19 de dezembro de 2022

E a Argentina venceu


Pouco tempo dediquei ao Campeonato Mundial de Futebol no Qatar. E no que toca a assistir aos jogos, menos tempo ainda. Mesmo de Portugal terei visto pouco mais que os resumos. Mas do que pouco que fui vendo, e é impossível fugir disto porque por estes dias a comunicação social não falou doutra coisa, fico com algumas opiniões, porque apenas minhas: 

A Argentina foi uma justa merecedora do título apesar do arranque desastroso com uma derrota frente à Arábia Saudita. Messi teve o mais que merecido coroamento como o melhor jogador do mundo, ou lá o que isso queira significar. No jogo da final, depois de ter dominado completamente a França durante quase todo o jogo, não havia ao necessidade ao Scaloni mexer na equipa retirando um Di Maria inspirado, e com isso dar fôlego aos bleus e logo através de um penalti ter permitido que os gauleses entrassem num jogo que estava perdido. Mesmo depois no prolongamento, novamente na frente, lá concedeu uma segunda vez  um outro penalti. Verdade se diga, indo para o desempate por penaltis, seria quase injusto que a França vencesse a competição através deles, dos penalties. Era sorte a mais.

Quanto a Portugal, uma participação sem história, sucumbindo nos quartos à "potência" do futebol mundial, Marrocos. A sortezinha, um coelho na cartola, a protecção dos deuses e o alinhamento dos astros que se verificou no Europeu de 2016, não se repetiu e sem honra nem glória, a selecção de Ronaldo e mais o resto, lá regressou com o rabinho entre as pernas. Dizem agora que o Fernando Santos finalmente vai dar o lugar a outro e que Ronaldo, amuado como é seu timbre, ainda não se manifestou. 

Ronaldo, um fantástico futebolista, e que acredito que é um bom ser humano, enquanto figura da indústria do futebol, não tem tido personalidade à altura e esta sua fase final tem sido mal gerida como que a tentar enganar o destino de que tudo tem um fim. Durante todo o tempo no Qatar, foi sempre a figura principal mas não pelos melhores motivos. De resto, a famosa entrevista na véspera só veio dar espaço para essa instabilidade. Já poderia ter saído pela porta grande da sua fantástica carreira, mas em vez disso considera-se ainda um deus sol com vinte anos onde tudo à sua volta deve gravitar. Não é assim e por isso vai perdendo pontos e dando motivos a quem o critica no seu estilo egoncêntrico.

No fim de tudo, foi quase um Mundial atípico, desde logo pela sua atribuição ao Qatar num processo corrupto que contribui para o descrédito destas coisas. Tudo gira em torno do dinheiro e este move montanhas. O recente caso com eurodeputados, que evidenciam um esquema de corrupção de autoridades do Qatar, é apenas mais uma certeza quanto à forma como as coisas funcionam. O dinheiro ainda continua a valer. No caso, perde o futebol, mas em rigor pouca mossa faz à indústria porque para além de uns arrebates de consciência marcados pela filosofia do politicamente correcto, na realidade tudo continua a rolar como se nada fosse e todos compareceram à competição, com mais ou menos simbolismos de protesto.

É este um futebol com selecções que já há muito deixaram de ser nacionais e que não passam de uma reuniões de jogadores onde a questão de nacionalidade já pouco diz. Por conseguinte, quem ainda procura ver o futebol pelo seu lado menos conspurcado, mais genuíno, já há muito que perdeu as ilusões do regresso ao passado. Face a isto, já pouco sentimento desperta ver um grupo de malta bem paga a cantar, invariavelmente desafinada, o hino nacional e com a mão no peito. Tretas!

Viva la Argentina!