20 de dezembro de 2022

Requalificação do Monte do Viso - Esclarecimento

Tomei conhecimento que no decurso da Assembleia da nossa União de Freguesias, realizada no passado dia 29 de Setembro pelas 21:00 na Casa da Cultura de Gião, relativamente às previsões de obras para a freguesia de Guisande, o Sr. presidente da Junta informou os presentes ter já articulado comigo a partilha do projecto de requalificação do Monte do Viso, para que, faseadamente, seja possível avançar com obras neste nosso emblemático espaço.

Em bom rigor, sobre este assunto e tendo eu sido mencionado, importa esclarecer que é verdade que o presidente da Junta, Sr. David Neves falou comigo sobre o assunto, interessadamente mas de forma muito informal, questionando-me sobre o tal plano ou projecto do tempo em que fiz parte da Junta da União. Sobre isso, apenas disse-lhe que de facto fez parte do programa da lista pela qual concorria, a requalificação do espaço do lado norte da capela, designado de parque de merendas. 

Depois de vencidas as eleições, e como era uma obra que importava fazer, o então presidente da Junta terá solicitado aos serviços da Câmara para elaborar o projecto ou plano. Certo é que eu quando o questionava sobre o desenvolvimento do mesmo,  era referido que ainda não havia resultados. E nunca houve em todo o mandato.

Do mesmo modo, reuniram-se condições para o alargamento da Rua de Santo António na parte nascente do arraial até ao entroncamento com a Rua do Caminho Novo, tendo sido colhidas as autorizações e documentos dos proprietários confinantes. Supostamente o assunto foi encaminhado para protocolo com a Câmara Municipal mas certo é que nada foi realizado nesse mandato (2104/2017) e no mandato seguinte não foi dada continuação e nada foi feito. E com pena, pois o melhoramento seria importante, já que a actual rua é bastante estreita, o que dificulta o trânsito sobretudo em dias de eventos no Monte do Viso.

Em face disso, para meu natural desapontamento porque ambas as propostas (a da requalificação e a do alargamento) tinham sido minhas, nunca cheguei a ver começado ou acabado tal projecto ou plano, nem as obras se realizaram. De resto, esta situação, este desinteresse e incapacidade, quer da Câmara, quer da minha Junta, a par de outras, fizeram com que pusesse de lado qualquer possibilidade de recandidatura. Há princípios que devem valer.

Por conseguinte, do que os serviços da Câmara fizeram ou não quanto ao projecto ou plano para o Monte do Viso, desconheço em absoluto.

Em todo o caso, enalteço o interesse demonstrado pelo Sr. presidente da Junta em querer retomar este assunto esperando que, seja lá com que plano ou projecto, algo se venha a fazer como requalificação do Monte do Viso, nomeadamente na envolvente da capela e do tal parque de merendas.

O Sr. presidente mostrou ainda interesse em que eu próprio apresentasse ideias, já que admitia que a depender da colaboração da Câmara a coisa será muito demorada.

Em resumo, não tenho nem conheço, pois, qualquer plano ou projecto desenvolvido durante o mandato em que fiz parte do executivo (2014/2017), bem como, ao simpático repto do Sr. presidente, prefiro que o mesmo seja desenvolvido por técnicos competentes e da área. Certamente que, se for caso disso, estarei disponível para ajudar e dar algumas ideias, obviamente que sem qualquer contrapartida, mas acima de tudo espero que se encontre uma solução que dignifique o local e que, mais do que isso, a obra se faça porque o local é merecedor. Estou certo e confio que esta Junta lhe dará a devida atenção.

Vazio



Não! Talvez já não valha a pena

Esperar do homem epifanias

Que o levem a mais humanidade;

Foi-se a esperança na última cena,

Sala e cadeiras ficaram vazias;

E nada sobrou dessa veleidade.


O poeta assim não sente remorsos

Porque o homem já não o inspira,

Sombrio jardim onde nada medra;

Lamenta-se, vencido de esforços

Por ver na alma, cheia de mentira,

Menos poesia do que numa pedra.

