4 de setembro de 2022

Nossa Senhora da Natividade - Vila Seca - Louredo






A velhinha Festa de Vila Seca - Louredo. Uma procissão como deve ser: Solene, majestosa, digna e espelho do bairrismo e devoção de uma terra e da sua gente. Por ser tão próxima, é um pouco como a irmã da nossa Festa do Viso, por isso também um bocadinho nossa, de resto numa relação de proximidade que vem de outros tempos..

31 de agosto de 2022

Carlos Paião - 34 anos

Para além de tudo, e como foi tanto tanto, a fatídica data da morte de Carlos Paião, a 26 de Agosto de 1988, ficará sempre associada à minha data de casamento, que aconteceu um dia depois, porque nessa véspera de fadigas e canseiras para que tudo corresse bem, a nós, noivos, e aos familiares e amigos, foi a única coisa que a entristeceu. E ainda a entristece porque, pela circunstância, dela sempre me lembro.

Já não se fazem artistas do calibre do Paião, e em 34 anos passados aparecerem mãos cheias deles e delas, mas no geral feitos e projectados sobretudo pela máquina televisiva e do entretenimento, em que uma qualquer loura enche um arraial sem que nada, artisticamente, o justifique. 

Mas é assim que as coisas vão funcionando e quanto mais fora da linha ou da “box”, como se diz, mais gente arrastam para a frente de um palco. 

A música já não é apenas uma experiência sonora, auditiva, mas sobretudo visual, das roupas, das luzes, das poses, dos tiques. Mais do que a música, a melodia, a letra, o ritmo, importa o aspecto de quem a debita. As câmaras, que todos temos no bolso, são ávidas destas “drogas” e precisam delas como do pão para a boca.

Carlos Paião era um artista puro e daí tudo o que escrevia, compunha e cantava, era igualmente puro e mágico, e bastava ser ouvido. A sua música não precisava de condimentos para lhe dar sabor, nem de corantes e conservantes. Perdura.

Tal como a outros grandes nomes da música que partiram demasiado cedo, em que destaco Mozart (e nem me refiro aos que por força de excessos, como é comum a figuras do pop rock), fico sempre angustiado, não pelo muito e belo que produziram, mas sobretudo pelo muito mais que teriam deixado como legado caso o destino lhes tivesse concedido mais uns anos de vida, uma dezena que fosse.

Mas a vida é assim e Carlos Paião, então a caminho de uma actuação em Penalva do Castelo, ficou-se ali numa curva da EN1 perto de Rio Maior, deixando o país consternado.

Mas ainda que jovem (30 anos), deixou muito e bom e por isso continua a viver

29 de agosto de 2022

Pe. Agostinho Pereira da Silva - 102 anos

 


Passam hoje, 29 de Agosto, 102 anos sobre o nascimento do saudoso Pe. Agostinho Pereira da Silva, nascido no lugar de Casaldaça em 29 de Agosto de 1920. 

Leia aqui alguns apontamentos biográficos deste sacerdote guisandense.

23 de agosto de 2022

O adeus a um ditador

Por mais que se pinte o quadro com tons coloridos, José Eduardo dos Santos foi o líder de uma longa ditadura, por isso ditador. De resto, tal é reconhecido até por uma das próprias filhas. 

Foi uma governação que para além dos malefícios da brutal guerra civil, incapaz de implantar uma democracia plena (e a independência foi já há quase 50 anos), canalizou a imensa riqueza angolana para o aparelho familiar e do estado. Os seus familiares eram autênticos Midas que onde tocassem a merda transformava-se em ouro e diamantes tornando-se ricos e milionários, donos de empresas da esfera do poder. O povo, apesar de um crescimento económico minado por corrupção sistémica e permanente, continua na miséria.

Após a sua morte e depois do folclore à volta do destino do seu corpo, ao que dizem mesmo contra a sua vontade expressa em vida, vai ser mesmo sepultado em Angola.

