18 de fevereiro de 2018

Notas soltas do dia-a-dia

Luis Montenegro: Um dos meninos aziados do PSD com a vitória de Rui Rio. Vai deixar o Parlamento e de lá para a TVI onde será bem pago para fazer o que melhor sabe: Palrar. Como os abutres, voltará no tempo da carniça.

Santana Lopes: Tivessem os seus apoiantes a sua postura no que à unidade do partido diz respeito. Um dos vencedores deste 37º congresso do PSD.

Tiroteios/Massacres nos Estados Unidos: Num país onde se tem acesso a armas com a facilidade com que por cá se compram tremoços, só espanta que os dramáticos e recorrentes episódios de tiroteios e massacres não sejam ainda mais numerosos e mais dramáticos. É um problema que não tem fim à vista.

Limpeza da floresta: O Governo exige aos particulares e aos municípios o que nunca foi capaz de cumprir na parte que lhe toca. Por outro lado nunca se viram tantas limpezas como agora e as queimadas são tantas e em simultâneo que há sítios onde não se pode respirar. Fomos sempre um país de exageros e de tendência fácil para saltar do 8 para o 80.

Por cá: É verdade que passaram já quase quatro meses de nova Junta, com maioria e agora de cofre cheio, sem calotes, mas, pelo menos por aqui, não tem dado sinais de vida. E há estradas em degradação total, como a Rua das Barreiradas, Rua do Outeiro, Rua da Leira e outras. Para quem , como eu, tinha algumas expectativas de que agora as coisas poderiam melhorar substancialmente, porque com melhores condições e sem os compromissos constrangedores do anterior mandato, tem sido uma desilusão.

14 de fevereiro de 2018

Dia dos namorados - Ainda os há?




Com toda a actual realidade de relacionamentos, fica a grande questão: - Ainda há namoro? Ainda há namorados?

Vem aí o papão



Ainda há semanas foi anunciado que o Governo pretendia rever as leis de modo a acabar com as práticas agressivas de cobradores de dívidas, como as conhecidas pelo "homem do fraque". Por conseguinte, da ideia base, as empresas que se dediquem à cobrança de dívidas fora do contexto dos tribunais não poderão utilizar "métodos de cobrança e recuperação que sejam opressivos ou de intrusão, nomeadamente utilizando viaturas, indumentária ou materiais de comunicação que, pelo conteúdo da mensagem transmitida, procurem embaraçar ou transmitir uma imagem negativa do devedor".

Este projecto de lei teve a discordância do PSD, CDS-PP e PCP, a  manifestaram-se contra este projecto do PS sobre a cobrança extrajudicial de créditos vencidos por entenderem que legalizaria a procuradoria ilícita, invocando, inclusivamente, a discordância já manifestada pela ministra da Justiça. Com uma oposição maioritária à ideia do PS, parece que a mesma terá baixado para a comissão da especialidade, mas confesso que perdi o rasto ao assunto. Certamente que um dia destes voltará a ser tema do dia.

Até lá, tudo continua na mesma, e apesar de condenados com alguma frequência pela forma agressiva com que pretendem fazer cobranças, vão continuar por aí os "homens dos fraques".

A propósito, ou não, soubemos por estes dias que a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira acordou com a Autoridade Tributária a celebração de um protocolo segundo o qual esta entidade passará a efectuar a cobrança coerciva do serviço de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e da Taxa de Rede, entre outros, a partir de 1 de Março de 2018. Deste modo, os munícipes que tenham valores em atraso, referentes aos citados tributos, poderão evitar a execução fiscal, efectuando o seu pagamento voluntário junto dos serviços do município até à referida data.

Qualquer cidadão que procura cumprir em tempo as obrigações para com o Estado e o Município e a empresas prestadores se serviços, não deixará de se sentir indignado com esta solução. Podemos percebê-la, mas algo despropositada, porque bem mais "agressiva" do que o "homem do fraque", porque implacável e cega e actuando não só sobre dívidas substanciais mas como também sobre trocos. E de resto, injusta, porque bem sabemos que o Estado cobra juros de mora por horas de atraso no pagamento de um qualquer imposto ou taxa, mas permite-se a não os pagar por dívidas de anos a contribuintes.

