10 de outubro de 2022

Clientes e minotauros

O meu fornecedor de telecomunicações é a Meo. Não por ser a melhor, mas é o que se pode arranjar na sentença do mal o menor.

Prezo-me por nunca  ter deixado de pagar uma factura a tempo e horas, no máximo, com um dia dia de atraso, isto porque, por opção, não tenho débito directo, e assim sujeito ao esquecimento.

Mas ontem, estava já deitado quando me lembrei que o prazo limite era o dia 7 e se o fizesse ainda hoje, mesmo que à primeira hora, já seriam 3 dias de incumprimento. Que remédio, saltar da cama e ir ao computador ajustar as contas, no limite dos 2 dias. 

Não sei se dormi melhor do que dormiria, caso não o tivesse feito, mas pelo sim pelo não, ficou feito.

Mas admito que esta situação acaba por ser caricata porque creio que poucos farão o mesmo. A regra até será arrastar ao limite dos limites, até à ameaça de corte. De resto, numa certa empresa de que me falaram, a norma é mesmo essa, os atrasos e incumprimentos são recorrentes e por conseguinte a suspensão do serviço é também frequente, com a agravante de ser indispensável à actividade.

 O certo é que, pagando, mesmo com o atraso do costume, por vezes já com duas ou três facturas somadas, a coisa vai rolando, porque a operadora naturalmente quer evitar ao máximo perder o cliente.

Mas dou comigo a pensar, novamente, nestas como noutras coisas, qual é, afinal, o merecimento, ou o oposto, o desmerecimento por um cliente ser fiel e cumpridor, ou o contrário: Quem quer mesmo saber? Eu acho que nenhum, e até, feitas as contas, os incumpridores são regra geral os mais beneficiados, como naquela parábola evangélica do filho pródigo em que o desbaratador da fortuna é recebido com beijos, abraços e jantarada com vitelo gordo. O outro, o certinho, o cumpridor, esse continua no campo a trabalhar para o bem comum, sem prémios ou distinções.

Mas isto acontece porque acima de tudo, para as empresas, como no caso as operadores de telecomunicações, mas outras mais, desde logo como os bancos, etc, os clientes já deixaram há muito de ser pessoas, mas apenas simples números com uma data de dados associados. 

Nas agências há cada vez menos pessoas e tudo é encaminhado para processos digitais. Somos atendidos por vozes virtuais e encaminhados por um labirinto de opções, como um minotauro a dar marradas nas paredes até que encontre uma saída. 

Por conseguinte, os valores associados ao respeito e cumprimento pelos acordos, pela seriedade, honestidade e verticalidade, em rigor nada valem ou significam. 

Os algoritmos que gerem as relações entre empresas e clientes, não são programados para fazerem distinções positivas e premiarem os valores e atitudes que nos foram ensinados pelos nossos pais como sendo os correctos.

As coisas são como são. 

Tudo se resume a números. O Sr. António, o Sr. Justino ou a Sr.ºa Josefina, são um qualquer código binário composto por zeros e uns.

Para o caso, o Sr. Américo não passa disto:

01000001 01101101 11101001 01110010 01101001 01100011 01101111