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26 de abril de 2020

Chapeladas


Abstenho-me de comentar a colocação de coroas de flores pelas Juntas de Freguesia nos cemitérios, desde logo porque considero que o encerramento de cemitérios, sobretudo em pequenas aldeias, é um exagero exagerado, não obstando à importância do cumprimento de regras básicas. 

Em todo o caso, porque me parece que de um modo geral as Juntas estão desaparecidas em combate, pelo menos aqui em Guisande não se dá por ela quase há três anos, também se poderia pensar em colocar coroas fúnebres em muitas das nossas ruas, autenticamente mortas, tal é o seu estado de degradação. Mesmo em Gião, hoje passei pela Rua das Cavadinhas e ontem na Costa Má, no Vale, pela Rua da Fonte, e parece-me mau de mais, mesmo considerando que estamos em quarentena. Definitivamente, de um modo geral o conceito de Uniões de Freguesias está a precisar de ventiladores ou mesmo de uma coroa fúnebre na porta de cada sede.

Mas isto sou eu, o Chapeleiro Louco a exagerar, porque nada disto parece ser verdade e na Rua do Outeiro acabei de passar pelo Gato de Cheshire enquanto vou a caminho de uma reunião com a Raínha de Copas.

23 de abril de 2020

Nem tudo bem, nem tudo mal, antes pelo contrário


Todos os dias lá temos a conferência de imprensa do Ministério da Saúde e da Direcção Geral da mesma. Não tarda, começará a haver apostas sobre os números a divulgar.

Para lá da questão dos números e das curvas, e porque os números são pessoas em concreto, pode-se ficar com a ideia de algum aligeiramento da gravidade da situação, mas há outras realidades que só se percebem por portas e notícias travessas. 

Como ontem se noticiava, de casos não ligados à Covid-19, terão morrido pessoas em número substancialmente superior se comparativamente aos números médios da mortalidade no país numa amostra entre 2009 e 2020. Os números relativos a Março deste ano, não contando com os referenciados à Covid-19, têm sido avassaladores e para o caso não contam os de acidentes de viação os quais têm reduzido. Nunca os seguros automóveis pouparam tanto.

Ora não é difícil perceber as causas nem é preciso ser-se doutor e especialista para as conclusões. Desde logo porque alguns, muitos, morrerão vitimados pelas consequências do vírus de que se fala, sem que a elas fique relacionado. Por outro lado, o sistema puxou demasiado o lençol para a cabeça e descobriram-se os pés, pelo que o nível geral de acesso ao sistema de Saúde e aos seus serviços decaiu sobremaneira, a ponto de a população por estes tempos não poder ficar doente. Cirurgias, análises, exames e consultas desmarcadas e adiadas. Uma deterioração geral da qualidade na Saúde, física e mental, incluindo a saúde oral, vacinação (ainda ontem se noticiava um retrocesso na vacinação de crianças, nomeadamente contra o sarampo), redução da prontidão e eficácia dos serviços de urgência. Recomendações para não se recorrer aos serviços de urgências, mesmo com casos de sintomas claros, etc, etc.

Em resumo, como diria alguém, as coisas por cá não estão bem nem mal, antes pelo contrário. Poderemos ter motivos para estarmos optimistas na evolução do controlo da pandemia, mas classificar a actuação do Governo como exemplar parece-me francamente exagerado, já não falando no tal "estamos preparados" que dele se ouvia com optimismo no final de Fevereiro e que se mostrou uma autêntica falácia e que de algum modo ilustra todo o actual contexto. Como um aprendiz de atirador, entre tiros nos pés e muitos ao lado, vai sendo tempo do Governo acertar alguns no alvo, mesmo que não se espere que no centro.

Depois há a questão de economia, mas essa é outra luta, sendo que ambas estão naturalmente ligadas.

A ver vamos.

21 de abril de 2020

Frei João de cravo na lapela


"Da imprensa: A líder parlamentar do PS,  defendeu hoje a importância reforçada de assinalar o 25 de Abril no parlamento em período de emergência, considerando que as críticas feitas têm uma motivação "ideológica" e não de defesa da saúde pública."