5 de fevereiro de 2018

S. Brás e Nossa Senhora das Candeias

Decorreu ontem, 4 de Fevereiro, na igreja matriz da freguesia do Vale, a tradicional festividade em honra de S. Brás e Nossa Senhora das Candeias. 
Quase sempre modesta no arraial, até porque em pleno inverno, não raras vezes sob frio e chuva, é, todavia, uma festa de tradição e que chama devotos de todas as freguesias das redondezas. Como muitas outras, no que à tradição e devoção diz respeito, já teve melhores dias, mas mesmo assim continua a ser uma referência nas festividades religiosas no nordeste do concelho de Vila da Feira.

S. Brás (em Latim S. Blasius, em Catalão S. Blai, em Francês S. Blaise, em Espanhol S. Blas), a quem os devotos recorrem para males de garganta, foi um médico e bispo nascido na cidade de Sebaste, ou Sebastia (na actualidade Sivas), na Turquia, numa região da então província romana da Arménia, e que terá vivido entre os séculos III e IV.

Já depois de ter assumido a profissão de médico, sentiu o chamamento de Deus a uma consagração cristã, pelo que terá deixado a sua vida citadina e a sua própria terra indo para os montes, optando por uma modesta vida solitária de oração e de penitência.

A sua fama de santo começou a espalhar-se na comunidade de Sebaste e, quando morreu o bispo daquela cidade, todos o aclamaram como novo pastor. São Brás só aceitou a nova responsabilidade pela forte insistência dos membros da comunidade, porque desejava muito mais a vida retirada de oração e contemplação. Mesmo como bispo continuava a viver numa caverna no monte Argeu, no meio de animais ferozes, com quem convivia, vindo somente à cidade apenas quando as obrigações de pastor o exigiam.

Na altura da perseguição aos cristãos ordenada pelo então Imperador Licinius Lacinianus (308-324), São Brás, conhecido pela sua extrema bondade, santidade e milagres, é preso pelo anticristão Agrícola, que governava a Capadócia e a Arménia, e obrigado a adorar os deuses pagãos. Negou-se São Brás, dizendo: “não quero ser amigo dos vossos deuses, porque não quero arder eternamente com os demónios”. Foi açoitado, posto no ecúleo (cavalete de tortura), submetido aos «garfos» com puas de ferro e lançado a um lago de água gelada, sendo, por fim, degolado. Decorria o ano de 316.

Os seus restos mortais foram recolhidos e sepultados pelos cristãos desse tempo numa humilde igreja na sua cidade,  mas mais tarde trasladadas as suas relíquias para a actual basílica localizada num monte com o seu nome.

O facto, verdadeiro ou lendário de que terá salvo uma criança que agonizava com uma espinha de peixe encravada na garganta, valeu-lhe popularidade e devoção, tornando-se desde então padroeiro das causas de saúde ligadas à garganta. Mas é também associado como protector dos animais e em algumas localidades onde se venera, cumprem-se ritos de bênção dos animais de modo especial de rebanhos.

O dia oficial das sua festividade é o 3 de Fevereiro e o seu culto se expandiu sobretudo a partir do séc. VIII, tanto nos países do oriente como no ocidente, mas também noutras partes do mundo, sobretudo na América latina com o culto a ser levado por espanhóis e portugueses. Até ao século XI S. Brás não entrava no calendário litúrgico romano, mas a partir daí nele começa a constar pela grande devoção que passou a ser-lhe dedicada em Roma, onde se diz terem-lhe sido erigidas trinta e cinco igrejas. Em Portugal é patrono de pelo menos uma dezena de paróquias, sendo que não é patrono da freguesia do Vale, apesar de ali  ser venerado e festejado.

Fotografia de S. Brás na igreja matriz da freguesia do Vale.

