9 de agosto de 2022

A capela do Viso e outras memórias


Costumo dizer que, até ter casado, eu não ía à Festa do Viso; eu estava na Festa do Viso, já que ali nasci e cresci, mesmo encostadinho à capela e ao arraial. Por conseguinte, são muitas e remotas as memórias ligadas à festa, àquele bonito lugar e aos pormenores e singularidades de outros tempos, que naturalmente foram mudando com o correr dos anos. A própria fotografia, acima, de 1969, evidencia algumas coisas mudadas, sobretudo as árvores, as acácias, que já desapareceram.

A capela, é certo, continua imutável no mesmo sítio, desde que foi edificada por 1859, mas também ela foi sofrendo obras, sobretudo de conservação, umas mais ligeiras, outras mais profundas. Estas, as mais significativas, do que tenho memória ocorrerem em 1969, à passagem do centenário da edificação, com obras de decoração interiores, de trolharia, carpintaria, pintura e douramento os altares, requalificação do tecto e aplicação de azulejo na fachada principal incluindo os paineis das figuras da Senhora da Boa Fortuna e de Santo António, e ainda a construção do arco sineiro. 

Mais tarde, em 2004, com a requalificação da cobertura e destapamento do pavimento em soalho ficando com o interessante pavimento original em lajes de pedra do Monte de Mó. Ainda a reformulação do coro e construção de escada interior, facilitando o serviço. De registar melhoramentos como a instalação de bancos, a colocação do relógio com amplificação, etc.

Depois disso foram sendo dadas umas pinturas ligeiras, ainda o levantamento do arco sineiro para acomodar o automatismo dos toques, mas o certo é que neste momento a capela está de novo a precisar de obras de conservação, sobretudo ao nível das vedações na cobertura e nos rebocos interiores, que se apresentam vergonhosamente em mau estado e aspecto.

Para além das intervenções na capela propriamente ditas, ao longo dos anos, também a sua envolvente foi sendo mexida, com a realização de passeio cimentado e uma parte em calçada de pedrinha de calcário e basalto, mas certo é que ainda continua sem dispor de uma envolvência requalificada com uniformidade e dignidade. É um caminho que falta percorrer.

Ate mesmo o próprio monte ou arraial, depois das obras de transformação durante os anos 90 e seguintes, continua ainda a carecer de melhoramentos. A calçada frontal à capela e guias delimitadoras estão em mau estado, sobretudo decorrente do crescimento das árvores e respectivas raízes. Ainda o parque de merendas que continua bruto e com desorganização de árvores e arbustos. Enfim, não faltam motivos e pretextos para realizar obras de requalificação e melhoramentos. Haja o que não tem havido, vontade e dinheiro.

Já o tenho dito, quando participei na primeira Junta da União das Freguesias, fiz elencar como uma das obras de charneira em Guisande, a requalificação da zona do parque de merendas e envolvente da capela. Infelizmente, como quem não manda não pode, a juntar às dificuldades financeiras herdadas da transição, e com pouca ou mesmo nenhuma vontade política de quem na realidade mandava, incluindo a Câmara Municipal, a coisa passou, como tantas vezes acontece, como uma mera promessa eleitoral não cumprida. Depois disso veio mais um mandato de quatro anos e o assunto continuou na gaveta e a não merecer qualquer interesse e nem mesmo a limpeza regular do espaço foi assegurada, apenas pautada pelo calendário dos eventos. Entretanto o tempo avança e um terceiro mandato já está quase a completar um ano de quatro.

Apesar dessa minha incapacidade, porque apenas um mero vogal, penalizo-me por isso, é por essas e por outras, por não sermos tomados em conta ou até mesmo desconsiderados, que somos levados à desmotivação quanto ao continuar a dar tempo e dedicação à cidadania. Mas, adiante, até porque já correu muita água sob a ponte da Lavandeira.

Tenho esperança que a actual Junta ali faça qualquer coisa de relevante, sabendo que as pedras no sapato são muitas, mas pelo menos nota-se em quem dela faz parte, sobretudo do seu presidente, um maior interesse e abertura a fazer ali obras.

Resumindo  há tanto a escrever sobre a capela e monte do Viso, e mesmo das memórias relacionadas à festa, que espero, de algum modo vir a incluir algumas delas no meu futuro livro de apontamentos sobre a freguesia.