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10 de agosto de 2019

Guisande Futebol Clube - Campos de Jogos - 2


Retomando os apontamentos à volta dos campos de jogos no historial do Guisande F.C., no anterior artigo referimos que o Campo de Jogos "Oliveira e Santos" foi inaugurado  em 2 de Novembro de 1986. Todavia, as obras realizadas até àquela data foram as estritamente necessárias para as condições mínimas na altura exigidas. Por conseguinte, depois dessa importante data, o campo de jogos, tal como o conhecemos hoje, foi resultado de várias obras durante diversos mandatos e dinamizadas por diferentes corpos gerentes.

As obras iniciais não foram fáceis porque desde logo as verbas então existentes eram escassas, como na altura, em Julho de 1985 o então presidente da Direcção, Sr. Manuel Tavares, dava conta em entrevista concedida ao jornal "O Mês de Guisande". 

De facto nesse mês de Verão, as obras iniciaram-se com a terraplanagem do terreno, realizada pelo empreiteiro de Paços de Brandão, Sr. Firmino Gomes, cujos trabalhos custaram 350 contos, mas tendo sido interrompidos porque não havia mais dinheiro. Em concreto existia numa conta do Banco Espírito Santo a quantia de 200 contos transitada da anterior Comissão de Obras e angariada para o campo de jogos anteriormente previsto noutro local da freguesia, mas cujo negócio deu em "águas de bacalhau" ou mesmo como então disse Manuel Tavares "...já haviam existido duas oportunidades para se criar campos de futebol e como é sabido ambas deram em fiasco e de uma maneira esquisita".

Como fonte de receita para as restantes obras necessárias à mudança de casa, Manuel Tavares esperava o apoio e colaboração da população, emigrantes, Junta de Freguesia e ainda da Câmara Municipal com o fornecimento de material e seu transporte.
Apesar dos constrangimentos financeiros face às necessidades da obra, o presidente da Direcção do clube dizia que "...isto não é para parar mas sim para prosseguir a todo o gás".

Como curiosidade do que Manuel Tavares declarou na referida entrevista ao jornal "O Mês de Guisande", as ideias ou projectos para o novo campo de jogos, incluiriam uma pista de atletismo e balneários subterrâneos. Ainda uma bancada central.
Estas boas ideias, excepto a bancada central, nunca vieram a ser concretizadas. Obviamente que o homem sonha e a obra nasce, diz o poeta, mas sem dinheiro e recursos as coisas ficam apenas pelos sonhos. Foi o que aconteceu. Em todo o caso, o Campo de Jogos tal como existe é de qualidade significativa e obviamente que custou muito do esforço da freguesia no seu todo.

A par das dificuldades financeiras da época, surgiram problemas com os aspectos legais do terreno doado pelo Sr. Américo Pinto dos Santos e sua esposa Maria Angelina Oliveira Gomes. A Câmara Municipal ter-se-á comprometido a tratar da legalização predial, nomeadamente junto das Finanças e depois na Conservatória do Registo Predial, pelo que seria complicado avançar-se com obras sem a doação estar devidamente formalizada e o terreno no nome do clube. 

Assim, de modo a adiantar o andamento das obras, em declaração que a seguir transcrevemos, e que na altura foi publicada no jornal "O Mês de Guisande", os doadores passaram um documento no qual declaram pública e oficialmente que "...para os devidos e efeitos legais, oferecem ao Guisande Futebol Clube uma parcela de terreno , sita no lugar do Reguengo, freguesia de Guisande, concelho da Feira, com a área de 12 mil metros quadrados, destinado ao campo de futebol do clube acima citado, não podendo a colectividade dar outro uso que não seja para o fim destinado e acima mencionado".

Mais declararam que o clube assim poderia dar início às obras que fossem destinadas à construção do campo de futebol e que desde essa data seriam da responsabilidade do clube. Mais ainda, que oportunamente, logo que as Finanças indicassem o Nº da inscrição matricial, formalizariam a doação por escritura notarial.
Esperamos vir a ter a oportunidade de publicar por aqui a escritura de doação. Para já, o recorte da publicação no "MG" da referida declaração.


Como se vê, no contexto das histórias relacionadas aos campos de jogos do Guisande F.C., há vários apontamentos de interesse e que se não forem anotados obviamente que acabarão por caír no esquecimento da nossa memória colectiva.

Voltaremos ao assunto.

29 de julho de 2019

Monte do Viso - Ante-Projecto "Nova Face"


Com maior ou menor interesse, de um modo generalizado todos reconhecemos no Monte do Viso e na sua respectiva zona envolvente à Capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António e edifício da Escola Primária, actualmente integrado no Centro Cívico do Centro Social S. Mamede de Guisande, um dos locais mais aprazíveis da freguesia e palco comunitário de muitas iniciativas  de índole recreativo, cultural e religioso, incluindo a nossa maior festividade popular, a qual dentro de dias, já no próximo fim-de-semana, volta a ter lugar.

Todavia, o arraial ou parque do Monte do Viso, apesar do empenho depositado nele por várias juntas de freguesia e indiferença de outras, como a anterior e a actual, é fruto de uma dinâmica de interesses colectivos e singulares que não é de agora, nem das duas últimas décadas, mas bem mais de trás. 

Neste contexto, muitos já estarão esquecidos, mesmo os mais velhos, mas toda a reformulação do arranjo do Monte do Viso tal como o conhecemos na actualidade, a partir do seu aspecto anterior, tal como vemos parcialmente na foto acima, datada de 1982, tem as suas raízes numa ideia apresentada em 1986 na Assembleia e à Junta de Freguesia de então, encabeçada pelo Sr. Manuel Alves, pelo jovem deputado Rui Giro em representação da lista  FJI - Força Jovem Independente que, recorde-se, concorreu às Eleições Autárquicas de 1985 e 1989.

Essa ideia traduzia-se num ante-projecto designado de "Monte do Viso - Nova Face", cujo esquema de apresentação (reproduzido abaixo) foi publicado no jornal "O Mês de Guisande" em Novembro de 1987, cuja capa abaixo se estampa.



É certo que a solução que veio a desenvolver-se não seguiu à risca a ideia plantada no ante-projecto (nem era isso que se pretendia), que desde logo previa uma circulação marginal e envolvente, ao arraial, mas dela nasceu o interesse colectivo pela importância de dar uma nova face a esse bonito local. e fazer dele uma das nossas salas de visita.

