12 de julho de 2023

Velho sobreiro



Já velho estou! 

Como um velho, cansado e dorido!

O fresco vigor do tempo primeiro

Dissipou-se como um névoa matinal

Elevando-se no vale fresco de um rio,

Como peregrino num caminho de fé.


Sou como sou!

Chego aqui numa vida com sentido,

Maduro e forte como bom sobreiro,

Que não teme o tempo, o vendaval,

A chuva, o calor, sem tremer de frio,

Porque, como árvore, morrerei de pé. 


A.Almeida - 12 de Julho de 2023


Uma interpretação:

Este poema procura evocar reflexões sobre o envelhecimento, a passagem do tempo e a força interior. Retrata um sobreiro mas igualmente um homem.

O verso inicial, "Velho estou!", expressa uma sensação de idade avançada e exaustão. Essa frase pode ser interpretada literalmente, indicando que o eu poético, o sobreiro ou o homem, está envelhecido e cansado. No entanto, também pode ser compreendida de forma mais abrangente, simbolizando uma jornada pessoal ou existencial na qual o eu lírico se sente desgastado emocionalmente ou espiritualmente.

"Como velho, cansado e dorido!" amplifica essa sensação de fadiga e desconforto físico e emocional. Essas palavras sugerem a experiência de um corpo que já não possui o vigor e a energia da juventude, além de transmitir uma possível carga emocional relacionada ao peso das experiências vividas.

A imagem da "névoa matinal" que se dissipa pode ser entendida como a fugacidade do tempo e da juventude. Assim como a névoa que se eleva com o nascer do sol, a vitalidade e o frescor dos primeiros anos também se dissipam com o passar do tempo. Essa metáfora cria um contraste entre a efemeridade da juventude e a realidade da velhice.

A alusão ao "vale fresco de um rio" e ao "peregrino num caminho de fé" pode sugerir uma busca espiritual ou um sentido de jornada pessoal. O envelhecimento pode ser visto como uma jornada em que se caminha com fé, enfrentando desafios e superando obstáculos, assim como um peregrino em seu caminho sagrado. Essa interpretação traz uma dimensão filosófica ao poema, abordando questões existenciais e a busca por um propósito ou significado na vida.

Na segunda estrofe o eu lírico reafirma sua identidade e autoaceitação, afirmando "Sou como sou!". Essa afirmação pode ser interpretada como uma aceitação do próprio eu, com todas as suas imperfeições e limitações. É uma expressão de autenticidade e uma recusa em se conformar a expectativas externas.

A comparação com um "sobreiro" traz uma imagem poderosa. O sobreiro é uma árvore conhecida por sua resistência e longevidade, simbolizando força e solidez. Essa metáfora sugere que o eu lírico se sente maduro e forte, capaz de enfrentar os desafios da vida sem medo. Assim como o sobreiro não teme os elementos naturais, o eu lírico não se abala perante o tempo, as adversidades e as intempéries da existência.

A frase "Porque, como árvore, morrerei de pé" reflete uma postura de dignidade e coragem diante da morte. Ela evoca a imagem de uma árvore que permanece ereta mesmo no momento final, reforçando a ideia de uma vida vivida com integridade até o fim. Essa afirmação pode ser interpretada como um desejo de viver uma vida autêntica e plena, sem se curvar diante das inevitabilidades e desafios.

Em suma, esse poema trata de temas profundos, como o envelhecimento, a jornada pessoal, a busca por significado e a aceitação de si mesmo. Por meio de metáforas e imagens poéticas, o poema nos convida a refletir sobre a fugacidade do tempo, a importância da autenticidade e a coragem de viver com dignidade e propósito.

11 de julho de 2023

O povo quer é pinga e bifanas






Por estes dias visitei o Castro de Monte Mozinho ou Cidade Morta de Penafiel, que se localiza na freguesia de Oldrões, município de Penafiel, distrito do Porto.

É considerado o maior castro romano da Península Ibérica, embora ainda não esteja totalmente explorado. A sua verdeira dimensão será muito superior à que está a descoberto.

Está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1948.

O povoado castrejo está referenciado à época romana, fundado no século I d.C. com um período de ocupação até oo século V.

As escavações arqueológicas começaram em 1943 a 1954 e numa segunda fase de 1974 a 1979, continuando recentemente com campanhas arqueológicas.

Na base do castro, existe um pequeno museu e centro interpretativo onde é possível aprofundar os aspectos relacionados ao sítio arqueológico. Queixou-se, todavia, o técnico do museu, dos poucos visitantes, havendo dias em que, naturalmente, não aparece por ali viva alma.

