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6 de junho de 2023

Festa em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António - Cartazes e programas

Os cartazes desempenham um papel significativo na divulgação de eventos, pois são uma forma eficaz de transmitir informações e atrair a atenção do público que se pretende cativar. Eles podem ser encontrados em sítios estratégicos, como ruas movimentadas, universidades, escolas, cafés, espaços comerciais e outros pontos frequentados pelo público em geral.

Os cartazes podem reunir em si mesmos diferentes aspectos mas ligados entre si, nomeadamente:

1. Visibilidade: Os cartazes têm o potencial de alcançar um grande número de pessoas, especialmente quando são colocados em locais estratégicos. Quando visualmente atraentes podem cativar a atenção das pessoas que passam por eles, aumentando a visibilidade do evento.

2. Informação rápida: Os cartazes fornecem informações essenciais sobre o evento, como data, horário, local, programa, ingressos e outras informações relevantes. Essas informações podem ser transmitidas de forma clara e concisa, permitindo que as pessoas tenham uma compreensão imediata sobre o que está acontecendo.

3. Apelo visual: Um cartaz bem projetado pode ter um impacto visual significativo. Elementos gráficos, como cores vibrantes, imagens cativantes e tipografia atrativa, podem despertar o interesse do público e criar uma conexão emocional com o evento. Um design atraente aumenta as possibilidades de as pessoas pararem e lerem o cartaz.

4. Alcance: Os cartazes têm a capacidade de alcançar pessoas que talvez não estejam ativamente procurando informações sobre eventos. Ao contrário de outras formas de divulgação, como anúncios na internet ou nas redes sociais, os cartazes podem chamar a atenção de pessoas que estão passando pelo local, mesmo que elas não estejam especificamente procurando por eventos.

5. Tangibilidade: Os cartazes são materiais físicos que as pessoas podem tocar e ver de perto. Isso dá uma sensação tangível ao evento e pode criar uma sensação de urgência ou importância. As pessoas podem tirar fotos dos cartazes e elas próprias tornam-se divulgadoras ao partilharem essas informações nas redes sociais ou até mesmo colecioná-los como lembrança, o que ajuda na promoção de pessoa a pessoa.

6. Segmentação: Os cartazes podem ser direcionados a públicos específicos com base no local onde são colocados. Por exemplo, se um evento é voltado para estudantes universitários, os cartazes podem ser exibidos nas áreas próximas às universidades. Essa segmentação geográfica ajuda a atingir o público-alvo com mais precisão.

7. Custo-benefício: Comparado a outras formas de publicidade, como anúncios de televisão, rádio ou online, a produção e a distribuição de cartazes podem ser relativamente acessíveis. Isso os torna uma opção viável para eventos de diferentes tamanhos e orçamentos.

Apesar de todas estas considerações positivas sobre os cartazes em suporte de papel, no entanto, é importante considerar que no mundo digital de hoje eles não devem ser a única forma de divulgação de eventos. A combinação de estratégias de marketing online e offline pode ajudar a maximizar o alcance e a eficácia da divulgação. As redes sociais, sites, e-mail marketing e outros meios digitais podem complementar os esforços de divulgação dos cartazes, alcançando um público ainda mais vasto. Claro está que nem sempre as organizações, sobretudo amadoras e ad-hoc, estão capacitadas ou sensibilizadas para estes esforços e técnicas de divulgação, mas quando sim os resultados podem ser interessantes.

Neste contexto de importância, também nas festas ou romarias locais que por todo o país decorrem ao longo do ano, os cartazes desde há muito que são elementos fundamentais e por isso assumem-se já como meios com uma características de tradição associadas a cada evento. É certo que até há poucos anos não se dava grande importância aos aspectos de design e arte, características que devem fazer parte de um bom cartaz, mas com o crescimento e generalização dos meios tecnológicos ao nível da edição e da impressão, os cartazes têm vindo a tornar-se não só veículos de informação como também de arte gráfica.