A ideia foi bem recebida tanto pela Junta como pela Assembleia de Freguesia e depois disso foi também envolvida a Câmara Municipal, a qual veio a dar seguimento ao levantamento topográfico,  estudo e projecto. As juntas de freguesia seguintes, lideradas por Rodrigo de Sá Correia, Manuel Ferreira e Celestino Sacramento corporizaram essa ideia e aos pouco o parque chegou à configuração actual, conforme foto área abaixo. De resto, o arraial até já esteve com melhor aspecto, pois já com alguns ano decorridos notam-se naturalmente os desgastes nas pavimentações, coreto e jardins. As obras de conservação  nunca tiveram lugar e as pedras da calçada vão por ali andado ao rebolo. 

No nosso entendimento e no da FJI de então, a solução adoptada não foi a melhor e isso comprova-se pelo constrangimento viário que se verifica em dias de eventos no local. Por outro lado, o percurso da capela até ao fundo do monte deveria ser directo e apenas pedestre e não misto, com uma transição mal conseguida. Adoptou-se uma solução com menos arruamento e mais zona de parque,é certo, mas na altura mandou quem podia e quem pode manda, mesmo que mal. 

Mesmo na actualidade podia-se melhorar os aspectos de circulação com uma postura de trânsito em sentido único a envolver a Rua Nossa Senhora da Boa Fortuna e Rua de Santo António, mas tal obrigaria à sua requalificação, com alargamentos e pavimentações e o poder local agora organizado numa mistura incaracterística de freguesias, cada uma a olhar para o seu próprio umbigo, não tem estado para aí virado, apesar de na Rua de Santo António, a nascente da capela, os proprietários terem chegado a acordo para ceder terreno para o alargamento o que em muito beneficiaria o local e a circulação, sobretudo em dias de eventos, tanto mais que mesmo que a meio gás,  por ali vai estando de portas abertas o Centro Cívico. 



De lá para cá, as juntas que se sucederam não deram importância ao local e as obras estagnaram e muito há a fazer. De minha parte, enquanto membro da Junta, elenquei o local como palco de intervenção e requalificação, mas, para meu desalento e decepção, sem êxito. Fala-se, agora, que estão previstas intervenções nos pavimentos e passeios, mas o mandato vai a meio e para já nada, nem sequer limpeza. Mas haja esperança porque o dinheiro quando não se gasta deve andar por algures.

Mas estas são histórias que já não são lembradas e seria bom que procurássemos saber a origem das coisas e das suas raízes. E esta do arraial do Monte do Viso tem uma, ou mesmo várias. Por aqui, aos poucos, vamos tentando contá-las, a quem interessar.

12 de outubro de 2018

Guizande Futebol Clube - Escritura de constituição




Na continuação das minhas notas documentais que tenho vindo a escrever sobre a história do Guizande Futebol Clube, publico agora a cópia da escritura pública da constituição da associação, lavrada no Cartório Notarial de Vila Feira numa quarta-feira, 31 de Outubro de 1979. 
Por sua vez, a constituição da associação que tomou o nome de Guizande Futebol Clube, foi publicada no Diário da República nº 296, III série, de 26 de Dezembro de 1979.

Na referida escritura, em que constam onze artigos que regulamentam a associação constituída, no artigo 4º são definidas as qualidades dos associados (executantes, auxiliares, beneméritos e honorários).

São também identificados os sócios que estiveram ligados à fundação oficial do clube e que outorgaram a respectiva escritura. São apenas alguns nomes, não necessariamente os que mais ou menos contribuíram para a legalização do clube.  Certamente que muitos outros com maior importância  na época e mesmo nos primeiros tempos, não constam desta lista. De resto sabemos que muitas vezes nestes actos burocráticos participam aqueles que no momento da marcação da escritura apresentam disponibilidade para participar no acto. Contudo, reconheça-se, não deixa de ser marcante para quem participou em tal acto.

Para além de tudo o mais documentado na escritura, há uma nota importante, a que se refere o último artigo, o 11º, que esclarece o que tem sido uma dúvida para muitos, ou seja, que em caso de dissolução do clube por razões previstas na lei, todo o património do clube reverterá a favor da Junta de Freguesia de Guisande. Fica assim desfeita essa dúvida.

Quanto aos nomes subscritores do documento, pela ordem de outorgantes:

Manuel Rodrigues de Paiva
Júlio César dos Santos Alves
José Pires de Almeida Saraiva
Elísio Alcino Ferreira dos Santos
António de Oliveira Bastos
José de Almeida Peixoto
Valdemar Ferreira de Pinho
Domingos da Conceição Lopes
Elísio Gomes da Mota

Podem ler aqui a totalidade das notas que aos poucos tenho vindo a documentar.

28 de setembro de 2018

Olha o passarinho...


Esta fotografia de 16 de Junho de 1955, é porventura, das conhecidas, uma das mais antigas relacionada à nossa igreja matriz e zona envolvente a norte e nascente, com o adro e a residência paroquial. Como se poderá perceber, foi tirada a partir de um terraço da casa da família do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, então conhecida como Casa do Sr. Moreira (sogro do Dr. Joaquim Inácio).
Pode-se observar vários pormenores, desde logo as árvores que existiam no adro, como a famosa e frondosa cerejeira, abatida em 1 de Dezembro de 1956, de que já falamos aqui. Também uma oliveira na parte mais central, à direita Por essa altura o adro estava ainda despido quanto aos arbustos que foram plantados em fase posterior, pelo início dos anos 60..
Ainda os pormenores interessantes da residência paroquial, nomeadamente a pintura da chaminé original (esta posteriormente demolida e edificada em seu lugar uma mais pequena, aquando de obras na cozinha) bem como um lambrim igualmente em pintura. Não o sabendo, seria natural que fosse em tom azulado.
Ao fundo, percebe-se ainda a antiga Casa dos Mordomos, que anos depois, no princípio dos anos 60, seria demolida parcialmente para dar lugar ao actual Salão Paroquial.
Por todos os aspectos que dela se podem obter, esta foto é em si mesma um importante documento e testemunha de um passado já algo distante (63 anos).

Abaixo a foto com a indicação do local onde foi obtida a foto de cima


Abaixo a foto com a vista geral do local, na actualidade, percebendo-se a ausência da referida chaminé existente na residência paroquial em 1955.



27 de setembro de 2018

E a mocidade de Guisande foi à praia


Verão de 1967. Parecendo que não, já passaram mais de 50 anos, meio século sobre o momento aqui retratado. Nesse Verão  parte da boa mocidade guisandense foi  a banhos, pelo menos molhar os pés. 
Infelizmente alguns dos aqui retratados já são apenas saudade. Curioso o pormenor de apenas dois homens entre onze mulheres. Se não me engano, o da esquerda é o Sr. José Santos, da Lama (ou talvez não) e o da direita parece-me falecido Sr. António Gomes, marido da Celeste Fonseca (ao seu lado esquerdo), de Cimo de Vila. 
Repare-se que por detrás deste grupo em pose quase de equipa de futebol, estão mais alguns "artistas", certamente também de Guisande. Claro que neste grupo há por ali muita gente conhecida, como a já falecida Lucinda Monteiro, mas fica o suspense para quem dos mais velhos quiser identificar as demais figuras.
Saudades!

