24 de janeiro de 2025

Ver da bancada

O problema não é só em Guisande porque constato que o défice é geral. Efectivamente, de uma grande maioria de pessoas, não só jovens como adultos e até muitos bastantes já seniores, que vão estando pelas redes sociais, em tal número que quase podemos dizer como suficientemente representativos das próprias freguesias, o certo é que as suas participações raramente têm um cariz de intervenção cívica. A participação é quase toda no plano pessoal, recreativo e raramente num sentido comunitário.

Deste modo, os temas partilhados, quase sempre, e suscitados, raras vezes, andam mais ou menos à volta dos nossos umbigos, das nossas coisas pessoais. Tudo legítimo, mesmo que a mais básica banalidade, mas que em nada concorrem para um nível mais participativo, de cidadadania.

Parece-me que esta realidade acontece porque partilhar a banalidade e coisas fofinhas, a meter cães, gatos, passarinhos e flores, raramente causa ondas de choque. Ao contrário, levantar uma questão, dar opinião ou até contrariar ou criticarm algo ou alguém, mesmo que num sentido positivo, pode levar, mais que concordâncias e elogios, a reacções negativas e até mesmo, tantas vezes, contundentes e ofensivas.

Não surpreende, por isso, que a maioria dos utilizadores das redes sociais se fiquem pelas coisas fofinhas.

Ainda por estes dias, a propósito de um tema deveras importante, como o da desagregação ou não das uniões de freguesias, foram poucos os que nas redes scoais vi escreverem opinião própria, e mesmo quanto a reacções a algo dito ou escrito por terceiros, também foram pouco significativas.

O que é que isto quer dizer? Precisamente o que atrás considerei, no geral ninguém se quer incomodar ou marcar posição, uns apenas porque sim, outros apenas por calculismo e num certo jeito de se procurar estar de bem com Deus e com o diabo.

É pena que seja assim, porque no geral mostra o nível ou qualidade da nossa forma de estar em comunidade de nela participar. Somos, no geral, gente que se limita a ver no conforto da bancada o que outros, na praça ou na arena, entendem como dever de ter e marcar posição. Não é, pois, um bom sinal quanto à qualidade de escrutínio e de participação em coisas que a todos dizem respeito.

Para finalizar a reflexão, indiquei como exemplo a questão do processo de desagregação das uniões de freguesias. mas naturalmente este nosso défice de quantidade e qualidade de participação no espaço público, estende-se a muitos outros temas, políticos, sociais, culturais, etc, que dizem respeito a todos. 

Em resumo, no geral somos pouco ou nada interessados pelas coisas que a todos dizem respeito, como se nada seja connosco mas apenas com os outros.