26 de dezembro de 2021

Nuvens negras

Há dias, alguém que prezo e estimo, um guisandense ausente mas presente, e que vai seguindo os meus apontamentos sobre algumas coisas relacionadas à freguesia e paróquia, manifestava-me o seu agrado pelos mesmos, e que os acompanha interessado, porque mais do que memórias trazidas à tona do dia, são elementos que guardam um pouco do que é a nossa história comum. E rematava dizendo que entendia que estas coisas deviam ser mais divulgadas e consideradas.

Em resposta, e agradecendo o interesse, ressalvei que porventura a coisa não mereceria tanta atenção. De resto nem o faço para colher bênçãos mas antes para ficar como um simples registo escrito para memória futura e até porque um dia destes alguns desses apontamentos irão para livro. Mas no essencial tenho noção que estas coisas pouco ou nada interessam à generalidade das pessoas. Quando muito a meia dúzia.

Quando alguém sai a caminhar com o céu carregado com nuvens escuras e a ventar, não pode ter a expectativa de que não vai chover e que o sol vai aparecer sorridente. As coisas são como são. Se vires um animal a caminhar como uma galinha, a cacarejar como uma galinha e a pôr ovos, então o mais certo é que seja mesmo uma galinha.

No fundo a freguesia é pequena e cada vez mais, porque esta história das uniões de freguesias, paradoxalmente só veio contribuir para uma desagregação, e nela escasseiam as pessoas com sensibilidade cultural e de amor à terra suficientes para apreciar e valorizar o que por ela se vai fazendo. E dessas poucas, algumas não passam de polícias sempre de bastão levantado, invejosas, com comichão por quem lhes faça sombra ou as incomode nas suas vaidadezinhas. Mas a maioria será mesmo completamente insensível a estas coisas e a freguesia será apenas uma coisa em abstracto, nela apenas exercendo o papel de cidadãos anónimos, sem qualquer tipo de intervenção. Ou seja, daqueles que não levantam uma palheira a favor do todo comunitário.

Neste panorama, seja em que vertente for da nossa comunidade, nunca se pode esperar muito. Vamos, pois, indo e vendo, mesmo a remar contra correntes, e fazer de conta que ainda estamos nos bons velhos tempos em que mesmo com as naturais diferenças, se remava para o mesmo lado e o sentido de comunidade e freguesia era muito vivo.

Bons velhos tempos que já não voltam, ande-se por onde andar..