17 de setembro de 2018

Residência Paroquial de S. Mamede de Guisande


Numa altura em que o actual pároco de S. Mamede de Guisande, Pe. Arnaldo Farinha tem manifestado à comunidade a intenção de proceder a obras no interior da residência paroquial, para nela fixar habitação, como é de seu direito, importará saber alguns dados sobre este emblemático edifício que há mais de um século faz parte do património local e da paisagem envolvente à nossa bela igreja matriz.

Pela data gravada em pedra aposta sensivelmente ao centro da fachada principal voltada a poente, a sua construção reporta-se ao ano de 1907. Tem, pois, quase 110 anos de existência. Dos vivos guisandenses, não há nenhum que lhe tenha sobrevivido.

Como será de esperar, há poucos dados documentais que nos permitam saber com rigor alguns dos aspectos ligados à sua construção e história. 
Em todo o caso, fazendo uso e fé de actas da antiga Junta de Freguesia de Guisande, ao tempo denominada de Junta Paroquial, o edifício foi mandado construir pelo então pároco de Guisande, Pe. Abel Alves de Pinho, do qual pouco se sabe, para além de que era natural da freguesia de Fiães, do nosso concelho de Vila da Feira e que enquanto pároco também exerceu o cargo de secretário da então Junta Paroquial de Guisande.

Pela consulta do livro de actas dessa entidade administrativa, em concreto pela acta de 21 de Outubro de 1923, abaixo reproduzida, foi então apresentado o novo pároco, Padre Rodrigo José Milheiro, bem como o presidente da Junta informava que com a saída do antigo pároco Padre Abel Alves de Pinho, por exoneração pedida por este, certamente por idade avançada, ao abandonar Guisande decidiu vender a sua habitação, suas pertenças e terrenos, em 11 de Outubro de 1923, ao Reverendo Joaquim Esteves Loureiro. Esta venda foi a título de recordação pela sua passagem pela freguesia de Guisande e com o objectivo claro de passar a ser a residência dos futuros párocos da paróquia de S. Mamede de Guisande.

Tendo em conta que conforme é relatado na referida acta, a Junta considerou a venda como um benefício e a classificou como recordação pela passagem do Pe. Abel Alves de Pinho pela paróquia, só faz sentido que a referida venda fosse a favor da paróquia, para nela funcionar a residência dos futuros párocos. Se fosse para a posse e usufruto de uma pessoa particular, não faria sentido a tal consideração da Junta. Presumo, por isso, que a venda terá sido simbólica ou, mesmo que formal, a favor do Paço e na condição do edifício permanecer ao serviço da paróquia como residência.
Neste contexto, mesmo que assente em presunção, tudo indica que o Rev. Joaquim Esteves Loureiro foi apenas o representante legal do Paço no acto da venda.

Em concreto não conseguimos apurar quem seria este Reverendo Joaquim Esteves Loureiro, mencionado na acta, a quem o Padre Abel Alves de Pinho fez a venda da residência, mas como disse atrás, poderia ser o representante do Paço na outorga da escritura.
Depois de algumas pesquisas, ainda que não conclusivas, descobri que na Diocese do Porto existiu na mesma época um Pe. Joaquim Esteves Loureiro que entre outros cargos, foi pároco da paróquia de Ramalde, no Porto e Director da Irmandade dos Clérigos, na mesma cidade, nomeado para tal em 26 de Outubro de 1928. Terá sido ordenado em 12 de Novembro de 1911 pelo Bispo D. António José de Sousa Barroso (entre 1899-1918).
Tratando-se ainda da mesma pessoa, porque são várias as coincidências, o nome, o ser padre, ser do Porto e ter vivido pela mesma época, este Pe. Loureiro foi ainda  Director do Jornal "Voz do Pastor", um semanário da Diocese do Porto, fundado pelo Bispo D. António Barbosa Leão (entre 1919-1929), que foi publicado entre 13 de Fevereiro de 1921 e 27 de Dezembro de 1969.
É pois, muito plausível que este Reverendo Joaquim Esteves Loureiro tivesse especiais funções no Paço a ponto de poder ter sido o representante do mesmo na tal escritura de venda da residência paroquial de Guisande, em 11 de Outubro de 1923. Mas é ainda um assunto pendente e a confirmar.

A residência paroquial, como atrás se disse, tem na fachada principal a inscrição da data de 1907, precisamente no ano em que o seu proprietário foi instituído como pároco de S. Mamede de Guisande. Não faltando dinheiro, mesmo nessa época seria possível construir e acabar uma habitação no prazo de um ano ou menos.
Para edificar de raiz um edifício com as dimensões e qualidade do mesmo, teria, naturalmente, que ser pessoa de posses e com expectativa de ficar em Guisande muitos anos, o que de resto não aconteceu, pois por cá paroquiou apenas dezasseis anos, de 1907 a 1923. Seja como for, quase duas décadas.

De resto, esta boa atitude e generosidade na hora da despedida de Guisande e seus paroquianos, mereceram por parte da então Junta Paroquial de Guisande um voto de louvor e agradecimento por “todos os benefícios prestados” e ao mesmo tempo um voto de “sentimento por ter pedido a exoneração do cargo de pároco desta freguesia onde todo o povo sempre o estimara e admirava”. Nessa reunião ficou ainda deliberado enviar uma cópia da respectiva acta ao já retirado pároco, como prova dos votos expressos.




Acima as três páginas da acta da reunião de 21 de Outubro de 1923, a partir da qual o Padre Abel Alves de Pinho deixa de secretariar as reuniões da Junta Paroquial de Guisande e simultaneamente é apresentado o novo secretário e novo pároco de S. Mamede de Guisande, o Padre Rodrigo José Milheiro.

Como já referimos acima, o Padre Abel Alves de Pinho era natural da freguesia de Fiães, do concelho de Vila da Feira. Não conseguimos apurar grandes dados biográficos deste sacerdote e figura importante na freguesia de Guisande nas duas primeiras décadas do séc- XX, para além da sua naturalidade e da sua substituição pelo Padre Rodrigo José Milheiro. Pela leitura da acta, como já se referiu, o seu abandono da paróquia terá sido por exoneração a pedido do próprio, certamente pela sua idade avançada.

