15 de outubro de 2022

A família como morangueiras

 


As famílias e os seus membros são como estolhos de morangueiras que às tantas começam por aí a enraizar e a dar frutos ao largo e quando transplantados, mesmo que para longe da cepa materna, continuarão a produzir os mesmos frutos.

Neste sentido, parece-me que em todas as famílias e sobretudo nas numerosas, às tantas perdemos o fio à meada e temos por aí dispersos, primos, segundos e terceiros,  que até, eventualmente, se cruzam connosco nos cruzamentos do dia-a-dia mas que não passam de desconhecidos e como tal não há partilha de acenos nem cumprimentos.

Isto acontece na minha família, tanto na parte de meu pai como de minha mãe e acontecerá no geral com todas as famílias. E claro, quando no estrangeiro já ramificados, a coisa piora quanto ao contacto próximo.

Pessoalmente tenho procurado pelo menos seguir os primeiros ramos da árvore paterna e deles os rebentos e frutos primeiros, mas depois disso a orgânica das células e a química da vida continuam os seus passos de multiplicação e torna-se tarefa mesmo impossível confinar todo o morangal num único vaso.

Mesmo com as actuais ferramentas que possibilitam o contacto com gente de longe, as coisas são mesmo difíceis e complexas tanto mais que, por força do desligamento e das circunstâncias da vida, a separação e o desligamento aconteceram já há muito. 

Não há papel capaz de comportar o desenho de uma tão grande árvore genealógica a abarcar gerações passadas e presentes. Mesmo uma árvore digital é complexa de gerir e de actualizar. Teria que ser uma tarefa comum a todos os ramos, mas isso, convenhamos, é uma missão digna de Hércules.

Neste aspecto, são importantes os encontros e convívios familiares, o registo e actualização das árvores genealógicas, e até temos alguns em Guisande, mas no geral, quando muito aparece apenas uma reduzida percentagem dos membros catalogados, muitos deles até de perto da base mas que desprezam esta questão de encontro a fraternização entre os seus.

Tantas vezes, somos estranhos dentro da própria família. De resto o que seria dos rebanhos sem as suas ovelhas negras e ronhosas?

Neste contexto de perda do caminho dos membros familiares, ainda há dias faleceu em Pigeiros um meu primo paterno, que sabia ali viver, até por informação de outro primo que de quando em vez o contactava, mas em rigor já não o veria há longos anos e por conseguinte nem a esposa, nem os filhos e muito menos os netos, meus segundos e terceiros  primos, são por mim conhecidos. Este é um exemplo comum a quase todas as famílias.

Para além disso, parece-me, no geral nota-se um desinteresse pela valorização da família e da sua história e por isso, não surpreende que ao fim de duas ou três gerações se perca o fio ao novelo base.

É o que é, porque nestas como em muitas coisas do nosso actual modo de vida, para o bem e para o mal, vão rolando desta maneira. Colocámo-nos como o centro do universo e tudo o resto é colateral.