27 de dezembro de 2021

No admirável mundo do à borlix


A imprensa escrita queixa-se da perda de leitores e a sua integração no digital online parece não ter resolvido a situação, ou pelo menos disso continuam a lamentar-se. Certo é que se no formato tradicional em papel não há muito a fazer, porque há muito que os hábitos de leitura dos portugueses andam pelas ruas da amargura, também no online as coisas não são apelativas. No geral o que é oferecido é publicidade, insistente e persistente, quase numa forma agressiva, e no fundo pouco oferecem, apenas títulos ou resumos para conteúdos premium que precisam ser pagos para poderem ser lidos. Ou seja, neste momento, os lucros publicitários serão superiores ao que é oferecido. Pelo menos é essa a percepção.

Por outro lado, ainda em 2020, um grupo de vinte directores dos principais títulos da impensa escrita em Portugal apelava aos leitores para comprarem jornais em papel ou os assinaram nas plataformas digitais como premissa para apoiar um jornalismo de qualidade e assim combater a pirataria e a falsa imprensa. Certamente que o apelo caiu na indiferença.

Certo é que a qualidade dos jornais em geral é fraca, muitos deles tendenciosos e a voz dos donos dos seus grupos editoriais e posicionamento político e ideológico ou mesmo clubista no caso dos desportivos.

Em resumo, tal como tem estado, a imprensa, não só a escrita como a televisiva,  também não está a merecer muito mais apoio e interesse. Ainda quanto às edições electrónicas dos jornais, sendo obviamente mais baratas do que na versão papel, no geral ainda são caras porque ainda com bastante publicidade, com valores entre 50 a 100 euros anual. Talvez com valores mais em conta poder-se-ía captar mais leitores assinantes. Mesmo assim, sou assinante de dois títulos, um regional e outro local, mas pergunto-me se não serei um dos poucos casos raros? Já agora, em Guisande, quantos assinantes de jornais teremos? Será difícil responder?

Para além de tudo o mais, a imprensa esbarra-se com outro muro que é o do oportunismo geral, em que ninguém quer pagar seja o que for, dando como adquirido que tudo o que está na net online é de borla. Assim, pagar um serviço, um software, um jornal, um conteúdo artístico, é coisa rara. É estrutural mas é cultural.

Por exemplo, tenho em funcionamento e sou administrador de um fórum sobre um determinado tema em que já vai a caminho dos 20 mil utilizadores. Há tempos abri a hipótese dos mesmos utilizadores poderem dar um contributo, via PayPal, para ajuda dos custos de manutenção(domínio, alojamento e software), que poderia obviamente ser de qualquer valor, msmo que simbólico. Pois bem, durante um ano em que esteve aberta essa oportunidade, apenas um único utilizador contribuíu com 3 euros. Os restantes milhares não se mostraram sensíveis continuando por isso a usufruir de um serviço completamente grátis e que serve os seus propósitos para a finalidade a que se dedica o fórum.

Em resumo, no geral o espírito do portuga é esse mesmo, o de oportunista, o de usufruir de qualquer coisa, desde a mais banal à mais útil e interessante, mas completamente à borlix e, quantas vezes, ainda a reclamar. Mesmo dando como adquirido que no geral todos nós acabamos por baixar e instalar conteúdos sem os pagar, sejam programas, música e outros conteúdos artísticos, mas, porra, pelo menos que alguma coisa paguemos.

A beleza...



A verdadeira beleza não se exibe, 

não se mostra em poses, 

não se anuncia com rótulos, frases feitas e lugares comuns.

A verdadeira beleza é simples mas não simplória.

É discreta, quase envergonhada.

Pode estar numa flor na borda de um caminho, 

numa pedra vestindo musgo, numa descolorida ave cinzenta.

A verdadeira beleza é aquela 

que os teus olhos vislumbram e não a que exibes numa vaidade vazia.

A verdadeira beleza 

não veste seda nem cetim nem se cinge de veludo, mas talvez num aconchego de tojo.

26 de dezembro de 2021

Nuvens negras

Há dias, alguém que prezo e estimo, um guisandense ausente mas presente, e que vai seguindo os meus apontamentos sobre algumas coisas relacionadas à freguesia e paróquia, manifestava-me o seu agrado pelos mesmos, e que os acompanha interessado, porque mais do que memórias trazidas à tona do dia, são elementos que guardam um pouco do que é a nossa história comum. E rematava dizendo que entendia que estas coisas deviam ser mais divulgadas e consideradas.