Para a história da freguesia e paróquia de Guisande fica a memória da sua prestação como pároco, secretário da Junta Paroquial e como benemérito ao vender a sua propriedade com a obrigação de passar a ser a residência dos párocos de Guisande, o que aconteceu até ao falecimento do pároco Padre Francisco Gomes de Oliveira, em 8 de Maio de 1998, deixando, desde então, de ter funções de residência.
Conforme se diz na introdução deste artigo, há agora a intenção do actual pároco, Pe. Arnaldo Farinha, de fazer obras interiores, adequando o edifício a características de habitabilidade de acordo com os modernos padrões e ali ficar a residir.
Esta questão, a das eventuais obras, é assunto que naturalmente não importa ao presente artigo.









Acima, algumas fotografias da residência paroquial de Guisande nas condições actuais.




Acima as plantas dos pisos do Rés-do-Chão e do Andar conforme existente.

O edifício na sua actual configuração, em grande parte correspondente ao original, é de base rectangular, com orientação nascente/poente, com dimensões exteriores de 14,20 m (fachada principal) por 9,60 m. Tem, portanto, uma área de implantação de 136,30 m2. A este ractângulo de base, nos anos 70 por ordem do então pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira foi acrescentada uma casa de banho, edificada de forma contígua à face da fachada norte/nascente. Este elemento tem cobertura plana em laje. Tem acesso pelo exterior (com ligação ao pátio) e pelo interior. Por sua vez, o edifício base tem uma cobertura convencional de "quatro-águas", revestida a telha de barro.

Como era norma construir na época, a estrutura baseia-se em paredes exteriores resistentes, em bom granito, e paredes intermédias também resistentes. As paredes do Rés-do-Chão têm espessura de aproximadamente 0,65 m.

O piso térreo, relacionado ao adro adjacente a poente, é constituído por uma zona alpendrada central, com portão voltado ao adro e arco aberto, permitindo o acesso ao logradouro (horta e quintal) a nascente, e por dois compartimentos laterais, um a norte e outro a sul, aos quais se acede interiormente a partir da zona central, designada de alpendre. O compartimento a sul é também acedido por porta exterior praticada na fachada sul.

Por sua vez, no Andar, o sobrado, desenvolve-se toda a zona de habitação propriamente dita, sendo composta por cozinha, sala de jantar, sala, escritório (eventualmente quarto) e ainda três quartos de dormir. Todos estes espaços são articulados por um corredor central que por sua vez liga também à porta exterior de serviço voltada a nascente. Também para nascente se projecta um pátio que por sua vez liga duas escadas exteriores, uma que liga ao adro e outra à zona do logradouro.

No Andar, o piso é constituído por uma estrutura em madeira revestida a soalho e as paredes são em sistema de frasquilho com acabamento em reboco de gesso e pintura, o mesmo acontecendo com o tecto. 
As caixilharias interiores são em madeira e as exteriores, também originalmente em madeira, foram há anos substituídas por caixilharias em alumínio termolacado. Tanto as janelas como as portas no Andar são encimadas por elemento fico tipo "bandeira".

Num sentido geral, todo o edifício pelo exterior e cobertura está em estado muito razoável. Interiormente, nomeadamente no Andar, estando com aspecto saudável, padece, todavia, dos efeitos da sua longa vida, com sinais evidentes de apodrecimento e de caruncho, sobretudo na parte estrutural do soalho. Por sua vez, as paredes e tectos têm também os sinais da idade para além de serem já de concepção desadequada aos modernos padrões. Interiormente todos os espaços do piso térreo têm pouco nível de acabamento, com algum reboco pintado, mas no geral quase de grosso e expostos à humidade, sobretudo no compartimento a norte, apesar de possuir algumas aberturas de ventilação praticadas na respectiva fachada bem como de aberturas tipo "gateiras" na fachada principal..

Sem qualquer presunção de análise técnica quanto à solução a adoptar em caso de obras, porque não é este o objectivo do artigo, bem como as eventuais obras e sua profundidade podem sempre ficar condicionados aos limites de orçamento, uma boa solução passará obviamente pela remoção total do soalho e sua estrutura, paredes e tecto em estuque e construção de uma laje pré-esforçada, montada em três vãos, por sua vez apoiados ou incrustados nas paredes exteriores e interiores resistentes. Depois, eventualmente paredes em divisórias em gesso cartonado (pladur) e tectos igualmente em gesso cartonado. Com o pavimento livre poder-se-á aplicar um programa funcional e adequado à utilização pretendida, no caso habitação e alguma ligação à função administrativa da paróquia.

 Actualizações:

Nota 1: Na data em que actualizamos este artigo, o Pe. Arnaldo Farinha já cessou funções de pároco da freguesia de Guisande, tendo em seu lugar tomado posse em 03 de Outubro de 2021, o Pe. António Jorge Correia de Oliveira, que assume igualmente a paroquialidade das freguesias de Caldas de S. Jorge e Pigeiros.

10 de setembro de 2018

Não há 32 mas há 7




Passam sete anos, mas parece que foi ontem que o progresso aterrou na nossa pacata freguesia para esventrar parte dela, precisamente  onde, de algum modo, a natureza fluía sem grande intervenção do homem, penas umas leiras arroteadas, umas represas, uns caminhos, umas minas, uns moinhos e pouco mais. Mas as coisas são assim e a natureza e a floresta só são importantes e intocáveis para as pequenas coisas, como um muro à face de um caminho ou um barracão de guarda de animais e pastos que são atentados aos regulamentos e ferem, dizem, os planos de ordenamento, até porque uma enxada ou machado mal usados já fazem estragos na flora e alteram o perfil natural. Porém, para os grandes desígnios, a floresta e o solo agrícola e as suas minudências humanas tornam-se coisas descartáveis e teatro de grandes operações mecânicas que tudo revolvem, aplanam e pavimentam.
Assim, nasceu uma auto-estrada para nela, a toda a velocidade, porque apressada, passar os instrumentos da civilização.
Que traga, ao país e à região, bom proveito. Para alguns trouxe concerteza.

 Parece que foi ontem.