Perante tais considerandos de Ana Catarina Mendes (Ferro Rodrigues não diria melhor), não temos hipótese para com estes democratas. Basta-lhes colocar um cravo vermelho na lapela para que fiquem dotados de super-poderes, quais super-heróis detentores de toda a reserva da boa ideologia, a do lado certo da História. Os outros, os não alinhados, são todos uns arruaceiros, uns fascistas, ideologicamente impuros. 

Felizmente, podemos sempre optar entre o assistir à celebração e aos discursos sempre tão entusiásticos quanto previsíveis e o ir ao mato arriar o calhau, porque liberdade é também poder baixar as calças, não para gestos de subserviência, para tão fisiologicamente apenas cagar.

Deixem, pois, que o Frei João pregue aquilo que não toma como exemplo. Celebrações da Páscoa, missas, funerais, não? Celebrações políticas e revolucionárias, com políticos muito bem remunerados, com boas pensões, vitalícias, sim, concerteza!

19 de abril de 2020

A democracia é um canivete suíço.


Eu não sei se partidos e figuras como o CHEGA e André Ventura vão subir nas intenções de voto com o contexto da pandemia e das crises que dela já veio e virão. É assunto que me merece tanta preocupação como saber quem vai ser o campeão do nosso futebol. Mas sei, ou pelo menos parece-me na minha modesta opinião, que se sim, figuras e personalidades como as de Ferro Rodrigues têm dado um importante contributo. O homem tem feito pela vida para que cheguemos todos para lá.

Em todo o caso, como o recado que o nosso presidente da Assembleia da República não resistiu a dar a um representante do CDS, que se mostrava contrário à cerimónia presencial da celebração do 25 de Abril, é apenas a democracia a funcionar e  a cerimónia vai ter lugar, doa a quem doer, porque a maioria dos deputados assim o determinou. 

Nada, pois, a obstar. Afinal, Ferro Rodrigues, como Trump, Bolsonaro e outros que tais, podendo estar em lados opostos e com funções diferenciadas, são frutos da mesma democracia, na mesma dose de cretinice ou no mesmo extremismo. Como num canivete suíço, mostram diferentes garras mas acomodam-se todos, aconchegadinhos no mesmo corpo.

16 de abril de 2020

O que não precisamos é de Fest

Pode não ser pela cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, mas seguramente não será pela música a esmo nas redes sociais que lá vamos no combate à Covid-19. Chego a questionar se as rádios estarão fechadas em quarentena. 

Em todo o caso, ao contrário das referidas drogas, tal como as velhinhas pastilhas Melhoral, a música nas redes sociais não fará bem nem mal, antes pelo contrário.

Mais grave seria a TV Fest,  o festival da monumental estupidez, como o classificou o João Miguel Tavares. Felizmente foi cancelado. Houve pelo menos algum decoro, sendo que a nódoa lá ficou e custa a crer que no actual contexto tenha sequer sido equacionado gastar 1 milhão de euros com alguns artistas a dar-nos música.

Portugal inteiro


De algum modo procurando compreender quem não concorda, parece-me que esta história do norte e do sul, a propósito de um legenda infeliz por parte da TVI, que num trabalho jornalístico relacionou uma maior incidência de Covid-19 no norte de Portugal com uma população "com menor educação, mais pobre e envelhecida", tem de algum modo mostrado muito do que somos, uns exagerados, para o bem e para o mal, reagindo muitas vezes de forma desproporcional e num seguidismo de "a Maria vai com as outras". Porventura, digo eu, tendo sido infeliz, a TVI não merecia tanta importância e destaque.

Criticamos os países do norte da Europa por criticarem os do sul, por os catalogarem com o cliché de apenas gostarem de "siestas", vinho e mulheres, mas quando a coisa nos toca, lá vêm posições de críticas a Lisboa e ao sul, porque o norte é que trabalha, porque Lisboa é que gasta, mouros, corruptos, etc.

