16 de outubro de 2022

Recortando o passado


Guardo muitos recortes da nossa imprensa regional sobre assuntos relacionados à nossa freguesia. 

Este, que reproduzo, é datado de Julho de 1998, por isso já com 24 anos. Refere-se ao início das obras de construção da Alameda da Igreja e aos 4 mil contos concedidos pela Câmara Municipal como apoio à obra.

O tempo passa inexoravelmente e muitas das coisas que fazem parte do nosso presente parecem-nos que foram realizadas há dois ou três anos quando, em boa verdade, passaram já vinte ou trinta.

15 de outubro de 2022

A família como morangueiras

 


As famílias e os seus membros são como estolhos de morangueiras que às tantas começam por aí a enraizar e a dar frutos ao largo e quando transplantados, mesmo que para longe da cepa materna, continuarão a produzir os mesmos frutos.

Neste sentido, parece-me que em todas as famílias e sobretudo nas numerosas, às tantas perdemos o fio à meada e temos por aí dispersos, primos, segundos e terceiros,  que até, eventualmente, se cruzam connosco nos cruzamentos do dia-a-dia mas que não passam de desconhecidos e como tal não há partilha de acenos nem cumprimentos.

Isto acontece na minha família, tanto na parte de meu pai como de minha mãe e acontecerá no geral com todas as famílias. E claro, quando no estrangeiro já ramificados, a coisa piora quanto ao contacto próximo.

Pessoalmente tenho procurado pelo menos seguir os primeiros ramos da árvore paterna e deles os rebentos e frutos primeiros, mas depois disso a orgânica das células e a química da vida continuam os seus passos de multiplicação e torna-se tarefa mesmo impossível confinar todo o morangal num único vaso.

Mesmo com as actuais ferramentas que possibilitam o contacto com gente de longe, as coisas são mesmo difíceis e complexas tanto mais que, por força do desligamento e das circunstâncias da vida, a separação e o desligamento aconteceram já há muito. 

Não há papel capaz de comportar o desenho de uma tão grande árvore genealógica a abarcar gerações passadas e presentes. Mesmo uma árvore digital é complexa de gerir e de actualizar. Teria que ser uma tarefa comum a todos os ramos, mas isso, convenhamos, é uma missão digna de Hércules.

Neste aspecto, são importantes os encontros e convívios familiares, o registo e actualização das árvores genealógicas, e até temos alguns em Guisande, mas no geral, quando muito aparece apenas uma reduzida percentagem dos membros catalogados, muitos deles até de perto da base mas que desprezam esta questão de encontro a fraternização entre os seus.

Tantas vezes, somos estranhos dentro da própria família. De resto o que seria dos rebanhos sem as suas ovelhas negras e ronhosas?

Neste contexto de perda do caminho dos membros familiares, ainda há dias faleceu em Pigeiros um meu primo paterno, que sabia ali viver, até por informação de outro primo que de quando em vez o contactava, mas em rigor já não o veria há longos anos e por conseguinte nem a esposa, nem os filhos e muito menos os netos, meus segundos e terceiros  primos, são por mim conhecidos. Este é um exemplo comum a quase todas as famílias.

Para além disso, parece-me, no geral nota-se um desinteresse pela valorização da família e da sua história e por isso, não surpreende que ao fim de duas ou três gerações se perca o fio ao novelo base.

É o que é, porque nestas como em muitas coisas do nosso actual modo de vida, para o bem e para o mal, vão rolando desta maneira. Colocámo-nos como o centro do universo e tudo o resto é colateral.

14 de outubro de 2022

Náufrago do tempo

Eis-me aqui, todo em pleno mar,

Sem farol a guiar a porto seguro,

Sem barco, sem âncora, nem bóia

Em água temerosa.

Fugi, perdi-me para me encontrar,

Mais livre, solitário, mais puro,

Como quem busca tesouro ou  jóia

Mais rica, valiosa.


Talvez nesta imensidão ondulante,

Espelho da negrura da alma e céu,

Eu encontre uma rocha firme, a fé,

Que me resgate desta morte certa.

Serei então um solitário mareante

Digno, sereno, despojado de labéu,

Um novo e renovado homem Crusoé

No reencontro da ilha deserta.


Eis-me aqui, náufrago em verdade

Já com fundada, renovada esperança,

Porque passada a dor, a tempestade, 

Ressurge a doce e vindoura bonança.

Eis-me aqui, vivo, já fora do mar,

Seguro, mesmo que a noite caia,

Porque um homem pode naufragar

Mas dará sempre à sua praia

13 de outubro de 2022

Símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude em Guisande

 









(ícone Salus Populi Romani (protectora do povo romano), um dos símbolas da JMJ)

Com um significativo atraso de mais de uma hora face ao horário previamente agendado (12:15) passaram hoje, 13 de Outubro, por Guisande, os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude (a cruz peregrina e o ícone mariano “Salus Populi Romani”).

Depois do acolhimento a caravana seguiu para a paróquia vizinha de Louredo com passagem pela capela do Viso, devendo terminar na paróquia de Canedo, na Senhora da Piedade.

