30 de agosto de 2018

Monte do Viso - Uma sala à espera de dignidade


Regressado de umas mini-férias, tomei conhecimento da programação do evento "I Festa das Colectividades, uma organização da Junta da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, com o apoio da Câmara Municipal e algumas associações, na sua larga maioria de Lobão.
Nada de mais, se tivermos em conta que este tipo de eventos já se generalizou em muitas das freguesias do concelho e são importantes como mostra do dinamismo do tecido associativo de qualquer terra. Sendo a nossa União uma das maiores freguesias do concelho, será natural e óbvio que tenha uma realização destas. De surpreendente, que apenas seja a primeira edição e que se realize no Monte do Viso.

Quanto ao facto de ser apenas a primeira edição, após quatro anos de uma nova realidade administrativa (não contando com o interregno de um ano), de algum modo, durante a minha passagem pela Junta da União fiquei a perceber as razões que obstaculizaram que tal acontecesse logo no início, como era vontade da Junta. Mas, agendada que está agora, será sinal de que algumas barreiras foram derrubadas e houve uma aproximação de interesses comuns. Ainda bem. Louvem-se os esforços e boas vontades.

Quanto ao facto do evento estar programado para o Monte do Viso, é que é algo mais surpreendente, não porque não seja um bom local, porventura até o melhor de toda a União, mas porque tem sido um espaço esquecido pela anterior e actual Junta. Em grande parte, essa indiferença para com o parque do Monte do Viso foi um dos fortes motivos que me levaram a recusar uma recandidatura, sobretudo porque as obras de requalificação faziam parte do programa eleitoral e dele se fez tábua rasa. Há mínimos de seriedade e de compromisso. Há quem se dê bem a falhar os compromissos sem disso resultar consequências. Por mim, não!

Assim, nestes quatro anos em rigor não foi feita qualquer intervenção digna desse nome no Monte do Viso, nem sequer uma simples pintura no coreto. Mesmo a limpeza que deveria ser regular, foi reduzida e apenas ocasional. Até mesmo, a pretexto de poupança,  o coreto e instalações sanitárias continuam a correr o risco de ficar sem electricidade e daí sem água, dependendo tal fornecimento da boa vontade do Centro Social, que tem estado a pagar a factura.
Por outro lado, ainda em tempo, propus o alargamento da Rua de Santo António, na parte nascente do arraial, tendo obtido a concordância dos proprietários confinantes, que entregaram os documentos para a elaboração do protocolo, mas até ao momento o assunto terá sido adiado ou mesmo abandonado, o que naturalmente se lamenta face à importância do melhoramento. Mas continuo esperançado que haja um assomo de lucidez e o melhoramento se faça até ao final do mandato.

Pese tudo isto, acredito, ainda há tempo de se fazer importantes obras no parque do Monte do Viso e envolvente, e não faltará onde (envolvente da capela, requalificação da zona de merendas, passeios, pavimento da rua, limpeza do lago, pintura do coreto, etc), mas até ao momento o mesmo tem sido desconsiderado, de resto como toda a freguesia. Não há como negá-lo porque de obras ou melhoramentos não há registos.
É, pois, o Monte do Viso, uma sala de visitas que continua à espera de obras e que com elas possa ter alguma dignidade condizente com a importância do local para Guisande e mesmo para a União.

Voltando à Festa das Colectividades, que será em dia de Santa Eufêmia, não me parece que a data em meados de Setembro seja a mais adequada, embora perceba as dificuldades de conciliação com as agendas dos diferentes intervenientes. Veremos se pelo menos o tempo ajudará (as previsões parecem positivas). Quanto ao resto, programa (que parece rico e diversificado) e envolvimento das associações (as que tendo sido convidadas - dizem que  todas - aderiram), é assunto que por ora não me merece preocupação, até porque sendo uma primeira edição será sempre um ponto de partida para eventuais e futuros ajustamentos. As coisas são mesmo assim. Importante será que o evento se realize todos os anos e em data certa, de modo a que as diferentes associações o possam integrar e prever nos seus planos de actividades.

Não sei se esta primeira edição será ou não um sucesso, nomeadamente pelo tempo e adesão do público, e não podemos pôr as expectativas em alta, mas porventura ajudaria se por parte do executivo, nos dias que faltam, seja dado tanto destaque como ao Young Fest ou ao arrelvamento do campo de futebol da ADC Lobão.

A ver vamos. Em todo o caso será sempre de enaltecer o esforço da realização de um evento desta natureza, à Junta, Câmara e associações, já que envolve muito trabalho, mas considerando que na sua génese está a força do movimento associativo, porventura importará, para o futuro, que as bases comecem com um substancial apoio às associações, que não terá que, necessariamente, ser traduzido em muito dinheiro, mas sobretudo em respeito, confiança e consideração institucionais. Mutuamente, claro.

28 de agosto de 2018

Andanças e paranças por aí. Alguns olhares - 2










Por aí.

