1 de março de 2018

Venha batê-las

Limpezas e sujidades


Ainda o assunto da obrigatoriedade das limpezas florestais: É certo que a lei não é de agora e para recuperar o desmazelo de anos e face ao drama dos incêndios de 2017, está de regresso a política do 8 para o 80.
Em todo o caso, para além da reconhecida e imperativa necessidade de limpeza, porventura não de forma tão radical como está a ser divulgada, com insuficiente informação à mistura, foi sempre mais fácil para o Estado, e seus governos sucessivos, passar o ónus da (ir)responsabilidade para os cidadãos, desmazelando em muito as suas próprias obrigações, não sendo por isso modelo de virtude para ninguém. Senão, veja-se: É mais ou menos consensual que pelo menos 90% dos incêndios em Portugal têm origem em mão criminosa. Contudo, parece que ainda não se percebeu que a a falta de limpeza na floresta é obviamente um problema, porque potencia os incêndios e os seus efeitos, mas não são seguramente a sua origem. Ora o que tem feito o Estado quanto a isto? Agravamento do contexto penal e sem contemplações para os criminosos, sejam eles bêbados ou tolos (porque têm que ser tratados)? Mais polícias e investigadores específicos para esta área? Mais guardas-florestais? Mais investimento na prevenção, quiçá incentivo  activo e não coimas para as limpezas ou falta delas? Controlo de e para o Estado dos meios aéreos de combate a incêndios de modo a acabar com os obscuros interesses das empresas fornecedoras (muito interessadas em ter trabalho)? Em rigor a resposta a todas as questões será negativa. Ora quando assim é, a coisa acaba necessariamente por descambar em políticas de a torto-e-a-direito, com os exageros e radicalismos que já se estão a ver e a sobrar para os indefesos cidadãos perante os instrumentos legais que se vão criando reactivamente.

Tendo nascido, crescido e vivido uma aldeia rural envolta em floresta, terei visto o primeiro incêndio cá na zona apenas e já depois dos vinte anos e sendo certo que por esses tempos os matos andavam bem mais limpos,  nunca foi preciso cortar a varrer junto a casas, estradas e caminhos. É que nesse tempo não se brincava com o fogo e nem havia empresas a alugar aviões e helicópteros.

Entretanto, com esta semana de chuva, a atrasar a já por si impossibilidade de limpeza no prazo concedido, o que é que o Governo vai fazer? Fiquemos à vontade porque António Costa, seus ministros e deputados já se prontificaram a vir dar uma mãozinha. Está, pois, o assunto resolvido.

28 de fevereiro de 2018

Bate leve, levemente




As notícias de hoje, 28 de Fevereiro, dão conta de fortes nevões que estão a assolar muitos países europeus, incluindo Portugal, sobretudo nas regiões montanhosas do norte e centro, afectando cidades como Bragança, Vila Real, Guarda, entre outras.
Por cá, a neve ainda não caiu e não é expectável que caia, mas, sendo rara, não é novidade em Guisande, como aconteceu nomeadamente em 3 de Fevereiro de 1963, num sábado, como demonstram as fotos antigas que aqui trazemos à memória. Vê-se a zona da igreja matriz  e adro cobertos desse sempre belo manto branco tecido pela mãe-natureza.  Recém nascido, obviamente que não assisti e foi preciso esperar mais vinte e um anos, no Carnaval de 1984 para ver a neve a cair em Guisande e redondezas com alguma significância.


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

(...)
A Balada da Neve - Augusto Gil

26 de fevereiro de 2018

Perceber da poda


Fotografia de final dos anos 60. O nosso saudoso pároco, Pe. Francisco Oliveira, a podar os belos arbustos que o mesmo plantou uns anos antes.
Pessoalmente, embora anos mais tarde, ainda me recordo desta cena pois era frequente ver o Pe. Francisco a tratar carinhosamente dos seus arbustos, dando-lhes pacientemente a forma desejada. Neste mesmo arbusto, uns anos mais tarde esculpiu umas letras, como mostrarei um dia destes.
Infelizmente, esta saudosa cena jamais se repetirá, porque tanto o Pe. Francisco como os arbustos já não existem, mas apenas na nossa memória. Ora esta não se apaga, tanto mais que reforçada com estes raros apontamentos fotográficos.

