1 de janeiro de 2000

A regueifa doce de Guisande


A regueifa doce, pelas suas características, pode dizer-se que nem será um pão nem um bolo, pelo que de certa forma é um pouco dos dois. Será assim um pão doce.

É certo que a regueifa doce faz-se um pouco por todo o país, variando no formato e nos ingredientes, mas podemos dizer que a freguesia de Guisande tinha, até há pouco tempo, fortes tradições e ate fama na sua regueifa, tanto a confeccionada em cada casa para consumo próprio, como a que se fabricava e vendia para fora. Porventura a nível do concelho da Feira seria a mais considerada.

O fabrico da regueifa doce em Guisande estava essencialmente ligado à quadra pascal. Noutros tempos em que o pão-de-ló era um luxo e coisa rara, porventura de acesso apenas a casas de famílias mais abastadas, a regueifa era o doce da Páscoa por excelência. Não havia mesa que não a ostentasse.

Actualmente já não há ninguém a fabricar para venda. Até há bem pouco tempo, ainda era possível comer uma boa regueifa à moda de Guisande, tanto pelas mãos da Sr.ª Tina, mulher do Sr. Neca, no Viso, como da Sr.ª Tina da Casa Neves, na Gândara. Para além das destas duas conhecidas fabricantes, eram afamadas as regueifas confeccionadas pelas já falecidas Sr.a Amélia e Sr.ª Elvira, ambas do lugar de Casaldaça. Infelizmente não deixaram quem desse continuidade a esta tradição de fabrico artesanal. Em vésperas da Páscoa, nas suas casas era uma total azáfama, trabalhando-se de dia e noite para satisfazer as inúmeras encomendas para a própria freguesia bem como para clientes forasteiros que reconheciam a qualidade ímpar da regueifa doce à moda de Guisande.

De um modo geral, pode caracterizar-se a regueifa doce de Guisande como um pão doce de forma circular, com diâmetro entre 20/30 cm, dependendo do peso, e montada com dois rolos de massa de forma entrançada e a formar um buraco, não muito grande, no centro. Depois de devidamente levedada, a regueifa era cozida em forno de lenha. Antes e depois de saír do forno era pincelada com uma mistura de açúcar e manteiga e polvilhada com açúcar granulado, no que lhe dava um aspecto dourado escuro e brilhante.
No aquecimento do forno, tradicionalmente era utilizada carqueja e queiró que se recolhia nos matos da freguesia. O tipo de lenha utilizado no aquecimento do forno contribui em muito para o sabor da regueifa.

A regueifa doce à moda de Guisande, mesmo passados vários dias e apesar de ficar seca (recessa) conservava a qualidade e continuava a ser uma merenda apetecível. Frequentemente, no período pós-Páscoa, era conservada e servida nas tradicionais merendas nos intervalos dos trabalhos do campo.

São reconhecidos com bons acompanhamentos da regueifa doce, um bom vinho do porto ou bom vinho tinto, queijo e até manteiga.
O segredo de cada regueifeira estava naturalmente nos ingredientes e suas proporções bem como no modo e tempo de preparação da massa, levedura e qualidade do forno e cozedura. De todo o modo, há ingredientes que parecem ser mais ou menos comuns, nomeadamente:

farinha de trigo, fermento, açúcar, leite morno, ovos, manteiga, sumo e raspa de limão, vinho do porto, eventualmente um toque de canela, raspa de côco e café e também sal. Os segredos de cada fabricante residem essencialmente nas quantidades e proporções dos ingredientes, modos de preparação, forno e lenha utilizada no aquecimento.




Acima, algumas regueifas de Guisande, já levedadas e preparadas para entrarem no forno. Fornos na casa da Sr.a Tina e  Sr. Neca, no lugar do Viso.

regueia doce

- Exemplar com formato aproximado da regueifa doce de Guisande