27 de junho de 2025

Aos poucos....cada vez menos

 


Já o escrevi por aqui antes, mas é notória, de ano para ano, a perda de habitantes na freguesia de Guisande, pelo menos na relação entre os que nascem e os que morrem. É certo que entretanto por via da edificação de novas habitações têm-se mudado para cá algumas famílias, mas ainda não de forma a reverter o processo.

Tomando como exemplo os falecimentos entre Junho de 2024 e Junho de 2025, e considerando apenas pessoas que cá residiam, contabilizei 13 pessoas, sendo 8 homens e 5 mulheres. Agora pergunta-se: E quantas crianças nasceram no mesmo período? Confesso que não tenho números, mas quero crer que, por alto, não mais que três ou quatro.  A este ritmo é fácil perceber que nos próximos 15 anos podemos perder pelo menos 10% da actual população. 

Devido aos Censos de 2021 terem considerado apenas a população da União de Freguesias, como um todo, os números referentes a Guisande reportam-se aos Censos de 2011, que nos dava uma população residente de 1237 presumindo-se que com os emigrantes pudesse rondar os 1500 habitantes. Só em 2031 voltaremos a saber quantos residentes somos na nossa freguesia, mas é natural que então já com um número pouco mais que um milhar de almas. 

Em Guisande, em 50 anos, passamos de médias de 30 nascimentos para 3. Em 1949 houve 35 baptizados; Em 1959 houve 37 baptizados e na casa dos 30 em toda a década de 1970. No ano do meu nascimento houve 32 baptizados. Sintomático.

Nada nos serve o mal dos outros, mas esta situação é, infelizmente, transversal a todo o país, sobretudo nas zonas interiores e menos urbanas. A imigração descontrolada e quase selvagem que em poucos anos acrescentou cerca de 10% da nossa população, veio disfarçar os efeitos da baixa de natalidade mas mesmo assim com impacto nas grandes zonas urbanas como Lisboa e Porto e zonas do litoral.

Más políticas ou mesmo a falta delas, a par de mudanças na sociedade e com a maternidade a cada vez ser mais tardia, são factores que têm contribuído para este cenário. 

25 de junho de 2025

Nota de falecimento - Joaquim Gomes da Silva



Faleceu Joaquim Gomes da Silva. Nasceu  em 25 de Agosto de 1935, em Cimo de Vila - Guisande, onde vivia.

Apesar da sua idade, quase nos 90 anos, não resistiu às consequências de um incidente que havia sofrido há dias. 

No momento ainda é desconhecida a hora do serviço fúnebre presumindo-se que seja amanhã, Quinta-Feira. Confirmarei aqui logo que conhecida.

Joaquim Gomes da Silva, o Ti Joaquim do Martinho, como era conhecido no lugar e na freguesia, era filho de Manuel Gomes da Silva e de Custódia Alves Cardoso.

Era neto paterno de Martinho Gomes da Silva e de Olinda Rosa de Jesus.

Era neto materno de António Francisco Pereira e de Joaquina Alves Cardoso.

Pela proximidade do lugar onde nascemos, com a natural diferença de idades, conheci-o desde sempre e  vi nele uma pessoa de trabalho, dinâmica e empreendedora. Figura paterna de uma grande família que por ali, à sua volta, foi  fixando raízes e que ajudou a crescer o lugar. Profissionalmente sempre ligado à construção civil, sobretudo na arte de trolharia, tal como o seu falecido irmão Avelino, e ao longo dos tempos realizou vários trabalhos para a paróquia, incluindo a parte de trolharia da construção do nosso Salão Paroquial. 

Era uma pessoa com forte personalidade, de sentido crítico e de valores convictos. Sempre foi uma referência no lugar e mesmo na freguesia. Apesar da idade, mantinha a lucidez e ainda uma vontade férrea de não estar parado, de fazer qualquer coisa o que, por destino, de algum modo contribuiu para o incidente que sofreu. Em todo o caso, o destino de cada um não se compadece com cálculos, previsões e conselhos. Cada um de nós encontra-o na hora e circunstância imprevisíveis e desconhecidas.

