13 de agosto de 2019

Rádio Clube de Guisande - Chama intensa


Era uma vez um grupo de jovens, que algures pelo início dos anos 1980 criaram uma associação cultural e nela um jornal mensal entre outras múltiplas actividades. Bem, em rigor foi ao contrário; primeiro o jornal e depois a associação. Não foi em Lobão, Gião ou Louredo, mas em Guisande.

Poucos anos mais tarde, em meados dos anos 80, a febre das rádios locais, rádios livres ou piratas, como vulgarmente eram conhecidas, andava a atacar um pouco por todo o lado e os mesmos jovens, não de Lobão, Gião ou Louredo, mas de Guisande, decidiram criar uma rádio local. Estávamos em Agosto de 1985.

Vai daí, com o nome dado, Rádio Clube de Guisande, escolhido num dia de praia em Espinho, por Américo Almeida e Rui Giro, e com o indispensável apoio técnico do entusiasta da electrónica  António Pinheiro, e com a aderência de muitos outros jovens, em pouco tempo e após a melhoria gradual das condições técnicas, a jovem rádio chegava a muitas casas, não só na freguesia como nas freguesias vizinhas e até mais além, (depois de instalada uma antena - ela própria com uma estória) que ainda hoje resiste).

Certo é que, de acordo com o jornal "O Mês de Guisande", em Dezembro de 1986 a emissão já estava estruturada e com um vasto grupo de pessoas a dar corpo ao manifesto.
Assim: 

Domingo: Das 07:00 às 09:00 horas: "Bom Dia, Domingo", com Mário Costa e Marco Paulo Alves;
Das 09:00 às 12:30 horas: "Domini", com Américo Almeida;
Segunda-Feira a Sábado: Das 14:30 às 17:00 horas "Guisande à Tarde", com David Conceição (uma das figuras emblemáticas da RCG, na foto acima);
Segunda-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: Desporto e Música", com Américo Almeida, Rui Giro e Elísio Monteiro;
Terça-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: A Vez e a Voz", com David Conceição;
Quarta-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: "Rota Nocturna", com Alberto Jorge;
Quinta-Feira: Das 20:00 às 23:00 horas: A Vez e a Voz", com David Conceição;
Sexta-Feira: Das 20:00 às 24:00 horas: Espaço Jovem", com José Higino Almeida;
Sábado: Das 13:00 às 14:30 horas: Quiosque do Som", com Elísio Mota;
Das 17:00 às 18:00 horas: "Sábado Especial", com Mário Costa e Marco Paulo Alves;
Das 18:00 às 20:00 horas: "Tema Livre", com Mário Silva.

Um ano antes, em Novembro de 1985, a programação (com carácter experimental) da rádio publicada no jornal "O Mês de Guisande", com a curiosidade do primeiro logotipo:



Um pouco mais tarde, era imperioso meter ordem na casa e o Governo lá arranjou um processo de candidaturas e atribuição de frequências. Mesmo que candidatando-se com um grupo de outras boas rádios do concelho (Rádio Clbe de Guisande, Rádio de Lourosa, Rádio Santa Maria e Rádio Independente da Feira), num projecto comum designado de "RTF - Rádio Terras da Feira", as duas licenças previstas para o concelho da Feira foram atribuídas à Rádio Clube da Feira (frequência 104.90) e (com enorme surpresa) à Rádio Águia Azul (frequência 87.60 ), em 21 de Abril de 1989.

Poucos dias antes, à margem da apresentação do Programa  de Apoio às Associações Juvenis, que decorreu em Viseu, em 15 de Abril de 1989, o director do jornal "O Mês de Guisande" e da Rádio Clube de Guisande", Rui Giro, ainda teve a oportunidade de falar pessoalmente com o então Ministro da Juventude, Couto dos Santos, mas apesar das palavras de estímulo e esperança deste, tal acabou por ser inconsequente e de nada valeu o esforço.

Depois ainda subsistiu a esperança de atribuição de uma terceira frequência ao concelho numa segunda-fase, mas tal não veio a suceder.  De resto alguém no concelho, se esforçou para que não fosse atribuída uma terceira frequência.

Este foi um processo polémico em que logo se percebeu que quem melhor mexeu os cordelinhos das influências políticas recebeu a prenda.  Deu-se primazia à rádio de uma única pessoa em detrimento de uma rádio que englobava um grupo alargado de pessoas e freguesias.

É claro que depois alguém andou durante anos a fazer as devidas vénias a quem fez por isso. Coisas da política. Mas, já passaram 30 anos e alguns dos então intervenientes já por cá não andam. Coisas passadas que já não movem moinhos, nem de água nem de vento. Apenas as memórias baloiçam na brisa do tempo.

