29 de janeiro de 2024

O talento já foi chão que deu uvas


O talento pode ser definido como uma habilidade natural ou aptidão excepcional para realizar alguma atividade com destaque, muitas vezes demonstrando facilidade e excelência em comparação com os outros.

Além disso, o talento pode ser inato ou desenvolvido ao longo do tempo por meio de aprendizagem, prática intensiva e experiência. Ele pode manifestar-se em diversas áreas, como artes, desportos, ciências, e muitas outras, contribuindo para o sucesso e realizações individuais. O reconhecimento e cultivo do talento são fundamentais para o crescimento pessoal e profissional de uma pessoa.

Durante muito tempo a expressão do talento era ela própria, inconfundível, intrínseca. Quem o tinha, tinha e quem não, não. Mas desde há alguns anos e sobretudo agora com as ferramentas tecnológicas e a Inteligência Artificial a dar cartas, tanto ao nível do conhecimento em geral como na capacidade de produzir conteúdos gráficos, num instante somos todos artistas e criativos e um qualquer Zé da Esquina que nunca foi capaz da mais singela criação artística, ao nível de uma criança no Jardim de Infância, é agora poeta, desenhador, pintor, fotógrafo requintado, etc.

São, pois, tempos perigosos estes em que os vendedores da banha da cobra misturam-se a fazem-se passar por talentosos criativos. Os Photoshops vieram retocar e transformar o velho em novo e feio em bonito, mas até aí era necessária capacidade e mesmo talento para o processo. Apesar da perversão, são talentosos os pintores que falsificam quadros. Já com a AI (Artificial Intelligence) e com os inúmeros serviços que dela se aproveitam, basta pedir à lista o que se quer, desde um quadro com uma criancinha a dormir com um gatinho, uma paisagem deslumbrante ou exôtica até uma Taylor Swift em poses pornográficas, como tem sido noticiado, com milhões de visualizações, levando a indignações e reacções como a do CEO da Microsoft, Satya Nadella, que afirmou numa entrevista que considera “alarmante e terrível” a perspectiva de começarem a circular imagens geradas por Inteligência Artificial de nudez não consensual. 

Certo é que mesmo apesar das entidades governamentais e reguladores mostrarem que estão preocupadas com as perversidades da IA, a verdade é que a bomba já foi lançada e os estragos são e serão irreparáveis porque a experiência diz-nos que isto não vai parar. Poderia parar numa China, Rússia ou Coreia do Norte, mas não nos países onde a democracia não consegue cortar certos males pela raíz ou desfazer conceitos politicamente correctos. No fundo, para o bem e para o mal, temos que colher o que semeamos.

Neste contexto, neste mundo inundado de "merda talentosa", como diz uma certa cantiga (creio que de José Augusto), "Agora aguenta coração".