Era de sempre muito dedicado à agricultura, em campos que foi comprando pelo lugar de Cimo de Vila, com o resultado do seu trabalho. 

Havia ficado viúvo há pouco mais de dois anos da esposa Madelena dos Santos Alves, com quem havia casado em 5 de Dezembro de 1959.

Nesta hora de luto, e na pesada circunstância de ainda ontem ter sido sepultada uma das nossas, a Elvira, expresso sentidos sentimentos a todos os familiares, de modo particular aos seus filhos e filhas, netos e bisnetos.

Que Deus o guarde e junto a ele permaneça eternamente!

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Actualização:

Cerimónias fúnebres: Amanhã, Quinta-Feira, 26 de Junho de 2025.

Velório na igreja matriz a partir das 15:00 horas, seguindo-se a missa de corpo presente pelas 16:00 horas. No final vai a sepultar no cemitério local..

Missa de 7.º Dia na Sexta-Feira, 4 de Julho, pelas 19:30 horas.

23 de junho de 2025

Visto de fora - David Neves candidato pelo PS à Junta de Freguesia de Lobão


Adivinhava-se e confirma-se: David Neves, actual presidente da Junta da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, apresentou-se publicamente como candidato pelo Partido Socialista à futura Junta de Freguesia de Lobão. 

Visto de fora, e ainda sem conhecer os candidatos pelas demais listas concorrentes, nomeadamente pelo Partido Social Democrata, não tenho dúvidas que será o vencedor das próximas eleições autárquicas e o futuro presidente da Junta daquela freguesia, num novo ciclo, depois da desagregação da União de Freguesias.

Conheço o David Neves ainda antes destas coisas da política e nutro por ele uma simpatia e consideração pessoal, que creio que é recíproca. Mas nestas coisas da política procura-se não se misturar as questões e considerações pessoais e sob esse ponto de vista, e por conseguinte, quaisquer impressões aqui expressas são  apenas nesse sentido de opinião política.

Para contextualizar e em retrospectiva, eu fiz parte da Junta no primeiro mandato da União de Freguesias (2014/2017), num cenário de muitas dificuldades, tanto pela novidade e particularidades do que era uma nova realidade, um novo ciclo, bem como, ainda, da pesada carga de dívidas, obrigações e compromissos herdados de algumas freguesias, nomeadamente de Guisande e Gião, que em muito limitaram a acção da Junta, ainda com o facto de terem sido apenas três anos. Apesar disso, desse leque de dificuldades e entraves, a Junta no geral fez o trabalho possível e creio que razoável e ainda transmitiu um saldo positivo à futura Junta do segundo mandato.

Por opção  pessoal, essencialmente por não me rever em alguns dos aspectos seguidos no modelo de gestão da União de Freguesias, muita centralizada na figura do presidente, em que os representantes das freguesias eram meros moços de recados, sem competências atribuídas para chamar a si algumas das ideias e projectos que tinhm para cada uma das freguesias, contrariamente ao que tinha como expectativa quando decidi participar e dar a cara por Guisande, naturalmente que não aceitei fazer parte da lista concorrente a um segundo mandato. Do modelo seguido no primeiro mandato, nada concorria para sequer pensar em mudar de opinião. Estava mesmo fora de questão.

Ora esse segundo mandato que se seguiu, ainda pelo PSD, que voltou a vencer as eleições com maioria, foi, a meu ver, o mais pobre e ineficaz dos três mandatos de vigência da União de Freguesias, mesmo considerando que ainda faltam alguns poucos meses para a conclusão deste terceiro, já sob a governação do PS. 

Como "o algodão não engana", esse segundo mandato do PSD, sobretudo em Guisande, foi tão oco de obras e melhoramentos e com um agravamento na proximidade dos eleitos aos eleitores, que só podia ditar o afastamento de quem, pelo mesmo partido, se propunha a um terceiro mandato e como tal, David Neves, de novo candidato pelo PS, mesmo derrotado nos dois anteriores processos eleitorais, pode, finalmente, vencer e governar a Junta da União de Freguesias, com maioria. Como "prenda" ou "herança" da ineficácia da Junta anterior, que nem sequer soube gastar o seu dinheiro em obras e melhoramentos, recebeu um saldo superior a 300 mil euros, como um filho de papá que ao fazer 18 anos recebe de prenda um Ferrari.