De lá para cá as referidas rádios deram muitas voltas, piruetas e cambalhotas, mas mesmo que longe dos pressupostos iniciais, lá continuam, umas vezes na onda de cima, outras na de baixo.

Pela nossa parte e de quem ficou de fora nessa época, foi pena, mas temos que admitir que era necessária ordem numa anarquia que se instalou, embora salutar. 

Certo é que enquanto durou, a "Rádio Clube de Guisande" tornou-se numa referência de cultura e convívio para muitos jovens na nossa freguesia. As memórias e saudades são, naturalmente, muitas.
De facto aqueles jovens na década de 80 não tinham internet, nem facebook, nem smartphones, e poucos tinham carro, ou, se sim, apenas chaços, mas tinham uma chama intensa e um forte espírito de grupo e partilha.

Hoje em dia, apesar dos meios tecnológicos e fácil acesso a plataformas de comunicação, incluindo de rádio e tv, não se vêem grandes projectos, sobretudo os ligados à cultura e identidade das aldeias, mas fundamentalmente boçalidades e egocentrismos. Mas há que respeitar. Afinal são novos os tempos e os sinais deles. Nem tudo mal, mas nem tudo bem.


10 de agosto de 2019

Guisande Futebol Clube - Campos de Jogos - 2


Retomando os apontamentos à volta dos campos de jogos no historial do Guisande F.C., no anterior artigo referimos que o Campo de Jogos "Oliveira e Santos" foi inaugurado  em 2 de Novembro de 1986. Todavia, as obras realizadas até àquela data foram as estritamente necessárias para as condições mínimas na altura exigidas. Por conseguinte, depois dessa importante data, o campo de jogos, tal como o conhecemos hoje, foi resultado de várias obras durante diversos mandatos e dinamizadas por diferentes corpos gerentes.

As obras iniciais não foram fáceis porque desde logo as verbas então existentes eram escassas, como na altura, em Julho de 1985 o então presidente da Direcção, Sr. Manuel Tavares, dava conta em entrevista concedida ao jornal "O Mês de Guisande". 

De facto nesse mês de Verão, as obras iniciaram-se com a terraplanagem do terreno, realizada pelo empreiteiro de Paços de Brandão, Sr. Firmino Gomes, cujos trabalhos custaram 350 contos, mas tendo sido interrompidos porque não havia mais dinheiro. Em concreto existia numa conta do Banco Espírito Santo a quantia de 200 contos transitada da anterior Comissão de Obras e angariada para o campo de jogos anteriormente previsto noutro local da freguesia, mas cujo negócio deu em "águas de bacalhau" ou mesmo como então disse Manuel Tavares "...já haviam existido duas oportunidades para se criar campos de futebol e como é sabido ambas deram em fiasco e de uma maneira esquisita".

Como fonte de receita para as restantes obras necessárias à mudança de casa, Manuel Tavares esperava o apoio e colaboração da população, emigrantes, Junta de Freguesia e ainda da Câmara Municipal com o fornecimento de material e seu transporte.
Apesar dos constrangimentos financeiros face às necessidades da obra, o presidente da Direcção do clube dizia que "...isto não é para parar mas sim para prosseguir a todo o gás".

Como curiosidade do que Manuel Tavares declarou na referida entrevista ao jornal "O Mês de Guisande", as ideias ou projectos para o novo campo de jogos, incluiriam uma pista de atletismo e balneários subterrâneos. Ainda uma bancada central.
Estas boas ideias, excepto a bancada central, nunca vieram a ser concretizadas. Obviamente que o homem sonha e a obra nasce, diz o poeta, mas sem dinheiro e recursos as coisas ficam apenas pelos sonhos. Foi o que aconteceu. Em todo o caso, o Campo de Jogos tal como existe é de qualidade significativa e obviamente que custou muito do esforço da freguesia no seu todo.

A par das dificuldades financeiras da época, surgiram problemas com os aspectos legais do terreno doado pelo Sr. Américo Pinto dos Santos e sua esposa Maria Angelina Oliveira Gomes. A Câmara Municipal ter-se-á comprometido a tratar da legalização predial, nomeadamente junto das Finanças e depois na Conservatória do Registo Predial, pelo que seria complicado avançar-se com obras sem a doação estar devidamente formalizada e o terreno no nome do clube. 

Assim, de modo a adiantar o andamento das obras, em declaração que a seguir transcrevemos, e que na altura foi publicada no jornal "O Mês de Guisande", os doadores passaram um documento no qual declaram pública e oficialmente que "...para os devidos e efeitos legais, oferecem ao Guisande Futebol Clube uma parcela de terreno , sita no lugar do Reguengo, freguesia de Guisande, concelho da Feira, com a área de 12 mil metros quadrados, destinado ao campo de futebol do clube acima citado, não podendo a colectividade dar outro uso que não seja para o fim destinado e acima mencionado".

