que nos últimos anos construiram-se uma meia dúzia de novas habitações, supostamente com gente jovem capaz de alargar a família, mas por outro lado e em contraponto, são mais as casas que vão fechando, porque velhas e sem moradores ou então casas onde só vivem velhos, viúvos e viúvas, desamparados na sua solidão.

É o que é! Deste modo qualquer projecto ou ideias de grandeza para esta terra choca paradoxalmente com este encolher anual da população. Ademais, dos que vão resistindo poucos são os que mostram vontade e capacidade em qualquer esforço de inversão. Assim seguimos irremediavelmente condenados à extinção, como em tantas aldeias no nosso interior desertificado. Certamente que já não estarei por cá nessa altura mas por ora parece-me uma fatalidade incontornável. O contrário, mas contra-natura, só mesmo com uma nova invasão árabe ou africana.

14 de dezembro de 2023

Assembleia de Freguesia - 21 de Dezembro de 2023

 

Data: 21 de Dezembro de 2023 - Hora: 21:00 horas
Local: Polo da Junta em Louredo

Blackout ao Natal mágico

Estamos tão dependente dela, para ajudar a matar o pouco tempo que nos sobra do lufa-lufa do quotidiano, que não a dispensamos. A televisão tornou-se companheira e substituta de gente e em muitos lares é a única voz que se ouve na solidão de quem vive só, por opção ou por fatalidade. 

Pessoalmente sou fraco consumidor de televisão. Apenas algum serviço noticioso, comentários e análise das actualidades, depois alguns documentários, alguma música clássica um ou outro episódio de uma qualquer série, sobretudo de comédia. Filmes, raramente e apenas os climaxes finais. O futebol nunca me prendeu, mas porque definitivamente sem paciência para essas chuvas no molhado, deixou, quase definitivamente, de fazer parte do cardápio e apenas um ou outro resumo da coisa já acabada só para me sentir informado o bastante.

Mas tantas vezes chego à conclusão que em rigor nem vejo televisão porque o mudar de canal (dizem que zapping) é constante na procura do que poderá ter interesse e naquelas duas centenas de canais, ou por aí, poucas vezes dou de caras com algo que me prenda a atenção e, pasme-se, por vezes paro nos canais chineses. E se encontro algo de interesse, tantas vezes constato de seguida que é algo que já se viu, sim, porque na nossa televisão as coisas repetem-se vezes sem conta como o "Sozinho em Casa" na proximidade do Natal.

Em todo o caso, e era aqui que queria chegar, por estas alturas em que está na mira o Natal, e que nas televisões começa bem cedo, com bombardeamento de anúncios de produtos de mercearia, relógios, perfumes, carros, chocolates, etc, etc. Creio que, passe o humor negro, nem em Gaza há um bombardeamento tão persistente. Por conseguinte imagino, sem que ponha em prática, como seria bom desligar as nossas televisões no dia 1 de Dezembro e só as voltar a ligar já perto do Carnaval. Uma espécie de blackout sanitário. Poderia custar nos primeiros dias, como qualquer desabituação, mas depois os benefícios seriam sentidos. Assim como uma espécie de desintoxicação.

Mas é esquecer, porque na realidade o que estou a dizer ou a imaginar, para a larga maioria das pessoas consumidoras, a coisa cheira a heresia. Então como havia de ser nas salas de espera de centros de saúde, hospitais, cafés, restaurantes, etc, etc? Como é que a juventude sem a Netflix e semelhantes? E de que maneira os adeptos fanáticos iriam passar o mês sem assistir a jogos do Porto e Benfica e às análises na CMTV com os broncos do Rudolfo Reis, Fernando Mendes e outros que tais? E os idosos, sozinhos em casa, sem ouvir as missas e aquelas coisas intermináveis nos domingos à tarde num desfile de cantores pimba e venda de chouriços? E com que depressão ficariam se inibidos de assitir ao "Preço Certo" e às piadolas do Fernando Mendes? E em que companhia fariam as domésticas o almoço, sem Gouchas, Cláudios, Sóninhas, Gabriéis e outros da mesma igualha, a falarem da vida deles próprios e de vidas alheias? Poderia lá ser! Era o fim do mundo!

Continuemos, pois, a estimar a nossa querida televisão até porque como nela nos dizem repetidamente, que este Natal vai ser mágico!

13 de dezembro de 2023

No país das replicações - Estamos nesta

Anda por aí uma febre desmesurada, que não é de agora, mas tão nossa, genuinamente portuguesa, a de copiar e replicar coisas e eventos que vemos e invejamos no vizinho ao lado, na freguesia, vila, na cidade ou no estrangeiro. 

Nesta onda do "também nós podemos e somos capazes", são mais que muitas coisas que têm sido replicadas. Senão veja-se: São os baloiços, implantados em tudo quanto é portela, monte ou serra; Os passadiços, essas estruturas em madeira começaram a ganhar e a galgar terreno e como serpentes estão já em todo o lado, tanto em escarpas imponentes e desfiladeiros só acessíveis a águias e abutres como a bordejar insignificantes ribeiras e charcos.

Mesmo as pontes que para nada servem senão para entretar e pôr à prova medos ou coragem de turistas, também já são negócio de milhões e se Arouca tem miseráveis caminhos de cabras promovidos a estradas e aldeias sem redes de água e de esgotos tem uma dessas maravilhas da engenharia das coisas suspensas.

