17 de julho de 2023

Meter a foice na (poda) seara alheia...

A propósito do assunto da poda dos arbustos e limpeza realizadas por elementos da Comissão da Festa do Viso - 2023, na envolvente da nossa linda igreja matriz, que veio à baila no Facebook, meti a foice na seara alheia, isto é, também me meti na conversa mas num objectivo de serenizar.

Diz a minha experiência e a minha idade que quase sempre nestas coisas e conversas travadas no espaço mais ou menos público, como é uma rede social, quase todos saem chamuscados porque nem sempre travadas com equilíbrio, sensatez e respeito pela opinião de todos. Assim, como na velhinha fábula da luta entre o padeiro e o carvoeiro, que aprendemos noutros idos tempos pelos livros da escola primária, ficaram ambos os intervenientes sujos. Nem o padeiro se manteve branco e imaculado como a farinha, saindo enfarruscado, nem o carvoeiro negro como o carvão, saindo empoeirado. Por conseguinte, quem se mete em conversas alheias, mesmo que no fórum público, arrisca-se a sair chamuscado.

Mas também diz a experiência que se somos pessoas livres e com opinião, se valorizamos e respeitamos ambos os pontos de vista, devemos então dar o nosso contributo com opinião num sentido positivo, mesmo correndo esse risco, sob pena de condicionarmos a nossa própria consciência, numa atitude fácil de não desagradar a Deus nem ao diabo ou o contrário. Ora por vezes é difícil conciliar esta neutralidade. Talvez por isso é que muitos preferem intervir de forma lateral e não pública, atirando a pedra e escondendo a mão.

Por conseguinte, a mesma experiência de uma vida aconselhava que devia deixar prosseguir a discussão e assistir descontraído no alto da bancada, como se constuma dizer. Mas intervi e ali deixei o meu comentário, a minha opinião, pela justa razão de que acho que mesmo com pontos de vista diferentes, e uma ou outra consideração menos medida e mais contundente, todos demonstram paixão e interesse pelas coisas da nossa freguesia e paróquia.

Para quem não seguiu a conversa, devo dizer que grosso modo o nosso estimado André Silva, que todos conhecem pelo amor e interesse pelas coisas da paróquia, de algum modo expressou o seu descontentamento com a forma como foi feita alguma da poda, nomeadamente, no seu dizer, por não serem respeitados os modelos que já existiam do passado e provenientes da mão do saudoso Pe. Francisco e achando que com isso foi "destruído" o trabalho de muitos anos.

Assim, porque tenho uma elevada estima a carinho pelo André, e partilho com ele muitas considerações sobre as coisas da paróquia, mas também valorizo quem de forma desinteressada trabalha com qualidade pela freguesia, como é o caso de qualquer Comissão da Festa do Viso, e do trabalho desta de modo particular no caso da limpeza e poda, acabei por comentar, compreendendo o seu ponto de vista mas achando-o um pouco injusto face ao trabalho que foi feito.

Mas voltando ao cerne da questão, era notório que os elementos arbustivos que adornam o nosso adro e a nossa igreja, estavam numa situação de desmazelo, a reclamar uma intervenção de limpeza e poda. E aqui nem importa reclamar de razões ou atribuir culpas do desmazelo. Em última análise somos todos responsáveis. Por conseguinte, mesmo que possamos discordar de alguns aspectos, porque há sempre vários pontos de vista, e diferentes formas de intervir, e cada cabeça sua sentença, é de justiça valorizar o que foi feito, tanto mais, como no caso, com um propósito de melhorar e zelar.

Esperemos que de facto os arbustos regenerem, e deve haver algum cuidado na rega nestes meses de Verão, e se componham para voltarmos a ter um adro ajardinado de modo a que não desmereça a nós próprios, paroquianos, como a quem nos visita. O adro e envolvente da nossa igreja sempre foram um motivo de orgulho, um postal vivo, e para que isso se mantenha é preciso trabalho e dedicação. Ao longo dos tempos foram muitos. Ora as plantas também precisam de cuidados, quer na poda quer na rega e o abate ou cortes radicais e muitas vezes a sua substituição apenas por pavimentos, nunca serão boa solução a não ser por motivos maiores e devidamente justificados como doenças das plantas ou quando impeçam outras situações como circulação e acessos.

Em resumo, importa nestas como noutras coisas de interesse colectivo, haver discernimento, bom senso e razoabilidade e nunca decisões unilaterais, precipitadas e radicais que só contribuirão para desunir a comunidade. Ora o que importa verdadeiramente aqui, parece-me é unir, é congregar. Tudo o que for feito nesse sentido será sempre de enaltecer.