O nosso (que não meu) presidente Marcelo, vai estar presente nas cerimónias fúnebres. É naturalmente uma participação polémica, mas não surpreende, porque na semântica das palavras e das acções há ditadores que são suavizados e quando muito são classificados como autocratas. 

Curioso que os habituais defensores dos direitos, liberdades e garantias, não andem por aqui a bradar os malefícios do ditador angolano e do rasto de morte e pobreza que deixou no país, apesar de uma retirada quando esgotadas as forças do apego ao poder. 

Os posicionamentos ideológicos sempre tiverem destas coisas paradoxais, como no futebol em que o nosso clube por mais rasca que seja e jogue, é sempre o melhor do mundo. Os outros, é que são os maus. 

Mas que descanse em paz! No fundo, foi apenas mais um e há-de haver sempre ditadores, mais ou menos soft, mais ou menos merecedores de exéquias de estado com gente importante na despedida! O protocolo e as relações internacionais e diplomáticas obrigam a que alguns sapos sejam engolidos.

22 de agosto de 2022

As bandas à banda

 




Na Festa de Canedo, tudo parece ser grande e desmesurado. Apesar disso, algumas coisas são pequenas, pequeninas.

Não se compreende, de todo, que duas bandas filarmónicas, com o prestígio da dos Mineiros do Pejão e da de Lousada, sejam remetidas para pequenos coretos, sem condições aos tamanhos das bandas (sobretudo a do Pejão), com os músicos apertados como sardinhas em lata, sem se poderem mexer. Ainda, por agravo, ali juntinho dos barulhos das diversões.

Caricato e ilustrador disto, o facto do 1.º flautista da Banda dos Mineiros do Pejão (ver foto), à falta de espaço ter que tocar com o braço por fora de um dos pilares do coreto e com os pés mesmo na borda. 

Por sua vez, o homem dos bombos teve que ficar numa espécie de varanda suspensa, acrescentada como um anexo. Algum músico que pretendesse dali sair em emergência, tinha que passar por cima dos colegas e, como um ginasta, transpor o varandim do coreto com os naturais riscos, como vi.

Não sei como os responsáveis pelas bandas acedem e concordam a actuar naquela vergonhosa falta de condições, que os desprestigiam porque desconsiderados. Todos precisam de facturar, mas é triste.

Paradoxalmente, o palco principal, imenso, à sombra, na parte central do arraial, vazio, com os apetrechos da cantora pimba que ali actuará à noitinha.

Paradoxos e exemplos de como as bandas filarmónicas, baluartes da nossa melhor cultura e tradição são tantas vezes assim desconsideradas por organizações com pouca sensibilidade para estas coisas. 

Demasiado mau para bandas com tanta qualidade. Provavelmente não voltarei ali para ver bandas postas à banda.

Há limites!

Que Nossa Senhora deles tenha piedade!

21 de agosto de 2022

Sempre a aprender

Uma festa genuína, algures por aí. Está-se mesmo a ver!

Mas, sempre a aprender, os altifalantes não debitavam música de folclore ou de cantores pimba. Nada disso! Nada mais que um relato de futebol!!!

Eu não sei se o S. Miguel Arcanjo ou a Nª Sª da Saúde são adeptos do Porto ou do Sporting, e até acho que não são por ninguém em particular, porque são pelas pessoas e não por clubes de futebol. E gente fanática pelos clubes é o que mais há por aí e não é preciso que o fanatismo chegue a gente santificada. Era o que faltava! 

Mas, esta é novidade, e  se a moda pegar, até pode ser vantajosa para as comissões de festas. Assim, quem sabe, em vez de gastarem balúrdios em cantores pimbas e em bandas de baile, passamos a ter uns relatos de futebol. Na sexta á noite, um Arouca-Vizela, no sábado, um Braga - Famalicão, e na segunda feira, uma coisa em grande, um Benfica-Porto ou um Sporting-Benfica. 

Josés Malhoas, Toys e Zés Amaros, ponde-vos finos! A pólvora acaba de ser inventada!

