19 de fevereiro de 2018

O seu mato vale zero, mas limpe-o


A propósito da onda obrigatória da limpeza de prédios florestais, aparte alguns exageros e radicalismos, que sempre há nestas leis reactivas, há uma coisa que deve começar a ser tomada em conta: Por exemplo, sabendo-se que o valor patrimonial de um terreno de mato e pinhal reside no rendimento proporcionado pela venda das árvores, seja para lenha, celulose ou madeira, há muitos milhares desses prédios próximos de habitações, aldeias, fábricas e estradas que, pelas suas características de localização, configuração e metragem, cumprindo-se estas regras de limpeza com rigor, vão deixar de poder produzir e de ter rendimento florestal. Ou seja, não tendo capacidade construtiva, esses prédios passam em rigor a valer zero. Ora pergunto qual o interesse de um proprietário cujo mato vale zero, ainda ter custos anuais com a limpeza? Certamente que nenhum. Por isso, mais vale que tome o Estado conta dos mesmos e que faça a limpeza obrigatória a troco de, zero. 

Notas soltas do dia-a-dia - 19022018



Animais nos restaurantes: Nim. E porque não nas escolas, hospitais e fábricas? E porque não na Assembleia da República? Assim podíamos ver um António Costa a acariciar uma galinha enquanto defendia as virtudes do orçamento, uma Catarina Martins com uma arara a mordiscar-lhe as orelhinhas, um Jerónimo a esfregar manteiga no nariz de um Serra da Estrela, a Cristas com um persa, dos bem peludos, a aquecer-lhe as perninhas no frio austero de S. Bento, um Capoulas Santos com um imponente macho barrosã,  a defender energicamente o aumento das cotas leiteiras ou um Hugo Soares com um porco bísaro, bem lavadinho, é claro, a falar das sujidades da geringonça. E porque não? Afinal, eles políticos e legisladores, devem ser os primeiros a dar o exemplo deste acto de moderna civilidade em que, como já prognosticara George Orwell em 1945, leva caminho para que um dia sejamos dominados por uma vara de porcos triunfantes. E hão-de ter direito a um feriado por essa futura revolução.


Este tipo de leis, para muitos politicamente correctas, numa sociedade onde se pretende equiparar os animais com as pessoas e estas com aqueles, como se aqui a diferença seja discricionária e discriminatória e não decorrente da própria natureza que separou ambos os ramos na árvore da evolução, estão a abrir portas para uma irracionalidade cujos limites são ilimitados. Dá que pensar. E, no caso dos restaurantes, vai ser lindo para proprietários e clientes quando os problemas começarem a surgir. Que venham. Os tribunais estão a precisar de casos de caca. Por mim não vou arriscar e quando for almoçar fora deixarei em casa o cão(analfabeto quanto a regras de etiqueta), os três gatos e as três galinhas. 

Vitória de Guimarães: Pedro Martins não resistiu à derrota caseira por 0-5. Poderia ter resistido a este jogo de uma época menos conseguida fosse o resultado contra um Porto, Feirense ou Belenenses, mas não com o S.C. de Braga, o eterno rival do Minho. A derrota doeu a quintuplicar.
É pena, porque o Pedro Martins é um dos bons treinadores do futebol português.Mas sabendo-se que o cargo de treinador é volátil e com apenas dois sentidos, o de besta e o de bestial, é sempre a solução mais fácil para um presidente de um qualquer clube disfarçar as debilidades ou incompetências do plantel, demitindo um em vez de 11.
Pessoalmente desejo tudo de bom para o Pedro e certamente que prosseguirá com sucesso a carreira por aqui ou por fora.

F.C. do Porto: Dois resultados de 5-0. Mas convenhamos que diferentes. E diferentes porque jogar em casa com o Rio Ave não é a mesma coisa que jogar com o Liverpool, sobretudo quando os de Vila do Conde enchem o peito e vão ao Dragão convencidos que eram os da cidade dos The Beatles (Don't Let Me Down).
Por outro lado, estes resultados, diferentes mas iguais, demonstram que o nosso campeonato é uma locomotiva a carvão quando comparada a um TGV de outras ligas europeias. Temos o que podemos e até o que merecemos.