Estampa, pagela ou "santinho" com a imagem de S. Brás que se venera na igreja matriz da freguesia do Vale. 
De notar que esta imagem corresponde a uma versão de S. Brás diferente da imagem que está na lateral do altar-mor,  conforme fotografia acima. 
À falta de melhor justificação, e supondo eu ser a imagem da primeira fotografia acima a correspondente à versão principal do S. Brás na freguesia do Vale, este mais imponente e barbudo, nunca percebi esta situação da pagela ou "santinho" disponível em dia de festa reproduzir uma outra versão. Será esta a imagem da estampa a mais antiga e original? Se sim, porque não está ela no altar? Se não, porque se teima em distribuir uma representação secundária? É certo que independentemente da configuração da imagem sabemos que ambas representam o S. Brás, mas parece-me uma falta de coerência identificativa e até de cultura patrimonial que, infelizmente, se verifica em muitas paróquias e festividades no que ao "santinho" diz respeito. Recorde-se que há alguns, poucos, anos,  uma Comissão da Festa do Viso também caiu neste erro ao mandar estampar um "santinho" do Santo António que nada tinha a ver com as versões do santo existente, quer na capela, quer na igreja.
Também em Louredo, não neste ano, mas em anos anteriores, a estampa disponibilizada representa um S. Vicente que não o principal que se encontra no altar-mor.



Acima, três variantes de pagelas ou "santinhos" clássicos com a representação da cena  referentes a S. Brás e ao milagre da remoção da espinha de peixe da garganta de uma criança apresentada ao santo pela sua aflita mãe. Esta cena faz parte indissociável do folclore religioso relacionado à veneração deste santo mártir.


Pagela com a imagem de Nossa Senhora das Candeias que se venera na igreja matriz da freguesia do Vale.

Quanto a Nossa Senhora das Candeias, cuja festividade ocorre na freguesia do Vale em simultâneo com a de S. Brás, é também invocada como Nossa Senhora da Luz, ou Nossa Senhora da Candelária, ou Nossa Senhora da Apresentação ou ainda Nossa Senhora da Purificação. Embora com o culto expandido em muitos países, incluindo Portugal e Brasil, há referência de que o mesmo terá surgido nas Ilhas Canárias - Espanha onde  terá aparecido numa praia na ilha de Tenerife, pelo ano de 1400. Os nativos guanches da ilha teriam ficado com medo e tentado atacá-la, mas suas mãos teriam ficado paralisadas. A imagem teria sido guardada em uma caverna, onde, séculos mais tarde, foi construído o Templo e Basílica Real da Candelária (em Candelária). Mais tarde, a devoção se espalhou pela América. É assim a santa padroeira das Ilhas Canárias, sob a invocação de Nossa Senhora da Candelária.

A origem da Senhora da Luz tem as suas origens na festa da apresentação do Menino Jesus no Templo de Jerusalém e da purificação de Nossa Senhora, quarenta dias após o nascimento de Cristo (sendo celebrada, portanto, no dia 2 de Fevereiro). 

De acordo com a lei mosaica (de Moisés), as parturientes, após darem à luz, ficavam consideradas como impuras, devendo por isso inibir-se de visitar o Templo de Jerusalém até quarenta dias após o parto; após esse tempo, deviam apresentar-se diante do sumo-sacerdote a fim de apresentar o seu sacrifício (um cordeiro e duas pombas ou duas rolas) e, assim, purificar-se. Desta forma, São José e a Santíssima Virgem Maria apresentaram-se diante de Simeão para cumprir o seu dever. Este, depois de lhes ter revelado maravilhas acerca do filho que ali lhe traziam, ter-lhes-ia proferido a Profecia de Simeão: «Agora, Senhor, deixa partir o vosso servo em paz, conforme a Vossa Palavra. Pois os meus olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante dos olhos das nações: Luz para aclarar os gentios e glória de Israel, vosso povo» (Lucas 2:29-33).

Com base na festa da apresentação de Jesus/purificação da Virgem, nasceu a festa de Nossa Senhora da Purificação; do cântico de São Simeão (conhecido pelas suas primeiras palavras em latim: o Nunc dimittis), que promete que Jesus será a luz que irá aclarar os gentios, nasce o culto em torno de Nossa Senhora da Luz/das Candeias/da Candelária, cujas festas eram, geralmente, celebradas com uma procissão de velas, a relembrar o facto.

