12 de fevereiro de 2023

Ver para crer


Ouvi uns certos passarinhos a piar  que o município, aproveitando fundos europeus, irá requalificar alguns espaços desportivos no concelho e um deles poderá ser o rinque polidesportivo de Guisande, localizado no lugar de Casaldaça junto ao edifício de habitação social. Será mesmo?

Numa primeira análise, saber de qualquer investimento a fazer em melhoramentos e requalificações de espaços e equipamentos públicos é por si só uma notícia positiva e de louvar. 

Mas importará sempre, para que os dinheiros públicos sejam considerados como bem investidos em situações de necessidades concretas, que se procure saber e garantir uma adequada correspondência entre o investimento e a necessidade e como tal um bom aproveitamento.

Ora, no caso deste equipamento em Guisande, desconheço se, quem terá tomado a decisão do investimento com a requalificação do espaço, nomeadamente em todo o piso que está degradado e sem condições de drenagem, terá realiazdo um estudo prévio e enquadramento que sustentem que o equipamento será utilizado com regularidade.

Quem conhece o estado da situação a que chegou o nosso rinque polidesportivo e o seu grau de abandono e degradação, sabe que em grande parte isso decorre de o mesmo não corresponder a uma necessidade e procura efectivas. Ou seja, na actualidade, face a um notório decréscimo anual de nascimentos, de crianças e juventude, a população está a envelhecer e são poucos os que procuram este tipo de espaços para praticar desporto, desde logo porque, sem cobertura, apenas permite uma utlização sazonal. Quem de algum modo forma equipas para jogar, nomeadamente futebol de salão, procura pavilhões cobertos e confortáveis. Não há volta a dar. São mais que muitos os rinques abandonados e sem utilização.

Neste contexto não me parece que a eventual requalificação do espaço por si só venha a concorrer para uma mudança de paradigma e para uma utilização constante. Sem uma associação ou clube que o tenha à sua guarda e o dinamize e ali promova actividades com regularidade, não estou mesmo a ver que o espaço venha a ser bem utilizado e de forma recorrente e sustentada. Oxalá que seja o contrário e que as coisas mudem de modo a justificar-se qualquer investimento que ali se venha a concretizar, mas cheira-me que não. Provavelmente a coisa continuará às moscas e num novo ciclo de abandono e subaproveitamento.

Mas nestas coisas, ver para crer. Aguardemos para ver se o que se fala é mesmo verdade e, a acontecer, no que dará. Talvez ocorra um milagre e dele possamos depois concluir: - Foi dinheiro bem empregue!

10 de fevereiro de 2023

Rabiscos - Miguel Torga

 


A poesia

A poesia é uma importante forma de arte que desde há séculos tem sido valorizada em diferentes sociedades e culturas, sendo uma das formas mais antigas de escrita. Ela é essencialmente caracterizada por sua musicalidade, ritmo, e uso de recursos linguísticos específicos, como a metáfora, a personificação, e a assonância, para criar efeitos emocionais e artísticos.

A poesia pode ser usada para explorar uma ampla variedade de temas, desde aspectos da nossa personalidade até questões de carácter social, religioso, político, etc. Ela também pode ser usada como uma forma de autoexpressão, sendo  frequentemente usada para processar e compreender as emoções e as circunstâncias da vida.

Além disso, a poesia é conhecida por sua capacidade de evocar imagens poderosas e emocionantes na mente do leitor, e por sua capacidade de transmitir mensagens profundas e universais. A poesia pode ser encontrada em muitas culturas e tradições ao redor do mundo, e é apreciada por pessoas de todas as idades e origens.

Podemos concluir que a poesia é uma forma de arte rica e versátil, que tem o poder de inspirar, comover, e transformar.

7 de fevereiro de 2023

Rabiscos

 

Sorriso

Se soubesses, amor,

Quão me domina o teu sorriso,

Tinhas todo o poder sobre mim,

No arbítrio do bem ou mal.

Todo eu seria dor

Se me privasses do pleno juizo,

Mais valendo, que sofrer, o fim,

Como ferido um animal.


Mas creio que se por bem, apenas,

Sorrindo esses teus lábios doces,

Tão bom seria ter-te plena em mim.

Sorri, sorri sem dores ou penas,

Sorri, linda,  ainda como se fosses

A vida contida entre princípio e fim.

6 de fevereiro de 2023

Partícula



Ascendi à serra, sereno e só,

buscando um encontro de intimidade,

naquela aspereza criadora

granítica, despojada,

para me sentir envolto

numa nudez primitiva

onde a cama é de erva

e o cobertor de estrelas e luar.


A serra, ampla, sincera, tem este dom:

o de nos submeter

à insignificância que somos,

mas como um grão de areia

que faz sentido e dá forma

ao areal na imensa praia.


O universo majestoso é, afinal, 

uma massa densa de partículas, 

ínfimas mas plenas, 

onde cada ser

tem lugar, espaço e sentido.


A. Almeida - 06022023

Recreio permanente

Não há volta a dar. Os ditos programas de entretenimento que passam pelas nossas televisões, incluindo concursos, são de uma infantilidade enjoativa. A começar pela RTP, que por princípio teria outras responsabilidades e obrigações, tratam-nos como se fôssemos todos criancinhas. Bem sei que os tempos são outros, longínquos de Artur Agostinho, Henrique Mendes ou Igrejas Caeiro, mas não é preciso tanto. O nível anda por baixo, mas dizem-me que agora é assim, e que nestas coisas, modas e tendências (que até se dizem trends) copiam uns pelos outros o que de melhor (pior) se faz no resto do mundo. Os formatos são os mesmos e a fonte parece ser comum, como a Fremantle que produz a maioria dessas coisas (voices, masters chefes, got talents, preços certos, vai ou racha, etc, etc).

Já não há paciência e o problema é que, pelo menos na RTP, de algum modo andamos todos a pagar aquele recreio permanente. 

Felizmente que, na televisão paga, há sempre boas opções, ainda com documentários instrutivos e formativos. Ainda há muita coisa de positiva e cultural mas as coisas vão no sentido de tudo isso ser obsoleto. Anda já por aí a Inteligência Artificial a suprimir brechas de instrução e a transformar a ignorância de muitos em sabedoria.