Em resumo, para além da gaffe da TVI, que por ela já pediu desculpas, parece-me que muitas das reacções de um modo geral se nivelaram por baixo, desde logo porque mesmo admitindo que o fez de forma infeliz e irreflectida e sem medir as consequências e devia saber que se vivem tempos em que um peidinho nas redes sociais se torna rapidamente num trovão seguido de tempestade da grossa, a TVI não representa, de todo, o sul nem o seu pensamento quanto ao norte. E nestas coisas de ofender gratuitamente, sem procurar expor posições fundamentadas e racionais, somos todos uns ases. Em suma, mesmo acreditando na boa fé da TVI, creio que se pôs a jeito e não havia necessidade. Mas também não foi caso para reacções tão fundamentalistas e agressivas.

Por outro lado, estas aparentes divisões, que não fazem qualquer sentido 900 anos depois do estabelecimento da nação por D. Afonso Henriques e sua prole, mostram que muita gente não reconhece de que massa se faz um país, mesmo que territorialmente pequeno como Portugal. São as suas diferentes idiossincrasias, as diversas culturas e delas as características próprias, moldadas por diferenças geográficas, em suma, a diversidade, que fazem a riqueza de um país, de uma nação. 

Andamos bairristicamente a cantar virtudes de cada uma das nossas pequenas aldeias, porque os de Guisande consideram-se diferentes e melhores do que os de Lobão, das Caldas e de Louredo, e vice-versa, e depois vimos para aqui com estas reacções despropositadas e mesmo desproporcionais que em muito desautorizam quem pretende falar com alguma moralidade.

Mas haja alguma tolerância porque é disto que a casa gasta, e num tempo propício à paranóia, estas quezílias servem para alimentar os fazedores de "memes" e frases feitas.

Somos todos Portugal e este é feito, se quisermos, por Norte mas também por Centro, Sul e Ilhas. Somos e devemos ser um Portugal inteiro!

15 de abril de 2020

Dançar conforme a música

De "uma falsa sensação de segurança", a uma "recomendação de uso geral".
Quando se pensava que o Governo só sabia dançar o "Vira", afinal parece que já sabe e recomenda a dança do "Fandango". Daqui a duas semanas já saberá dançar o "Corridinho". 
Quando a coisa terminar já será mestre em danças de salão.
Não havia necessidade, desde logo porque até qualquer leigo percebia que o uso da máscara generalizado era um aspecto positivo contra a propagação do vírus. Qual o preço desta teimosia e desacerto do passo?


11 de abril de 2020

Estamos preparados...

Título principal:
Num país de optimistas e num estado de prontidão, o Carlos Abreu é um desmancha-prazeres. 
Título alternativo ao título principal: A mania de não se dar crédito às vozes da oposição.
Título alternativo ao título alternativo: Todos calados, era uma virtude.

29 de Janeiro de 2020
"A ministra da Saúde, Marta Temido, assegura que os hospitais portugueses estão preparados para lidar com uma eventual epidemia de coronavírus e que a situação está a ser tratada de forma "tranquila, mas rigorosa"."

28 de Fevereiro de 2020
"A ministra da Saúde sublinha que o país está preparado para lidar com casos de Covid-19.
A ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou, esta quinta-feira, que um cenário semelhante ao de Itália, onde mais de 600 pessoas estão infetadas, “é bem possível que aconteça em Portugal” mas sublinha que o país está preparado, numa entrevista à Sic Notícias."

01 de Fevereiro de 2020
Carlos Abreu, deputado do PSD:
"Estamos preparados? Sim, tal como estávamos nos incêndios de 2017"
Ex-deputado do PSD critica a forma como Portugal está preparado para tratar um caso suspeito do novo coronavírus."

26 de Fevereiro de 2020
A diretora-geral da Saúde explicou na RTP os procedimentos em Portugal para dar resposta eficaz quando surgem casos suspeitos no país. Graça Freitas garante que os hospitais estão preparados para uma eventual escalada da epidemia.

02 de Março de 2020
O primeiro-ministro insiste que o Serviço Nacional de Saúde está preparado para "o pior cenário" que o Covid-19 apresente.

07 de Março de 2020
O primeiro-ministro, António Costa, garante que Portugal está preparado para o surto de coronavírus e reiterou a confiança no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e nos seus profissionais.

