Sem ser advogado de Deus ou do diabo, porque ambos me dispensam, deixo aqui a minha opinião sobre um certo mau estar de alguns, gerado à volta da celebração da missa vespertina, de ontem, na capela do Viso, no mesmo dia em que também no recinto do monte estava programada a sessão pública de apresentação do Johnny Almeida e da sua lista concorrente às eleições para a nossa Assembleia de Freguesia para o próximo dia 12 de Outubro.
Em primeiro lugar não tenho informações claras, se houve, ou não, pedido ao pároco nesse sentido e se daí houve alguma concertação. A explicação do pároco já foi dada e ouviu e compreendeu quem ontem participou na missa.
Por outro lado, mesmo que tenha havido essa conciliação, não vejo mal nenhum, como não veria se em causa estivesse qualquer outra lista partidária. É certo que são eventos de cariz político, mas temos que admitir que, independentemente do partido, são do interesse da freguesia, porque visam decisões importantes para o futuro da sua gestão. Não considero, por isso, que um evento político no contexto de eleições democráticas, tenha mais ou menos importância para a nossa freguesia do que um qualquer evento ligado à Festa do Viso, ao Centro Social, ao Trail do Viso, ou de qualquer outro grupo ou associação. Somos todos, ou não, da mesmo comunidade? Somos democratas e compreendemos e praticamos o espírito democrático ou somos apenas fundamentalistas?
Não vejo, assim que tenha havido qualquer mistura de religião com política. Na missa não vi bandeiras nem ouvi slogans ou discursos e no recinto não vi orações nem escutei a liturgia. Ambos tiveram os seus momentos, horários e espaços. A mistura, se a houve, foi na cabeça dos incapazes de perceber as diferenças.
Em todo o caso, e falo apenas por mim, fosse eu o cabeça-de-lista de um qualquer partido, nunca me poria a jeito para essa situação, porque sei do que a casa gasta e do quanto o partidarismo, na nossa e noutras freguesias, é ainda factor de divisão. Nestas coisas pagamos por ter cão e por não ter. A velha fábula "O velho, o rapaz e o burro" continua a fazer sentido. Mas dou de barato de quem assim não pensou, porque, como diz o nosso povo, quem mal não pensa, mal não faz".
Também, quero dizer que não estou a ver, de todo, que o facto do final da missa ter coincidido com a hora prevista para o início do evento político (e este na realidade até começou mais de meia hora depois do final da missa) tenha influenciado a participação. Quem tinha a intenção de não ir, não foi e muitos foram os que estiveram na missa e seguiram para casa; E quem tinha a intenção de participar, participou e participaria mesmo que a missa fosse na igreja, no Santo Ovídeo, em Vila Seca ou em qualquer outro sítio. E tenho esse entendimento também em relação aos eventos de carácter geral. Quem tem a intenção de ir vai, haja ou não missa no mesmo local.
Para concluir este meu pensamento, que é só é meu, entendo que o que nos falta mesmo, é cultura democrática. E com estas e com outras, vejo que tive razão em recusar o convite de uma e outra lista (a quem agradeço a confiança e consideração) mas porque já adivinhava esta falta de cultura democrática numa luta de carácter partidário. Não de todos, claro, mas ainda de muita gente, sobretudo dos mais velhos, os que já deviam ter aprendido mais.
Quanto à cultura democrática:
O que é cultura democrática?
A cultura democrática é o conjunto de valores, atitudes e práticas sociais que sustentam a democracia no dia a dia. Não se trata apenas de votar em eleições, mas de viver de acordo com princípios como:
- Respeito à diversidade de opiniões, crenças e modos de vida.
- Igualdade de direitos para todas as pessoas.
- Participação activa nas decisões colectivas.
- Respeito às regras construídas em comum (leis, constituição, acordos sociais).
- Diálogo e tolerância diante de conflitos.
- Responsabilidade colectiva em relação ao bem comum.
Como se pratica?
Praticar a cultura democrática significa agir no dia a dia de acordo com esses valores. Alguns exemplos:
- Participação política: votar, acompanhar debates, fiscalizar representantes, envolver-se em associações, conselhos ou movimentos sociais.
- Diálogo: escutar e argumentar sem recorrer à violência ou intolerância.
- Respeito: aceitar opiniões diferentes sem desqualificar ou excluir pessoas.
- Cooperação: trabalhar em grupo para resolver problemas comunitários.
- Educação crítica: procurar informação de qualidade, combater notícias e considerações falsas e incentivar o pensamento crítico e autónomo.
- Práticas quotidianas: em casa, na escola ou no trabalho, compartilhar decisões, respeitar regras colectivas e promover a justiça.
Em resumo: a cultura democrática é construída quando cada pessoa se compromete com respeito pelas diferenças, diálogo e participação. É também compreender o carácter de importância de um evento politico, independentemente de que força partidária representar, seja no final ou antes de uma missa, antes ou depois de um jogo de futebol.