28 de setembro de 2020

Números assustadores

Na narrativa oficial de que o SNS - Serviço Nacional de Saúde tem estado a funcionar,  os números de actos médicos, exames, diagnósticos e cirurgias, desmarcados, adiados e cancelos desde Março, são avassaladores, "assustadores". Mas do Governo ainda não ouvimos assumir uma relação directa desta situação com o aumento médio de milhares de mortes que se tem vindo a registar nos últimos meses, comparativamente com períodos homólogos de anos transactos, para além da quase exclusiva atenção à Covid-19. Pelo contrário, é o quase silêncio e a desculpa das "ondas de calor".

Num certo sentido, radical, se quisermos, o Governo e as directrizes que tem tido relativamente às entidades e organismos de Saúde, que tem levado a descurar tudo o resto para além da pandemia, é directamente responsável por largas centenas de mortes que poderiam ser adiadas ou poupadas numa situação de normalidade em que o combate à pandemia não fosse levado a extremos de quase exclusividade. 

“São números assustadores e muito relevantes, que nos devem preocupar e merecem uma análise crítica”, referiu Joana Sousa, durante uma apresentação do estudo na Ordem dos Médicos, em Lisboa, na sessão de lançamento do Movimento Saúde em Dia - Não Mascare a Sua Saúde.

Alguns dos números:

Menos 10 milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários.

Menos dois milhões de consultas presenciais nos hospitais.

Menos de 214 mil cirurgias nos hospitais do SNS.

Menos 7 milhões de contactos presenciais nos cuidados de saúde primários, quer médicos quer de enfermagem.

Menos dois milhões de contactos presenciais nos hospitais, no conjunto de consultas, cirurgias, urgências e internamentos.

Menos 17 milhões de atos realizados em meios complementares de diagnóstico e terapêutica (como exames, análises clínicas ou tratamentos na área da medicina física e reabilitação).

- Menos 26 mil mulheres com mamografia realizada; menos 30 rastreios ao cancro do colo do útero; menos 26 mil no rastreio do cancro do cólon e do reto.

Apesar desta realidade, que até pode ser ainda mais grave, vamos todos continuar a fazer de conta que neste país o que contam são as 3, 4, 6 ou 9 mortes diárias por Covid, anunciadas directamente. O resto é paisagem e de um modo geral a imprensa, lubrificada, não quer nem tem mexido muito na coisa e alinha por quem lhe dá pão. 

É mau, muito mau, mas é disto que a casa vai gastando e gostando.