Não sou perfeito e ainda bem! E todos nós! Afinal a natureza é ela própria imperfeita, se não na sua essência pelo menos na forma como cada um de nós, ínfima criatura, a vê, a define e julga.
Somos em grande parte uma súmula de egoísmo, o querer sol na eira e chuva no nabal. Incomoda-nos que no dia de uma nossa festa chova mas não nos ralamos se tal acontecer no divertimento do vizinho. Vemos com a nossa miopia o pequeno defeito nos semelhantes mas nem com lentes de aumento os descobrimos em nós.
No resto, se admiramos com deslumbramento as belezas da natureza e da sua criação, no mundo animal e vegetal, porque raio tem que haver terramotos a rasgar a terra e a derrubar as nossas criações, tempestades a fustigar mares e terra e vulcões a vomitar fumo, cinza e lava? Porque não apenas amena calmaria e doces bonanças ou, se mesmo necessárias essas diatribes, porque não mais suaves, benevolentes?
Resulta de tudo isto que a perfeição talvez seja precisamente o equilíbrio destas duas realidades. Quanto a mim têm razão os orientais com a filosofia taoista do Yin-yang, que expõe a dualidade de tudo quanto existe no universo e por arrasto na natureza, da terra e nossa. Por ela são descritas as duas forças fundamentais que se opõem e complementam entre si.
Somos assim perfeitos na imperfeição, satisfeitos na insatisfação, murchos na erecção.