Por conseguinte, os aspectos associados à imagem de um evento têm vindo a ganhar extrema importância, tanto nos cartazes como no desenvolvimento dos elementos e simbologia associados, como logotipos, etc. Há, de resto, eventos que já promovem concursos para a elaboração do design dos cartazes, como é bom exemplo a popular Festa da Senhora da Agonia, em Viana do Castelo, mas várias outras. Por outro lado, dentro dessa lógica do cartaz enquanto elemento importante e de arte, são frequentemente motivo de arquivo e exibição em exposições, retratando épocas, estilos e tendências gráficas.

No que toca à nossa festa em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António, popularmente entre nós designada de Festa do Viso, infelizmente nunca houve por parte da paróquia nem das diferentes e sucessivas comissões de festas, nem a tradição nem a organização, nem a sensibilidade de arquivar exemplares dos diferentes cartazes que têm sido produzidos ao longo dos tempos. Uma pena!

Resulta desta situação, que em rigor não existe qualquer arquivo. Podem existir por aí, eventualmente na posse de alguns ex-festeiros, um ou outro exemplares dos anos em que realizaram a festa, mas de forma sequencial e organizada nada existe. A partir da altura em que se generalizou o uso de máquinas fotográficas digitais, telemóveis com câmara e ainda as ferramentas electrónicas como a internet e redes sociais, tornou-se possível a divulgação dos cartazes das diferentes edições da festa e daí, com maior ou menor dificuldade, é possível repescar as imagens de alguns cartazes, mas fora isso, em suporte papel é tarefa quase impossível.

Posto isto, deixamos de seguida alguns cartazes da nossa Festa do Viso, do que foi possível "pescar", e expressa a vontade e o propósito de aqui ir publicando o que de futuro for produzido. 

Dos que lerem este artigo e tiverem conhecimento da existência de antigos cartazes, agradeço que me façam chegar essa informação para aqui partilhar.


Cartaz da edição de 1949

Este será o cartaz mais antigo conhecido da nossa festa. Não tem indicado o ano, mas pela pesquisa da data e cruzamente de informações sobre alguns elementos participantes, nomeadamente a extinta Banda dos Bombeiros Voluntários de Vila da Feira, será legítimo considerar que será referente ao ano de 1949.

Importa referir que este tipo de cartaz, apenas com informação escrita e normalmente em papel colorido com texto a preto, e de reduzido formato, era o tipo corrente e em uso por essa época.  Nas décadas seguintes houve uma evolução tanto no tamanho do cartaz como no grafismo mas a introdução de imagens e sobretudo coloridas, só se começou a generalizar a partir da década de 1980.


Programa da festa - Edição de 1982

Contas da festa na edição de 1982


Programa e contas - Edição de 1983



Programa de 1984


Contas da festa de 1984



Programa da festa - Edição de 1985

Programa de 1988 
Em 1988 a grande atracção do cartaz musical foi a artista ANA

Programa em 1989 
Foram festeiros Arménio Costa, Delfim Henriques, Manuel Sousa e António Costa. Quanto ao cartaz muscal marcaram presença no Sábado o Conjunto Típico "Irmãos Leais". No Domingo houve folclore. Na Segunda-Feira programa de variedades com os artistas Nelo Silva, Fernanda Paula e outros.


Contas da festa de 1989



Programa em 1991
Neste ano foram festeiros Manuel Tavares, Alcino Alves, César Santos e Rui Giro.
Do cartaz musical participaram no Sábado o conjunto típico "Gaivotas do Sousa". No Domingo actuaram a Banda Musical de Angeja - Aveiro, o Rancho Folclórico de S. Romão do Coronado - S. Tirso, e o Danças e Cantares de S. João de Ver. Na Segunda-feira o destaque para o cantor TOY, antecedido da actuação do duo Tony Lemos e Marlene, que vieram anos mais tarde a fazer parte da banda "Santa Maria".


Programa da festa - edição de 1992


Programa da festa - 1993


Cartaz da edição de 1996


Cartaz da edição de 1998


Cartaz da edição de 1999


Cartaz da edição de 2003

Cartaz da edição de 2004

Este cartaz refere-se ao ano em que fiz parte da Comissão de Festas. Foi elaborado pela própria Comissão.

