30 de setembro de 2018

Não quero o bife porque não tem ovo a cavalo


Diz-nos a imprensa: "CDS pediu "debate sério", esquerda "chumba" pacote do CDS sobre natalidade"
Na primeira hora do debate, ficou claro que socialistas, comunistas e bloquistas iriam "chumbar" os sete projetos de lei e um projeto de resolução do CDS, em que se prevê uma redução do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e do IRS, dependente do número de filhos.
PS e partidos à esquerda alinharam pelos mesmos argumentos, criticando os democratas-cristãos por nada proporem sobre salários, precariedade laboral ou horários de trabalho, fatores que pesam na decisão dos casais para terem filhos, antevendo um "chumbo", no final do debate.

Pessoalmente considero que a esquerda tem alguma ou mesmo bastante razão quanto a várias questões de fundo que em si mesmas contribuem para o problema da baixa natalidade. De facto importa criar condições ao nível da questão do emprego das mulheres, nomeadamente na condição de maternidade.
Em todo o caso, o pacote de propostas avançado pelos centristas também me parece igualmente importante. Nem de longe nem de perto as medidas nele empacotadas resolverão o problema de fundo, mas dariam um contributo. Mas, eventualmente com alguma hipocrisia, parte a parte, porque enquanto governos nem CDS nem PS impulsionaram medidas objectivas de apoio às famílias e às jovens mães e delas um apoio à natalidade, esta posição da esquerda unida não deixa de ser caricata já que enquanto dona do actual governo, e tendo condições para o fazer, uma vez que se mostrou igualmente unida na identificação das necessidades e crítica aos populares, não criou ainda as condições laborais que reclama faltar às propostas do CDS. Ou seja, numa analogia gastronômica, a esquerda, mesmo reconhecendo a fome do problema, não aceita o bife do CDS porque lhe falta o ovo a cavalo, ou mesmo que ao contrário, não aceita o ovo porque lhe falta o bife.
Política rasca a nossa, em que importa desvalorizar sempre o que vem do lado oposto mesmo que com aspectos positivos. Traduzindo pela sabedoria popular, é "nem comer nem deixar comer".