Pode ser apenas uma percepção minha, mas verifico, e não é naturalmente só no nosso município e nas nossas freguesias, que as autarquias gastam cada vez mais dinheiro em eventos notoriamente recreativos, em que se aliam a dita gastronomia, na forma popular de comes-e-bebes, com programas musicais, supostamente para todos os gostos mas tantas vezes sem gosto nenhum, mas de modo geral com grandes gastos. Para além disso, muito dinheiro dos escassos orçamentos são também canalizados como apoios para eventos desportivos, nomeadamente corridas, que agora são mais que as mães, msmo aquelas, quase todas, promovidas com fins lucrativos.
Admito e compreendo que o recreio, o lazer e a actividade desportiva são importantes e fundamentais, mas dá para perceber que começa a haver algum desequilíbrio entre as necessidades de pão e circo e outras que realmente melhoram o quotidiano e as condições de vida das pessoas, nomeadamente ao nível das nossas estradas, equipamentos, apoios sociais, etc.
Veja-se, ainda agora a Câmara Municipal de Arouca vai gastar, creio que li ou ouvi, 400 mil euros, para as Feira das Colheitas que terão lugar neste próximo fim-de-semana. Todavia, e como paradoxo, eu que percorro de carro e bicicleta muito desse belo concelho, há ainda estradas que são óptimos caminhos de cabras, por isso em muito mau estado e ainda com redes públicas de águas e saneamento a não chegar a grande parte das fregusias. Por conseguinte, poupa-se na requalificação de estradas mas traz-se à praça uns tais de Calema, Pedro Mafama e outros. O povo até é chamado a escolher os artistas, por isso tudo muito democrático.
Claro que Arouca aparece aqui como mero exemplo, porque cá pelo nosso concelho a coisa não fica por menos, nem nos demais. Todos tendem a copiar e aplicar a receita porque hoje em dia estas coisas têm repercussões nos mídia e redes sociais. Justificam-se com um certo senhor "retorno económico" mas na realidade é daquelas coisas que se atiram para o ar porque regra geral esse senhor fica-se por um grupo priveligiado de grupos e empresas que acedem a esses espaços. No geral, no bolso das populações, não cai um cêntimo que seja desse "senhor retono".
Mas é isto e é assim porque, percebem os diferentes autarcas, são medidas populares, popularuchas e com elas ganha-se simpatia e depois os votos quando chegar a hora. Por conseguinte, a velha fórmula do tempo dos romanos de manter a populaça satisfeita ainda reside no pão e no circo. Ontem como hoje as coisas pouco mudaram a este nível.
Em resumo, tudo é importante, incluindo o pão e o circo, e também gosto, mas importa que as autarquias não padeçam da tentação do desequilíbrio e gerando paradoxos, ficando-se apenas pelo que é popular. Esse equilíbrio não é fácil, pois não, mas na dúvida ganha o que em cada momento parecer mais popular.