Cartaz da edição de 2005


Cartaz da edição de 2006

Cartaz da edição de 2008


Cartaz da edição de 2009


Cartaz da edição de 2010


Cartaz da edição de 2011

Nota: Este cartaz foi por mim desenvolvido a solicitação da Comissão de Festas. Não sendo nada de extraordinário, não deslustrou e marcou um ponto de viragem na importância estética dos cartazes. Já anteriormente, em 2004, quando fiz parte da Comissão de Festas, também elaborei o cartaz.

Cartaz da edição de 2012

Cartaz da edição de 2013

Cartaz da edição de 2014


Cartaz da edição de 2015

Cartaz da edição de 2016



Cartaz da edição de 2017


Cartaz da edição de 2018


Cartaz da edição de 2019


"Santinho" da edição de 2020 que, tal como a de 2021, não se realizou devido às contigências da pandemia Covid 19, situação que naturalmente suspendeu a organização de muitas festas similares por todo o país.


Cartaz da edição de 2022



Cartaz oficial da edição de 2023


Cartaz não oficial -  Edição de 2023

Cartaz oficial da edição de 2024


27 de novembro de 2022

Raimundo José da Fonseca, meu bisavô materno



Raimundo José da Fonseca, era meu bisavô materno. Nasceu em 17 de Outubro de 1884 e faleceu em 17 de Novembro de 1929, muito jovem, apenas com 45 anos.

Era filho de António José da Fonseca e de Maria de Oliveira, meus trisavôs maternos, ambos do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz.

Por sua vez, era neto paterno de Manuel José da Fonseca e de Margarida Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira da Silva e Ana Maria d´Oliveira (todos estes meus tetra-avôs maternos)

Tinha 22 anos quando casou em 9 de Maio de 1907, com Margarida da Conceição  (minha bisavó), esta filha de António Caetano de Azevedo e de Maria da Conceição, do lugar das Quintães - Guisande. Tinha 21 anos quando casou.

Este meu bisavô, tal como o seu pai,  era um afamado mestre canteiro (oficial de pedreiro) e pela nossa região são várias e autênticas pérolas de granito rendilhadas por si e por alguns familiares que com ele trabalhavam. 

Em Guisande é conhecida a capela mortuária da família da Casa do Moreira, do lugar da Igreja e ainda o mausoléu  da família do meu avô paterno. Mesmo na sacristia da nossa igreja a bonita fonte ali existente é de sua autoria.

Nas imagens abaixo, o mausoléu no cemitério em Guisande, com a imagem em mármore de Nossa Senhora e ainda um de características similares, existente no cemitério de Fermedo - Arouca, embora este com a imagem alegórica  da Saudade. 

Ainda na nossa região, são várias as alminhas por eles lavradas.

19 de outubro de 2022

Fonsecas de Cimo de Vila

 



A minha mãe, Eugénia, é filha de Américo José da Fonseca, de Cimo de Vila, e de Lúcia Alves, do Outeiro. 

Quanto à sua mãe, minha avó, Lúcia Alves Moreira, faleceu quando ela era ainda tenra criança. Já o seu pai, meu avô,  nasceu em Março de 1919 e faleceu em Julho de 2001, sendo um dos vários filhos de Raimundo José da Fonseca (meu bisavô), do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, e de Margarida da Conceição (minha bisavó), do lugar das Quintães da freguesia de Guisande. 

Este meu bisavô materno, Raimundo José da Fonseca, nasceu em 17 de Outubro de 1884 e faleceu em 17 de Novembro de 1929, muito jovem, apenas com 45 anos.

Por sua vez, era neto paterno de Manuel José da Fonseca e de Margarida Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Ferreira da Silva e Ana Maria d´Oliveira (todos estes meus tetra-avôs maternos)

A minha bisavó materna era filha de António Caetano de Azevedo e de Maria da Conceição, do lugar das Quintães - Guisande. Quando casaram em 9 de Maio de 1907 ele tinha 22 e ela 21 anos de idade.