9 de agosto de 2018

Festa do Viso - Guia e apontamentos


Elaborei do zero um documento a que chamo de "Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António - Enquadramento, caracterização e guia de orientação de alguns dos seus aspectos organizativos e tradicionais"

Como justifico no próprio "...este documento não tem pretensões especiais nem disciplinares nem como alguma espécie de jurisprudência, mas apenas um simples resumo com a visão pessoal de alguns princípios que têm sido tradição e por isso "quase" regra.
Resulta em muito da experiência na primeira pessoa (como festeiro em 2004, com a participação no programa de duas bandas filarmónicas, José Cid, Paulo Bragança e três bons ranchos folclóricos, um deles do Alto Minho) bem como do testemunho de muitos anos, alguns deles na condição de vizinho privilegiado da festa.
Obviamente que tão importante ou mais do que este documento, é a transmissão de conhecimentos que cada comissão cessante deve legar à comissão nomeada. 
Por outro lado, a estrutura da nossa Festa do Viso não é compartimentada, mas antes dinâmica e é o resultado de sucessivos melhoramentos e introduções. Cada Comissão de Festas do passado contribuiu para a identidade da festa, sempre com algum elemento ou momento diferenciadores. Assim, tudo o que possa contribuir para preservar e enriquecer a tradição e melhorar o que nem sempre corre bem, é importante e positivo. A busca da perfeição, ou quase, deverá sempre nortear o ser humano. No futuro procurar-se-á actualizar alguns aspectos agora omissos ou ligeiramente abordados.
Se estes apontamentos à laia de guia informal a alguém puder ser útil, tanto melhor. Se não, valerá pela intenção de o ser.

Em resumo, vale o que vale, eventualmente pouco ou nada, mas se a alguém interessar, pode fazer o download do PDF e dar-lhe o proveito que entender. [LINK] Entretanto, quando se justificar, para corrigir gralhas ou acrescentar outros apontamento, publicarei uma versão revista.

10 de abril de 2018

Estrada da Barrosa



Acima, um extracto da acta da reunião da Junta de Freguesia de Guisande de 10 de Março de 1946, por isso com mais de 70 anos. O executivo então liderado por António Leite de Oliveira Gomes, delibera que "...é necessário proceder-se, quanto antes, aos acabamentos da estrada da capelinha do Bonfim ao lugar do Reguengo". Nada mais havendo a tratar, encerrou-se a sessão. Com apenas esta conclusão ou decisão ou mesmo uma intenção, que não colheu mais pormenores quanto ao que faltaria concluir, deve ter sido de curta duração a reunião.
Seja como for, como nota importante e documental, desta breve acta concluiu-se que por essa data estaria em obras a estrada a que actualmente designamos de Rua do Reguengo. Antes dessa obra o acesso principal ao centro do lugar do Reguengo seria pelo caminho que ladeia a norte a Quinta do Loureiro, hoje praticamente sem uso. Com a abertura referida, o lugar ficou com acesso mais facilitado à zona da capelinha e por isso à então estrada vinda do Viso e que seguia em direcção a Fornos e a Casaldaça, sendo esta uma das principais artérias da freguesia, mesmo que em terra batida.

22 de novembro de 2017

Junta da União de Freguesias - Executivo 2017/2021

 


Das eleições de 1 de Outubro de 2017, a lista do Partido Social Democrata encabeçada por José Henriques dos Santos, que assim se recandidatava ao cargo de presidente da Junta, venceu com maioria, elegendo 7 elementos contra os 6 do Partido Socialista. Tal vitória resultou essencialmente do retumbante resultado em Gião mercê da participação na lista do carismático e dinâmico empresário local  Manuel de Oliveira Leite e ainda pela perda de lugar do CDS, que deixou assim de servir de fiel de balança no que em muito contribuiu para a vitória dos "laranjas"..

Por sua vez, em Lobão, a vitória do PSD foi tangencial sobre o PS, com David Neves a sair reforçado na votação face às anteriores eleições mas sem conseguir lograr a vitória. Em Louredo, em perda mas sem surpresa, também venceu o Partido Social Democrata. Já em Guisande, ao contrário das eleições em 2014 com a vitória por maioria do PSD, desta feita venceu o PS onde Celestino Sacramento integrava a lista.

24 de outubro de 2017

24 de Outubro de 1954–Inundação na ribeira da Mota

foto_antiga_queda_ponte_lavandeira[4]

Hoje, dia 24 de Outubro de 2017 tivemos um dia quase de Verão, com céu azul e temperatura bem alta. Mas se recuarmos no tempo, mais precisamente 63 anos, por isso a 24 de Outubro de 1954, abateu-se sobre a nossa freguesia de Guisande e freguesias vizinhas, sobretudo do lado sul e poente, como Pigeiros, Caldas de S. Jorge, Fiães e Lobão, uma chuva forte e persistente, designada de tromba-de-água, que em poucas horas, naquele Domingo de manhã, galgou as margens da ribeira da Mota, arrastando dos campos, com a sua impetuosidade, toda a vegetação e medas de palha ou de canas de milho. 

Em resultado, com a pressão da água e dos detritos dos campos e margens arrastados, a ponte da Lavandeira, entre os lugares do Reguengo e Viso, acabou por ceder, desmoronando-se, sendo, pouco depois, edificada a ainda actual ponte. Provisoriamente, como se vê na foto acima, foi realizado um estrado em vigas e tábuas de madeira para assegurar a passagem de carros e pessoas. 

Ainda hoje, as pessoas mais idosas recordam-se desse Domingo chuvoso e daquela que foi certamente a maior cheia da ribeira da Mota de que há memória, o que de resto também sucedeu no rio Uíma

. Mesmo a cheia de 2001 terá sido apenas uma humilde amostra quando comparada com a de há 63 anos.

Neste foto acima vê-se o paredão norte totalmente demolido. Curiosamente percebe-se que o caudal da ribeira era quase diminuto, pelo que se deduz que estivesse a ser desviado pelos regos das levadas a montante, de modo a permitir a intervenção provisória na ponte. Também pode sugerir que essa cheia teve de facto características muito concentradas pelo que logo que passou a tromba-de-água, o caudal voltou ao seu normal.

26 de agosto de 2017

Professor Joaquim Ferreira Pinto e outras histórias


Joaquim Ferreira Pinto, nasceu a 12 de Maio de 1879, no lugar de Fornos, freguesia de Guisande. Filho de Joaquim Caetano Pinto e de Ana Rosa Duarte. 
Foi baptizado na igreja matriz de Guisande, tendo como padrinho o Abade António Ferreira Duarte (1), então pároco de S. Miguel do Mato - Arouca e Joaquina Rosa Duarte.
Era neto paterno de Manuel Caetano Pinto e de Joana de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira Duarte e de Joana Margarida Gomes.
Formou-se em professor e exerceu numa escola privada que tinha no lugar de Casaldaça, Guisande.
Faleceu em 03 de Setembro do ano de 1971 com 91 anos de idade. Está sepultado no cemitério de Guisande.


Extracto da certidão de baptismo do Prof. Joaquim Ferreira Pinto.