Esta situação de um sítio arquológico com tanta importância no contexto português e ibérico, e simultaneamente tão pouco conhecido, divulgado e visitado, dá que pensar e reflectir. Mas por outro lado em nada surpreende porque de um modo geral o povo, a populaça, quer é farra, divertimentos com música pimba ou tchunk, tchunk, , turismo de massas e sobretudo com muita pinga, bifanas e porco no espeto. Sem estes ingredientes ninguém perde tempo a ver amontoados de pedras, mais ou menos organizados, por mais importância que revelem sobre os nossos antepessados e a nossa história comum.

Tivesse, porventura, Penafiel a visão modernaça de um turismo vocacionado para massas, daquele que faz contas a supostos retornos e ganhos, que na realidade caem apenas nos bolsos de uns quantos, baseado no entretenimento entremeado com comes-e-bebes e poderíamos ter ali pano para mangas para uma réplica de uma qualquer viagem ao passado, romana ou castreja, onde anualmente o recinto se transformaria numa feira gastronómica pejada de locais e espanhóis, onde imperaria o rei D. Porco no Espeto e sua corte, regado com o bom vinho verde da região, onde se pagaria de bom grado um sistema de pulseiras de acesso. Mas não! Para o bem e para o mal, por agora a coisa vai indo assim, discreta, quase desconhecida, visitada por poucos mesmo que interessados. As aldeias de Oldrões e Galegos e o monte Mozinho bem podem continuar na sua habitual calma. Gente comum travestida de reis, condes, fidalgos, cavaleiros, bobos e trovadores, é para outros palcos e outras passereles.

Antes morrer


Dito assim, de forma tão crua,

É quase pecado a sujar a boca,

Mas vejo-te, amor, sempre nua,

Pronta, oferecida, sã e louca.


Mas que importa, diz-me, enfim,

Se te vejo carnal, límpida, pura?

Há no desejo de querer-te assim

Uma busca no mal a plena cura.


Perdoa-me! Sim, este ser perdoa,

Que mais não quer que te querer.

A viver sem ti, em que tudo doa,

Dor por dor, quero antes morrer.


A. Almeida - 11 de Julho de 2023


Uma interpretação:

Na primeiro verso da primeira quadra, o poema começa de forma crua, confrontando-nos com a intensidade do sentimento que será explorado. O eu lírico se dirige ao amor, descrevendo-o como alguém constantemente nu, pronto para se entregar, tanto mental quanto fisicamente. A dualidade entre sanidade e loucura está presente, pois o amor é uma força que nos faz agir além da razão, desafiando as convenções.

Na segunda quadra, o eu lírico questiona a importância de ver o ser amado de maneira pura e imaculada. O desejo de possuí-la nessa forma parece ser suficiente para ele, sem necessitar de mais nada além dessa cura que se encontra no próprio mal. Há uma reflexão filosófica sobre a dualidade entre bem e mal, sugerindo que, às vezes, é através do que é considerado "mal" que encontramos nossa cura e plenitude.

Finalmente, na última quadra, o eu poético implora por perdão, demonstrando uma profunda necessidade de amar o ser amado. A vida sem esse amor é descrita como uma existência de dor e sofrimento constante. O poeta coloca a dor como uma escolha preferível à perda desse amor, enfatizando a importância e a intensidade do sentimento.

Neste poema, há uma mistura de elementos poéticos e filosóficos que exploram a dualidade dos sentimentos humanos, especialmente no contexto do amor. O eu lírico confronta-se com a crueza do desejo, a ambiguidade entre bem e mal, e a necessidade de amar intensamente, mesmo que isso signifique enfrentar a dor. É um convite para refletir sobre os paradoxos e contradições inerentes à natureza humana e às complexidades dos relacionamentos amorosos.

10 de julho de 2023

Desgraça sem graça


Andamos nesta desgraça sem graça, 

Numa tensa e constante correria,

Como se a vida que por nós passa

Seja coisa de viver num justo dia.


Viver tão somente numa doce calma,

Renegar a pressa, a ânsia que alastra,

Saber que tão pouco interessa à alma,

É, afinal, tudo quanto ao homem basta.


A. Almeida - 10-07-2023


Uma interpretação:

Este curto poema em duas quadras com rimas cruzadas,  procura retratar a condição humana num tom algo desesperançado. O poeta expressa a sensação de viver em um estado de desgraça sem graça, o que sugere uma vida monótona e sem sentido. A imagem da "tensa e constante correria" destaca a agitação e o ritmo acelerado em que as pessoas vivem, como se estivessem apenas passando pela vida sem verdadeiramente vivê-la.

A expressão "coisa de viver num justo dia" parece transmitir uma ironia amarga. O poeta sugere que a vida se tornou algo tão vazio e superficial que se limita a um dia só, ou seja, um dia comum e ordinário. Essa frase revela uma crítica à falta de intensidade e significado nas experiências e vivências do dia-a-dia.

Na segunda quadra, o poema procura apresenta um contraste ou um remate em relação ao anterior. O eu poético defende viver numa doce calma, renegando a pressa e a ansiedade que se espalham. Essa postura sugere a busca por uma existência mais serena e tranquila.