O meu bisavô Fonseca trabalhava com o pai e com alguns irmãos, sendo  afamadas mestres e oficiais de pedreiro e cantaria, tendo realizado em vários locais diversas obras de cantaria e escultura da mais fina traça. Terá sido ele a realizar a fonte existente na sacristia da nossa igreja matriz bem como a capela mortuária da Casa do Moreira, existente no nosso cemitério e ainda o jazigo de meus avôs paternos, com uma imagem de Nossa Senhora esculpida em mármore sob uma espécie de capela em granito assente em quatro colunas. Similar a este modelo tem de sua autoria um trabalho no Cemitério Paroquial de Fermedo - Arouca.

Naturalmente que tenho muitas memórias dos tempos de criança ligadas a este ramo familiar materno e por conseguinte ao lugar de Cimo de Vila onde tinham casa a minha bisavó - que depois passou para a filha Laurinda - o meu avô e o irmão deste, o Joaquim, cuja casa acima está na fotografia.

Esta casa, ali à face da Rua de Cimo de Vila, está naturalmente velhinha, mas dela tenho várias e boas memórias porque por lá passei muito tempo da minha infância, já que a minha mãe, presa aos trabalhos da casa e do campo, e por essa altura já com três filhos pequenos (eu, o meu irmão mais velho, o Joaquim, e o Manuel, que me segue na idade), deixava-nos ela entregues à minha bisavô Margarida e muitas vezes às suas primas, que ali naquela sua casa trabalhavam como costureiras. Recordo-me, pois, de muitas vezes ali subir à parte de cima daquela espécie de torre e passar as horas entretido a brincar com paninhos e botões e a desfolhar revistas da Crónica Feminina ao som de um pequeno rádio.

Não raras vezes, acompanhava a Ti Ilda Fonseca, prima de minha mãe, bem como a minha bisavó, a que chamávamos mãe Guida, ao Souto D´Além, já a caminho de Cimo de Aldeia - Louredo, onde enquanto apanhavam tojo e carqueja eu brincava  a construir casinhas de pedras e musgo. Outro sítio recorrente de brincadeiras infantis, era o campo da porta e na eira ali bem junto àquele canastro do lado sul da casa. A marginar esse campo, existia um rego que pelo Verão trazia a água da abundante fonte de Cimo de Vila, onde eu montava rodízios de bugalhos e largava barquitos de papel que acompanhava como timoneiro atento já quase até à descida para as Barreiradas, quando o dito "rio" dobrava o muro da Cancela que acompanhava.

Claro está que o largo fronteiro, era palco de habituais brincadeiras e chutos na bola com vários rapazes do lugar, e toda aquela zona envolvente, com a tal casa das primas de minha mãe, a do meu avô e a da minha bisavó, e ainda o amplo campo da Cancela, onde os meus pais também tinha uma parte por herança, eram no conjunto uma espécie de presépio bucólico e do qual tenho fortes lembranças, mesmo que já gastas pelo tempo, tal como a casa.

Muitas coisas mudaram de lá para cá por parte desta cepa de Fonsecas. Faleceu a minha bisavó (já era eu adolescente), o meu avô, os meus segundos tios, a Laurinda Fonseca e o marido Alexandre, e antes deles o Joaquim Fonseca e a esposa Albertina e já alguns filhos destes como o Hilário e o Alexandrino e mais recentemente a Conceição e a Alzira (esta há poucas semanas). Desse ramo dos Fonsecas de Cimo de Vila ainda andam por cá a Ilda, a Celeste, a Idília, a Madalena e o Abel - julgo não ter esquecido mais alguém - , todos irmãos, primos de minha mãe, por isso meus segundos primos. De todos os Fonsecas de Guisande, têm ali em Cimo de Vila a sua origem.

Somos oito irmãos e nem todos ficaram com o apelido de Fonseca. Pela minha parte herdei-o logo a seguir ao nome. De resto, Américo Fonseca, como o meu avô materno e também meu padrinho.

Somos, pois, Fonsecas, com raízes conhecidas em Romariz, porventura mais além, mas os apelidos são como os pássaros, andam por aí de lado para lado, sem poiso certo mesmo para fazer o berço dos filhotes. Uma vezes, como as andorinhas, até regressam ao mesmo ninho, outras vezes, na maior parte delas, vão e não voltam.

