16 de abril de 2020

O que não precisamos é de Fest

Pode não ser pela cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, mas seguramente não será pela música a esmo nas redes sociais que lá vamos no combate à Covid-19. Chego a questionar se as rádios estarão fechadas em quarentena. 

Em todo o caso, ao contrário das referidas drogas, tal como as velhinhas pastilhas Melhoral, a música nas redes sociais não fará bem nem mal, antes pelo contrário.

Mais grave seria a TV Fest,  o festival da monumental estupidez, como o classificou o João Miguel Tavares. Felizmente foi cancelado. Houve pelo menos algum decoro, sendo que a nódoa lá ficou e custa a crer que no actual contexto tenha sequer sido equacionado gastar 1 milhão de euros com alguns artistas a dar-nos música.

Portugal inteiro


De algum modo procurando compreender quem não concorda, parece-me que esta história do norte e do sul, a propósito de um legenda infeliz por parte da TVI, que num trabalho jornalístico relacionou uma maior incidência de Covid-19 no norte de Portugal com uma população "com menor educação, mais pobre e envelhecida", tem de algum modo mostrado muito do que somos, uns exagerados, para o bem e para o mal, reagindo muitas vezes de forma desproporcional e num seguidismo de "a Maria vai com as outras". Porventura, digo eu, tendo sido infeliz, a TVI não merecia tanta importância e destaque.

Criticamos os países do norte da Europa por criticarem os do sul, por os catalogarem com o cliché de apenas gostarem de "siestas", vinho e mulheres, mas quando a coisa nos toca, lá vêm posições de críticas a Lisboa e ao sul, porque o norte é que trabalha, porque Lisboa é que gasta, mouros, corruptos, etc.

Em resumo, para além da gaffe da TVI, que por ela já pediu desculpas, parece-me que muitas das reacções de um modo geral se nivelaram por baixo, desde logo porque mesmo admitindo que o fez de forma infeliz e irreflectida e sem medir as consequências e devia saber que se vivem tempos em que um peidinho nas redes sociais se torna rapidamente num trovão seguido de tempestade da grossa, a TVI não representa, de todo, o sul nem o seu pensamento quanto ao norte. E nestas coisas de ofender gratuitamente, sem procurar expor posições fundamentadas e racionais, somos todos uns ases. Em suma, mesmo acreditando na boa fé da TVI, creio que se pôs a jeito e não havia necessidade. Mas também não foi caso para reacções tão fundamentalistas e agressivas.

Por outro lado, estas aparentes divisões, que não fazem qualquer sentido 900 anos depois do estabelecimento da nação por D. Afonso Henriques e sua prole, mostram que muita gente não reconhece de que massa se faz um país, mesmo que territorialmente pequeno como Portugal. São as suas diferentes idiossincrasias, as diversas culturas e delas as características próprias, moldadas por diferenças geográficas, em suma, a diversidade, que fazem a riqueza de um país, de uma nação. 

Andamos bairristicamente a cantar virtudes de cada uma das nossas pequenas aldeias, porque os de Guisande consideram-se diferentes e melhores do que os de Lobão, das Caldas e de Louredo, e vice-versa, e depois vimos para aqui com estas reacções despropositadas e mesmo desproporcionais que em muito desautorizam quem pretende falar com alguma moralidade.

Mas haja alguma tolerância porque é disto que a casa gasta, e num tempo propício à paranóia, estas quezílias servem para alimentar os fazedores de "memes" e frases feitas.

Somos todos Portugal e este é feito, se quisermos, por Norte mas também por Centro, Sul e Ilhas. Somos e devemos ser um Portugal inteiro!

15 de abril de 2020

Dançar conforme a música

De "uma falsa sensação de segurança", a uma "recomendação de uso geral".
Quando se pensava que o Governo só sabia dançar o "Vira", afinal parece que já sabe e recomenda a dança do "Fandango". Daqui a duas semanas já saberá dançar o "Corridinho". 
Quando a coisa terminar já será mestre em danças de salão.
Não havia necessidade, desde logo porque até qualquer leigo percebia que o uso da máscara generalizado era um aspecto positivo contra a propagação do vírus. Qual o preço desta teimosia e desacerto do passo?


11 de abril de 2020

Estamos preparados...