11 de Abril de 2020
Afinal não estávamos preparados mas pré parados. O recruta vai com o passo certo; O problema é o resto da companhia que vai com o passo trocado.

3 de abril de 2020

Pandemia e pandemónio

Concordando que esta é uma situação extraordinária, a que vivemos, não concordo de todo com a medida proposta pelo presidente Marcelo, com o apoio do Governo, quanto à libertação de mais de um milhar de reclusos, um eufemismo para prisioneiros. E não concordo, não por concordar com o André Ventura, mas por entender que isso pouco ou nada resolve quanto à questão da pandemia nos estabelecimentos prisionais. Os casos ali ainda são poucos e perfeitamente controláveis se desde logo forem tomadas as medidas adequadas, tanto à quarentena quanto à realização de testes de despistagem da doença, tanto nos reclusos como nos guardas e pessoal auxiliar.

É certo que imagino que as prisões estão sobrelotadas e não têm grandes condições, nomeadamente ao nível dos espaços sanitários, mas também não me parece que gente criminosa, condenada, tenha que ter condições de hotel de cinco estrelas quando a larga maioria dos portugueses, que vivem a sua vida honestamente, não têm.

Por outro lado, ainda, é sabido que uma larga maioria dos reclusos quando cumprem as penas e vão para a sociedade, ou por dificuldades objectivas de reinserção ou porque o mal lhe está no sangue e nos hábitos, acaba por voltar ao mesmo, ou seja, ao mundo da criminalidade, muitas vezes violenta. 

Assim, num contexto actual em que todas as forças da ordem e segurança públicas estão ocupadas no auxílio e controlo da pandemia da Covid-19, essa gente criminosa encontrará, querendo, caminho mais livre para fazerem o que bem sabem. E as notícias recentes dão conta de algum aumento da criminalidade e com o desemprego à porta e a natural perda ou baixa de rendimentos das pessoas, não surpreenderá que a coisa descambe no que a crimes, roubos e assaltos diz respeito.

Não posso, pois, concordar com esta medida. Que mais não fosse porque no outro lado, há vítimas dessa gente que agora se prepara para o regresso à liberdade, mesmo que supostamente um pouco condicionada e vigiada.

É, no meu entendimento, um aviso e um sinal de que o crime compensa. Vamos indo e vendo mas não auguro nada de bom neste aspecto e cada vez mais as vítimas são-no duplamente, às mãos dos criminosos e às mão do sistema que invariavelmente mostra-se fraco para com os fortes e forte para com os fracos.

30 de março de 2020

Que seja...

Isto não é coisa que agrade a todos, mas para muitos dos clubes da indústria do futebol profissional, sobretudo os que ganham milhões, pagam ordenados de milhões contratam e vendem por milhões, pagam comissões de milhões, de forma escandalosa e desproporcional à larga maioria dos comuns mortais, que têm que sobreviver com ordenados mínimos, o seu futuro é coisa que pouco me preocupe nesta crise global, de saúde e económica, chamada de Covid-19. 

Há males que vêm por bem e poderá ser uma oportunidade de ouro para descerem à terra e passar a ser normal que um futebolista ganhe o mesmo que um digno pedreiro, trolha ou funcionário da recolha do lixo. O clubismo não pode residir apenas pelo sucesso de supremacia de conquistas e títulos com base nos milhões. Se tiverem que recomeçar do zero e nivelando-se pelos demais, que seja.  A começar pelo meu clube.

26 de março de 2020

Carta bem fechada


Tempos houve em que as cartas eram como cofres, com as nossas intimidades fechadas e inacessíveis a olhares terceiros. É certo que dentro da fragilidade de um envelope de papel, mas tinha-se como adquirida essa segurança e privacidade. Confiava-se no carteiro como no padre na confissão ou no médico no consultório e a carta lá seguia, fosse perfumada para a namorada com promessas de amores, para familiares na labuta no estrangeiro, para filhos ou maridos na tropa, em paz ou guerra, para votos de feliz Páscoa e feliz Natal com o postal da praxe com coelhinhos e paisagens nevadas.

