9 de março de 2022

Estupidamente desconsiderado


Há alturas na vida em que damos o tempo como completamente perdido. De forma estúpida, inútil. Mais valia estar a contar formigas como bem gostava o outro.

Ontem, no Tribunal da Feira, convocado como testemunha, para as 09:15 horas, depois da chamada, seguiu-se uma espera de três horas ao frio ou num espaço com pouca comodidade. 

Já à hora do almoço, quando já se sentia o aroma dos refugados nos restaurantes da Feira, informaram-me que afinal não ía haver prestação de declarações nem julgamento e que ficaria adiado para um qualquer dia do próximo mês de Maio. Que tomasse nota que já não gastariam dinheiro na carta e no selo.

Obviamente um sistema de "caca" que literalmente abusa das pessoas e brinca com o seu tempo. Quando se faz com antecedência um agendamento nada justifica que a testemunha presente não seja ouvida. E sim, estas coisas não acontecem por acaso nem devido a um terramoto, incêndio ou a um ataque terrorista às instalações, mas porque é da norma, da praxe e por isso recorrente. Adivinhar um novo adiamento de uma sessão é tão lógico e natural que aceitamos estas coisas como uma inevitabilidade.

Ninguém, em rigor, quer que estas coisas melhorem ou sejam mais eficientes. É assim mesmo. Está-lhes no sangue. Convém que a máquina trabalhe devagar, devagarinho. Quanto às pessoas e ao seu tempo perdido de forma estúpida e inútil, que aguentem que isto é um Estado de Direito. 

7 de março de 2022

RTP - Serviço público?


A RTP, o canal público de televisão, celebra nesta data de 7 de Março de 2022, 65 anos de emissões regulares.

O conceito de serviço público associado à RTP não é consensual e cada pessoa que pensa dá a sua sentença. Pela minha parte, considero que, sobretudo o Canal 1, extravasa em muito o que deve ser um  serviço público. Deve restringir-se aos conteúdos institucionais, informação de qualidade, isenta e independente da voz do dono, que são os sucessivos governos, e ainda com uma forte componente cultural e científica, maior ênfase às realidades locais e regionais e sua divulgação. 

Tudo o que é entretenimento está a mais, sendo apenas mais do mesmo e concorrencial às televisões privadas. Há um excesso destes programas, incluindo os de "encher-chouriços" e pimbalhadas. Mesmo séries de ficção apenas se justificam aquelas com contextos históricos.

Publicidade, não se justifica de todo e deveria ser apenas institucional.

Mas, admito, este modelo de serviço público de televisão que advogo não é o que colherá um maior entusiasmo, porque à volta da RTP orbitam demasiadas estralas do mundo do entretenimento e enchimento de chouriços. Temos assim uma RTP 1 pejada de entretenimento, de manhã à noite, como se entreter o país e distrair as salas de espera, seja um imperativo de serviço público.

Vamos, pois, continuar a fazer de conta que temos um bom serviço público de televisão, mesmo que, enquanto contribuintes, sejamos cobrados pelos impostos e pela taxa de audiovisual, ou que isso queira significar. 

Já fostes! É um espectáculo!

Direito enviezado


Sejamos claros: Em rigor vivemos não num Estado de Direito mas, quando muito, num Estado de Alguns Direitos, onde quem tem dinheiro melhor aproveita os meandros da Justiça a seu favor. 

Podíamos estar aqui o dia todo a enunciar casos e exemplos, mas, por ora, apenas um: Uma pessoa é arrolada como testemunha num qualquer processo, muitas vezes sem nada saber sobre o mesmo e assim, sob pena de multas, coimas ou mesmo condenações, fica obrigada a comparecer a Tribunal, tantas vezes inutilmente porque tantas vezes as sessões são adiadas. Este é o "pão-nosso-de-cada-dia" da nossa lenta Justiça.