Abençoados tempos de fartura


(gente boa da "Quinta do Canastro", que tive o privilégio de me terem ajudado na minha caseirinha boda de casamento (final dos anos 80)


Noutros tempos, uma boda de casamento era tão genuína quanto top. Desculpem usar esta palavra “top”, mas está na moda, e fica fixe ser usada. Dá-nos um ar de quem usa t-shirts floridas.

Mas, dizia, a boda de casamento, era genuína porque conseguia reunir festa, celebração e simplicidade. Assim, o jovem casal definia a data de casamento e ia de seguida dar uma volta pelos restaurantes da moda, contratar o serviço da boda, que era só o almoço. Nada de ceias ou merendas: Assim, visitava-se o Dindão, o Senhora da Hora, o Taco Dourado, o Lano, o Topa, o Cruzeiro, o Pinheiro, o Algarvio, depois o Bolhão, etc, etc.

Mesas corridas, dispostas em forma de U, os familiares juntinhos aos noivos, no topo, escondidos atrás de um bolo parecido com a torre de Pisa, os casados de um lado, os solteiros do outro, por aí fora.

Depois as entradas com camarões, rojõezinhos, croquetes, moelas, polvo, orelha de porco, etc. Depois vinha a canjinha ou uma sopa de legumes bem passada, seguindo-se, mais a sério, a salada russa com filetes de pescada e, se mais ao luxo, bacalhau com puré de batata. Confortada a barriga, lá vinha o cozido à portuguesa, se a família de origem mais lavradoresca assim o determinava, ou em alternativa um assado misto num bordel gorduroso de carnes de cabrito, vitela e porco.

Depois lá vinha o desfile de doces e frutas, onde não podiam faltar as laranjas e as bananas e as uvas ou cerejas, dependendo da época. Já com o estômago a abarrotar, o remate com café e bagaço. Depois os amigos mais atrevidos começavam a bater e a partir pratos com os talheres, desafiando os casais, casados ou namoradeiros, a darem o seu beijinho. - E é p´rá noiva! - E é p´rós padrinhos!...  

Também podia acontecer o leilão com o corte da gravata do noivo e a subida do vestido da noiva, isto quando o ambiente já estava mais descontrolado. E alguns noivos aproveitavam porque poderia dar para ir ao Algarve. Finalmente, despedidos os convidados, umas fotos para o quadro do quarto num qualquer jardim público, depois, xixi e cama.

No dia seguinte o jovem casal ia em lua de mel à praia a Espinho ou ao jardim do Palácio de Cristal ou ainda, se mais endinheirado, até Troia, ou mesmo ao Algarve. E não era para todos.

Era assim, e a coisa aos convidados ficava quase sempre barata, porque sabiam quanto em cada restaurante custava a despesa aos noivos. Era à certa, cabendo aos familiares um esforço suplementar para uma ajuda ao início da vida de casados. 

Mas em pouco tempo a coisa deu uma volta de 180 graus e os casamentos e bodas dos anos 70 e 80 parecem anedotas quando comparados com os de hoje.

Vieram as quintas, as quintarolas, os protocolos, os vídeos, os drones, os palhaços, as bandas, as casas dos queijos, dos enchidos, dos doces, das frutas,  das esculturas de melancias e abacaxis, fontes e cascatas de chocolate, corta-sabores, desemperra línguas, etc, etc.. No protocolo ou na etiqueta da indumentária, as madames são um S. Miguel para cabeleireiras e esteticistas. Usam um vestidinho na cerimónia, outro no almoço e outro ainda na ceia. 

Já a ida para a igreja é uma preocupação definir se de carro normal, se de Ferrari, se de carro clássico antigo, se de limousine, se de charrete puxada por cavalos ou póneis, se de mota, de bicicleta, de trotinete, etc, etc. A pé, como eu, ninguém vai!

Os convites com design de artista, de seda, papiro ou papel biológico, prendinhas e lembranças todas xpto, fotos dentro de corações, no lago, no baloiço, na bicicleta, etc. 