19 de dezembro de 2022

E a Argentina venceu


Pouco tempo dediquei ao Campeonato Mundial de Futebol no Qatar. E no que toca a assistir aos jogos, menos tempo ainda. Mesmo de Portugal terei visto pouco mais que os resumos. Mas do que pouco que fui vendo, e é impossível fugir disto porque por estes dias a comunicação social não falou doutra coisa, fico com algumas opiniões, porque apenas minhas: 

A Argentina foi uma justa merecedora do título apesar do arranque desastroso com uma derrota frente à Arábia Saudita. Messi teve o mais que merecido coroamento como o melhor jogador do mundo, ou lá o que isso queira significar. No jogo da final, depois de ter dominado completamente a França durante quase todo o jogo, não havia ao necessidade ao Scaloni mexer na equipa retirando um Di Maria inspirado, e com isso dar fôlego aos bleus e logo através de um penalti ter permitido que os gauleses entrassem num jogo que estava perdido. Mesmo depois no prolongamento, novamente na frente, lá concedeu uma segunda vez  um outro penalti. Verdade se diga, indo para o desempate por penaltis, seria quase injusto que a França vencesse a competição através deles, dos penalties. Era sorte a mais.

Quanto a Portugal, uma participação sem história, sucumbindo nos quartos à "potência" do futebol mundial, Marrocos. A sortezinha, um coelho na cartola, a protecção dos deuses e o alinhamento dos astros que se verificou no Europeu de 2016, não se repetiu e sem honra nem glória, a selecção de Ronaldo e mais o resto, lá regressou com o rabinho entre as pernas. Dizem agora que o Fernando Santos finalmente vai dar o lugar a outro e que Ronaldo, amuado como é seu timbre, ainda não se manifestou. 

Ronaldo, um fantástico futebolista, e que acredito que é um bom ser humano, enquanto figura da indústria do futebol, não tem tido personalidade à altura e esta sua fase final tem sido mal gerida como que a tentar enganar o destino de que tudo tem um fim. Durante todo o tempo no Qatar, foi sempre a figura principal mas não pelos melhores motivos. De resto, a famosa entrevista na véspera só veio dar espaço para essa instabilidade. Já poderia ter saído pela porta grande da sua fantástica carreira, mas em vez disso considera-se ainda um deus sol com vinte anos onde tudo à sua volta deve gravitar. Não é assim e por isso vai perdendo pontos e dando motivos a quem o critica no seu estilo egoncêntrico.

No fim de tudo, foi quase um Mundial atípico, desde logo pela sua atribuição ao Qatar num processo corrupto que contribui para o descrédito destas coisas. Tudo gira em torno do dinheiro e este move montanhas. O recente caso com eurodeputados, que evidenciam um esquema de corrupção de autoridades do Qatar, é apenas mais uma certeza quanto à forma como as coisas funcionam. O dinheiro ainda continua a valer. No caso, perde o futebol, mas em rigor pouca mossa faz à indústria porque para além de uns arrebates de consciência marcados pela filosofia do politicamente correcto, na realidade tudo continua a rolar como se nada fosse e todos compareceram à competição, com mais ou menos simbolismos de protesto.

É este um futebol com selecções que já há muito deixaram de ser nacionais e que não passam de uma reuniões de jogadores onde a questão de nacionalidade já pouco diz. Por conseguinte, quem ainda procura ver o futebol pelo seu lado menos conspurcado, mais genuíno, já há muito que perdeu as ilusões do regresso ao passado. Face a isto, já pouco sentimento desperta ver um grupo de malta bem paga a cantar, invariavelmente desafinada, o hino nacional e com a mão no peito. Tretas!

Viva la Argentina!

18 de dezembro de 2022

Cada coisa no seu lugar

Mas porque carga de água tenho eu que agradecer ao Fernando Santos, agora que deixou o cargo de treinador da selecção de futebol?

Fez ele algo de notável que mudasse a vida concreta dos portugueses? E fê-lo de graça, num exercício de generosidade e altruísmo?

Tanto quanto saiba, foi ele sempre muito muito bem pago para o que fazia. Ganhava mais por mês que uma grande maioria dos portugueses numa vida inteira de trabalho. E não se tem falado, mas quanto levará agora de indemnização?

Alguém agradece particularmente a milhares, mesmo milhões de portugueses, que trabalham com dignidade e profissionalismo no dia a dia, com horários pesados, com esforço e dedicação? Alguém agradece a um médico, a uma enfermeia, a um varredor de ruas, ao homem da recolha do lixo, a um trolha, pedreiro ou mineiro, quando termina o seu trabalho?

Vão-se catar! As coisas são como são, mas é sempre bom que lhes demos não mais que a sua devida importância. Cada coisa no seu justo lugar.

Em resumo, fez um trabalho, com êxitos e com fracassos, mas foi excelentemente pago para isso. O país nada lhe deve. 

Que seja feliz, tenha vida e saúde, mas mais do que isso soa a moléstia. Não é questão de inveja ou coisa que lhe pareça, mas há gente bem mais merecedora do nosso agradecimento. O futebol, por mais que o pintem, será sempre uma banalidade, um entretenimento.