Foi, pois, neste contexto, de casa orientada e cofre cheio, que o David Neves e a sua equipa socialista, entrou a governar a Junta da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande. Tinha tudo para fazer um bom mandato, desafogado e com isso marcar a diferença. 

Procurando fazer um resumo, pessoalmente, no geral e do que me é possível percepcionar, acho que tem feito um bom trabalho e sobretudo valorizou muito a questão da proximidade e fez por ser um presidente presente, ao lados dos grupos e das pessoas, num estilo e registo político e de gestão  totalmente diferente do estilo da anterior Junta.  Consolidou a estrutura da Junta e da sua eficácia e mostrou que, a continuar a União de Freguesias, como era sua forte vontade, haveria margem para melhorar.

Apesar disso, e agora olhando apenas para a sua acção em Guisande, e do esforço exclusivo do orçamento da Junta, no aspecto de obras e melhoramentos, e já lho disse pessoalmente, parece-me que se fez pouco, sobretudo no contexto de um mandato com todas as condições financeiras, de organização e estrutura favoráveis. Há ainda situações por resolver mas no cenário confirmado da desagregação,  já duvido que sejam resolvidas até ao final do mandato, feitas obras de monta ou realizados melhoramentos ainda que ligeiros, até porque o tempo já é escasso e o presidente vai passar andar ocupado com questões de campanha e promoção de imagem. Mas oxalá que me engane e que ainda seja possível concretizar alguma coisa, em obras ou apoios.

E eu teria esta mesma apreciação se o que foi feito em Guisande tivesse sido apenas no âmbito de uma própria Junta de Freguesia de Guisande, com um orçamento anual inferior, mesmo que apenas na casa dos 150 mil euros. Continuaria a ser pouca a obra e escassos os melhoramentos.

Para além disso, no que seria algo de valor significativo no mandato quanto à nossa freguesia, acabou por recuar no seu compromisso público de apoio financeiro à obra do relvado sintético no campo de jogos do Guisande F.C., ficando-se agora e apenas com uma parte do que seria o valor total previsto. Todos, principalmente o Guisande F.C. lamentam esta inversão de compromisso assumido. Até posso tentar compreender a sua posição e justificação já dada, mas parece-me que será uma nota negativa na apreciação do seu mandato, sobretudo no que se refere a Guisande. 

No resto, no global, parece-me que o David Neves esteve quase sempre bem, próximo, atento, e respeitando as freguesias e as suas particularidades identitárias, sociais e culturais, num registo totalmente diferente do anterior mandato de gestão do PSD. Já o escrevi noutra altura, o David Neves mostrou ser um bom exemplo de um presidente com atitude e perfil mais adequados  à presidência da Junta de uma União de Freguesias. De resto, continuasse a União de Freguesias,  não teria eu problema em trabalhar com ele, caso fosse convidado a fazer parte da sua lista. Digo-o sem qualquer hipocrisia e na certeza de que seria feito um bom trabalho, incluindo em Guisande. Todavia, sabemos que o caminho não será esse e que as freguesias da União a partir de Outubro próximo iniciarão uma nova realidade, cada uma por si.

Não obstante, mesmo com esta apreciação positiva e global da acção da actual Junta da nossa União de Freguesias e particularmente do seu presidente, obviamente que nem sempre concordei com alguns aspectos da gestão, a meu ver muito focalizada em acções de eventos, medidas mediáticas e entretenimentos, que reconheço que são populares e dão votos, como o Corga da Moura (um êxito), mas que pela sua natureza e efemeridade, sem o justo equilíbrio levaram a comprometer outras necessidades conjunturais ou estruturais de obras e melhoramentos, como o caso do relvado sintético no campo de jogos do Guisande F.C. a que acima fiz referência. 