As cerimónias na igreja, quando as há, e há porque as igrejas, com padres e acólitos, são sempre cenários irrecusáveis, mesmo se os noivos não são de missas, são de arromba com flores importadas, arranjos dignos de um casamento da realeza inglesa, grupo coral contratado, o Avé Maria do Schuberth e o Aleluia do Cohen.

Quando o álcool começa a fazer das suas, há danças do pinguim, do comboio, do quadrado, do quizomba, do kuduro, do barão, etc, etc. Há banho de espumante e de champagne francês e no fim da noite o fogo de artifício, 

Nas redes sociais os noivos e convidados partilham tudo e mais alguma coisa e até agradecem e destacam a lista dos "patrocinadores" das flores, dos sapatos, dos fatos, dos vestidos, das cuecas, dos bolos, dos convites, do vídeo, das fotos, o operador do drone, o banda, o grupo polifónico, a menina do violino, o rapaz do piano, o hotel, a quinta, o chefe, o condutor da charrete, a agência de viagens, etc, etc. É uma produção e peras.

Uma orgia de felicidade e de coisas boas que enchem os corações e as almas, dizem! Os convidados pagam para comer numa tarde o que daria para comer num mês. Mas pagam, porque sacrifícios destes valem a pena. É um investimento duradouro e conteúdo para as redes sociais de fazer inveja.

Claro está, os convidados na maior parte dos casos pagam tudo isso e até mesmo a lua-de-mel num qualquer resort paradisíaco.

E isto é mau? Claro que não! É sinal que até o mais humilde casal, mesmo que com ordenados mínimos ou mesmo desempregado,  tem direito ao seu grande dia, à sua celebração.

Finalmente, uma outra grande mudança, significativa nestas coisas: A data do casamento já não é definida pelo casal ou pelo padre ou pela altura em que ambos têm férias. Quem a define é a agenda da quinta ou da quintarola. Nalgumas há listas de espera de anos, dizem! Espere-se, pois, que é o mais importante!

Tanta coisa e tanta mudança em tão poucos anos, digo eu, que quase me envergonho da minha boda de casamento, humilde, simples, caseirinha, mesmo em casa, sob uma tenda de pano florido, e da trabalheira em matar porcos, vitelas e uma capoeira inteira, para que nada faltasse aos amigos e familiares.

O dinheiro deve ter sido à certa para o que se comprou na mercearia e se pagou a quem serviu, porque não sobrou para ir à Torreira ou ao Furadouro, quanto mais à Madeira ou Puta Cana.

Uma voltinha nocturna ao bilhar grande de um parque de uma cidade nas redondezas, umas farturas ou um novelo de algodão doce para adoçar as bocas sedentes de beijos, e no resto, xixi e cama. Naquelas alturas a maioria das mulheres casavam virgens, mas isso poderia ficar para depois do cansaço do dia e da boda. Nem era o mais importante, e de resto paciência pelo dia D era o que se aprendia a ter  durante o namoro. Hoje, no geral, as coisas já vão adiantadas.

Abençoados tempos modernos e de fartura, onde "todos somos tão felizes" e os casais chegam "quase todos" a "bodas de oiro" e em que os divórcios contam-se pelos dedos das mãos. 

Ainda bem que há Facebook para nos testemunharem estas coisas, porque se não fossem vistas, contadas ninguém acreditaria.

Se alguém vai dizendo que "vivemos acima das nossas possibilidades", isso é pura má língua. Na realidade vivemos muito modestamente.

Mas ainda em tempos mais recuados, os nossos pais e avôs casavam-se, comiam uma refeição melhorada, com arroz de galinha, e no dia seguinte iam em lua de mel para a puta da vida, no campo ou no mato. Hoje, vão quase todos para a Puta da Cana, ou outros paraísos tropicais. Diferenças, para além da semântica e dos trocadilhos.

Abençoados tempos de fartura!