Cultura



Um pouco de história 

A Associação Cultural de Guisande “ O Despertar “ foi fundada oficialmente em 1994, como fruto da fusão do Centro Cultural e Recreativo “ O Despertar” de Guisande e a Associação Cultural da Juventude de Guisande – ACJG, os dois movimentos associativos então existentes na freguesia. 

O Centro Recreativo e Cultura de Guisande “ O Despertar “ – CCRDG, mesmo sem estar constituído oficialmente como colectividade, principiou a sua actividade organizada sensivelmente em princípios dos anos setenta. De acordo com uma entrevista concedida pelo saudoso Elísio Gomes da Mota ao jornal "O Mês de Guisande", em Setembro de 1982, a colectividade foi fundada em 1974, por ele próprio, pelo David da Conceição e pelos irmãos José Peixoto e Abílio Peixoto, provenientes de Angola aquando do processo de repatriamento provocado pela independência, na sequência do 25 de Abril de 1974. A própria designação "O Despertar" terá sido sugerida pelo Abílio Peixoto, já que seria o nome de uma associação similiar existente em Angola e a que estaria ligado.

O CCRDG desenvolveu importantes actividades na área do desporto, nomeadamente o atletismo, com a organização de diversos prémios, sobretudo nas décadas de 1970 ne 1980, sendo a representante legítima nas Mini-Olimpíadas Concelhias durante várias edições, sempre com excelentes resultados, e desenvolvendo ainda e também o futebol amador (não filiado). 

O teatro também foi uma das actividades desenvolvidas pelo CCRDG, com forte tradição nos seus espectáculos nas vésperas de Natal, por sua vez retomando uma organização mais antiga, dos anos 60, com raízes emergentes nos movimentos da paróquia, com o especial envolvimento do P.e Francisco de Oliveira, sua irmã, Sr. D. Elisa Oliveira, durante anos a encenadora, ou ensaiadora, e os grupos de Catequese e Grupo Coral. o grupo de teatro de "O Despertar" chegou a ter, nos primeiros tempos, actuações em algumas localidades fora da freguesia, nomeadamente em Vila Maior e Milheirós de Poiares.

No atletismo o Centro "O Despertar" desde os primeiros tempos que com regularidade organizou grandes prémios, nomeadamente um em 1977, no Monte do Viso, com a participação superior a 500 atletas.
Em Agosto de 1987 o jornal "O Mês de Guisande" noticiava a realização do 7.º Grande Prémio de Atletismo do CCR "O Despertar", com partidas e chegadas em Casaldaça, com participação de cerca de meio milhar de atletas..

O Centro “O Despertar”, com estas iniciativas e muitas outras, ligadas às comemorações do 25 de Abril e 1º de Maio, marcou, sem dúvida, toda uma geração de Guisandenses. Como impulsionadores e activistas do Centro “O Despertar”, podemos esquecer involuntariamente alguns elementos, mas importa mencionar nomes em diferentes momentos da colectividade como Elísio Mota, David Conceição, fundadores, com os irmãos José e Abílio Peixoto, mas também Jorge Ferreira, António Ribeiro, Alcino Brandão, António Pinheiro, Mário Conceição e outros mais que com com maior ou menor importância deram contributos.

 Por sua vez, a Associação Cultural da Juventude de Guisande, foi fundada oficialmente por um grupo de jovens em 1985, em pleno Ano Internacional da Juventude, mas já com actividades iniciadas em 1981 e surge num contexto temporal importante com uma abertura enriquecedora a novas realidades sociais e culturais, a que não está alheia a crescente acessibilidade aos meios informáticos e computadores, então em plena revolução com o aparecimento dos sistemas operativos Windows.

A ACJG teve a sua gênese na criação do jornal mensal regionalista, “O Mês de Guisande” – MG, no seu início, em Agosto de 1981, de forma muito incipiente e artesanal, mas com uma crescente melhoria na qualidade gráfica e de conteudos ao longo dos quase 14 anos de publicação. 

