13 de outubro de 2022

Vida de cão num filme com cabra


Porque já se faz tarde para bicicletar antes do jantar, ontem fui correr: Só para quem gosta de números, 10 Km em 55 minutos. É o que se pode arranjar para quem está à porta dos 60 e com a balança ainda a queixar-se. 

Mas não é isto que interessa porque interesse não tem para quem isto escreve muito menos para quem o lê.

Passe o prefácio, o principal da jornada é que já na parte final da corrida, ali pela Leira, vi uma cabra amarrada a um poste com um metro de corda, a balir insistentemente apesar de ter erva fresca à sua volta.

Estranhei e questionei a mim próprio quem é que ali amarraria o raio de uma cabra apenas num metro de corda? Seria para limpar as ervas da valeta, metro a metro? A ideia não seria inovadora mas teria a sua piada.

Por outro lado fiquei a pensar que as cabras às tantas são como as  galinhas, e àquela hora (19 e picos) já com o sol a esconder-se, quereria recolher à corte e mais não fazia que reclamar ao dono.

Mas logo de seguida, percebi: Afinal a cabra viera perdida do lugar de Azevedo, como um cão vadio sem rumo, e às tantas alguém ali na Leira meteu-lhe as mãos aos cornos e prendeu-a à espera do dono, que já estava a chegar com uma corda mais comprida, certamente para a levar de volta e agradecendo a quem ali a parou e reteve na sua caminhada de cabra solta que saltara a cerca. 

É claro que este filme foi exibido em poucos segundos.

Enquanto corria para casa fiquei a pensar na cena e a imaginar se em vez de cães vadios, de tantos que por aí andam, fossem cabras ou cabritos? Mas foi um pensamento inútil, porque se assim fosse ao fim de um dia já estavam todas, pelo menos os cabritos, recolhidas. 

Uma cabra dá leite e mesmo já velha come-se em chafana. Quanto a cabritos, que o diga o Relvas, que não dá mãos a medir a aviar assadeiras domingueiras lá para os lados da Gestosa.

Por conseguinte, andam por aí cães vadios porque em rigor ninguém os quer, nem dentro nem fora da porta muito menos salteados com batatas. É que nisto de os comermos, ainda não estamos na China.

Ora por cá ninguém abandona uma cabra, muito menos um cabrito, mas um cão não tem essa sorte e o que não faltam por aí é cabrões a abandonar cães ou a tê-los presos a um metro de cadeado em que, ao contrário da cabra deste filme, não têm erva verde mas um chiqueiro polido de pó ou lama.

Será por isso, com certeza, que se diz, em lamento, "vida de cão"!