Bruno de Carvalho: Quando a vulgaridade precisa de eleições para legitimar eleições. Mas, é lá com eles. Os ditadores começam sempre por ser legitimados pelas massas. É claro que estas ditaduras são sólidas apenas e até quando os resultados desportivos deixarem de ser líquidos. O problema de Bruno de Carvalho e de quem o apoia poderá ser assim um problema de sublimação, caso esta aparente solidez conseguida na extraordinária assembleia geral deste sábado passado, no fim da época passe directamente a um estado gasoso, um ar que se lhe deu. 
Em todo o caso, por enquanto, tudo está em aberto e a química vai seguindo as suas leis.

18 de fevereiro de 2018

Notas soltas do dia-a-dia

Luis Montenegro: Um dos meninos aziados do PSD com a vitória de Rui Rio. Vai deixar o Parlamento e de lá para a TVI onde será bem pago para fazer o que melhor sabe: Palrar. Como os abutres, voltará no tempo da carniça.

Santana Lopes: Tivessem os seus apoiantes a sua postura no que à unidade do partido diz respeito. Um dos vencedores deste 37º congresso do PSD.

Tiroteios/Massacres nos Estados Unidos: Num país onde se tem acesso a armas com a facilidade com que por cá se compram tremoços, só espanta que os dramáticos e recorrentes episódios de tiroteios e massacres não sejam ainda mais numerosos e mais dramáticos. É um problema que não tem fim à vista.

Limpeza da floresta: O Governo exige aos particulares e aos municípios o que nunca foi capaz de cumprir na parte que lhe toca. Por outro lado nunca se viram tantas limpezas como agora e as queimadas são tantas e em simultâneo que há sítios onde não se pode respirar. Fomos sempre um país de exageros e de tendência fácil para saltar do 8 para o 80.

Por cá: É verdade que passaram já quase quatro meses de nova Junta, com maioria e agora de cofre cheio, sem calotes, mas, pelo menos por aqui, não tem dado sinais de vida. E há estradas em degradação total, como a Rua das Barreiradas, Rua do Outeiro, Rua da Leira e outras. Para quem , como eu, tinha algumas expectativas de que agora as coisas poderiam melhorar substancialmente, porque com melhores condições e sem os compromissos constrangedores do anterior mandato, tem sido uma desilusão.

14 de fevereiro de 2018

Dia dos namorados - Ainda os há?




Com toda a actual realidade de relacionamentos, fica a grande questão: - Ainda há namoro? Ainda há namorados?

Vem aí o papão



Ainda há semanas foi anunciado que o Governo pretendia rever as leis de modo a acabar com as práticas agressivas de cobradores de dívidas, como as conhecidas pelo "homem do fraque". Por conseguinte, da ideia base, as empresas que se dediquem à cobrança de dívidas fora do contexto dos tribunais não poderão utilizar "métodos de cobrança e recuperação que sejam opressivos ou de intrusão, nomeadamente utilizando viaturas, indumentária ou materiais de comunicação que, pelo conteúdo da mensagem transmitida, procurem embaraçar ou transmitir uma imagem negativa do devedor".

Este projecto de lei teve a discordância do PSD, CDS-PP e PCP, a  manifestaram-se contra este projecto do PS sobre a cobrança extrajudicial de créditos vencidos por entenderem que legalizaria a procuradoria ilícita, invocando, inclusivamente, a discordância já manifestada pela ministra da Justiça. Com uma oposição maioritária à ideia do PS, parece que a mesma terá baixado para a comissão da especialidade, mas confesso que perdi o rasto ao assunto. Certamente que um dia destes voltará a ser tema do dia.

Até lá, tudo continua na mesma, e apesar de condenados com alguma frequência pela forma agressiva com que pretendem fazer cobranças, vão continuar por aí os "homens dos fraques".

A propósito, ou não, soubemos por estes dias que a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira acordou com a Autoridade Tributária a celebração de um protocolo segundo o qual esta entidade passará a efectuar a cobrança coerciva do serviço de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e da Taxa de Rede, entre outros, a partir de 1 de Março de 2018. Deste modo, os munícipes que tenham valores em atraso, referentes aos citados tributos, poderão evitar a execução fiscal, efectuando o seu pagamento voluntário junto dos serviços do município até à referida data.