Mesmo quanto à sempre problemática questão das limpezas das ruas e espaços públicos, apesar de uma óbvia melhoria na primeira metade do mandato, parece-me que nesta parte final as coisas não têm sido muito diferentes dos anteriores mandatos. Neste momento, e olhando apenas para Guisande, são várias as ruas com necessidades de limpeza, algumas de forma notória, como na Rua Nossa Senhora de Fátima (Leira, Pereirada e Estôze),  Rua de Trás-os-Lagos, Rua da Fonte, Rua 1.º de Maio, e outras. Do mal o menos, tem correspondido e actuado nos espaços e ruas em momentos de actividades ou eventos o que não é mau. De resto, sempre foi assim e sempre assim será, porque há dificuldades que se repetem e quem na oposição as criticou ou critica, uma vez no poder não conseguem fazer muito diferente. É, afinal, o resultado quando não há recursos nem meios suficientes para o tamanho das necessidades.

Agora a realidade é outra, e recuando ao primeiro parágrafo, não tenho dúvidas que o David Neves sairá vencedor das próximas eleições e que irá ser o presidente da Junta de Freguesia de Lobão. Tem experiência, competência e perfil de próximidade da população e das suas forças vivas e bom conhecedor do território e suas potencialidades.

Até lá, faço votos de uma boa campanha e mesmo votos de vitória, mas que não se esqueça que tem ainda um mandato por completar ao serviço de uma União de Freguesias e que há trabalho por fazer em todo o território, incluindo aqui em Guisande. Que não se distraia no papel de candidato, agora assumido.

Nota de falecimento - Elvira Gomes de Paiva

 


Faleceu Elvira Gomes de Piva, de 87 anos (04 de Julho de 1937 a 22 de Junho de 2025), de Casaldaça - Guisande.

Era filha de Bernardo Dias de Paiva e de Ermelinda Ferreira Gomes. Era neta paterna de Francisco Dias de Paiva e de Margarida Augusta da Conceição. Era neta materna de Manuel Joaquim de Fontes e de Maria Ferreira Gomes

As cerimónias fúnebres serão nesta Terça-Feira, 24 de Junho, na igreja matriz de Guisande, com funeral pelas 16:00 horas, indo no final a sepultar em jazigo de família.

A missa de 7.º Dia será na Sexta-Feira, 27 de Junho, pelas 19:30 horas na igreja matriz de Guisande.

Sentidos sentimentos a todos os familiares, de modo particular ao marido, Mário Baptista, a seus filhos e à sua irmã.

Que Deus a guarde e tenha em eterno descanso.

22 de junho de 2025

Quem parte e reparte...

Bem sei que não há outra forma de o fazer, todos o fazem, não é ilegal, eticamente vale o que vale, mas torço sempre o nariz a quem na política, é simultaneamente candidato por um partido a um cargo de poder, seja a uma Junta de Freguesia, Câmara Municipal, Primeiro Ministro ou chefe de Estado, quando já exerce esse mesmo cargo e ainda tem pela frente uns meses de gestão que tantas vezes se confunde com campanhas eleitorais.

Pede-se sempre ética, imparcialidade, bom senso e respeito pelo que falta fazer em nome de todos, mas a experiência diz-nos que "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não não sabe da arte". Ora, quem está nessas situações, procura não ser tolo nem burro e, mesmo que disfarçadamente ou de forma óbvia, aproveitar a arte.

Resulta daqui, que, obviamente, os concorrentes, têm uma missão dificil, tantas vezes impossível, e notoriamente partem em desvatagem em certas corridas.

Mas é o que é, e por isso pouco importam os sermões e quanto à moral o seu valor anda mal cotado. Porventura a lei deveria, nestes casos, impor a cessação de funções, mas como regra geral os beneficiários são sempre os mesmos dos dois principais partidos, PSD e PS, ora tu, ora eu, ninguém tem interesse em mexer na lei e alterar as regras.

20 de junho de 2025

O elevador continua a subir


Olho à minha volta e constato com uma simplicidade, natural mas quase cómica: há mais gente com menos idade do que eu do que o contrário. Não me causa espanto. É a vida a acontecer, como deve ser. Mas há uma sensação curiosa nisso, como se, sem grande alarde, eu tivesse atravessado uma porta que, antes, só imaginava abrir ou vislumbrava de longe, inalcançável, e que agora, como num salto do tempo, já transpús.