Nota: (1) - O Abade António Ferreira Duarte, nasceu em Cedofeita, freguesia do Vale - Vila da Feira, no dia 04 de Janeiro de 1813. Era filho de António Ferreira Duarte e de Maria Eufrásia de Jesus, ambos de Cedofeita. Em 1833 já aparece na freguesia do Vale como padre. Foi abade de S. Miguel do Mato, concelho de Arouca, tendo falecido  no dia 24 de Março de 1888.

Notas complementares: Pelo que referimos em artigos anteriores, nomeadamente aqui e aqui, sabemos que o edifício da Escola Primária do Viso foi edificado no ano de 1949 e que a Escola Primária da Igreja teve a sua construção vinte anos depois, ou seja em 1969. De construção posterior apenas as instalações dos Jardins de Infância ou Pré-Primária da Igreja e de Fornos (esta a única em actividade).

Apesar destes factos relativos aos dois mais conhecidos edifícios escolares na freguesia, o ensino escolar primário em Guisande é anterior, remontando seguramente ao início dos anos vinte, sendo que então apenas para alunos do sexo masculino. Assim as primeiras referências a esta fase inicial da escolaridade primária em Guisande vão para o professor Joaquim Ferreira Pinto, irmão do cónego António Ferreira Pinto, o qual leccionava as quatro classes numa escola em edifício, pertencente ao próprio, situado no lugar de Casaldaça, mais concretamente no local onde actualmente existe a casa da Sr.ª Natália.

Esta escola integrava os rapazes da freguesia, no entanto não extensível à sua totalidade uma vez que então a frequência não era obrigatória e iriam apenas os filhos de gente mais abastada ou pelo menos mais receptiva a dispensar a mão-de-obra tão importante quanto necessária na lide da casa e dos campos.

Tenho indicação que já por essa altura a frequentaram o meu falecido pai (António Gomes de Almeida), nascido em 1917 e o meu tio Neca (Manuel Joaquim Gomes de Almeida), ainda vivo, com quase 94 anos de idade, que ainda relata as memórias desse tempo e de modo particular o seu tempo de escola. Segundo esses mesmos relatos na primeira pessoa, a escola era composta por uma única e ampla sala na qual o professor Joaquim leccionava em simultâneo as quatro classes. O número de rapazes terá chegado aos 80, por isso uma média de 20 por classe. O horário seria das 08:00 horas às 14:30 horas, sem intervalo para almoço e não raras vezes, por castigo, era suprimida a hora de recreio. Para além deste horário exigente, os alunos que estavam em vias de realizar o exame da quarta classe tinham ainda umas horas adicionais no resto da tarde.

Ainda segundo as memórias do meu tio Neca, o professor Joaquim, era extremamente exigente e mesmo muito severo nos castigos e na disciplina que fazia cumprir a reguadas, canadas e até a "biqueiradas e palmadas". Seria o "terror" dos alunos. Não espanta, pois, que muitos dos rapazes simulassem dores de barriga, vómitos (forçados com dedos enfiados pela goela abaixo) e dores de cabeça, para  de algum modo, com o seu ar de doentes e abatidos sensibilizarem os pais (sobretudo as mães) e poderem escapar a umas aulas. A severidade dos regentes/professores desses tempos era quase uma regra. Para o bem e para o mal, as coisas inverteram-se e em poucos anos passamos do 8 ao 80 e por agora a tônica é o desrespeito e mesmo abusos dos alunos para com os professores.

Esta situação de ensino escolar aberto apenas a rapazes, e não a todos, mantinha-se ainda no ano de 1936, pois o cónego António Ferreira Pinto, na sua monografia sobre a freguesia de Guisande, "Defendei Vossas Terras...", fazia uma referência a essa situação, concretamente: 

(...Há escola apenas para o sexo masculino e o edifício, que é pequeno, pertence ao professor por herança. Está criada a escola para o sexo feminino, mas não pode funcionar, porque não há edifício em condições. Todos reconhecem a necessidade duma construção para as duas escolas, mas a pouca vontade de uns, a falta de recursos de outros, o individualismo ou egoísmo de alguns que não têm filhos ou já estão crescidos e educados e talvez outros motivos que desconheço — tudo impede um melhoramento que é de necessidade e de utilidade sobretudo para as meninas. E uma obra de utilidade pública e social. Oxalá que isto seja compreendido por todos para honra da terra, realizando-se a obra para bem e interesse geral.)

Resulta daqui que já por essa época sentia-se a necessidade de abrir o ensino das primeiras letras às raparigas de Guisande, mas a dificuldade, para além de culturais, porque numa época em que era comum o analfabetismo e os filhos eram mão-de-obra não dispensável, era também material já que não havia posses para um edifício público próprio.
Seja como for, a ter em conta a leitura da acta da Junta de Freguesia dessa época (que abaixo se reproduz), em que era presidente o Sr. José Gomes Leite, do lugar do Reguengo, a opinião do ilustre cónego era partilhada pela Junta. Leia-se, por isso, a acta da reunião de Março de 1937, mesmo que num português rudimentar, a precisar de escola:

Acta da sessão da Junta de Freguesia de Guisande, concelho de Vila da Feira.
Aos ... dias do mês de Março do ano de mil nove centos e trinta e sete, se reuniu em sessão ordinária a Junta de Paróquia na sala das sessões. Disse o Sr. Presidente que não tendo escola feminina temos necessidade da criação de um posto escolar para o sexo feminino, para ser a sede no lugar do Reguengo, com os lugares adjuntos, sendo Reguengo, Barrosa, Fornos, Lama, Casaldaça, Quintães e Cimo de Vila. Para a regente ser nomeada a D. Branca Ester dos Santos Cabral de Sousido, o que isto foi resolvido pelo Sr. Presidente para não ficarem as crianças sem escola por não haver escola feminina. Temos a escola criada mas não temos edifício para exercer a escola para a professora. Esperamos ver a criação do posto para benefício de tantas meninas que há na nossa freguesia e que aquelas que precisam aprender e tem vontade andam fora, em Lobão. e outras não aprendem por não ter.
Não havendo mais nada a tratar foi encerrada a sessão lavrando-se o presente acta que vai ser assinada por todos.
José Gomes leite
António Custódio Gonçalves
António Augusto Guedes.