Mas nisto de escrever cartas e mandar correspondência, em suma a forma de comunicar, as coisas deram uma volta enorme e o que vai dando são os telemóveis, a internet e com ela os emails, whatsapps, redes sociais e outras que tais, mesmo que ainda continuem a circular cartas, mas na generalidade quase apenas com assuntos cinzentos, institucionais, de facturas de serviços e bens, dos bancos, dos seguros, etc.

Apesar disso, apesar de já quase ninguém usar o envio de carta no sentido clássico, e uma grande parte nem as saberá escrever, já não como no antigamente em que a vizinha iletrada pedia à vizinha com a quarta classe que lhe escrevesse uma carta para o marido algures no ultramar, mas por um analfabetismo disfuncional, há quem se arvore em escritor e mensageiro simultaneamente, e por estes dias, em que o mundo se debate com um ataque alienígena, o que não têm faltado são cartas abertas: ao Governo, ao Primeiro Ministro, ao presidente Marcelo, aos médicos, aos bombeiros, aos homens da recolha de lixos, etc, etc. É um fartote de cartas abertas, de envelopes sem selo, descoladas, escancarados com intimidades que se querem públicas e propagadas aos quatro-ventos. Umas de incentivo, mas muitas de crítica, porque nestas coisas somos todos bons treinadores de bancada. Devíamos ser todos professores porque somos manifestamente bons a dar lições.

Tempos estes em que já começa a fazer falta algum silêncio, alguma quietude, num desejo como em outros tempos se esperava pela Páscoa para saborear amêndoas ou pelo Natal para comer aletria.

25 de março de 2020

Indignações e indignidades

Indignamo-nos, todos, de casos "maregas", porque na essência está a premissa de sermos todos iguais, nos deveres e direitos, independentemente de raça, cor, credo, ideologias, etc. Mas depois, confrontados com o actual drama da pandemia Covid-19 à escala global, esses direitos, essas igualdades, parecem ir por água abaixo quando o critério para o auxílio e cuidados médicos, é, afinal, o critério da selecção natural, dando-se primazia do mais novo em detrimento do mais velho, do mais forte em desfavor do mais fraco. 

Não importa que um homem ou mulher de 65 anos, ou mais, tenham contribuído para o país e para o Estado, durante 40 ou 50 anos, começando a trabalhar ainda em criança, suportando dificuldades, ajudando a ultrapassar crises e desmandos de governantes, sem nada receber em troca, sem um único dia de baixa médica, sem uma despesa na faculdade, na formação académica ou profissional, ou no hospital. Na hora da verdade esse mesmo país, esse mesmo Estado, não lhe garantem uma cama, um ventilador. É triste e mesmo dramático, mas já é a verdade pura e dura em Itália, também aqui ao lado na Espanha e, oxalá que não, mas virá a sê-lo em Portugal. Uma espécie de eutanásia imposta.

Pelo menos que a hipocrisia de quem nos governa deixe cair a máscara e por mais dura que seja a realidade, saibamos quais as regras do jogo e com o que podemos contar numa sociedade de coisinhas politicamente correctas, muito "frasquinho de cheiro", polvilhada de susceptibilidades, mas que na hora do "mata-mata" revela que afinal, somos todos iguais, brancos ou pretos, mas diferentes e segregados no critério da puta-da-idade e das probabilidades de vida. Afinal pouco nos distingue da selva.

20 de março de 2020

Muitas cigarras e poucas formigas


Sem pretender fazer juízos errados e injustos, e por isso sem generalizar, mas apenas como uma reflexão, percebe-se que é em tempos de dificuldades e crises, como a que extraordinariamente vivemos, que vêm ao de cima os erros e más políticas, nomeadamente na gestão de muitas empresas e mesmo no plano familiar.

Veja-se, de modo particular, o sector do turismo, como hotelaria, alojamento local e muito do tecido da restauração: É sabido que nos últimos anos tem gozado de um crescimento muito positivo, quase exponencial, com casas e espaços constantemente cheios, quintas de eventos com marcações em lista de espera, e desse cenário idílico resultou um "boom" de oferta de alojamento, nomeadamente em cidades com peso histórico, como no Porto e Lisboa, mas um pouco por todo o lado, mesmo na nossa vizinhança. Qualquer pardieiro, mesmo que incaracterístico, era vendido como se um palácio fosse. Anda bem, porque muitos e muitos encontraram ali mais do que um complemento de rendimento. A onda era alta e todos aproveitavam.