O poeta destaca que a alma humana pouco se importa com a agitação e a correria do mundo. Ao afirmar que "tão pouco interessa à alma", o eu lírico sugere que a essência mais profunda do ser humano não deve ser afectada por questões externas e superficiais, mas antes plenas de essência da vida.

O verso último, "É, afinal, tudo quanto ao homem basta",  transmite a ideia de que o que realmente importa e preenche o homem está contido nessa doce calma e na renúncia à pressa. A busca pela simplicidade e pela paz interior é retratada como suficiente para satisfazer as necessidades humanas.

Em resumo, esses dois trechos poéticos apresentam uma análise crítica da condição humana e da sua postura face à vida. Enquanto o primeiro revela uma realidade desesperançada e superficial, o segundo sugere uma alternativa de vida mais calma e significativa, valorizando a serenidade e a simplicidade.

LIAM na Festa dos Tabuleiros, em Tomar


Neste Domingo, 9 de Julho de 2023, o núcleo da LIAM de Guisande com uma excursão por si organizada, composta por um autocarro, foi até à cidade templária de Tomar onde se assistiu à bonita Festa dos Tabuleiros.

[foto: Público]

Olimpíadas Seniores 2023

 



O trio guisandense "Os guardiões" composto pelo Jorge Ferreira e as irmãs Glória e Elisa Santos, venceram a prova do Quiz "Ginásio da Mente" do programa de literacia digital "e-mili@", integrada nas Olimpíadas Séniores 2023 de Santa Maria da Feira.

Parabéns!

9 de julho de 2023

A caise studi


Somos, de facto, enquanto portugueses, um verdeiro caso de estudo, como dira o inglês, " a caise studi ". Somos o que somos, filhos de um país com uma economia com uma imensa dívida pública, que não será liquidada nem no tempo dos nossos tetranetos, em que notoriamente vivemos acima das nossas reais possibilidades, com um grande défice externo, com um governo que apesar da maioria absoluta em pouco mais de um ano de governação já vai na 13ª demissão de seus membros, ministros e secretários de estado, com o SNS a rebentar pelas costuras e doente de uma agudite aguda provocada por ideologia crónica, com a educação em permanente greve, com as forças armadas desarmadas, com sorvedouros  de milhões e milhões como a TAP e CP etc, etc. Um verdadeiro caos. Tem, naturalmente coisas boas e gente dedicada que rema contra a maré.  Mas no geral, se há um bom (ou mau) exemplo para os extremos do  "8 e o 80", Portugal ocupa o pódio.

Apesar disso e por isso, ainda afectados pela alta taxa de inflacção, ordenados e reformas baixas (excepto uma certa classe do funcionalismo público), jovens com baixas expectativas profissionais, com empregos mal pagos e com um alto índice de desemprego, quase sempre e literalmente "a cagarem e a tossir", todavia, porém, no entanto, não obstante, vivemos com ares de fartazana, como se tivéssemos petróleo e jazidas de gás na costa, ouro e diamantes nos montes. Enchemos restaurantes e hotéis, fazemos viagens e férias no estrangeiro, com a mesma facilidade como quem vai a Ermesinde, vamos a eventos em quintas e quintarolas, pagamos para correr nos milhentos eventos de corridas, entupimos os milhentos passadiços e, porque está calor, pagamos e enchemos tudo quanto é festival de música. Tudo o que for divertimento, mesmo que a pagar forte e feio, lá estamos na boa, de copo na mão, calção e chinelas, charro na boca, sorvendo cheiro a erva e a suor e a fazer mosh, uma verdadeira "gót comunité", como diria o inglês.

Ora digam lá que não somos, de facto, um "véri caise studi"?

É claro que, de uma forma ou outra, quem paga a factura são os cotas, os velhos, os certinhos, aqueles que não tiveram escola obrigatória até aos 30, os que analfabetos ou apenas com a quarta classe começaram a trabalhar aos 11 e 12 anos, os que fizeram o serviço militar obrigatório, os que tomam conta dos filhos até serem velhinhos e os que tomam conta dos pais porque velhinhos são. Os que descontaram para a caixa durante 40 e mais anos, os que andaram a pé, de bicicleta ou motorizada até já depois de terem filhos e netos porque estes são mais bocas a alimentar na casa e querem carta e carro sem terem um tusto no bolso, até porque está lá o telemóvel, etc, etc. Naice!

Ou seja, um bom exemplo de que por cá, como noutros lados parecidos (se é que há), anda literalmente meio mundo a trabalhar para a outra metade ou, mais prosaicamente, meio mundo a foder outro meio. Para quê trabalhar se o estado social, pago pelos cotas das gerações de 40, 50, 60 e 70, dá casa, ordenado e formação para entreter? .oda-se!

Assim não vamos lá, pois não, mas como diria o tal inglês, "us quere?"

Divirtam-se! Injói!