14 de fevereiro de 2022

Salgalhada


A valente pouca vergonha que assistimos no estádio do Dragão no final do jogo de futebol entre F.C. do Porto e Sporting, na passada Sexta-Feira à noite, cujo resultado final deu um empate a 2, é uma imagem caracterizadora do nível do nosso futebol. De resto é um filme com muitos remakes e a fazer lembrar velhos métodos e outros episódios.

Independentemente de quem possa ter a maior dose de responsabilidade, parece claro e indesmentível que todos estiveram mal. Ouvindo as posições das partes, ambas clamam ter razão e os bandidos estão do outro lado e vice-versa. Já há promessas de queixas crimes em ambos os lados. Ou seja, todos sentem que têm razão.

Nas televisões parece que quem fala mais alto é que é o dono da verdade, como o burjesso do Rodolfo Reis na CM TV, que aos berros ajuizou que o incendiador-mor fora o guarda-redes do Sporting, que terá insultado os aclmos adptos portistas e dito das boas nas orelhas do impoluto defesa central do F.C. do Porto, que já depois do apito reclamava um penalti salvador e que desse a volta ao texto do resultado. Pepe, esse exemplar jogador de uma correcção a toda a prova e que em toda a sua vida de futebolista nunca viu um cartão amarelo ou vermelho nem nunca agrediu um adversário. 

Ora neste sacudir de responsabilidades, com jeitinho ainda vão apurar que as mesmas são do Benfica, do Tondela, do Santa Clara ou até do Cesarense. Que se ponham a pau.

Quanto ao apuramento de responsabilidades e castigos em propoção, é esperar e ver, mas para além dos castigos aos jogadores que levaram cartão vermelho naquele bacanal, pouco mais se espera. De resto, nestes dias imediatos à batalha, as pessoas com responsabilidades no nosso futebol, da Federação à Liga, têm estado remetidas ao silêncio. Até o professor Marcelo que fala pelos cotovelos sobre tudo e sobre nada, e que condecora a direito qualquer feito desportivo, deveria também vir a público dar mais uma lição de portuguesismo. Fica-se à espera. Até lá, tudo vai bem no reino de sua majestade.

A responsabilidade continua solteira

O recente caso da anulação de mais de 157 mil votos no círculo eleitoral da Europa, a que correspondem mais de 80% do total, é um absurdo e um autêntico desrespeito para com os eleitores. Incompreensível a todos os níveis mas que nos mostra que no geral todos lamentam mas igualmente sacodem a água do capote. 

Apesar das queixas e da coisa ir ao Ministério Público, em rigor a culpa e responsabilidades vão uma vez mais morrer solteiras. Certinho e direitinho.

É o que temos!| Não se pode esperar que um castanheiro nos dê maçãs.

13 de fevereiro de 2022

Ver para crer

Há alguns dias atrás, conversando com alguém conhecedor e com alguma influência social na nossa freguesia, falámos sobre o processo que está em curso (com recolha de assinaturas) no sentido de tentar resgatar Guisande ao actual modelo de união de freguesias, aproveitando o regime transitório legal que prevê a possibilidade de reverter o processo de agregação, o que poderá ser feito no prazo de um ano a partir da data da aprovação da respectiva lei-quadro. Por isso, aproximadamente até ao final do corrente ano.

Para além da tal vontade poder ser concretizada e do cumprimento ou não dos critérios estabelecidos para a possibilidade de desagregação, será necessária a aprovação em sede de Assembleias de Freguesia e Municipal e há alguns sinais que a coisa possa não reunir consenso geral. 

Mesmo assim, considerando possível a concretização, a pessoa em causa mostrou sérias dúvidas sobre as vantagens para a freguesia no actual contexto. Considera que a freguesia nesta fase está sem lastro social e sem massa crítica da qual possam sair os futuros líderes e autarcas com interesse, conhecimento e capacidade. 

Pessoalmente, mesmo admitindo o contrário, em determinado contexto, não me estou a ver novamente numa situação de serviço na actual União de Freguesias, seja em que grau for, na Junta ou na Assembleia, mas em caso da freguesia recuperar a sua independência, o meu humilde contributo, se requerido e no contexto adequado e com as pessoas certas, estará sempre disponível, se possível numa lista ou movimento supra-partidário.

É claro que, desejando eu que seja possível a nova desagregação,  contrariei a opinião céptica do meu interlocutor e procurei justificar que se é certo que a freguesia pouco tem a ganhar em termos concretos, tem pelo menos a vantagem de não continuar a perder a sua identidade e desagregação, o que nitidamente começou com a reforma administrativa que a colocou na actual situação. 

Por outro lado, mesmo analisando os supostos e prometidos ganhos com a união de freguesias, a verdade é que já com dois mandatos passados está por demais evidente que a freguesia foi em muito prejudicada, sem quaisquer obras que justificassem a anterior relação de receitas. Tem sido uma total estagnação e mesmo desrespeito.

Todos desejamos e temos esperança que a nova Junta da União tenha uma postura diferente da seguida até aqui, com demonstração efectiva de respeito e equilíbrio nas diferentes áreas, mas de tão má experiência as dúvidas são muitas.