Em resposta, e agradecendo o interesse, ressalvei que porventura a coisa não mereceria tanta atenção. De resto nem o faço para colher bênçãos mas antes para ficar como um simples registo escrito para memória futura e até porque um dia destes alguns desses apontamentos irão para livro. Mas no essencial tenho noção que estas coisas pouco ou nada interessam à generalidade das pessoas. Quando muito a meia dúzia.

Quando alguém sai a caminhar com o céu carregado com nuvens escuras e a ventar, não pode ter a expectativa de que não vai chover e que o sol vai aparecer sorridente. As coisas são como são. Se vires um animal a caminhar como uma galinha, a cacarejar como uma galinha e a pôr ovos, então o mais certo é que seja mesmo uma galinha.

No fundo a freguesia é pequena e cada vez mais, porque esta história das uniões de freguesias, paradoxalmente só veio contribuir para uma desagregação, e nela escasseiam as pessoas com sensibilidade cultural e de amor à terra suficientes para apreciar e valorizar o que por ela se vai fazendo. E dessas poucas, algumas não passam de polícias sempre de bastão levantado, invejosas, com comichão por quem lhes faça sombra ou as incomode nas suas vaidadezinhas. Mas a maioria será mesmo completamente insensível a estas coisas e a freguesia será apenas uma coisa em abstracto, nela apenas exercendo o papel de cidadãos anónimos, sem qualquer tipo de intervenção. Ou seja, daqueles que não levantam uma palheira a favor do todo comunitário.

Neste panorama, seja em que vertente for da nossa comunidade, nunca se pode esperar muito. Vamos, pois, indo e vendo, mesmo a remar contra correntes, e fazer de conta que ainda estamos nos bons velhos tempos em que mesmo com as naturais diferenças, se remava para o mesmo lado e o sentido de comunidade e freguesia era muito vivo.

Bons velhos tempos que já não voltam, ande-se por onde andar.. 

25 de dezembro de 2021

Feliz Natal!

 



Pequena, minha aldeia,

Luz serena na candeia

Que no lar doce habita;

Que Deus bem te proteja,

Bendito e Louvado seja

Por graça tão infinita.

 

Humilde mas honrada,

Com gente tão dedicada

De coração tão grande;

 Nesta noite de consoada,

Com mesa abençoada,

Feliz Natal, Guisande!

24 de dezembro de 2021

O Natal já não é o que era...

O Natal já não é o que era! Dizemos muitas vezes. Não será bem assim, mas haverá alguma verdade. Desde logo porque necessariamente os tempos nunca são os mesmos, mesmo que nem sempre o avançar deles signifique evolução.

Depois, quer se queira ou não, há diferentes percepções do Natal e do seu espírito. Ora a percepção dos mais velhos não é de todo igual às dos mais novos. Estes porque em regra crescerem num contexto de facilidades e abundância, nada lhes faltando, aqueles porque um pouco ou tudo ao contrário. Hoje os mais novos não sentirão a diferença de comer rabanadas, chocolates, aletria, bolo-rei, etc, porque os têm e comem durante todo o ano. Quando muito farão uma cara feia como a uma sopa de nabos. Já os mais velhos sabem que noutros tempos essas coisas eram mesmo só pelo Natal e nunca à fartazana, daí o sentido e percepção do sabor das coisas, tanto na boca como na alma.

Mas adiante. Hoje em dia, de facto, o Natal é muita coisa e coisa nenhuma, porque já pouco do essencial e do que ao longo dos séculos lhe deu substância. É verdade que o espírito de comunhão em família ainda se mantém, bem-haja, mesmo que o conceito de família esteja já a ser subvertido, mas no geral é puramente comercial e consumista. Da componente tradicional e religiosa já pouco resta. Uma larga maioria, mesmo num país dito católico, celebra o Natal sem celebrar o seu motivo nem passar pela igreja. - Coisas de velhos!