A fundação oficial da associação, em 1985, surge como uma necessidade de se criar um suporte legal para o jornal, uma vez que se tornava imperioso o processo de captação de apoios e subsídios, nomeadamente o “porte-pago” bem como uma ajuda à aquisição de material gráfico para a redação e impressão, o que foi feito em diversos períodos, nomeadamente com a compra de uma máquina de impressão no sistema off-set. 

A Associação Cultural da Juventude de Guisande manteve relações estreitas com o Instituto da Juventude, bem como foi co-fundadora da Federação das Colectividades do concelho de Santa Maria da Feira. Foi membro do RNAJ - Registo Nacional de Associações Juvenis. 

Com a Associação Cultural da Juventude de Guisande constituída legalmente, começou todo um processo de dinamização cultural com a implementação de diversas actividades, bem como uma participação e intercâmbio com diversas entidades públicas e associativas congéneres, que em muito ajudou ao enriquecimento das actividades e formação em diversas áreas. 

Para além da continuação do jornal “O Mês de Guisande”, que se publicou até 1994, convém referir as actividades da Rádio Clube de Guisande – em plena época de ouro das rádios piratas, que não teve sequência devido ao processo de licenciamento entretanto ocorrido que só atribuiu duas licenças, ficando de fora com outros projectos. 

De referir também a Escola de Música, Teatro, Serigrafia, Biblioteca, Torneios de Futebol e outras actividades, sempre interligadas em diversos eventos organizados ao longo dos anos, de que é justo referir o troneio de futebol infanto-juvenil “Guisandito” e a Semana Cultural, evento que mais tarde se alargou à Junta de Freguesia de Guisande, como parceira na organização. Entre muitos outros, estão indelevelmente ligados a esta associação cultural os nomes de Rui Giro, Américo Almeida, Orlando Santos, Carlos Sousa, Maximino Gonçalves, António Mota, Manuel Silva e David Conceição, entre outros. 

A fusão das duas colectividades surgiu pela necessidade prática de unir esforços no sentido de se criar uma associação mais forte e dinâmica, que potenciasse o que de bom tinham ambos os grupos, deixando de lado as inevitáveis rivalidades e divisão de pessoas e meios o que nem sempre era positivo. 

O Jornal "O Mês de Guisande", na sua edição Nº 123, de Maio/Julho de 1992, anunciava a fusão entre os dois grupos como uma "união histórica".
Antes da oficialização da nova associação, que passava a adoptar a designação social de "Associação Cultural de Guisande "O Despertar", o que veio a acontecer no Verão de 1994, foi formada uma Comissão Administratriva, composta pelos seguintes elementos:

Direcção:
Elísio Mota - Presidente
Rui  Giro - Vice-Presidente
Jorge Ferreira - 1º Secretário
José Rodrigues - 2º Secretário
Américo Almeida - Tesoureiro

Assembleia Geral:
José Pereira de Almeida - presidente
Higino Almeida - Vice-Presidente
Fernando paiva - 1º Secretário
Mário Silva - 2º Secretário

Conselho Fiscal:
António Ribeiro - Presidente
Carlos Pinho - Vice-Presidente
Manuel Gonçalves - Vogal
Maximino Gonçalves - Vogal

Os principais obreiros deste movimento de união foram Américo Almeida pela ACJG e Jorge Ferreira pelo “O Despertar”, corroborados por todos os outros dirigentes das duas colectividades, nomeadamente Elísio Mota e Rui Giro, entre outros. 

Com a fusão, a colectividade dela emergente, a Associação Cultural de Guisande “O Despertar”, imprimiu inicialmente uma forte dinâmica, mantendo e reforçando a dinâmica das diversas actividades, nomeadamente o jornal “O Mês de Guisande”, que continuou até à sua paragem em 1994, numa altura em que se notava uma certa crispação com alguns sectores da freguesia que nem sempre viram com bons olhos a actividade do jornal e a sua intervenção em prol da defesa da freguesia.