Mais declararam que o clube assim poderia dar início às obras que fossem destinadas à construção do campo de futebol e que desde essa data seriam da responsabilidade do clube. Mais ainda, que oportunamente, logo que as Finanças indicassem o Nº da inscrição matricial, formalizariam a doação por escritura notarial.
Esperamos vir a ter a oportunidade de publicar por aqui a escritura de doação. Para já, o recorte da publicação no "MG" da referida declaração.


Como se vê, no contexto das histórias relacionadas aos campos de jogos do Guisande F.C., há vários apontamentos de interesse e que se não forem anotados obviamente que acabarão por caír no esquecimento da nossa memória colectiva.

Voltaremos ao assunto.

8 de agosto de 2019

Rabiscos - Pipi das Meias Altas


Quem não se recorda da série de televisão "Pippi das Meias Altas", no original sueco com o título de "Pippi Langstrump" e noo inglês "Pippi Longstocking" ? Certamente que apenas os mais velhos.
A reboque dessa memória fiz o rabisco acima, com a sorridente Pipi e o seu inseparável amigo macaco Herr Nilson (por cá, Sr. Wilson).

A Pipi era interpretada por Inger Nilsson que em 4 de Maio passado completou 60 anos, já que nasceu em 1959. O nome da personagem ficou para sempre colado à actriz pelo que a mesma tem salientado publicamente que preferia não ser tão conhecida apenas por esse facto mas pelo todo da sua carreira, já que o seu trabalho tem sido diversificado, nomeadamente na televisão sueca e alemã, onde tem tido algum êxito.

A série de televisão baseia-se nos livros infanto-juvenis escritos pela também sueca, Astrid Lindgren.

Antes da versão para TV, "Pippi das Meias Altas" foi realizado como um filme para cinema, em 1949, então com Viveca Serlachius no papel da Pippi. 
A série para televisão, com produção sueca, teve o seu início em 1969 com continuidade até 1973, creio que com 13 episódios, sempre com Inger Nilsson no papel principal. 

Para além desta série, a que de facto popularizou a Pippi das Meias Altas, esta figura do imaginário infanto-juvenil teve ainda outras versões, nomeadamente uma soviética, em 1982 e uma americana, em 1988. Teve ainda uma versão de origem canadiana, em animação, com 26 episódios, em duas temporadas de 1997 a 1999, que também se tornou muito popular. 

Entre nós, a série "Pippi das Meias Altas" passou na RTP em meados dos anos 70, por isso a preto-e-branco.
Como não podia deixar de ser, então uma criança, eu, como muitos outros, assisti com entusiasmo infantil às aventuras da Pippi das Meias Altas e seus amigos. Creio que a série passava aos domingos à tarde.

Pippi era uma rapariga de 10 anos, com uma figura deveras característica, com as suas pernas altas e magras, vestidas com umas longas meias coloridas (donde lhe advém o apelido), cabelo ruivo, atado em duas espécies de tranças ou puxos laterais, com o rosto sardento, um nariz arrebitado e uns dentes um pouco salientes. Pippi destacava-se pela sua irreverência, permanente boa disposição mas sobretudo pela sua coragem e incrível força, que lhe permitia pegar com facilidade nas coisas mais pesadas. Penso que era essa a sua característica que mais fascinava as crianças de então que seguiam avidamente os episódios.

Entre nós, a série foi um êxito e como tal, por essa altura, entre outras vertentes de marketing, foi  editada uma caderneta de cromos, que coleccionei, cuja tema era dedicado ao filme "Pippi e os Piratas".
Pippi tinha dois inseparáveis amigos, os irmãos Tommy (Pär Sundberg) e Annika (Maria Persson) e ainda o inseparável macaco, chamado Sr. Wilsson. 

Neste filme, os amigos, em plena brincadeira, descobrem uma garrafa com uma mensagem de socorro, por coincidência enviada algures pelo pai de Pippi, o capitão Langkous, que tinha sido feito prisioneiro por um grupo de ferozes piratas, encontrando.se algures numa ilha do Pacífico. Então Pippi e os amigos (que estavam de férias), a bordo do seu balão voador, decidem ir à procura do pai para o resgatar.

Depois a aventura continua, entre muitas peripécias, com o confronto com os piratas e finalmente a libertação do pai de Pippi e o regresso de todos a casa, à Vila Revoltosa.
A caderneta, com uma dimensão de 238 x 335 mm,  é uma edição da Casa Arnaldo, sendo composta por 182 cromos, com fotogramas do respectivo filme. 