Não deixa de ser curiosa a situação abordada na referida acta da Junta em 1937, sendo que mesmo pela leitura de actas seguintes não é líquido que tal escola ou simplificadamente esse posto escolar tenha mesmo sido concretizado. De resto, por relatos do meu tio Neca, com a autoridade dos seus quase 94 anos e boa memória, não se recorda de ter havido escola ou posto escolar no lugar do Reguengo. Funcionou, isso sim, no lugar do Viso, no local na casa do falecido Sr. Antoninho (sogro do Sr. Manuel Tavares), por isso ao fundo monte. E a professora foi precisamente a referida D. Branca (D. Branquinha, como era conhecida), da freguesia de Louredo. Terá, pois, sido alterada para o lugar do Viso a pretensão inicial da Junta de Freguesia de localizar  o posto escolar no lugar do Reguengo, eventualmente este proposto pelo facto do presidente da Junta da época (José Gomes Leite) ser dali. Eventualmente o edifício a ser considerado para tal função seria até do próprio.
Outra nota curiosa, este posto escolar no lugar do Viso terá sido posteriormente deslocado (cerca de 150 metros para sul) para  o lugar das Quintães, passando a funcionar no edifício actualmente pertencente ao Sr. Rogério Neves, próximo da Casa do Santiago e na altura de propriedade do sogro do Sr. Rogério, precisamente o referido presidente da Junta de então, o Sr. José Gomes Leite.

Um ano depois, em 1937, a mesma Junta de Freguesia, por acta datada de 27 de Março de 1938, faz referência à intenção de abrir um segundo posto escolar para raparigas, a sediar no lugar da Leira e a abranger alunos dos lugares não referidos na acta de 1936 (sendo que por curiosidade não são mencionados os lugares da Igreja e Viso, que viriam precisamente anos depois a ser a sede das duas escolas primárias). Convém referir que por essas alturas os acessos entre os diferentes lugares da freguesia eram poucos e fracos, essencialmente por caminhos, e por isso, sobretudo em tempos de chuva, ir de uma ponta da freguesia à outra era um autêntico cabo dos trabalhos. Não espantaria que para se ir de Estôze ao Reguengo ou vice-versa fosse coisa para demorar uma hora por mau caminho, com covas e lama. Por outro lado, as raparigas eram seguramente mais que as mães pelo que a justificação de dois postos assentaria numa necessidade geográfica mas também de lotação.

Vejamos então a deliberação da referia acta da Junta de Freguesia datada de 27 de Março de 1938:

Aos vinte e sete dias do mês de Março de mil e nove centos e trinta e oito  na sala das sessões da Junta de Freguesia de Guisande, concelho da Feira, compareceram os cidadãos José Gomes Leite, António Custódio Gonçalves e António Augusto Guedes, respectivamente presidente e vogais, às onze horas precisas foi pelo presidente declarada aberta a sessão. Pelo presidente foi dito havendo inteira necessidade de criação de um posto escolar feminino nesta freguesia no lugar da leira, visto os lugares abaixo mencionados ficarem muito distantes do posto escolar que existe e a escola masculina não poder aceitar as meninas a sua frequência por determinação da lei. Mais propôs que este posto escolar venha a servir os lugares de Leira (sede), Gândara, Estôze, Pereirada e Outeiro. Para regente a D. Gracinda Gomes da Silva, habilitada com exame de aptidão desde Outubro de mil e nove centos e trinta e sete, natural desta freguesia, órfã de mãe e ser de absoluta necessidade de haver protecção às famílias numerosas visto serem mais dez irmãos e por lutar com dificuldade para a sustentação e educação dos seus onze filhos. Depois de discutida e apreciada a proposta em todos os pontos, esta Junta deliberou por unanimidade a aprová-la. Não havendo mais a tratar pelo presidente foi encerrada a sessão. Para que conste lavrei a presente acta que vai ser lida em voz alta e assinada por todos.
José Gomes Leite
António Custódio Gonçalves
António Augusto Guedes.

Nesta acta, para além da referência à tal necessidade da abertura de um segundo posto escolar para meninas, a referência pessoal à nomeação da regente (professora), órfã de mãe, uma de onze irmãos. Não deixa de ser notável que alguém de uma família numerosa, sem mãe e com dificuldades inerentes, tenha conseguido fazer exame de habilitação para regente de uma escola primária, mesmo sabendo-se que os requisitos da época para este cargo não fossem obviamente muito exigentes, não sendo para o efeito necessária qualquer licenciatura, mas apenas uma formação básica e um exame. Refira-se, ainda a titulo de curiosidade que esta D. Gracinda, era natural de Guisande e irmã da Sr.ª Celeste, esta mãe da professora Marilda e do Jorge Ferreira,e que também ela durante muitos anos foi regente/professora na freguesia de Caldas de S. Jorge e sobretudo em Lobão, na Escola do lugar do Ribeiro. Esta professora Gracinda casou e viveu posteriormente em S. João da Madeira.

Destas duas actas que se referem à criação de dois postos escolares destinados a raparigas, conclui-se que Guisande pelos meados dos anos 30 e até final dos anos 40 teve assim uma escola para rapazes e dois postos para raparigas. Há ainda a informação de que terá também funcionado um posto escolar no lugar da Gândara, onde actualmente existe a Casa Neves, facto que ainda não conseguimos confirmar. Este edifício, e novamente a curiosidade, seria então de António Augusto Guedes, precisamente um membro da Junta da época, o que é perfeitamente compreensível que se tenha disposto a conseguir disponibilizar um local para o posto escolar. Será, pois, de supor que a tal intenção de sediar o posto escolar feminino dirigido pela D. Gracinda tivesse funcionado um pouco mais a norte, no lugar da Gândara.

Estas situações de postos escolares em edifícios particulares e de carácter provisório e certamente que por isso não vocacionados ou preparados condignamente para o ensino, terão sido resolvidas com a construção da Escola Primária do Viso, com duas salas, uma para rapazes e outra para raparigas, como dissemos, no ano de 1949. A partir daí, com uma construção de raiz e com carácter público, terá ficado centralizado na Escola do Viso todo o ensino primário na nossa freguesia de Guisande. Apenas vinte anos depois, em 1969, a  freguesia sentiu necessidade de edificar um novo edifício, com a construção da Escola Primária da Igreja. Estas duas escolas funcionaram em simultâneo durante pelo menos 40 anos. Infelizmente, com as políticas de centralização dos serviços do ensino primário a par da nítida baixa de natalidade, tornou-se inevitável o encerramento da actividade escolar primária na nossa freguesia (de que é excepção o Jardim de Infância de Fornos e mesmo assim com algumas crianças de fora da freguesia)  e por conseguinte do encerramento dos respectivos edifícios escolares. Do mal o menos, ainda continuam de propriedade pública e por isso ou já integrados ou a integrar em actividades sócio-culturais da nossa freguesia.




Actas da Junta de Freguesia acima referidas.