C.D. Feirense, o primeiro dos últimos



Futebolisticamente falando, nunca fui simpatizante do C.D. Feirense. E obviamente não é de agora, mas de há muito, quando no concelho ainda da Vila da Feira, simpatizava primeiramente com o U. de Lamas e, apesar de rivais entre si, seguindo na preferência o Lusitânia de Lourosa. Claro que por esses tempos, todos estes clubes eram clientes regulares da então 2º Divisão Nacional o que dava outra dimensão e interesse à rivalidade. Pelos meus 16 anos, ao domingo à tarde, ia com frequência à bola, com meu primo e meu tio, e vem daí, ou mesmo de antes, a simpatia pelo U. de Lamas e alguma "aversão clubista" ao Feirense.

É certo que o C.D. Feirense foi sempre o mais forte e importante clube e equipa de futebol no nosso concelho, e bastará recorrer ao seu histórico e ao facto de por diversas vezes ter já militado na divisão principal do nosso futebol. Por isso, remexendo nas minhas velhas colecções de cromos dos anos 70, como a das imagens acima, lá está o clube feirense de azul e branco, com nomes como Portela, Cândido, Seminário, Dário, Bites, Germano e tantos outros, de bigodaça ou de farta cabeleira, como era regra por esses anos.
Mas, talvez por perceber que pelos idos anos 70 e por aí fora foi sempre o clube protegido do sistema, o que colhia recorrentemente mais apoio da Câmara Municipal, em detrimento dos demais, a minha simpatia clubística nunca pendeu para o clube da sede. Se hoje ainda há um forte centralismo à volta do castelo, nesses tempos era mais descarado, de resto em alinhamento com o que era natural noutras cidades e vilas deste nosso país. Era o tempo dos sacos azuis e outros quejandos em que o apoio ao futebol, mesmo o da terrinha, era um trampolim para a política e para vantagens eleitoralistas.

Em todo o caso, reconhecendo a importância e a dinâmica do C.D. Feirense não só no contexto municipal mas até mesmo nacional, naturalmente que fico satisfeito e até com orgulho que o nosso concelho tenha um clube na divisão principal e que por lá ande muitos e muitos anos, mas que sou simpatizante, não sou. 
Infelizmente, depois de na época anterior ter tido uma bonita e meritória classificação, neste momento a equipa está a passar por uma fase menos boa e que a tem conduzido aos últimos lugares da classificação geral e já em zona de despromoção, por isso o primeiro dos últimos. Se no jogo de logo à noite o Moreirense, hipotéticamente, vencer ou mesmo empatar em Alvalade o Sporting, o C.D. Feirense passará a ser o lanterna vermelha.

Esperemos que consiga voltar aos resultados positivos e que no final da época possa continuar na I Liga. Afinal, o Manta não pode passar de bestial a besta apenas de uma para outra época. Mesmo sem ser simpatizante, estou naturalmente a torcer pelo êxito da equipa.

19 de fevereiro de 2018

O seu mato vale zero, mas limpe-o


A propósito da onda obrigatória da limpeza de prédios florestais, aparte alguns exageros e radicalismos, que sempre há nestas leis reactivas, há uma coisa que deve começar a ser tomada em conta: Por exemplo, sabendo-se que o valor patrimonial de um terreno de mato e pinhal reside no rendimento proporcionado pela venda das árvores, seja para lenha, celulose ou madeira, há muitos milhares desses prédios próximos de habitações, aldeias, fábricas e estradas que, pelas suas características de localização, configuração e metragem, cumprindo-se estas regras de limpeza com rigor, vão deixar de poder produzir e de ter rendimento florestal. Ou seja, não tendo capacidade construtiva, esses prédios passam em rigor a valer zero. Ora pergunto qual o interesse de um proprietário cujo mato vale zero, ainda ter custos anuais com a limpeza? Certamente que nenhum. Por isso, mais vale que tome o Estado conta dos mesmos e que faça a limpeza obrigatória a troco de, zero. 