Qualquer cidadão que procura cumprir em tempo as obrigações para com o Estado e o Município e a empresas prestadores se serviços, não deixará de se sentir indignado com esta solução. Podemos percebê-la, mas algo despropositada, porque bem mais "agressiva" do que o "homem do fraque", porque implacável e cega e actuando não só sobre dívidas substanciais mas como também sobre trocos. E de resto, injusta, porque bem sabemos que o Estado cobra juros de mora por horas de atraso no pagamento de um qualquer imposto ou taxa, mas permite-se a não os pagar por dívidas de anos a contribuintes.

5 de fevereiro de 2018

S. Brás e Nossa Senhora das Candeias

Decorreu ontem, 4 de Fevereiro, na igreja matriz da freguesia do Vale, a tradicional festividade em honra de S. Brás e Nossa Senhora das Candeias. 
Quase sempre modesta no arraial, até porque em pleno inverno, não raras vezes sob frio e chuva, é, todavia, uma festa de tradição e que chama devotos de todas as freguesias das redondezas. Como muitas outras, no que à tradição e devoção diz respeito, já teve melhores dias, mas mesmo assim continua a ser uma referência nas festividades religiosas no nordeste do concelho de Vila da Feira.

S. Brás (em Latim S. Blasius, em Catalão S. Blai, em Francês S. Blaise, em Espanhol S. Blas), a quem os devotos recorrem para males de garganta, foi um médico e bispo nascido na cidade de Sebaste, ou Sebastia (na actualidade Sivas), na Turquia, numa região da então província romana da Arménia, e que terá vivido entre os séculos III e IV.

Já depois de ter assumido a profissão de médico, sentiu o chamamento de Deus a uma consagração cristã, pelo que terá deixado a sua vida citadina e a sua própria terra indo para os montes, optando por uma modesta vida solitária de oração e de penitência.

A sua fama de santo começou a espalhar-se na comunidade de Sebaste e, quando morreu o bispo daquela cidade, todos o aclamaram como novo pastor. São Brás só aceitou a nova responsabilidade pela forte insistência dos membros da comunidade, porque desejava muito mais a vida retirada de oração e contemplação. Mesmo como bispo continuava a viver numa caverna no monte Argeu, no meio de animais ferozes, com quem convivia, vindo somente à cidade apenas quando as obrigações de pastor o exigiam.

Na altura da perseguição aos cristãos ordenada pelo então Imperador Licinius Lacinianus (308-324), São Brás, conhecido pela sua extrema bondade, santidade e milagres, é preso pelo anticristão Agrícola, que governava a Capadócia e a Arménia, e obrigado a adorar os deuses pagãos. Negou-se São Brás, dizendo: “não quero ser amigo dos vossos deuses, porque não quero arder eternamente com os demónios”. Foi açoitado, posto no ecúleo (cavalete de tortura), submetido aos «garfos» com puas de ferro e lançado a um lago de água gelada, sendo, por fim, degolado. Decorria o ano de 316.

Os seus restos mortais foram recolhidos e sepultados pelos cristãos desse tempo numa humilde igreja na sua cidade,  mas mais tarde trasladadas as suas relíquias para a actual basílica localizada num monte com o seu nome.

O facto, verdadeiro ou lendário de que terá salvo uma criança que agonizava com uma espinha de peixe encravada na garganta, valeu-lhe popularidade e devoção, tornando-se desde então padroeiro das causas de saúde ligadas à garganta. Mas é também associado como protector dos animais e em algumas localidades onde se venera, cumprem-se ritos de bênção dos animais de modo especial de rebanhos.

O dia oficial das sua festividade é o 3 de Fevereiro e o seu culto se expandiu sobretudo a partir do séc. VIII, tanto nos países do oriente como no ocidente, mas também noutras partes do mundo, sobretudo na América latina com o culto a ser levado por espanhóis e portugueses. Até ao século XI S. Brás não entrava no calendário litúrgico romano, mas a partir daí nele começa a constar pela grande devoção que passou a ser-lhe dedicada em Roma, onde se diz terem-lhe sido erigidas trinta e cinco igrejas. Em Portugal é patrono de pelo menos uma dezena de paróquias, sendo que não é patrono da freguesia do Vale, apesar de ali  ser venerado e festejado.

Fotografia de S. Brás na igreja matriz da freguesia do Vale.