Mesmo a folga para irmos de férias para o exterior era muita e veja-se os milhares apanhados um pouco por todo o mundo com este encerrar de portas global. Nas agências de viagens os balcões estavam sempre cheios, com gente a marcar, a marcar, a marcar. Gastar, gastar, gastar!

Enfim, muita gente e muitas empresas ganharam muito dinheiro. Mas agora que estamos a lidar com algo inesperado que está a afectar toda a economia e de modo particular o sector do turismo, é vê-los, empresários e empresas já aflitos a reclamarem rápidos apoios do Estado, aparentemente mostrando-se incapazes de suportar pelo menos um, dois ou três meses de inactividade.

De tudo isto, resulta que na generalidade tanto particulares como muitas empresas não têm sabido lidar com o tempo de vacas mais gordas a ponto de não serem capazes de acumular bases e economias que possam ser usadas em tempo de crise, como lastro em barco em mar agitado. Pelo contrário, é vida boa, à grande e à francesa e as "cigarras" da nossa sociedade gostam é do "dolce far niente". Ninguém gosta de ser formiga, pois não.

Infelizmente é o que temos e não me parece que esta mentalidade de gozar à tripa farra venha a mudar depois de alguma bonança da actual tempestade. Mas a oportunidade é de ouro para rever prioridades e valores.

16 de março de 2020

Paradigmas...


A maioria dos países, nomeadamente os europeus, afectados pela pandemia da Covid-19 tem mostrado dificuldades na obtenção de artigos e equipamentos aparentemente básicos, como máscaras, luvas, ventiladores, etc. É certo que é num contexto extraordinário, numa situação de procura superior à oferta, rompendo-se as reservas e a capacidade de resposta que parece ser insuficiente, mesmo admitindo-se que os picos de propagação ainda estão longe de serem atingidos, mas a verdade é essa.

Mas dá que pensar, que países, como os principais da Europa, já nem falando de potências como Estados Unidos, Rússia e China, tenham um arsenal militar de centenas de milhares de milhões, entre Exército, Força Aérea e Marinha, tanques, aviões, helicópteros, vasos de guerra e porta-aviões e não tenham essa capacidade para ter em reserva coisas tão importantes como as ligadas à Saúde.

Porventura este vendaval à escala global poderá ajudar no futuro próximo a definir prioridades, mas temo que logo que a coisa passe e deixe ser notícia tudo voltará à normalidade e aos mesmos jogos de guerra e às mesmas prioridades.

Talvez.

15 de março de 2020

O amanhã...


Concerteza que se há-de ultrapassar esta situação, mesmo que ainda com consequências imprevisíveis.

Mas depois dos escombros, será importante que se aproveitem as lições, os ensinamentos. Desde logo ao nível do sistema de Saúde, na preparação e num estado de permanente alerta e prontidão, de stock de produtos, acessórios e equipamentos bem como valorizar todos os profissionais.

Depois que as pessoas aprendam a valorizar ainda mais as questões de saúde pública, todos os procedimentos de limpeza, tanto na nossa casa, em contexto privado ou público.

Mesmo, sobretudo para a China, que tire lições de uma absurda cultura alimentar em que se come tudo o que mexe, num comércio sem mínimas condições de higiene e controle sanitários, com contacto permanente com a vida selvagem com todos os perigos de contágio decorrentes. A revolução moderna desta grande nação também deveria passar por aí, pela mudança de cultura da higiene e da alimentação segura..

Em suma, há tanto e tanto para aprender para que depois de mitigada a crise a sociedade e humanidade em geral saia mais forte e mais preparada mesmo que tenha, e terá seguramente, mais custos.