Notas soltas do dia-a-dia - 19022018



Animais nos restaurantes: Nim. E porque não nas escolas, hospitais e fábricas? E porque não na Assembleia da República? Assim podíamos ver um António Costa a acariciar uma galinha enquanto defendia as virtudes do orçamento, uma Catarina Martins com uma arara a mordiscar-lhe as orelhinhas, um Jerónimo a esfregar manteiga no nariz de um Serra da Estrela, a Cristas com um persa, dos bem peludos, a aquecer-lhe as perninhas no frio austero de S. Bento, um Capoulas Santos com um imponente macho barrosã,  a defender energicamente o aumento das cotas leiteiras ou um Hugo Soares com um porco bísaro, bem lavadinho, é claro, a falar das sujidades da geringonça. E porque não? Afinal, eles políticos e legisladores, devem ser os primeiros a dar o exemplo deste acto de moderna civilidade em que, como já prognosticara George Orwell em 1945, leva caminho para que um dia sejamos dominados por uma vara de porcos triunfantes. E hão-de ter direito a um feriado por essa futura revolução.


Este tipo de leis, para muitos politicamente correctas, numa sociedade onde se pretende equiparar os animais com as pessoas e estas com aqueles, como se aqui a diferença seja discricionária e discriminatória e não decorrente da própria natureza que separou ambos os ramos na árvore da evolução, estão a abrir portas para uma irracionalidade cujos limites são ilimitados. Dá que pensar. E, no caso dos restaurantes, vai ser lindo para proprietários e clientes quando os problemas começarem a surgir. Que venham. Os tribunais estão a precisar de casos de caca. Por mim não vou arriscar e quando for almoçar fora deixarei em casa o cão(analfabeto quanto a regras de etiqueta), os três gatos e as três galinhas. 

Vitória de Guimarães: Pedro Martins não resistiu à derrota caseira por 0-5. Poderia ter resistido a este jogo de uma época menos conseguida fosse o resultado contra um Porto, Feirense ou Belenenses, mas não com o S.C. de Braga, o eterno rival do Minho. A derrota doeu a quintuplicar.
É pena, porque o Pedro Martins é um dos bons treinadores do futebol português.Mas sabendo-se que o cargo de treinador é volátil e com apenas dois sentidos, o de besta e o de bestial, é sempre a solução mais fácil para um presidente de um qualquer clube disfarçar as debilidades ou incompetências do plantel, demitindo um em vez de 11.
Pessoalmente desejo tudo de bom para o Pedro e certamente que prosseguirá com sucesso a carreira por aqui ou por fora.

F.C. do Porto: Dois resultados de 5-0. Mas convenhamos que diferentes. E diferentes porque jogar em casa com o Rio Ave não é a mesma coisa que jogar com o Liverpool, sobretudo quando os de Vila do Conde enchem o peito e vão ao Dragão convencidos que eram os da cidade dos The Beatles (Don't Let Me Down).
Por outro lado, estes resultados, diferentes mas iguais, demonstram que o nosso campeonato é uma locomotiva a carvão quando comparada a um TGV de outras ligas europeias. Temos o que podemos e até o que merecemos.

Bruno de Carvalho: Quando a vulgaridade precisa de eleições para legitimar eleições. Mas, é lá com eles. Os ditadores começam sempre por ser legitimados pelas massas. É claro que estas ditaduras são sólidas apenas e até quando os resultados desportivos deixarem de ser líquidos. O problema de Bruno de Carvalho e de quem o apoia poderá ser assim um problema de sublimação, caso esta aparente solidez conseguida na extraordinária assembleia geral deste sábado passado, no fim da época passe directamente a um estado gasoso, um ar que se lhe deu. 
Em todo o caso, por enquanto, tudo está em aberto e a química vai seguindo as suas leis.