Pertenço, assim, com mérito e dom da vida, ao lote dos mais velhos, mesmo que ainda no limiar de um patamar mais alto a que muitos já acederam. Mas sem drama, ou nostalgia excessiva. Apenas uma constatação simples: o elevador da idade continua a subir, e eu vou dentro dele. Os botões dos andares ascendentes vão-se acendendo sozinhos, e de vez em quando espreito o espelho e penso: "Ainda sou o mesmo de há dez, vinte ou trinta anos atrás, só um pouco mais usado, como os velhos livros lidos e relidos."

Ser classificado como velho, idoso ou, mais semanticamente de "senior", tem um peso simbólico, real e curioso: É como receber uma farda invisível que muda a forma como nos olham na rua, nos locais públicos ou até na família. A diferença é que agora, entre muitas vantagens do amadurecimento, posso contar as coisas do meu tempo, de outros tempos, E eu lembro-me, sim. Recordo coisas que, mesmo bem contadas, os mais novos duvidam terem sido realidades.

Lembro-me de quando o telefone tocava e não se sabia quem era. De uma mensagem escrita que demorava dias, semanas a ser recebida e respondida. De quando as fotografias precisavam de tempo para nascer e nem sempre a cores. De quando os caminhos eram as estradas e estas apenas coisas de cidades grandes; a semana de trabalho era mais longa e curto o fim-de-semana. O traballho, de sol a sol, começava cedo e acabava tarde. As crianças íam à escola mas também ao campo e ao mato, a trabalhar, a ajudar a casa, os pais e os irmãos. Lembro-me da escuridão densa e do  silêncio das noites, dos sons da natureza, do respeito e veneração aos mais velhos, e de como os domingos tinham cheiro e sabor — o chocolate quente da manhã, a missa cantada, o terço rezado naquela lenta lengalenga, o cheiro a frango assado ao almoço, a tinta no jornal impresso, a tarde de animação na televisão de um canal e a preto-e-branco.

Já vi e ouvi coisas que o tempo se encarregou de apagar dos manuais, mas que guardo cá dentro com nitidez surpreendente. E isso dá-me uma certa vantagem. Não é uma corrida, claro, mas é reconfortante saber que, enquanto uns ainda estão a descobrir o mundo, eu já vivi várias versões dele.

Nem tudo foi bom, nem tudo foi simples. Mas tudo foi vivido e de forma tão diferente dos dias de hoje. E talvez seja isso que nos distingue: a consciência de que sobrevivemos a todos os anos que vivemos. Carregamos memórias como quem carrega mapas antigos, cadernos rabiscados, dobrados, gastos nas lombadas,  mas ainda úteis, com anotações válidas.

No fundo, ser mais velho é como estar num andar mais alto: a vista é melhor, mais ampla. E, mesmo que o corpo às vezes peça para descer, a cabeça continua a querer ir mais alto — por curiosidade, por teimosia, ou só por gosto de continuar a ver o mundo mudar.

O elevador continua a subir. E eu, com sorte, ainda vou assistir a muitos outros andares, a mudanças, mesmo que já sem surpresas porque há muito adivinhadas.

18 de junho de 2025

Visto de fora - O regresso da velha guarda

Consumados que estão os processos de desagregação da maior parte das uniões de freguesias do concelho de Santa Maria da Feira — mesmo que, em rigor, apenas a partir da tomada de posse dos futuros órgãos deliberativos e executivos de cada uma das novas (velhas) freguesias — os partidos políticos já estão no terreno para formalizar listas concorrentes às próximas eleições autárquicas, que deverão ter lugar no início do próximo mês de Outubro.

Sobretudo o PSD, mas também, aos poucos, o PS, têm divulgado publicamente alguns cabeças-de-lista às diferentes freguesias, sendo que outros, ainda não assumidos, têm sido apontados como sérios concorrentes.