Por ora, para além das medidas que são vão tomando em Portugal e na Europa, mesmo em todo o mundo, surpreende-me que por cima do meu quintal continuem a sobrevoar a cada minuto aviões, trazendo gente que aterra sem qualquer controlo. Nestas coisas tende a haver sempre paradoxos e Portugal é fértil neles. Não bastou tomar medidas de encerramento de escolas e outros estabelecimentos com pelo menos duas semanas de atraso, nem desvalorizar nos hospitais situações que indiciavam perigo de propagação, deixando gente livremente, para ainda se continuar de fronteiras terrestres e aéreas abertas. 

Até quando se vai continuar a facilitar?

13 de março de 2020

Reiteradamente às aranhas...


Pouco ou nada há a dizer mais sobre este filho da globalização a que chamam de Covid-19 ou Corona Vírus e que ameaça parar literalmente uma grande parte das nações, Portugal incluído.

Em todo o caso, pelo que se tem lido e ouvido de fiável por estes dias, e mesmo agora pelo que se conclui da introdução do programa "Sexta às 9", que irá passar mais logo na RTP, percebe-se que mesmo perante a inevitabilidade da propagação global, no nosso caso houve falta de bom senso e irresponsabilidade de quem leviana ou despreocupadamente foi de férias de Carnaval ou em viagens de negócios para Itália, já quando as notícias davam conta de ser um país com problemas sérios na propagação.

Por outro lado, tal como o recentemente falado caso da jovem diagnosticada com simples gripe no nosso Hospital de S. Sebastião, por várias idas à urgência, comprova-se que os serviços médicos reiteradamente desvalorizaram situações que no mínimo mereciam tratamento e análise. Não surpreende que esses casos desvalorizados tenham permitiram que os vários infectados, nomeadamente de Felgueiras, levassem a sua vida social com normalidade quase durante quinze dias, tornando-se até ao momento as principais fontes de casos no norte e que tendem a aumentar progressivamente. De quem é a responsabilidade? Dos serviços, das pessoas?

Em resumo, mesmo com o aparelho de Estado a papagaiar desde o início de que estávamos preparados, a verdade é que cedo se demonstrou que não, e mesmo com o problema ainda longe de ser mitigado, já não há capacidade de resposta e o serviço Linha 24 é disso exemplo.

Não tarda que, infelizmente, estejamos mergulhados num salve-se quem puder e cada um entregue a si próprio, quase à semelhança da peste negra na Idade Média. 

Neste aspecto, sempre que surgem estas tragédias vêm ao de cima as incapacidades e incompetências de quem nos vai governando.

Mas oxalá que toda esta reflexão não passe de um exagero e que a malta ache por bem aproveitar o fecho das escolas e universidades para dar um saltinho à praia..






9 de março de 2020

Isto é uma vergonha...


O que arrelia no discurso da maioria dos treinadores de futebol quando as coisas não correm bem, é um estilo do politicamente correcto alicerçado nos chavões do "manter o foco", "vamos trabalhar mais", "pensar jogo a jogo" e outros que tais, nomeadamente o de continuarem a falar como se dependessem apenas deles quando por vezes já não.

Esta situação, creio, está a acontecer agora com Bruno Laje, no Benfica, como antes aconteceu com Rui Vitória. Falo destes  mas poderia falar de outros que bons (maus) exemplos é que não faltam.

Em resumo, falam como se estivessem a falar para criancinhas ou mesmo para mentecaptos. Preferível seria mesmo admitir que "estamos a jogar um futebol de merda", "temos sido incompetentes", "pedimos desculpas aos adeptos porque isto é uma vergonha", e ou "não temos justificado os milhões que ganhámos e vamos indemnizar o clube e os adeptos". 

Seria tudo mais directo e honesto. O resto sabe-se que é futebol e mesmo quanto aos treinadores sabe-se que passam de bestiais a bestas num piscar de olhos. Eles sabem disso mas no fundo não se importam porque na generalidade mesmo um despedimento significa milhões e receber. Que o diga Mourinho.

Quanto aos adeptos, na generalidade e ressalvadas as devidas excepções, não se pode esperar grandes reflexões, muito menos lúcidas e independentes e o grau de formação não é filtro porque tanto desbocam o trolha e o agricultor, como descambam o doutor e o engenheiro, sem desprimor pela comparação. O fanatismo turva o pensamento e desfoca o bom senso e não há como rescaldos de êxitos ou descalabros para perceber isso. Neste aspecto as redes sociais são bons barómetros. Também no café, dá sempre para perceber isso, com alguns falando em tom de comício, invocando com tanto ou mais vigor o André Ventura na proclamação do "...isto é uma vergonha".

