20 de março de 2023

Nabos e nabeiros

Faleceu o Comendador Rui Nabeiro, de 92 anos, empresário, patrão da Delta Cafés, figura por demais conhecida e reconhecida como empresário de sucesso e sobretudo dotado de um grande sentido de humanidade para todos quantos com ele colaboravam e trabalhavam. Para além de empresário foi sempre um exemplo de cidadania ao serviço dos seus e da comunidade.

Sendo certo que já com uma bonita idade, mas naturalmente deixa tristes não só os familiares como os seus colaboradores e toda a região de Campo Maior e Alentejo.

As suas qualidades empresariais, de cidadania e humanas eram por demais reconhecidas em todos os sectores e por isso não espanta que muitas figuras locais e nacionais o enalteçam quando chamados a dar opinião sobre a sua pessoa.

De minha parte, como a maioria dos portugueses, nunca com ele contactei e por conseguinte a opinião pessoal resulta apenas da percepção do que ao longo dos tempos tenho lido e ouvido sobre a sua personalidade e de facto parece ser unânime a opinião muito positiva da sua acção empresarial e humanista, e desde logo com o reconhecimento a começar pelos trabalhadores das suas empresas.

Em resumo, partiu um homem grande, amigo dos seus, com uma visão e legado do que deve ser um empresário no sentido pleno do seu significado. Ser empreendedor, criar riqueza e mais valias para a região e país, mas igualmente partilhar riqueza porque com um importante sentido humanista e social.

No nosso tecido empresarial, certamente que há bons empresários e muitos deles com as mesmas qualidades e virtudes que teve Rui Nabeiro. Mas, reconheçamos, serão uma gota no vasto oceano porque a larga maioria tem uma actividade apenas baseada nos crescimentos e lucros, com estes todos canalizados para as riquezas pessoais, luxo e ostentação, enquanto que os seus colaboradores, os trabalhadores, são meros números, descartáveis, a quem se paga o mínimo possível, sem acrescento de qualquer função social ou humanista. Assim, para um desses muitos vulgares empresários, um automóvel de luxo, um relógio de ouro ou uma moradia de férias sobrepõe-se a qualquer funcionário e por isso a precariedade e os incumprimentos são mais que muitos, tantas vezes no mais básico que é pagar pelo trabalho. O que não falta por aí são empresários a ostentar riqueza e caloteiros para com os seus funcionários. Parasitas que vivem do suor dos outros.

Neste contexto, nos nossos empresários, temos alguns, poucos, Nabeiros, espécies raras no meio da larga maioria, os nabos.

As coisas são como são e as actuais realidades não se compadecem com lamechices de índole social e humanista. Primeiro o lucro, o estatuto social, a riqueza, o poder e o bem estar. A partilha com os demais, é coisa de somenos importância.