Também os eventos de entretenimento ditos de época estão na moda e assim temos viagens, festas e feiras romanas, medievais, napoleónicas, mercados recriados como os que se fazim nos tempos dos nossos bisavós e outras que tais em várias aldeias, vilas e cidades; Mesmo por cá na nossa Feira, de vaidades, não fazemos a coisa por menos e desde a interminável churrascada da Viagem Medieval no Verão à sombra do castelo que se desmorona no Inverno,  temos ainda o mundo do faz-de-conta chamado Perlim, a entreter crianças e adultos, também a condicionar trânsito e acessos a quem tão somente quer ali pacatamente à baixa tomar chã e comer fogaça.

A criançada também não está dispensada destas réplicas e já não faltam, por tudo quanto é sítio, parques temáticos, vilas natais, feiras e feirnhas, mercados e mercadinhos de Natal, dos mais sofisticados com arenas de gelo aos mais simples; Depois, mesmo que a perder espaço, porque o Natal já pouco tem de religioso, há ainda os presépios, simples à moda napolitana com figuras de barro sobre cascos de cortiça atapetados de musgo, aos mecanizados ou com figuras ao vivo.

As iluminações, essas coisinhas a piscar, coloridas e brilhantes, em que as autarquias gastam balúrdios do orçamento a enfeitar pinheiros naturais e artificiais, a arcar ruas, praças e largos, a delinear cruzeiros, capelas e igrejas, são já atracção em várias cidades e para elas organizam-se excursões com dezenas de autocarros cheios de curiosos. Em Vigo, Espanha, por tanta afluência de locais e sobretudo portugueses, a assistir a esse céu brilhante tem sido um inferno para os moradores, com ruas entupidas de multidões, mesmo a ponto de obstacularizar o normal fluxo do trânsito e até mesmo situações de emergência médica; Por cá e para cá há excursões e filas de trânsito para entrar em Águeda e em Óbidos, propagandeada como Vila Natal, no que tem sido um quebra-cabeças e dores de cornos e filas intermináveis nas bilheteiras e nas ruas apertadas para sentir essa coisa tão larga e comercial traduzida como espírito de Natal; 

Estamos nesta! 

Mas a coisa não se fica por aqui e mesmo no entretenimento desportivo as provas de corridas, com designações parolamente a abusar dos inglesismos, são um negócio da china e é ver os calendários nas empresas que as organizam, promovem ou controlam para ver que do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira, são mais que muitas e todas a reunir rebanhos de atletas, dos verdadeiros e vitaminados aos aspirantes, dos que acabam as provas em passo de lebre como se quenianos ou etípoes, aos que as terminam com horas de atraso e sofrimento nas pernas e no rosto mas com a mesma publicitada satisfação de um épico dever cumprido. Desde Lisboa ao Porto, do litoral ao mais humilde lugarejo no Portugal interior desertificado, todos querem ter a sua prova de corrida ou trail.

Estamos e continuamos nesta!

E tudo isto é positivo? Ou negativo? Nem sim nem não, antes pelo contrário, até porque tudo se resume a ganhar e gastar dinheiro, esse binómio que dizem que faz movimentar as rodas do mundo e a engrenagem da sociedade, mas é sobretudo um exagerado exagero e a prova provada que hoje em dia, muito à conta das modas, das tendências (trends) e redes sociais que as ampliam e dão espaço aos egos colectivos e individuais, damos um excessiva e desmesurada importância às coisas, mesmo às que a não tem, a ponto de nos surpreendermos com a mais insignificante, corriqueira ou normalíssima delas. 

Estamos nesta! 

Compreendo que assim seja e será, mas para quem tem já muito caminho trilhado e já viu de tudo e de muito, começa a faltar a paciência para estas novas réplicas de replicações. Andamos por aí a apregoar que a China não sabe mais que copiar o que os outros fazem, desde um isqueiro a um avião, passando por relógios e mercedes, e nós, pobres tugas, nesse campeonato de copiar e replicar damos cartas e deixamos os chineses, eles próprios, de olhos em bico.

Estamos nesta!

12 de dezembro de 2023

Mais do mesmo e 2+2 continua a ser 4

Não ouvi a entrevista que o cessante primeiro ministro, António Costa, concedeu ontem à CNN - TVI. Ouvi apenas, já hoje, as reacções dos partidos. Como se esperava o PS a enaltecer a acção e a figura  e os opositores a depreciarem, e nestes a tónica de que António Costa disse muito e não disse nada, jogando com números que não batem certo com a realidade, fazendo-o com arrogância e sobretudo sem reconhecer os erros.

Uns e outros, entrevistado e partidos, disseram o que se esperava que dissessem. Isto é, dali não vem qualquer novidade. Sempre foi assim e sempre assim será no jogo político. É um entretenimento. É como irmos ver um jogo de futebol sabendo previamente qual vai ser o resultado final, indo apenas quem gosta de rever o que já viu.

Mas de facto António Costa, que reconheço como uma boa pessoa mas melhor político na acepção da palavra, porque experiente, ardiloso e habilidoso, sabe jogar com vários naipes, mas quase nunca a reconhecer erros e neste mandato de maioria foram mais que muitos. Para além do mais, os números que aponta como um sentido positivo, crescimento e aumento de rendimentos na realidade não se traduzem em melhores condições de vida das pessoas e basta atentar nas realidades que todos os dias são notícia, desde logo o colapso do Serviço Nacional de Saúde, do INEM, da Educação, bem como de muitas outras maleitas que de tão óbvias se torna fastidioso a todas enumerar.

Mas isto é política, meus senhores! Venha o PS, PSD ou qualquer outra geringonça dita parlamentar, será mesmo para lamentar porque mais do mesmo! Habituem-se!