As memórias, essas também parecem ter asas e permitem-nos voar e ver as coisas de cima, como uma velha casa, um largo, um lugar. Cerrando os olhos, avivando a chama das memórias, ainda será possível ouvir crepitar na fogueira do tempo, por ali, naquele lugar, os gracejos e algazarras da criançada, que por esse tempo em Cimo de Vila era em mais quantidade do que agora em toda a freguesia. Outros tempos, naturalmente.

Se recordar é viver, também é voar sobre as velhas memórias.

17 de agosto de 2022

Dia de S. Mamede, nosso padroeiro

 


É já hoje, 17 de Agosto, o dia de S. Mamede, padroeiro da nossa paróquia. Sem pompa nem circunstância, mas com celebração condigna, logo teremos missa pelas 19:30 horas na igreja matriz. Seguir-se-á uma singela procissão à volta pelo percurso habitual (pelo adro e alameda).

Dizem os mais antigos que noutros tempos já houve por cá festa de arraial dedicada ao padroeiro, mas pessoalmente, não tenho memória dela. De resto, no que é uma singularidade, as festas populares com invocação de santos ou de Maria nas suas diferentes facetas, muitas vezes deixam os padroeiros de fora. Mesmo cá pelas redondezas, algumas têm tido períodos de paragem e outras são festas menores quando comparadas com demais festas nas próprias freguesias. 

Até mesmo na nossa freguesia, já tem havido procissões na Festa do Viso sem a sua presença, no que, naturalmente, é sempre de lamentar. No mesmo sentido de nem sempre se dar importância à importância, mesmo neste ano, incompreensivelmente, um santo com devoção e tradição na freguesia, o mártir S. Sebastião, não tomou parte na procissão da nossa maior festa. Soubesse disso, com tempo, e seria eu próprio, ou com mais alguém, a garantir a sua participação. Mas, adiante.

A ilustrar este artigo, deixo a reprodução do painel de azulejos existente no lado norte da torre da nossa igreja. Foi pintado a partir da imagem original existente à esquerda (de quem olha) do altar-mor. 

Este painel, com as dimensões de 1,26  x 0,84 m, composto por 54 azulejos (9 x 6) foi mandado fazer pelo então pároco Pe. Francisco Gomes de Oliveira à Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, no ano de 1949, tendo então custado 650 escudos.

9 de agosto de 2022

A capela do Viso e outras memórias


Costumo dizer que, até ter casado, eu não ia à Festa do Viso; eu estava na Festa do Viso, já que ali nasci e cresci, mesmo encostadinho à capela e ao arraial. Por conseguinte, são muitas e remotas as memórias ligadas à festa, àquele bonito lugar e aos pormenores e singularidades de outros tempos, que naturalmente foram mudando com o correr dos anos. A própria fotografia, acima, de 1969, evidencia algumas coisas mudadas, sobretudo as árvores, as acácias, que já desapareceram.

A capela, é certo, continua imutável no mesmo sítio, desde que foi edificada por 1869, mas também ela foi sofrendo obras, sobretudo de conservação, umas mais ligeiras, outras mais profundas. Estas, as mais significativas, do que tenho memória ocorrerem em 1969, à passagem do centenário da edificação, com obras de decoração interiores, de trolharia, carpintaria, pintura e douramento os altares, requalificação do tecto e aplicação de azulejo na fachada principal incluindo o revestimento da fachada princiapl com azulejos em tom creme e integrando painéis das figuras da Senhora da Boa Fortuna e de Santo António, e ainda a construção do arco sineiro. 

Mas também, quanto a obras profundas, mesmo estruturais, mais tarde, em 2003, foi feita a requalificação ou mesmo substituição total da cobertura e destapamento do pavimento em soalho ficando com o interessante pavimento original em lajes de pedra do Monte de Mó. Ainda a reformulação do coro e construção de escada interior, facilitando o serviço. De registar melhoramentos como a instalação de bancos, a colocação do relógio com amplificação, etc.

