25 de março de 2020

Indignações e indignidades

Indignamo-nos, todos, de casos "maregas", porque na essência está a premissa de sermos todos iguais, nos deveres e direitos, independentemente de raça, cor, credo, ideologias, etc. Mas depois, confrontados com o actual drama da pandemia Covid-19 à escala global, esses direitos, essas igualdades, parecem ir por água abaixo quando o critério para o auxílio e cuidados médicos, é, afinal, o critério da selecção natural, dando-se primazia do mais novo em detrimento do mais velho, do mais forte em desfavor do mais fraco. 

Não importa que um homem ou mulher de 65 anos, ou mais, tenham contribuído para o país e para o Estado, durante 40 ou 50 anos, começando a trabalhar ainda em criança, suportando dificuldades, ajudando a ultrapassar crises e desmandos de governantes, sem nada receber em troca, sem um único dia de baixa médica, sem uma despesa na faculdade, na formação académica ou profissional, ou no hospital. Na hora da verdade esse mesmo país, esse mesmo Estado, não lhe garantem uma cama, um ventilador. É triste e mesmo dramático, mas já é a verdade pura e dura em Itália, também aqui ao lado na Espanha e, oxalá que não, mas virá a sê-lo em Portugal. Uma espécie de eutanásia imposta.

Pelo menos que a hipocrisia de quem nos governa deixe cair a máscara e por mais dura que seja a realidade, saibamos quais as regras do jogo e com o que podemos contar numa sociedade de coisinhas politicamente correctas, muito "frasquinho de cheiro", polvilhada de susceptibilidades, mas que na hora do "mata-mata" revela que afinal, somos todos iguais, brancos ou pretos, mas diferentes e segregados no critério da puta-da-idade e das probabilidades de vida. Afinal pouco nos distingue da selva.