1 de janeiro de 2000

S. Mamede - Biografia


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Mamede, nasceu na cidade de Cesareia, na Capadócia, hoje chamada Kaisarieth e sob domínio da Turquia. Viveu nos fins do Sec. III, sendo que nesta altura a sua cidade natal estava sob domínio do Império Romano, pela mão do Imperador Aureliano. Na Capadócia havia um crescente florescimento cristão, de onde imanaram zelosos sacerdotes e notáveis pregadores e santos. Claro está que este movimento cristão era alvo de perseguições desmedidas, por parte dos responsáveis pelo Império Romano. Foi então em Cesareia que, mesmo perseguidos, presos e martirizados, Teodoto e Rufina, conseguiram ainda assim zelar para que o nascimento de Mamede se verificasse. Logo após o martírio de Teodoto e consequente morte, nasceu Mamede, pouco antes de também sua mãe morrer. Não fora uma santa e rica matrona de nome Amia, ter adoptado Mamede que, segundo a história terá sido ele próprio ainda precocemente a dizer à sua mãe adoptiva que, por revelação de um anjo, o seu nome seria Mamede, cresceu e cedo começou a receber os primeiros ensinamentos da doutrina cristã, mostrando singular aplicação e inteligência.

Desde cedo que a prática das virtudes cristãs, nomeadamente a oração, a modéstia e o pudor eram prática corrente. Ele próprio incitava os companheiros na prática destas mesmas virtudes. Ensinava-lhes as verdades da fé, conduzia-as ao Baptismo e incitava-as ao comprimento dos Mandamentos de Deus.
Embora fosse possuidor de avultados bens de fortuna, procurava viver como pobre, empregava essas riquezas em obras de caridade, visitava assiduamente doentes e encarcerados e acompanhava os mortos à sepultura orando pelo eterno repouso das suas almas.

Foram dois os momentos da sua vida em que sofreu pesados martírios, começando ainda com tenra idade por ser mandado prender por Demócrito, carregar com cadeias de ferro e pesos e ir à presença do Imperador Aureliano, no sentido de renunciar à fé cristã que tão devotadamente professava. Aureliano, faz-lhe todo o tipo de promessas aliciantes, mas uma vez que nada conseguiu, passou às ameaças e ao terror dos suplícios. Foram-lhe confiscados os bens, recebeu ordem de prisão perpétua, mas nem mesmo assim Mamede renunciou à sua fé. Conta a história que, a dada altura, dentro do cárcere, uma voz celestial, lhe terá segredado “tem coragem, ó jovem Mamede; guarda a fé e mostra o teu ânimo varonil: pois bem-aventurado será quem sofrer perseguição por amor a Cristo”! Não satisfeito com o que até agora tinha ordenado, fez o Imperador passar Mamede por cruéis torturas, com vergastadas sobre as suas tenras carnes, com varas, ferros, espinhos e correias. A sua carne chegou a mostrar os ossos. 

Não sendo suficiente, foi apedrejado, sofreu a aplicação de lâminas candentes sobre as feridas do corpo e por último foi sujeito à pena do cavalete, que não era mais do que um instrumento de ferro ou de madeira sobre o qual colocavam o corpo do condenado, sendo depois amarrado de pés e braços; depois, moviam o instrumento de tal forma que até os membros se moviam e rangiam. Perante tais suplícios, Mamede apenas dizia: “em vez de castigo, concedei-lhes o perdão”. Não se mostrando disposto a ser vencido, o Imperador ordenou que lançassem o corpo de Mamede ao rio Karassou, esperando que o mesmo encontrasse a morte e a sepultura eterna neste. No entanto, ainda não era a altura para Mamede sucumbir, e foi visto erguer-se do seio das águas para o monte Argeo, pela mão omnipotente de Deus. Mamede optou por viver neste monte, de forma solitária durante três anos, assumindo assim postura de eremita. Por vezes, Mamede receava-se com a convivência de um Anjo, que O Senhor lhe enviara. Por vezes descia até à cidade de Cesareia, coberto com farrapos e peles, para apostolizar os jovens e dilatar as fronteiras do reino de Cristo, seu único ideal.