Depois disso foram sendo dadas umas pinturas ligeiras, ainda o levantamento do arco sineiro para acomodar o automatismo dos toques, mas o certo é que neste momento a capela está de novo a precisar de obras de conservação, sobretudo ao nível das vedações na cobertura e nos rebocos interiores, que se apresentam vergonhosamente em mau estado e aspecto.

Para além das intervenções na capela propriamente ditas, ao longo dos anos, também a sua envolvente foi sendo mexida, com a realização de passeio cimentado e uma parte em calçada de pedrinha de calcário e basalto, mas certo é que ainda continua sem dispor de uma envolvência requalificada com uniformidade e dignidade. É um caminho que falta percorrer.

Ate mesmo o próprio monte ou arraial, depois das obras de transformação durante os anos 90 e seguintes, continua ainda a carecer de melhoramentos. A calçada frontal à capela e guias delimitadoras estão em mau estado, sobretudo decorrente do crescimento das árvores e respectivas raízes. Ainda o parque de merendas que continua bruto e com desorganização de árvores e arbustos. Enfim, não faltam motivos e pretextos para realizar obras de requalificação e melhoramentos. Haja o que não tem havido, vontade e dinheiro.

Ainda sobre a capela, sua construção e obras que foram sendo feitas ao longo da sua existência, não há nada de documental ou escrito sobre isso e que o possa comprovar, mas por uma série de indícios, acredito que é possível que a parte onde se desenvolve a sacristia, do lado, poente, foi um acrescento à configuração original, por isso acrescentada passados uns anos. Assenta esta minha hipótese pelo facto deste elemento ter molduras dos vãos exteriores com diferenças notórias bem como ainda a sua cobertura original ser formada por laje em cimento ao passo que os dois corpos principais da capela, a nave principal e a capela-mor foram realizados com estrutura em madeira. Por outro lado este elemento parece não respeitar a configuração simétrica dos corpos principais.

Importa também acrescentar que há outros elementos que não foram edificados aquando da construção original. Por exemplo, o púlpito, integrado do lado norte, tem a data de 1907, o que comprova que foi acrescentado passados trinta e oito anos da data original que foi em 1869, esta inscrita sob o arco-cruzeiro.

Também a sineta, como já falamos por aqui, originalmente não estava na posição onde agora se encontra. A sinete foi moldada e instalada no ano de 1874, por isso volvidos cinco anos da construção da capela. E foi instalada sensivelmente a meio do telhado, sendo accionada manualmente por  um sistema de arames a partir da parte da sacristia que dá apoio à Comissão de Festas. Apenas aquando das obras de 1969 é que foi construído o actual arco encimado por uma cruz e onde foi então mudada a sineta e, numa opção lamentável, foi pintada num tom vermelho carmim, no que lhe retirou qualidade na vibração, por isso com um toque choco. Ainda mais tarde, em 2016, esse arco foi levantado  de modo a que fosse instalado o sistema de toque mecânico.

Já pelos anos 70, ao arco sineiro foram afixadas umas três cornetas (altifalantes) para propagar o toque do relógio então instalado na sacristia, o qual ainda hoje funciona. Actualmente já não fará sentido o funcionamento e a função de tal relógio, que bate a cada quarto de hora, bem como as cornetas que são apêndices que desfeiam o arco sineiro, mas por lá vão estando.

Foi pena que nas obras posteriores, nomeadamente em 2003 quando se procedeu à reformulação da estrutura da cobertura e reconstrução do coro, não se tivesse desmontado este sistema ou pelo menos mudado as cornetas para um local com menos impacto visual, eventualmente na zona mais central da cobertura. Em todo o caso, como se disse, este relógio sonoro toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento e já há muitos anos que é companhia de quem vive a contar as horas.



Sineta com a data de 1874 e as iniciais NSBF - G (Nossa Senhora da Boa Fortuna - Guisande)



Sineta com o sistema de accionamento mecanizado



Foto com a sineta pintada (obras de 1969)


Aspecto da capela aquando do início das obras de 2003



Aspecto da capela (vista nascente) depois das obras de 2003