6 de março de 2019

Fradinho das Caldas

Tendo recentemente actualizado o cabeçalho deste espaço, em que à esquerda aparece um simpático "Fradinho das Caldas" com o seu pirilau levantado, substituindo o anterior e ternurento passarinho colorido entre um ramalhete de rosas, perguntaram-me o simbolismo da coisa. Ora a resposta é precisamente essa, um mero simbolismo de um brinquedo ou figura típica portuguesa e de modo especial das Caldas da Rainha onde a cerâmica ou faiança tem tradições, nomeadamente a ligada ao artista Raphael Bordallo Pinheiro que em 1884 ali se instalou com a Fábrica de Faianças nas Caldas, "...revelando peças de enorme labor técnico, qualidade artística e criativa, desenvolvendo: azulejos, painéis, potes, centros de mesa, jarros bustos, fontes lavatórios, bilhas, pratos, perfumadores, jarrões e animais agigantados, etc. ". 

Quanto ao fradinho, não consegui apurar a sua origem e se ligada ou não a Bordalo Pinheiro, sendo que é um artefacto bem conhecido e popularizado como "Fradinho das Caldas" ou "Frade Malandro", mas sempre relacionados às Caldas e aos seus famosos "caralhos". Estes, os "caralhos", terão surgido no final do século XIX. "...Os primeiros modelos terão sido criados por uma tal de Maria dos Cacos, (barrista e feirante), e posteriormente por Manuel Mafra. Só depois, o humor de Maria dos Cacos e o naturalismo de Manuel Mafra foram recriados por Rafael Bordalo Pinheiro."

Perante a ousadia do frade, pouco condizente com a sua condição de homem religioso, não há quem não esboçe pelo menos um sorriso com a malandrice da coisa e com o seu hirto instrumento que surge inesperado, ou não, debaixo do seu modesto hábito.

Aqui o simbolismo é também e sobretudo de crítica à falta de irreverência (positiva e interventiva) que tem sido notória nesta freguesia. Não será de agora, mas mais de agora em que a gestão da freguesia anda por mãos alheias.
 Não faltam por aqui artistas ou mestres do palpite fácil, da crítica escondida, da sabedoria de quem tudo faz mas nada fez ou tentou fazer, e quase sempre em círculos fechados, entre comparsas. Já o assumir da coisa em espaços públicos, seja pela escrita assinada, seja pela faladura e principalmente pela acção, aí é que a coisa se acobarda. Por conseguinte, para esses o pirilau do simpático mas malandreco fradinho tem o simbolismo adequado que cada um pode interpretar a seu gosto. E há quem se ponha a jeito.