O horário marcado não era o mais indicado para quem trabalha, mas com o atraso verificado as coisas não melhoraram, mas mesmo assim com bastante gente presente incluindo o Grupo de Jovens pelo que o momento teve a dignidade merecida.

Um momento simples mas significativo.

Nota de falecimento

 


Faleceu Guilhermina Gomes de Paiva, de 91 anos de idade (16 de Janeiro de 1931 a 13 de Outubro de 2022)

Vivia no lugar da Gândara - Guisande.

Funeral, amanhã, Sexta-feira, 14 de Outubro, pelas 16:00 horas, com cerimónias na igreja matriz de Guisande, indo no final a sepultar no cemitério local.

Missa de 7.º Dia no Sábado, 22 de Outubro, pelas 17:30 horas, na igreja matriz de Guisande.

Sentidos sentimentos a todos os familiares. Que Deus a tenha em eterno descanso!

Vida de cão num filme com cabra


Porque já se faz tarde para bicicletar antes do jantar, ontem fui correr: Só para quem gosta de números, 10 Km em 55 minutos. É o que se pode arranjar para quem está à porta dos 60 e com a balança ainda a queixar-se. 

Mas não é isto que interessa porque interesse não tem para quem isto escreve muito menos para quem o lê.

Passe o prefácio, o principal da jornada é que já na parte final da corrida, ali pela Leira, vi uma cabra amarrada a um poste com um metro de corda, a balir insistentemente apesar de ter erva fresca à sua volta.

Estranhei e questionei a mim próprio quem é que ali amarraria o raio de uma cabra apenas num metro de corda? Seria para limpar as ervas da valeta, metro a metro? A ideia não seria inovadora mas teria a sua piada.

Por outro lado fiquei a pensar que as cabras às tantas são como as  galinhas, e àquela hora (19 e picos) já com o sol a esconder-se, quereria recolher à corte e mais não fazia que reclamar ao dono.

Mas logo de seguida, percebi: Afinal a cabra viera perdida do lugar de Azevedo, como um cão vadio sem rumo, e às tantas alguém ali na Leira meteu-lhe as mãos aos cornos e prendeu-a à espera do dono, que já estava a chegar com uma corda mais comprida, certamente para a levar de volta e agradecendo a quem ali a parou e reteve na sua caminhada de cabra solta que saltara a cerca. 

É claro que este filme foi exibido em poucos segundos.

Enquanto corria para casa fiquei a pensar na cena e a imaginar se em vez de cães vadios, de tantos que por aí andam, fossem cabras ou cabritos? Mas foi um pensamento inútil, porque se assim fosse ao fim de um dia já estavam todas, pelo menos os cabritos, recolhidas. 

Uma cabra dá leite e mesmo já velha come-se em chafana. Quanto a cabritos, que o diga o Relvas, que não dá mãos a medir a aviar assadeiras domingueiras lá para os lados da Gestosa.

Por conseguinte, andam por aí cães vadios porque em rigor ninguém os quer, nem dentro nem fora da porta muito menos salteados com batatas. É que nisto de os comermos, ainda não estamos na China.

Ora por cá ninguém abandona uma cabra, muito menos um cabrito, mas um cão não tem essa sorte e o que não faltam por aí é cabrões a abandonar cães ou a tê-los presos a um metro de cadeado em que, ao contrário da cabra deste filme, não têm erva verde mas um chiqueiro polido de pó ou lama.

Será por isso, com certeza, que se diz, em lamento, "vida de cão"!

A ONU a nú

Os pilares e os fundamentos da criação da ONU - Organização das Nações Unidas, em 24 de Outubro de 1945, por isso quase logo após o desfecho da Segunda Guerra Mundial, fez todo o sentido e na altura parecia ser um garante de eterna paz, mas o certo é que ao longo da sua existência pouco mais tem sido que um mero pingarelho que nas questões que realmente importam, as relacionadas com os direitos humanos, segurança e paz, de pouco ou nada tem validado.

Veja-se a actual situação quanto à invasão e agressão da Rússia à Ucrânia: De que têm valido as resoluções de condenação?

Na prática quando as questões importantes afectam directamente os Big Five, China, França, Rússia, Reino Unido e os Estados Unidos, as coisas não passam dali. Não há volta a dar.

Descodificando, para tótós, como numa analogia com o futebol, a Rússia neste momento é um grande clube com um enorme passado e que está a jogar mal e porcamente, a apanhar cabazadas, na prática descendo de divisão, mas os seus adeptos continuam a achar que está na mó de cima, a jogar bem, no caminho certo e que não vale a pena despedir o treinador. Bastará dar tempo ao tempo. A culpa é dos adversários que não facilitam e os não deixam jogar.

Assim, nesta ONU, se portam todos os países que de algum modo têm relações importantes e dependentes com a Rússia ou que servem de bloco de oposição ao Ocidente e Estados Unidos, desde logo a China.

Em suma, esta ONU não tem ponta por onde se lhe pegue e a actualidade só o tem demonstrado.

Dali não sairá nada de substancial que modifique o actual estado da guerra na Ucrânia, parece-me!

Todavia e paradoxalmente é a única esperança para algum entendimento.