24 de dezembro de 2021

O Natal já não é o que era...

O Natal já não é o que era! Dizemos muitas vezes. Não será bem assim, mas haverá alguma verdade. Desde logo porque necessariamente os tempos nunca são os mesmos, mesmo que nem sempre o avançar deles signifique evolução.

Depois, quer se queira ou não, há diferentes percepções do Natal e do seu espírito. Ora a percepção dos mais velhos não é de todo igual às dos mais novos. Estes porque em regra crescerem num contexto de facilidades e abundância, nada lhes faltando, aqueles porque um pouco ou tudo ao contrário. Hoje os mais novos não sentirão a diferença de comer rabanadas, chocolates, aletria, bolo-rei, etc, porque os têm e comem durante todo o ano. Quando muito farão uma cara feia como a uma sopa de nabos. Já os mais velhos sabem que noutros tempos essas coisas eram mesmo só pelo Natal e nunca à fartazana, daí o sentido e percepção do sabor das coisas, tanto na boca como na alma.

Mas adiante. Hoje em dia, de facto, o Natal é muita coisa e coisa nenhuma, porque já pouco do essencial e do que ao longo dos séculos lhe deu substância. É verdade que o espírito de comunhão em família ainda se mantém, bem-haja, mesmo que o conceito de família esteja já a ser subvertido, mas no geral é puramente comercial e consumista. Da componente tradicional e religiosa já pouco resta. Uma larga maioria, mesmo num país dito católico, celebra o Natal sem celebrar o seu motivo nem passar pela igreja. - Coisas de velhos!

Depois é tudo muito rápido e fácil. Já muitos começam a consoar num restaurante chique e a ostracizar o bacalhau, por coisas mais à chef, e daí esta pandemia estar a ser uma chatice do caraças. Não se cozinha, e tudo já se compra feito e pronto. Não se descascam as batatas, as nozes nem os amendoins, sequer. Já não se fatia presunto ou queijo. Compram-se as “tábuas de festa”. Tudo pronto a consumir. 

É esse o espírito e o comércio faz questão de no-lo lembrar com a devida antecedência, quando por meados de Outubro já apanhámos com o velhote da Coca-Cola, as marcas do perfume com as gajas boas, as operadores de telecomunicações a dizerem-nos que o que está a dar é o 5G, as marcas de relógios a mostrarem joias como se fôssemos todos Cristianos Ronaldos, os amigos do Sócrates ou os Rendeiros, e as grandes superfícies engalanadas com pirâmides de Ferreros, árvores de bacalhau e azeite, etc, etc.

O Natal está mesmo a mudar e os fundamentalistas da inclusão até lhe querem dissociar o simbolismo e contexto religioso. Ora, para esses, vão-se foder e entalem-se com as trufas! Para os demais, um Feliz e um Santo Natal!