Estampa, pagela ou "santinho" com a imagem de S. Brás que se venera na igreja matriz da freguesia do Vale. 
De notar que esta imagem corresponde a uma versão de S. Brás diferente da imagem que está na lateral do altar-mor,  conforme fotografia acima. 
À falta de melhor justificação, e supondo eu ser a imagem da primeira fotografia acima a correspondente à versão principal do S. Brás na freguesia do Vale, este mais imponente e barbudo, nunca percebi esta situação da pagela ou "santinho" disponível em dia de festa reproduzir uma outra versão. Será esta a imagem da estampa a mais antiga e original? Se sim, porque não está ela no altar? Se não, porque se teima em distribuir uma representação secundária? É certo que independentemente da configuração da imagem sabemos que ambas representam o S. Brás, mas parece-me uma falta de coerência identificativa e até de cultura patrimonial que, infelizmente, se verifica em muitas paróquias e festividades no que ao "santinho" diz respeito. Recorde-se que há alguns, poucos, anos,  uma Comissão da Festa do Viso também caiu neste erro ao mandar estampar um "santinho" do Santo António que nada tinha a ver com as versões do santo existente, quer na capela, quer na igreja.
Também em Louredo, não neste ano, mas em anos anteriores, a estampa disponibilizada representa um S. Vicente que não o principal que se encontra no altar-mor.



Acima, três variantes de pagelas ou "santinhos" clássicos com a representação da cena  referentes a S. Brás e ao milagre da remoção da espinha de peixe da garganta de uma criança apresentada ao santo pela sua aflita mãe. Esta cena faz parte indissociável do folclore religioso relacionado à veneração deste santo mártir.


Pagela com a imagem de Nossa Senhora das Candeias que se venera na igreja matriz da freguesia do Vale.

Quanto a Nossa Senhora das Candeias, cuja festividade ocorre na freguesia do Vale em simultâneo com a de S. Brás, é também invocada como Nossa Senhora da Luz, ou Nossa Senhora da Candelária, ou Nossa Senhora da Apresentação ou ainda Nossa Senhora da Purificação. Embora com o culto expandido em muitos países, incluindo Portugal e Brasil, há referência de que o mesmo terá surgido nas Ilhas Canárias - Espanha onde  terá aparecido numa praia na ilha de Tenerife, pelo ano de 1400. Os nativos guanches da ilha teriam ficado com medo e tentado atacá-la, mas suas mãos teriam ficado paralisadas. A imagem teria sido guardada em uma caverna, onde, séculos mais tarde, foi construído o Templo e Basílica Real da Candelária (em Candelária). Mais tarde, a devoção se espalhou pela América. É assim a santa padroeira das Ilhas Canárias, sob a invocação de Nossa Senhora da Candelária.

A origem da Senhora da Luz tem as suas origens na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém e da purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o nascimento de Cristo (sendo celebrada, portanto, no dia 2 de Fevereiro). 

De acordo com a lei mosaica (de Moisés), as parturientes, após darem à luz, ficavam consideradas como impuras, devendo por isso inibir-se de visitar o Templo de Jerusalém até quarenta dias após o parto; após esse tempo, deviam apresentar-se diante do sumo-sacerdote a fim de apresentar o seu sacrifício (um cordeiro e duas pombas ou duas rolas) e, assim, purificar-se. Desta forma, São José e a Santíssima Virgem Maria apresentaram-se diante de Simeão para cumprir o seu dever. Este, depois de lhes ter revelado maravilhas acerca do filho que ali lhe traziam, ter-lhes-ia proferido a Profecia de Simeão: «Agora, Senhor, deixa partir o vosso servo em paz, conforme a Vossa Palavra. Pois os meus olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante dos olhos das nações: Luz para aclarar os gentios e glória de Israel, vosso povo» (Lucas 2:29-33).

Com base na festa da apresentação de Jesus/purificação da Virgem, nasceu a festa de Nossa Senhora da Purificação; do cântico de São Simeão (conhecido pelas suas primeiras palavras em latim: o Nunc dimittis), que promete que Jesus será a luz que irá aclarar os gentios, nasce o culto em torno de Nossa Senhora da Luz/das Candeias/da Candelária, cujas festas eram, geralmente, celebradas com uma procissão de velas, a relembrar o facto.