Olhando apenas para a nossa vizinhança, em que de três uniões de freguesias desfeitas resultam nove freguesias (Lobão, Gião, Louredo, Guisande, Caldas de S. Jorge, Pigeiros, Canedo, Vale e Vila Maior), não deixa de ser curioso — e até merecedor de alguma reflexão — o facto de alguns dos candidatos, assumidos ou prestes a sê-lo, serem pessoas que já assumiram, no passado, responsabilidades autárquicas nessas mesmas freguesias, vários deles já em situação de reforma profissional, mas que, por motivos diversos ou mais ou menos comuns, regressam às lides eleitorais, propondo-se à escolha dos eleitores e a assumir responsabilidades, caso mereçam a sua confiança.

Assim, por Pigeiros, já está assumido que será o Eng.º António Cardoso a encabeçar a lista do Partido Socialista, gorada que foi a possibilidade de uma lista independente. Foi uma figura importante e activa no processo de reposição da freguesia de Pigeiros. Pelo PSD já foi divulgado o jovem Tiago Afonso.

Em Louredo, ainda não tive conhecimento de que a decisão seja já pública, mas fala-se que, pelo PSD, será Fernando Moreira, que já havia sido presidente da Junta dessa freguesia. Desconheço quem avançará pelo PS, numa freguesia marcadamente social democrata.

Pelo Vale, e pelo PSD, será o Fausto Sá, o qual esteve ligado ao movimento pela reposição da freguesia do Vale.

Por Lobão, é desconhecido o candidato pelo PSD. Pelo PS é mais que certo que será o actual presidente da União de Freguesias, David Neves que quererá aproveitar a experiência e a popularidade.

Por Gião, pelo PSD, outra velha guarda, com Manuel Oliveira Leite, já divulgado como cabeça de lista. Sem surpresa, porque tinha feito parte de um mandato sem história, perdeu as anteriores eleições como cabeça-de-lista pelo PSD à União de Freguesias, mas agora concorre numa freguesia que melhor conhece e melhor o conhece.

Ainda por Gião, pelo PS, vai-se dizendo que será a Vera Silva, uma forte candidata, que faz parte do actual executivo da União de Freguesias.. 

Cá por Guisande, a única solução que me levaria a equacionar tomar parte seria uma lista independente, com elementos do PS e do PSD. Transmiti isso ao Celestino Sacramento e ao Dr. Rui Giro, já que foram estes as principais figuras no processo de reposição da freguesia de Guisande. Mas, no fim de contas, não vi que houvesse, de qualquer dos lados, um sério interesse em avançar com essa solução. Face a isso, será Celestino Sacramento — que também já foi presidente da Junta — a encabeçar a lista do Partido Socialista, mesmo que ainda não o tenha divulgado publicamente.

Quanto à lista do PSD, mesmo que com palpites, desconheço de todo quem será o cabeça-de-lista.

Quanto aos motivos que levam estas figuras da velha guarda a avançarem para os processos eleitorais — que são sempre desgastantes —, bem como às responsabilidades durante o mandato, caso eleitos, parece-me que se justificam por duas razões principais: porque sentem a responsabilidade, e mesmo o dever, de ajudar as freguesias a retomarem o seu destino — já que a transição traz inevitáveis dificuldades, de resto esperadas —, mas também porque, da parte das novas gerações, o desinteresse é quase geral. Fazer parte de uma Junta de Freguesia, ou mesmo de uma Assembleia, assumir responsabilidades e estar sob escrutínio público, sujeito a críticas — faça-se o que se fizer, pagando-se por ter e não ter cão —, não é propriamente estar na festa, na farra e nos copos numa qualquer Corga da Moura.

Não surpreende, pois, que se assista nesta fase ao regresso da velha guarda, de alguns “senadores”. No geral, creio que será uma mais valia, pois podem transmitir conhecimento e experiência, o que é sempre importante. Em todo o caso, estou certo de que, mesmo assim, saberão rechear as diferentes listas com gente mais nova, interessada e capaz — o que não é fácil, sobretudo em Guisande. Mas, entrados no processo, há que seguir em frente, como quem diz, "descalçar a bota".

Votos de boas campanhas e bom trabalho, independentemente de quem venha a avançar e a assumir responsabilidades.