Numa dessas visitas à cidade de Cesareia, acabou por ser preso, ele, mais quarenta meninos a quem ele ensinava a doutrina de Cristo. Estes meninos foram julgados, presos e condenados a morrerem de fome; no entanto eram visitados por um Anjo que lhes levava mel e leite em abundância para que se alimentassem. Passados alguns dias, Mamede recebeu inspiração para abrir as portas do cárcere e dar liberdade aos seus discípulos. Foi este acontecimento que exasperou de tal forma Alexandre, sucessor de Demócrito, que logo prometeu matar Mamede a todo o custo. Assim, surge a segunda fase do martírio do nosso santo, tendo Alexandre ordenado que acendessem em chamas a fornalha ardente e lançassem vivo o jovem Mamede até ficar reduzido a cinzas. Tal ordem foi cumprida sem que no entanto o fogo fizesse qualquer mal a Mamede, que passeava dentro da fornalha como num jardim. Findos cinco dias, Mamede saiu ileso da dita fornalha motivo mais que suficiente para enraivecer Alexandre, ordenando assim que soltassem no anfiteatro feras sobre Mamede. 

Porém qualquer das feras ao chegarem junto de Mamede, amansavam e até o protegiam. Alexandre, envergonhado e enraivecido manda então que abram o abdómen de Mamede com um ferro tridente. Mamede caiu por terra, com as entranhas saídas para fora, dando a entender que estaria morto. Essa foi a notícia que correram a dar a Alexandre que ficou assim tranquilo. Mas, não tinha chegado ainda a hora de Mamede, pois ele recolheu as entranhas e apoiado por um bordão ergueu-se e caminhou até ao monte Ergeo. Aqui, ouviu uma voz celestial que descendo sobre ele dizia: “ ascende ao céu, ó corajoso Mamede, pois Cristo, teu rei e senhor, de quem foste soldado fiel e forte, aguarda-te para te coroar com glória, e resplandeceres sobre a mocidade cristã; quem como tu, combateu o bom combate, florescerá, como lírio, no trono do cordeiro celestial; grande é o teu nome no céu e na terra!...” Mamede deixou assim uma notável fama da sua vida no Oriente, principalmente na Capadócia, na Cicília e até na síria sendo apelidado de “O Grande Mártir”. No Séc. IV notáveis doutores da Igreja, São Basílio, Bispo de Cesareia e São Gregório Nazianzeno, compuseram magníficos encómios, o que mais contribuiu para a expansão do seu culto. O Martirológio Romano gravou nas suas páginas com letras de ouro o nome do Mártir.

O Corpo do “Grande Mártir” foi recolhido, pouco depois da morte, e logo honrado pelos fiéis de Cesareia e vizinhança. Foram muitos os milagres praticados por Deus por intercessão do santo. Mais tarde, o corpo de São Mamede foi transladado para Jerusalém, e depois para Constantinopla, onde se conservou durante muitos séculos. Uma parte deste corpo foi levado mais tarde para a Diocese de Langres em França, sendo que, outras partes do corpo tomaram o mesmo destino ao longo dos séculos oitavo, décimo e décimo primeiro, escapando assim a fúria das guerras e perseguições do oriente. Tão precioso tesouro encontrava-se até 1942, data em que foi feito o livro que serviu de base a esta pequena biografia de São Mamede, na Catedral de Langres, dedicada ao santo.

Não há certezas de como chegou a devoção por este santo a Portugal, mas pensa-se que talvez tal tenha acontecido aquando da vinda de alguns eremitas vindos do oriente, fugidos das perseguições romanas. Fosse por que razão fosse, a verdade é que existem em Portugal doze Dioceses, num total de sessenta e cinco paróquias, dedicadas ao Mártir São Mamede, de entre as quais, Guisande. No calendário litúrgico o dia de São Mamede celebra-se a 17 de Agosto.

(fonte: www.jf-perafita.pt)