Andanças e paranças por aí. Alguns olhares - 1




















Por aí. 

União das Freguesias LGLG - I Feira das Colectividades

No próximo mês de Setembro, nos dias 14,15 e 16, decorrerá no parque do Monte do Viso - Guisande, a 1ª Feira das Colectividades da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, uma organização da Junta com o apoio de algumas associações e Câmara Municipal.
O programa, que pode ser consultado na página Facebook da Junta, promete momentos musicais com a actuação de vários grupos e artistas nos três dias do evento, insufláveis para os mais novos, convívio e gastronomia (comes-e-bebes).

Nota de falecimento


Numa saída de férias de alguns poucos dias, fui confrontado no Sábado passado com a triste notícia do falecimento da Ti Cinda (Maria Alcina de Almeida, viúva de António Gomes da Silva)). Tinha 82 anos e residia no lugar de Cimo de Vila - Guisande.
O funeral realizou-se no Domingo, dia 26 de Agosto, pelas 16:15 horas, com missa na igreja matriz de Guisande, tendo, no final, sido sepultada no cemitério local.
Sentidos sentimentos a todos os seus familiares, de modo particular a seus filhos. 
Que descanse em paz!

23 de agosto de 2018

Mata borrão

O Venâncio já não tem idade para brincar aos cucos, pelo que no peso dos seus sessenta anos, bem feitos - assegura - considera que já viu de tudo e o que faltará para ver já pouco ou nada contará para o totobola da surpresa. 
Educado sobre valores que pelos tempos actuais vão definhando como minhoca em pedra quente, até que pereça mirrada, mesmo assim contemporizava com  a naturalidade das mudanças, de resto em consonância com o que já nos seiscentos poemizava o grande Camões: 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Apesar de compreender a mutação dos tempos e das vontades, continuava o Venâncio a não encaixar certas coisas que ia vendo, por as achar tão simplisticamente difíceis de perceber, se não as consequências pelo menos as origens. Como, por exemplo, logo ali ao seu lado, na praia, onde, de barriga ao sol, não conseguia evitar ver e ouvir um grupo de adolescentes, mais para crianças do que para adultos, em cenas e predicados próprios de um filme, no mínimo para maiores de 16 anos, tendo eles, os actores num palco real de areia quente e macia, talvez uns 13 ou 14 anitos. Aquela rapariguinha de corpo delgado e cabelos compridos, quase da cor da areia em que se rebolava com um rapazola pouco mais velho, possivelmente dois ou três anos antes celebrara a comunhão solene. Na escola, onde certamente "aprendera" algumas daquelas disciplinas próprias de adultos, frequentaria o sexto ou sétimos anos.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

As conversas e as "acções" daquele grupo de rapariguitas e rapazitos soavam ao Venâncio como algo pouco natural e fora de tempo e como não visse por perto a sombra de adultos com ares de pais ou, modernamente, encarregados de educação, questionava para si próprio se aquelas criançolas, sobretudo as raparigas, não tinham pais, ou  pai ou mãe. E se tinham, sabiam eles ou preocupavam-se em saber onde, quando e como passavam o tempo os filhos e filhas, e com quem? Poderiam tais filhos de tenras idades ter noção das consequências de algumas das suas "brincadeiras"? Ou, como na escola de antigamente, confiava-se no mata-borrão para apagar ou remediar certos excessos líquidos? É certo que nos tempos que correm consomem-se pílulas, mesmo do dia seguinte, como quem come gomas ou se chupa rebuçados da tosse, mas lá vem o dia em que a cântara parte a asa e mesmo sob a alçada da legalidade, não cheira nada bem a perspectiva de um aborto a uma criança, porventura de forma recorrente. E ser mãe adolescente, não sendo, infelizmente novidade, também não se afigura como positivo para nenhuma das partes. Os maus resultados sobram para todos, até para os pais que, invariavelmente, seguindo uma atitude de "deixa andar", de facilitismo e excessiva permissividade, criam as bases certinhas para estas brincadeirinhas de crianças a fazer de adultos.

Mesmo que lhe causem confusão estas coisas a destempo, o Venâncio voltou os olhos para o jornal desportivo e rematou bem à sua maneira, a de quem já não tem pachorra para debates e arrebates de moralidade ou falta dela: - Se der merda, alguém que limpe! E para certas borradelas não há mata-borrão que valha.

Continuou distraído, o Venâncio, a ler uma qualquer notícia sobre o tema das eleições no Sporting onde um labrego chamado Bruno Carvalho, como lapa, parece teimar em não se despegar do poder num clube histórico, mas poderia muito bem ter lido que as mães adolescentes em Portugal são mais de duas mil por ano, seis por dia, e só não são mais porque a pastilha faz "milagres" e os abortos são mais que muitos. Afinal de contas, ali, bem ao lado do Venâncio, a estatística poderia estar a consolidar-se.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.