29 de janeiro de 2018

Centro Social - 1ª Noite da Francesinha

Reversão da Reforma Administrativa e anulação das uniões de freguesias


A propósito da petição que já anda apor aí a circular para reversão da malfadada Reforma Administrativa que conduziu à extinção de centenas de freguesias, nomeadamente de Guisande, e à sua acomodação em uniões, na maior parte dos casos mal amanhadas, já falamos aqui neste artigo.
Como se tem lido, estas petições públicas estão a circular em algumas das nossas freguesias vizinhas afectadas pelas uniões, como Vale, Pigeiros e Louredo. Podem estar a ser promovidas noutras freguesias, mas pelo menos do nosso conhecimento são as atrás referidas. 

Sem prejuízo de outra posição, não surpreende, pois, que  estejam fora destas preocupações e deste processo de petição, as freguesias cabeças das uniões, nomeadamente Lobão, Caldas de S. Jorge e Canedo, num sinal claro de que, do mal o menos,  são as freguesias que menos perderam com as uniões e que de algum modo até ganharam alguma importância face à preponderância de cabeça e local de sede e mesmo porque concentraram em si investimentos que pela regra da proporcionalidade caberiam a cada uma das freguesias agregadas.

A este propósito teve alguma razão Celestino Sacramento, da bancada do PS, quando na última assembleia de freguesia (primeira do novo mandato) tomou voz e falou em 400 mil euros como cabendo a Guisande. É certo que as contas agora não são feitas assim, mas é uma orientação válida e lógica. Ora se o orçamento anual da nossa Junta da União das Freguesias tem rondado os 600 mil euros, olhando para a tal proporcionalidade de número de habitantes/eleitores, a Lobão, em números redondos, caberia metade do bolo, 3/6, e a cada uma das três demais freguesias (Gião, Louredo e Guisande) caberia 1/6. Ou seja, 300 + 100 + 100 + 100 mil euros. Como eu disse, números redondos e como balizamento, porque em rigor os orçamentos anuais de alguns executivos da ex-Junta de Freguesia de Guisande,  até ultrapassaram em muito os tais 100 mil euros, dependendo dos subsídios e apoios especiais a determinadas obras. 

Para além do mais, a ter em conta o compromisso inicial deste processo, de que uma das mais valias das uniões seria procurar incrementar as freguesias menos desenvolvidas de modo a limar diferenças, estava implícito um natural acréscimo de verba de modo a que a médio prazo se pudessem gerar equilíbrios e homogeneidade em todo o território. Ora isto não aconteceu no primeiro mandato da nova realidade administrativa, e em muito devido aos compromissos e dificuldades financeiras herdadas, mas mesmo agora que sanadas e até com um presente de um substancial saldo positivo herdado do anterior executivo, na ordem dos 100 mil euros, não nos parece que este ajustamento vá acontecer no actual mandato, até porque os sinais dados neste primeiro trimestre são ilucidativos dessa inoperância.

Assim sendo, alguém acredita que Guisande nestes próximos quatro anos vai absorver um investimento de 400 mil euros? Ou mesmo, optimistamente, 300 mil? Ou mesmo Louredo? Qualquer leigo na matéria, até pela leitura do processo eleitoral de Outubro de 2017, perceberá que as fatias de leão irão naturalmente para Lobão e para Gião. No final far-se-ão contas, mas, para mal da tal importância de homogeneidade de desenvolvimento, não nos parece que tão cedo  venha a ser uma realidade e isto porque na actualidade são poucos os "tolos" sem arte pelo que na hora de partir e repartir... 