Por outro lado, todo o stress, incómodo e prejuízo não são compensados. A lei prevê que se possa pedir uma compensação pelas despesas de deslocação, é certo, mas o valor pago é simbólico e com valores determinados que obviamente não são ajustados em função de alguns factores, desde logo a constante variação dos preços de combustível.

Por outro lado, sendo certo que a lei prevê ainda que uma falta ao trabalho, devido a uma presença no tribunal como testemunha, seja considerada justificada, e como tal não perde o correspondente venciamento, em rigor é penalizada a empresa já que esta tendo que pagar ao trabalhador ausente, não recebe qualquer compensação do Estado. Para além de que, em muitas empresas fica em causa o prémio de assiduidade o qual não é pago. 

Por este simples exemplo, factual, assim se caracteriza este nosso Estado de Direito, por vezes tão enviezado. 

Impressivamente


Sou assinante de dois jornais online, um nacional e outro local, no caso o "Correio da Feira". Infelizmente, no caso deste estou arrependidinho já que a versão paga é pouco mais que a versão aberta, igualmente carregada de publicidade e com uma navegação lenta. Só para o login é quase um minuto. Quanto a notícias, o principal de um jornal, poucas e ressessas. Sinceramente esperava mais e diferenciado na versão paga. 

Pergunto, assim, a mim mesmo, como é que alguns jornais, mesmo na versão online, aspiram ao crescimento e à angariação de leitores e assinantes quando oferecem pouco, poucoxinho? Mesmo na versão paga não dispensam a invasão e persistência da publicidade. Uma versão paga, sem publicidade é o mínimo que se pode pedir.

Assim sendo, obviamente que não se pode esperar que os leitores assinem e quando assinem renovem a assinatura. 

Acredito que na imprensa regional os meios e os recursos não sejam muitos mas nesta "pescadinha de rabo na boa" acaba por ser difícil  sair do ciclo porque sem qualidade não se pesca. Mas é sempre possível fazer mais e melhor mas até mesmo as coisas simples são trabalho e há quem não esteja para aí virado.

É pena!

6 de março de 2022

O Sousa é já ali





Destino



Chegado aqui, olho p´ra trás

E nada vejo para lá da curva do caminho. 

Nada mais que uma densa neblina

De memórias percorridas.

Para a frente, o sol já declina

Numa luz mais ténue

Que quase não aquece.

Mas há caminho a percorrer,

Versos por fazer, 

Livros por abrir,

Emoções por sentir,

Flores por cheirar,

E gente por abraçar.

Seja o que o que Deus quiser,

E o que o tempo permitir,

Para além do que já vivi;

Porque enquanto destino houver,

Haverá metas a atingir

E o destino é já ali !

5 de março de 2022

Descrença


...E quando damos por ela, os canalhas da guerra usam sempre a violência da invasão como finalidade. Com Hitler, a nazificação, com Putin, a "desnazificação", ou o que isso queira dizer. Por pura semântica ou mero eufemismo, a guerra é assim um pau-para-toda a colher, porque quando há maldade, pura ou disfarçada, as palavras e o seu valor não têm nenhuma significância e mais do que elas, as palavras, as pessoas, as mulheres, idosos e crianças.

Neste contexto, os valores de humanidade e os direitos nacional ou internacional valem absolutamente nada. Uma ONU anacrónica  vale zero porque apenas uma nação se sobrepõe às demais. É urgente a sua refundação. O poder da loucura dos mandantes associado ao das armas, o juntar da vontade à capacidade, valerão sempre mais e impor-se-ão. 

Foi sempre assim ao longo da História e não estou a ver como possa ser diferente. Houve essa réstia de esperança e crença fundada sobre o sangue e destroços das guerras mundiais, mas reerguidas as cidades e esquecidas as vítimas, as lições são ignoradas e tudo volta à estaca zero. No fundo, a vontade de um homem sobrepõe-se à da humanidade porque milhões sempre obedecerão a um.