7 de agosto de 2017

Escola Primária do Viso - A compra do terreno


- Acima: Vista parcial da escola em fotografia de 1961


Nestes nossos apontamentos relacionados com aspectos do passado de Guisande, voltamos ao tema da Escola Primária do Viso. Depois das referências relacionadas com a concessão da água que abastecia o edifício, de que já falámos aqui, neste artigo trazemos à memória a parte da aquisição do terreno cujo assunto mereceu referência numa das actas das reuniões da Junta de Freguesia de Guisande dessa época. O documento de tal reunião, está datado de 29 de Maio de 1949 e abaixo se reproduz, dividido em duas imagens para facilitar a ampliação. Para melhor leitura, transcreve-se a mesma:

Aos 29 dias do mês de Maio do ano de mil e novecentos e quarenta e nove, se reuniu a Junta da Freguesia de Guisande, concelho da Feira, na sala das sessões. Aberta a sessão e depois de lida e assinada a acta anterior, o presidente disse que acharia bem que a sessão de hoje referir-se-ía à apreciação das contas referentes ao terreno onde foi construído o edifício escolar situado ao lado do arraial da Sª da Boa Fortuna. Foram precisos 1071 metros quadrados ao preço de 7$50 cada metro, sendo o total de 8032$50.
A freguesia entrou com 4165$00, a Junta com 485$00 e a Câmara com 3382$50.
O referido terreno pertencia a dois proprietários desta freguesia, que são: Joaquim Gomes de Almeida, que vendeu 509 metros quadrados, que confina pela parte norte e nascente com o caminho público, sul com o arraial da Sª da Boa Fortuna e poente com Bernardina Joaquina da Conceição e a Bernardina Joaquina da Conceição vendeu 562 metros quadrados, que confina pela parte norte com caminho público, nascente com Joaquim Gomes de Almeida, poente com Glória Azevedo e do sul com o arraial da Sª da Boa Fortuna.
Não havendo mais nada a tratar, depois de lida e aprovada por nós vai ser assinada.

O presidente: António Leite D´Oliveira Gomes
O secretário: Joaquim Gomes de Almeida
O tesoureiro: António Francisco de Paiva



Ficamos assim a saber que o terreno, com uma área de 1071 metros quadrados foi adquirido a dois proprietários, concretamente a Joaquim Gomes de Almeida, meu avô (509 m2) e a Bernardina Joaquina da Conceição (562 m2), ao preço de 7$50 por cada metro quadrado, o que totalizou um investimento de 8032$50 escudos.
Não deixa de ser curiosa a fonte do dinheiro necessário à compra, cabendo 4165$00 à freguesia, certamente por peditório efectuado, 485$00  à Junta e  3382$50 à Câmara Municipal. Assim, ao contrário do que se poderia pensar nos dias de hoje, e sendo a construção das escolas da responsabilidade do Estado e das Câmaras Municipais, a Escola Primária do Viso não era de todo apenas um investimento público, já que pelo menos na parte que toca ao terreno era de maioria da própria freguesia. Por conseguinte, pelo menos quanto ao factor do investimento, o edifício era também propriedade de Guisande.

6 de abril de 2017

Turismo no concelho



Foi por estes dias apresentado o Plano Estratégico e de Marketing para o Turismo de Santa Maria da Feira. Nada de mais, pragmático e previsível quanto baste.  Nele são exaltadas as potencialidades e optimizadas as metas para o futuro. 

 Pretende-se um plano transversal que abranja todo o território mas obviamente que muito desse território ficará de fora, seja por escassez de focos de interesse em qualquer uma das vertentes do turismo da actualidade, como património, cultura e ambiente, seja por falta de investimento e potencialização no que há, mesmo que pouco. De resto era sabido que o nosso turismo concelhio está e vai continuar a estar muito centralizado na sede, à volta do castelo, dos Lóios e do Rossio, não no valor intrínseco do próprio território como um todo e de muitos dos seus importantes focos, mas sobretudo nos eventos de massas, como o caso da Viagem Medieval, Imaginárius e Perlim.

Em todo o caso, Santa Maria da Feira tem sabido projectar-se e vender muito bem o que tem e até mesmo o que não tem, como o caso sintomático do licor "Chamoa", um produto recente, sem antiguidade, mas rebocado pela Viagem Medieval e que é agora vendido como "se fosse um produto secular". Mérito, óbvio, do marketing, que não poucas vezes procura vender gato por lebre, mesmo até no turismo.

Seja como for, Santa Maria da Feira está atenta e a trabalhar bem, usando as ferramentas do moderno marketing para potenciar o que tem de melhor. É importante que, com ou sem plano, a aposta na divulgação e investimento se estendam a todo o território para que nenhuma freguesia fique de fora. Só aí é que este será um plano transversal.


26 de dezembro de 2016

Guisande – Brasão

 

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- Clicar na imagem para ampliar

Brasão da freguesia de Guisande, actualmente integrada na União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande – Município de Santa Maria da Feira

Descrição oficial: Brasão: escudo de verde, um cajado de prata, posto em pala, entre dois leões passantes de ouro, o da dextra volvido; em orla, catorze espigas de milho de ouro, folhadas de prata. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «GUISANDE - SANTA MARIA da FEIRA».

Simbolismo do Brasão:

O escudo de verde simboliza a personalidade rural e a pureza ambiental da freguesia de Guisande e as espigas de milho, douradas, simbolizam os catorze lugares da freguesia numa disposição de unidade e solidariedade fraterna. O báculo de prata, ladeado por dois leões ,simboliza S. Mamede, padroeiro da freguesia, assim como a vertente cultural e religiosa da paróquia.

Parecer emitido a 20 de Outubro de 2004.
D.R.: Nº 303 de 29 de Dezembro de 2004.
DGAL: Nº 02/2005 de 05 de Janeiro de 2005.


Foi concebido por Américo Almeida a convite da Junta de Freguesia de então.

27 de fevereiro de 2014

Imprensa periódica da Vila e Concelho da Feira

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Excelente trabalho de Roberto Vaz de Oliveira sobre a imprensa periódica da vila e concelho da Feira, integrado na publicação “Aveiro e o seu Distrito, Nº 10 de Dezembro de 1970.

Como curiosidade, a indicação de um nosso conterrâneo, Dr. Joaquim Alves Santiago, ter sido director do jornal “Democrata Feirense”.

 

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O Dr. Joaquim Alves Santiago nasceu na freguesia de Guisande, deste concelho da Feira, em 25 de Novembro de 1898, sendo filho de Joaquim Alves Santiago e de sua mulher D. Maria Joaquina da Conceição. Casou, pela primeira vez, com D. Margarida Augusta da Conceição Valente Baldaia e, pela segunda vez, com D. Inocência da Silva Santos.

Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi, nesta cidade, professor da Escola Académica, tendo também advogado na Vila da Feira, onde faleceu em 12 de Setembro de 1958.