Tal como a minha ex-colega de Junta, Marta Costa, de Louredo, que integra o movimento de petição naquela freguesia, afirmou recentemente no Jornal N que enquanto membro no executivo sentiu uma enorme desilusão e incapacidade, eu também falo com a autoridade de quem esteve no executivo e experimentou uma igual frustração e igual incapacidade quanto às expectativas que os mentores das uniões de freguesias criaram, apregoaram e defenderam como certas, até mesmo por parte da nossa Câmara Municipal. Foi de facto uma desilusão e uma luta inglória a das freguesias mais pequenas, perdendo autonomia, identidade e investimento, mesmo nas coisas mais básicas como limpezas de ruas e espaços, públicos.

Posto isto, mesmo estando convencido que o poder de decisão estará apenas no Governo, e não tanto ou nada nas petições públicas e força dos movimentos, faz todo o sentido que a população expresse nas petições a sua posição, numa espécie de referendo quanto às actuais uniões.
Entretanto, em notícia de hoje, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, divulgou que o assunto da reorganização será levado  à Assembleia da República até final do mês de Junho.  Vamos ser optimistas e esperar que então saia algo de positivo para as freguesias discriminadas.

Nota: Para apalpar o pulso aos habituais clientes desta casa, e diariamente andarão na ordem dos 400 visitantes, criamos, ao lado, uma simples sondagem na qual se pede a opinião quanto à possibilidade de reversão da Reforma Administrativa e à consequente anulação ou reformulação das uniões de freguesias tidas como fracassos, como a nossa. Podem, pois, querendo, votar.

27 de janeiro de 2018

S. Vicente Mártir - Louredo


Ocorre neste Domingo, 28 de Janeiro, a Festividade em honra de S. Vicente Mártir, padroeiro da freguesia vizinha de Louredo.
Noutros tempos, apesar de ocorrer em pleno Inverno, e por isso sujeita às inconstâncias do tempo, era uma festa de tradição nas redondezas e o povo, mesmo de Guisande, lá acorria ao "S. Vicente de Ferreira", para pagar promessas, comprar regueifa e figos.

Esta de convencer o povo, tanto de Louredo como das vizinhanças, que o seu patrono era o S. Vicente, mas o Mártir e não o de Ferrer (Ferreira), é uma luta antiga, travada pelo próprio e saudoso pároco louredense, Pe. Acácio Freitas. De resto, na sua monografia sobre a freguesia de Louredo, relata que deu logo com esta confusão do povo, mesmo no início da sua vinda para a freguesia. Passamos a transcrever essa passagem, que é elucidativa:

"Poucos dias após a entrada nesta paróquia, a 23 de Novembro de 1958, vieram ao meu encontro três senhores, cujos nomes já não recordo, dizendo ser a "Comissão de Festas em honra do Padroeiro, São Vicente Ferreira". Devo confessar que estranhei ouvir falar em semelhante Santo e sugeri se não seria "São Vicente Ferrer". 

Disseram-me que era assim que os párocos, meus antecessores, o apelidavam. Como fui apanhado de surpresa, combinamos o programa da festa para o dia 22 de Janeiro, como era da tradição. Após a sua retirada, fui imediatamente consultar o Afio Litúrgico, de Pius Parsch, que tinha mais à mão, e verifico afinal que no dia 22 de Janeiro se festejava São Vicente Mártir e não São Vicente Ferrer, cuja festa se celebra a 05 de Abril. 

No Domingo seguinte procurei elucidar a comunidade de que o Padroeiro de Louredo é São Vicente Mártir e não São Vicente Ferrer (vulgo "Ferreira") e apresentei as seguintes razões para que não houvesse lugar a mais dúvidas: 

a) — São Vicente Ferrer ("Ferreira") era natural de Valença, Espanha. Aparece vestido com o hábito dominicano e um sol com as iniciais de Jesus (J.H.S.) na mão. Foi presbítero, isto é, sacerdote pregador, como quase todos os dominicanos, e a sua festa celebra-se, como já foi dito a 05 de Abril. 

b) — São Vicente Mártir era natural de Huesca, também Espanha. Aparece vestido de diácono, (não chegou a ser ordenado de presbítero), geralmente com um corvo (que protegeu o seu cadáver de outras aves de rapina), sobre as sagradas escrituras numa das mãos e uma palma (a palma do martírio) na outra; ou então com a palma numa das mãos e uma embarcação na outra; ou ainda com a grelha (sobre a qual foi martirizado) a seus pés; além de outras insígnias alusivas ao seu martírio. Cf. "VIII CENTENÁRIO DA TRASLADAÇÃO DAS RELÍQUIAS DE SÃO VICENTE, 1173-1973, Câmara Municipal de Lisboa, Palácio Pimenta / 3 de Dezembro/1973". 