Natal

Abaixem-se, submissos, os montes,

Aplanem-se os  vales viçosos,

As aves cantem hinos de louvor,

E amansem o trovão e o vendaval.

Fiquem límpidos os horizontes,

Alegrem-se os regatos chorosos,

Porque é nascido Jesus Senhor

No mistério de renovado Natal. 

14 de dezembro de 2022

Cavalo a trote


Sabemos que o símbolo ou logotipo dos CTT é um mensageiro montado a cavalo. E faz sentido, pois apesar de já num contexto de modernidade, do automóvel, do comboio e do avião,  e de tecnologias de informação, os nossos correios parece que ainda andam a cavalo a distribuir correspondência, tal é o atraso com que o fazem. 

Bem sabemos que a culpa não é propriamente dos carteiros, porque em todas as profissões há-os competentes e responsáveis, ou nem por isso, mas do sistema e da política da empresa.

Neste contexto, não me parece de todo aceitável que uma carta com uma convocatória para uma consulta externa no hospital ou para uma convocatória de tribunal  seja recebida em casa apenas no dia da véspera da data.  E, dizem, casos há em que já depois das datas, nomeadamente nas cartas dos serviços de águas, telefones e electricidade. Num dos casos, como me aconteceu, valeu o sistema de convocatória por SMS que já dispõem os hospitais.

Por sua vez, os carteiros, assoberbados com tanto trabalho e com tão fracas condições, tantas vezes não tocam uma nem duas vezes para recolher uma assinatura em carta registada e simplesmente optam por enfiar na caixa o aviso para a correspondência ser levantada no posto. Já me aconteceu estar em casa e o carteiro deixar tal aviso sem tocar para saber se alguém está. A lei do menor esforço.

Quem é que põe cobro a isto? Eu costumo reclamar nos sítidos adequados mas porventura a generalidade das pessoas não reclama coisa nenhuma e assim, passivamente, é responsável por este mau serviço.

É aguentar!

Andamos todos numa espécia de guerra contra as alterações climáticas e fazemos questão de, invariavelmente, as responsabilizar pelos problemas e prejuízos ocorridos sempre que S. Pedro nos brinda com umas fortes chuvadas. Queixamo-nos se não chove, queixamo-nos se chove ou se nem uma coisa ou outra. Andamos, pois, a confundir o manda-chuva celeste. E, todavia, muitos dos problemas como os agora ocorridos na grande Lisboa, em Faro e noutros locais, resultam ou são agravados tão simplesmente pela mão e intervenção humanas. Mas desta realidade pouco se fala como se fosse uma questão menor.

Em todos os aglomerados urbanos, foi-se construindo ao arrepio das leis da natureza, sobre vales de cursos de água e seus leitos de cheia e mesmo estrangulando ou suprimindo ribeiras, maiores ou menores. Em muitas das nossas cidades, são mais que muitas as ribeiras que correm sobre edifícios e debaixo de ruas. Quantas ribeiras existem a céu aberto em Lisboa ou no Porto? Poucas ou apenas uns curtos troços porque no geral estão entubadas.

Mesmo no nosso concelho da Feira, os exemplos dessa prática são mais que muitos. Veja-se no centro da cidade sede o rio Cáster a correr estrangulado em ambas as margens por entre edifícios.

Durante décadas construiu-se ao desbarato, sobre linhas de água ou à face das suas margens. Ocupam os leitos de rios e ribeiras, habitações, fábricas e armazéns. 

Só não vê quem não quer. Mesmo aqui em Guisande permitiu-se num passado recente, e já sob a égide de um PDM, que uma unidade industrial nascida de forma clandestina, cobrisse largas dezenas de metros do curso de um regato que no inverno é um rio. E, pasme-se, dizem que foi legalizada.

Agora, numa reviravolta, para se edificar um simples muro de vedação tem que se respeitar pelo menos 5 metros de afastamento, mesmo que a linha de água, em rigor, por vezes não seja mais que um simples rego de rega.  Diz o povo, com razão, que não há fome que não traga fartura. Nisto, do ir dos 8 ao 80, somos todos uns ases. 

Entretanto, claro está, como dizia por estes dias o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Carlos Moedas, não se pode mudar a geografia da cidade. Pois não! Nem de Lisboa, nem de Faro, nem de Águeda, nem do Porto nem da Feira e por aí fora. Por isso, não se queixem apenas das alterações climáticas mas das muitas asneiras e burrices que tantos autarcas permitiram sem qualquer veleidade. 

É caso para se dizer: - Fizeram merda, agora é aguentar!


[foto: O Observador]