Depois é tudo muito rápido e fácil. Já muitos começam a consoar num restaurante chique e a ostracizar o bacalhau, por coisas mais à chef, e daí esta pandemia estar a ser uma chatice do caraças. Não se cozinha, e tudo já se compra feito e pronto. Não se descascam as batatas, as nozes nem os amendoins, sequer. Já não se fatia presunto ou queijo. Compram-se as “tábuas de festa”. Tudo pronto a consumir. 

É esse o espírito e o comércio faz questão de no-lo lembrar com a devida antecedência, quando por meados de Outubro já apanhámos com o velhote da Coca-Cola, as marcas do perfume com as gajas boas, as operadores de telecomunicações a dizerem-nos que o que está a dar é o 5G, as marcas de relógios a mostrarem joias como se fôssemos todos Cristianos Ronaldos, os amigos do Sócrates ou os Rendeiros, e as grandes superfícies engalanadas com pirâmides de Ferreros, árvores de bacalhau e azeite, etc, etc.

O Natal está mesmo a mudar e os fundamentalistas da inclusão até lhe querem dissociar o simbolismo e contexto religioso. Ora, para esses, vão-se foder e entalem-se com as trufas! Para os demais, um Feliz e um Santo Natal!

23 de dezembro de 2021

A todos um bom Natal!

 


Para todos quantos acompanham ou visitam este espaço, votos sinceros de um Santo e Feliz Natal!

22 de dezembro de 2021

Pe. Manuel Francisco de Sá

 


O Pe. Manuel Francisco de Sá nasceu na Casa da Costa Velha, em Duas Igrejas, Romariz - Vila da Feira, em 7 de Outubro de 1883, filho de Francisco José de Sá e de Maria Josefa de Oliveira. Faleceu em 3 de Julho de 1944, relativamente novo, com 61 anos..

Sendo mencionado como filho de Francisco de José de Sá, na certidão de baptismo, que abaixo reproduzo, foi registado como sendo filho de pai incógnito, mas na mesma certidão, em assento posterior, foi assinalado que foi legitimado na paternidade por Francisco José de Sá aquando do casamento deste com a sua mãe Maria Josefa.




Foi pároco de  Fiães, que dirigiu durante uma dúzia de anos, entre Julho de 1920 e Setembro de 1931, a freguesia de Fiães, onde se tornou empreendedor e estimado pelas gentes locais. Depois de sair de Fiães foi paroquiar a freguesia de Paramos - Espinho. Com problemas de saúde voltou depois para Fiães, onde residia no lugar dos Valos, ali falecendo em 3 de Julho de 1944.
Por vontade própria quis ser sepultado em Fiães. numa demonstração de amor à freguesia apesar da proximidade da sua terra natal.

Do muito que representou para Fiães, pela sua dedicação, destaca-se a importante monografia sobre a terra, de sua autoria e publicada em 1940, cuja capa abaixo se reproduz. De resto, tinha este sacerdote essa vontade e interesse histórico e documental bem vivos pelo que igualmente escreveu e deixou importantes monografias sobre Paramos, que paroquiou, bem como sobre o lugar de Duas Igrejas de Romariz, onde nasceu, numa edição de 1936, a qual em 1968 foi actualizada e acrescentada pelo Pe. José António Ferreira de Castro, a que se refere a capa abaixo.





Em 17 de Julho de 1969, o então pároco de Fiães, Pe. Inácio António Gomes da Silva, endereçou uma missiva ao pároco de Guisande, o Pe. Francisco Gomes de Oliveira, também natural de Fiães, a convidá-lo a fazer parte numa homenagem póstuma que a paróquia iria prestar ao ex-pároco, Pe. Manuel Francisco de Sá. Abaixo se reproduz o documento que pode ser lido. 


Do programa da homenagem póstuma, para além da parte religiosa, seria colocada uma lápide com o seu nome, junto à casa onde residira e  atribuir o seu nome a essa rua.

Não temos a confirmação se o convite foi aceite pelo então nosso pároco, mas naturalmente que sim, enquanto fianense, bem como dado o prestígio e carinho do Pe. Manuel Sá em Fiães. 
Não tendo, pois, uma relação directa com a paróquia de Guisande, o  Pe. Manuel Sá, até pela proximidade e vizinhança, quer de Duas Igrejas, quer de Fiães, é uma figura e personalidade deveras interessante. Daí o merecido apontamento neste espaço.