Em 1993, com a ajuda da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, iniciou o processo de aquisição de terreno (no lugar de Fornos) para construção do edifício sede, um dos sonhos da associação, que todavia, até aos dias de hoje, ainda não se concretizou.

Já no início dos anos 2000, devido a vários factores, nomeadamente o envelhecimento e cansaço natural dos elementos, bem como a alteração das respectivas vidas pessoais, com responsabilidades acrescidas ao nível familiar e profissional, as actividades da Associação “O Despertar” começaram a entrar num regime de baixo dinamismo, até porque ao nível directivo não foi possível assegurar uma renovação com elementos mais jovens. 

Neste contexto de dificuldades, os corpos directivos deram lugar a uma gestão precária na figura de uma Comissão Administrativa, que durou vários anos, e com as actividades centradas na escola de música, futebol de salão e aprendizagem de natação, mas muito à custa da dedicação e dinâmica do elemento Jorge Ferreira que aguentou o barco até ao final, com alguma pouca ajuda de outros elementos.

Finalmente, em 2006, um grupo de jovens da freguesia, liderados pelo Artur Costa, após vários reptos, surgiu com vontade e dinamismo capazes de enfrentar o desafio da mudança e renovação da Associação “O Despertar”. Após reuniões preparatórias, foram constituídos os corpos directivos, com o Artur Costa a assumir a presidência da Direcção, liderando um grupo de jovens com vontade e com formação académica, como indícios de uma dinâmica forte e sustentada. 

A partir de então, “O Despertar” dinamizou diversas actividades, com destaque para o ressurgimento do projecto do jornal “O Mês de Guisande”, retomando-se a sua publicação após 12 anos de paragem, mas muitas mais iniciativas em diversas áreas do desporto e cultura.

A dinâmica da nova equipa foi forte e marcante, com iniciativas que mexeram positivamente com a freguesia, pelo que se esperavam grandes coisas para o futuro, nomeadamente o retomar do projecto da construção da sede social, um objectivo que não podia ficar esquecido até porque para o qual já existia um excelente terreno, no lugar de Fornos, adquirido para o efeito pela Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

Apesar desta retoma com uma dinâmica que prometia, por dificuldades diversas, nomeadamente a indisponibilidade por motivos profissionais dos elementos da associação, o ritmo baixou e na actualidade pode-se considerar a associação como inactiva. Pelo meio o projecto do jornal "O Mês de Guisande" voltou a parar e algumas actividades marcantes, como a Semana Cultural, deixaram de se realizar.

Em parte este amolecimento também se deveu a uma fraca adesão da comunidade a qual nem sempre soube premiar com o seu incentivo o grupo. Também o corte de apoios e subsídios, nomeadamente por parte da Junta de Freguesia, em que paradoxalmente esta tem uma responsabilidade acrescida, pois tem a obrigação de incentivar e promover a cultura e os movimentos que a desenvolvem, contribuíram para o actual estado de inactividade.

A concretização dos desafios de uma reactivação da associação e de uma actividade regular passa naturalmente pelo aparecimento de gente nova e interessada mas também e sobretudo pela freguesia, com o seu apoio, incentivo e carinho, o que, diga-se, nem sempre soube dar de uma forma generalizada. 

A Associação "O Despertar" só faz sentido se a freguesia entender e compreender a sua importância nos vários contextos da sua actuação. 
Enquanto isso não acontecer, a cultura organizada na nossa freguesia estará a marcar passo e à espera de novos e melhores dias e do impulso de pessoas à altura, nomeadamente por parte das juntas de freguesia.

Em todo o caso, a reactivação da Associação "O Despertar" não será fácil até porque os contextos actuais apontam para um nítido desprendimento dos jovens às coisas da terra e de actos de cidadania e voluntarismo. O decréscimo da população, a emigração e ainda a conjuntura de desmembramento das freguesias, têm sido factores que em nada ajudam ou perspectivam uma nova etapa no associativismo em geral e da Associação "O Despertar" de modo particular.