A caderneta tinha inserto um cupão que depois de preenchido dava direito ao sorteio de uma viagem à Suécia. 
As saquetas dos cromos tinham também senhas surpresa (250000), cada qual correspondente a 1 ponto. Depois, somando os diversos pontos  era possível reclamar vários prémios, tais como jogos, puzzles e livros, correspondendo a cada qual um determinado número de pontos de acordo com uma tabela impressa na caderneta.



6 de agosto de 2019

Guisande F.C. - 40 anos



Tal como referimos aqui, nos apontamentos sobre o Guisande F.C., a sua fundação oficial, embora com raízes bem anteriores, aconteceu em 31 de Outubro de 1979,  data a que corresponde à outorga da escritura pública no 2º Cartório da Secretaria Notarial da Feira, com entrada a folhas 67 do livro nº 541-B.

Por sua vez, a constituição da associação que tomou o nome de Guizande Futebol Clube, foi publicada no Diário da República nº 296, III série, de 26 de Dezembro de 1979, mas creio que estamos todos de acordo que a data de referência corresponde à do primeiro acto oficial, precisamente 31 de Outubro de 1979. 

Neste contexto, fazendo contas que são simples e redondas, será já neste ano de 2019 que o clube completará 40 anos sobre a fundação oficial e como tal seria interessante, digo eu, que alguém com mais autoridade ou notoriedade no contexto da história do clube promovesse uma cerimónia, convívio ou jantar evocativo, que juntasse antigos dirigentes, atletas e sócios do clube. Não importará que seja algo com pompa ou circunstância mas apenas um momento de partilha, convívio e evocação da história do clube. 

De resto, estando este sem actividade oficial e sem corpos directivos, não se justificará algo muito cerimonioso. Mas a realizar-se terá um efeito simbólico importante, tanto mais numa altura em que se vão perdendo as referências pessoais e de entidades que deviam zelar pelo unidade e identidade sócio-culturais da freguesia.

Espero, de minha parte, que este repto encontre eco e que, ainda com tempo, se promova e organize qualquer evento a propósito e com a dignidade merecida.


Já está!




Como se ouviu ontem várias vezes pela boca da marota da Cláudia Martins, -Já está! 

Depois de mais uma boa noitada, com boa casa e animação, incluindo pelo meio o fogo de artifício, encerraram as festividades em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António. Já pode chover.

Segue-se o arrumar da tralha, o fecho e a apresentação das contas, certamente lá mais para o final do mês, como manda a tradição.

Reiteramos os parabéns à Comissão de Festas pelo empenho e trabalho realizados e certamente pelo sentimento de dever cumprido, embora alguns de forma repetida, como o caso dos festeiros voluntários.

Como se diz na gíria, - Para o ano há mais!

5 de agosto de 2019

Orgulhosos, concerteza!


Ainda decorre a festividade em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António, na nossa freguesia de Guisande, popularizada como Festa do Viso. 

O programa encerra hoje, estando prevista a actuação da banda de música popular “Minhotos Marotos”. É verdade que já actuaram em Guisande há alguns anos, poucos depois da sua criação em 2009, mas entretanto foram mudando algumas coisas, apresentando-se agora com um estilo mais incaracterístico, à laia de nem carne nem peixe, e ainda a reboque da vocalista Cláudia Martins, mais produzida, que encabeça o nome do grupo. Há coisas que começam bem e que mudam, umas vezes para melhor, outras nem por isso. Parece-me, pessoalmente que a mudança foi algo para pior, mas são opiniões.

Seja como for, não sendo uma atracção de topo, reúne a popularidade suficiente para trazer ao Monte do Viso muitos forasteiros. O dia está bom e a noite promete.

Mesmo antes de terminada a festa, arrumada a tralha e fechadas as contas, está de parabéns a Comissão de Festas, ainda que apenas com um único sobrevivente dos nomeados (António Gomes de Almeida) e os restantes na qualidade de (bons) voluntários, nomeadamente o Armando Rodrigues Ferreira, o Joaquim de Oliveira Santos e o António Azevedo da Conceição, bem como as festeiras Cátia Ferreira e Daniela Almeida.

De algum modo, perante a negação de uns, a raça e o querer de outros. Ainda bem, porque no dia em que a nossa festa não for realizada por falta de elementos na Comissão de Festas, será sinal de que algo vai mal. Não é fácil, pois não, nem sempre há o reconhecimento justo, também não, mas há uma coisa chamada orgulho naquilo que nos deve distinguir, a identidade e paixão pelas nossas tradições e raízes.

Por mim, e certamente que por muitos mais, faço votos para que as contas corram bem e se não sobrar, pelo menos que não falte. Mas se faltar, apesar do meu contributo, que, sem falsa modéstia, considero  significativo, podem voltar a bater à porta que terão novo apoio.

Devem, pois, no final do suor da testa, sentir-se orgulhosos do fazer a festa. 

Olhares - Imensidão de azul