8 de março de 2020

A Lira cumpriu o seu destino


Morreu a Lira. Neste Domingo de Março, quando na cerejeira já despontam as flores de uma primavera anunciada. 
Jaz próximo da Chica, na cova onde um azevinho tão teimoso quanto viçoso também decidiu morrer e emprestar-lhe a sepultura. Em breve estará coberta de cidreira  e erva-de-s. roberto e a laranjeira vai-lhe fazer sombra nos quentes dias de Verão.

Uma gata branca, a Lira, que não era da casa mas andava por casa como se fosse a sua, porque a sua, onde chegou a ter dono, nunca encontrou poiso porque também não via qualquer migalha de comida muito menos um afago. 
Na casa que não a sua, nunca lhe faltou comida sempre que se aproximava da porta. Mesmo assim aquela presença insistente, era como se fosse da casa, não sendo.
Ainda ontem, sábado, comeu sôfrega um naco de comida húmida, destinada a um seu filho que, à hora marcada ainda não tinha aparecido.

Há uns dias que se adivinhavam os dias finais, porque magra e suja, já sem capacidade da auto-limpeza, tão características destes felinos.

Hoje de manhã estava à porta, numa nítida prostração que já não lhe permitiu comer nem beber. Foi colocada numa caixa quente, coberta, em local abrigado, para pelo menos morrer com dignidade e com um último afago, que  em vida não teve muitos, ou mesmo nenhuns.

Mas morreu essencialmente de velhice porque andava por cá há uma quase eternidade e foi mãe de  ninhadas a perder de conta, avó de netos e raiz de netos de netos.

Cumpriu o seu destino, a Lira, digna até ao fim, bem ao contrário de muita gente.

Foi merecida a lágrima teimosa.

6 de março de 2020

Nem tudo é a cores...

Admitindo e correndo o risco de algum exagero, pelo que vou lendo, vendo e ouvindo das notícias sobre os casos confirmados e suspeitos em Portugal do Covid-19,  parece-me que em algumas das situações houve um correr de risco desnecessário com pessoas a viajar para Itália, quando já se sabia que era uma zona de risco. Ora em férias, ora em trabalho, certo é que quase todos os casos remetem para o relacionamento de estadia nesse país.

Em todo o caso, para os apologistas da plena globalização, do que ela tem de melhor e positivo, e tem, importa também ter em conta o outro lado da moeda e que esta situação da propagação do Covid-19 é apenas um dos efeitos negativos. E não é de menor importância porque é a saúde pública global que está em causa.

As situações ocorridas nos últimos anos dizem-nos que este é apenas um episódio mas virão mais no futuro e cujas repercussões em concreto não podemos determinar, apenas suspeitar, até mesmo num contexto de terrorismo. Espalhar meia dúzias de kamikazes infectados com algo desconhecido no meio de uma multidão poderá ser mais eficaz que muitas bombas e atentados. O resto, fica por conta da globalização.

Mas isto sou eu a exagerar...

5 de março de 2020

Estamos todos de boa saúde e "descansados"...

Logo após o primeiro ministro António Costa ter visitado o serviço Linha Saúde 24, louvando e elogiando a sua acção, eficiência e capacidade, hoje sabe-se que por esta semana mais de 25% das chamadas ficaram sem atendimento e resposta.

No programa "Prós e Contras" da RTP, a directora da Direcção Geral de saúde, Graça Freitas, resvalou, sem graça, para a informação de que tinha esgotado a capacidade dos hospitais de S. João e Santo António, numa altura em que apenas dois casos tinham dado positivo. Pelos vistos, falhas de comunicação, tão normais quando as coisas não batem certo.

Assim, sendo, a juntar às notícias de encerramento de urgências pediátricas e outras que tais, estamos todos "descansados" para enfrentar este filho da globalização, o Covid 19.