No entanto, e apesar de muitas vezes se ter insistido em Sermões, Homilias, Palestras etc, que é o São Vicente Mártir e não Ferrer, ainda nos nossos dias muitas pessoas continuam a falar na Festa de São Vicente Ferreira. 

Lembremos que o São Vicente Ferrer quase não é conhecido em Portugal; e São Vicente Mártir é padroeiro de muitíssimas terras, inclusive da cidade de Lisboa, onde é mais conhecido por São Vicente de Fora, por ter aportado, (segundo reza a tradição), a esta cidade numa embarcação, vindo da Catalunha. 

Então quem é o nosso padroeiro? Nasceu em Huesca, Catalunha, Espanha, por volta do ano 270, filho de pais nobres. Foi educado e instruído nas Sagradas Escrituras pelo Bispo Valério, de Saragoza, que ao reconhecer a sua sabedoria e virtudes o ordenou de Diácono e o incumbiu de levar a mensagem de amor, (que Jesus Cristo veio trazer a terra), a toda a Catalunha. 

Durante a perseguição de Diocleciano, imperador romano, foi convidado a renegar a sua Fé Cristã. Como não aceitasse o convite do imperador, foi açoitado e atormentado no potro. Continuando bem firme nas suas convicções religiosas, foi estendido sobre uma grelha incandescente; rasgadas as suas carnes com dentes de ferro; queimado com tochas ardentes etc. Resistindo a todos estes tormentos com um semblante de alegria, deitaram-no sobre um leito todo macio para tentar dissuadi-lo. Como a sua Fé se robustecia cada vez mais, recebeu a coroa do martírio pelo ano 304 da nossa era. 
Foi lançado a uma fossa e depois ao mar, mas um corvo de proporções gigantescas arrebatou-o às ondas e, segundo a tradição, tê-lo-á deixado sobre uma embarcação que o transportou até Lisboa. (São Vicente de Fora). "

Como se leu, o Pe. Acácio percebeu que apesar de ter travado uma luta constante e duradoura no sentido de catequisar os seus fregueses quanto ao seu patrono, seu nome e origem, admitiu que na actualidade (1967) ainda se fazia essa confusão. A confusão, que ainda se mantém nos nossos dias, resultava, no entanto e apenas, da transição das tradições, usos e costumes, incluindo os testemunhos orais. Assim, esta do S. Vicente de Ferreira em Louredo ainda está para durar.

Seja como for, no texto que acima se transcreveu da monografia de autoria do Pe. Acácio, é referido pelo próprio que o S. Vicente Ferrer ou Ferreira, é pouco conhecido por cá. Assim é, efectivamente, mas dá-se a curiosidade de tal santo espanhol estar precisamente muito perto de Louredo, nem mais nem menos que na Capela do Viso - Guisande, sendo que, mesmo aqui, pouco conhecido e divulgado como tal. Apenas mais um dos muitos santos e santas de Deus que vão adornando igrejas, capelas e ermidas.

Abaixo fica a imagem do respectivo santo do qual alguém, há tempos, teve a feliz ideia de o passar para uma bonita pagela.


Outra curiosidade, encontrei pela internet uma pintura barroca da escola espanhola de Francisco Ribalta, sem data precisa, mas do séc. XVII, em que  aparecem lado a lado estes dois S. Vicentes, o Mártir e o Ferrer, acompanhados de S. Raimundo de Penhaforte, outro santo espanhol. Como se vê, de algum modo estes santos apesar de não serem contemporâneos entre si, encontram-se pela arte e certamente na devoção e oração de muitos devotos.