Título principal:
Num país de optimistas e num estado de prontidão, o Carlos Abreu é um desmancha-prazeres. 
Título alternativo ao título principal: A mania de não se dar crédito às vozes da oposição.
Título alternativo ao título alternativo: Todos calados, era uma virtude.

29 de Janeiro de 2020
"A ministra da Saúde, Marta Temido, assegura que os hospitais portugueses estão preparados para lidar com uma eventual epidemia de coronavírus e que a situação está a ser tratada de forma "tranquila, mas rigorosa"."

28 de Fevereiro de 2020
"A ministra da Saúde sublinha que o país está preparado para lidar com casos de Covid-19.
A ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou, esta quinta-feira, que um cenário semelhante ao de Itália, onde mais de 600 pessoas estão infetadas, “é bem possível que aconteça em Portugal” mas sublinha que o país está preparado, numa entrevista à Sic Notícias."

01 de Fevereiro de 2020
Carlos Abreu, deputado do PSD:
"Estamos preparados? Sim, tal como estávamos nos incêndios de 2017"
Ex-deputado do PSD critica a forma como Portugal está preparado para tratar um caso suspeito do novo coronavírus."

26 de Fevereiro de 2020
A diretora-geral da Saúde explicou na RTP os procedimentos em Portugal para dar resposta eficaz quando surgem casos suspeitos no país. Graça Freitas garante que os hospitais estão preparados para uma eventual escalada da epidemia.

02 de Março de 2020
O primeiro-ministro insiste que o Serviço Nacional de Saúde está preparado para "o pior cenário" que o Covid-19 apresente.

07 de Março de 2020
O primeiro-ministro, António Costa, garante que Portugal está preparado para o surto de coronavírus e reiterou a confiança no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e nos seus profissionais.

11 de Abril de 2020
Afinal não estávamos preparados mas pré parados. O recruta vai com o passo certo; O problema é o resto da companhia que vai com o passo trocado.

3 de abril de 2020

Pandemia e pandemónio

Concordando que esta é uma situação extraordinária, a que vivemos, não concordo de todo com a medida proposta pelo presidente Marcelo, com o apoio do Governo, quanto à libertação de mais de um milhar de reclusos, um eufemismo para prisioneiros. E não concordo, não por concordar com o André Ventura, mas por entender que isso pouco ou nada resolve quanto à questão da pandemia nos estabelecimentos prisionais. Os casos ali ainda são poucos e perfeitamente controláveis se desde logo forem tomadas as medidas adequadas, tanto à quarentena quanto à realização de testes de despistagem da doença, tanto nos reclusos como nos guardas e pessoal auxiliar.

É certo que imagino que as prisões estão sobrelotadas e não têm grandes condições, nomeadamente ao nível dos espaços sanitários, mas também não me parece que gente criminosa, condenada, tenha que ter condições de hotel de cinco estrelas quando a larga maioria dos portugueses, que vivem a sua vida honestamente, não têm.

Por outro lado, ainda, é sabido que uma larga maioria dos reclusos quando cumprem as penas e vão para a sociedade, ou por dificuldades objectivas de reinserção ou porque o mal lhe está no sangue e nos hábitos, acaba por voltar ao mesmo, ou seja, ao mundo da criminalidade, muitas vezes violenta. 

Assim, num contexto actual em que todas as forças da ordem e segurança públicas estão ocupadas no auxílio e controlo da pandemia da Covid-19, essa gente criminosa encontrará, querendo, caminho mais livre para fazerem o que bem sabem. E as notícias recentes dão conta de algum aumento da criminalidade e com o desemprego à porta e a natural perda ou baixa de rendimentos das pessoas, não surpreenderá que a coisa descambe no que a crimes, roubos e assaltos diz respeito.

Não posso, pois, concordar com esta medida. Que mais não fosse porque no outro lado, há vítimas dessa gente que agora se prepara para o regresso à liberdade, mesmo que supostamente um pouco condicionada e vigiada.

É, no meu entendimento, um aviso e um sinal de que o crime compensa. Vamos indo e vendo mas não auguro nada de bom neste aspecto e cada vez mais as vítimas são-no duplamente, às mãos dos criminosos e às mão do sistema que invariavelmente mostra-se fraco para com os fortes e forte para com os fracos.