Em todo o caso, voltando à pessoa da conversa, sou obrigado a dar-lhe razão no fundamental, já que neste momento não vejo rigorosamente ninguém com conhecimento, interesse e capacidade de conseguir motivar a freguesia e torná-la novamente dona de si própria. A velha guarda já deu o seu contributo e agora  merece naturalmente dias de descanso. Por sua vez, os mais novos, de um modo geral, não demonstram qualquer interesse e empenho pelas coisas da comunidade e em rigor não a conhecem para lá dos muros do quintal de suas casas. O movimento associativo e sobretudo culturale  recreativo é quase inexistente e sem uma abordagem geral à freguesia. De resto, mesmo com as anteriores experiências, como a Associação "O Despertar", a verdade é que a freguesia quase não respondeu, alheando-se dos diversos programas, acções e eventos. 

Por sua vez, a  Associação do Centro Social S. Mamede de Guisande conseguiu concretizar uma obra fantástica, que pode e deve ser um elemento catalisador de vontades e união inter-geracional, mas apesar disso tem sido ostracizada pelo poder público que tarda em concretizar os programas de apoio aprovados, e mesmo na freguesia são muitos os maldizentes e invejosos que rezam para o insucesso e seu encerramento. E não faltará muito para que as suas preces sejam concretizadas, pois se as coisas não mudarem de forma significativa, quando a presidência do Joaquim Santos terminar o seu actual mandato, o destino será provavelmente a entrega das chaves das instalações à  Câmara Municipal ou à Junta de Freguesia, que certamente serão impotentes para reactivar e dinamizar o equipamento. De facto, realisticamente não estou a ver alguém ou algum grupo capaz de se candidatar aos corpos gerentes e dinamizar a respectiva associação e dar corpo ao seu objecto social. Ninguém quer nada, sobretudo de algo que só dá trabalho, canseiras e responsabilidades e sem qualquer retorno. Os indiferentes são muitos e os maldizentes são alguns e até sabemos quem são. Dali não se espera nada. 

Assim sendo, não anda longe da razão a pessoa com quem conversei sobre este assunto do possível resgate da freguesia. Falta-nos muita coisa, sobretudo gente com qualidade, interesse e conhecimento pela cidadania e causa pública, nomeadamente a troco de nada. Alguns que até podiam estar na grelha de partida, preferem estar no choco, nos seus entretenimentos e sossegos, apenas a assistir da poltrona. Os primeiros a maldizer mas os últimos a mostrar trabalho ou a dar o exemplo. Foge Quim!

Ora quando assim é, mesmo que a freguesia venha a conquistar a sua independência, tenho sérias dúvidas que voltem os antigos dinamismos de uma freguesia que dava cartas nos diferentes aspectos, apesar de pequena. Já foi chão que deu uvas.

Oxalá que este cepticismo não tenha razão de ser e que nos enganemos profundamente. Seria bom e um positivo sinal, mas até lá, como o S. Tomé, ver para crer.

11 de fevereiro de 2022

A violência como cultura

A detenção pelas autoridades de um jovem português de 18 anos de idade, universitário na Faculdade de Ciências de Lisboa, que supostamente estaria a preparar um atentado contra colegas e pessoal dessa instituição, foi assunto no final de ontem, de hoje e será seguramente nos próximos dias.

Para além de tudo o que se possa concluir e das especulações tão caras a certos canais, parece que o motivo base da intenção e preparação de tal acto criminoso, quiçá terrorista, terá na sua génese a ver com o facto do jovem ser alvo de bullying.

É claro que nada justifica o que o universitário supostamente se preparava para concretizar, mas importará que o Estado e as autoridades dele dependentes comecem a valorizar a questão do bullying que é transversal às nossas escolas e nos seus diferentes graus. Ainda por estes dias noticiava-se a agressão de uma criança por parte de colegas em ambiente escolar. Estas notícias são mais que muitas, incluindo a questão da aberração e humilhação pelas praxes académicas, que pelas quais, em última análise, levaram à morte de 6 alunos no conhecido caso de afogamento da Praia do Meco, que quanto a responsabilidades a culpa morreu solteira e o marmanjo do Dux passou incólume pelos pingos da chuva. Era o chefe e foi o único a salvar-se. Há milagres...

Por outro lado estamos em plena cultura da violência gratuita e como ementa do entretenimento e ela chega às nossas crianças e adolescentes de forma massiva, seja nos jogos electrónicos, seja na industria da televisão e cinema.

Não é preciso ter-se o canudo de psicólogo ou psicanalista para se perceber e entender o quanto o bullying pode transformar negativamente as personalidades e dar-lhes sentimentos de revolta e de vingança a ponto de, num contexto com os ingredientes certos, despoletar situações criminosas.

Felizmente este tipo de crimes e massacres entre nós é raro ou mesmo inexistente, mas todos sabemos o quanto é grave em países com alguma liberdade e facilidade ao acesso a armas, como nos Estados Unidos. Ali, os casos têm sido mais que muitos e graves.

Importará, pois, que por cá se dê importância e significado às situações de bullying e que haja castigo adequado para quem o pratica, consente ou desvaloriza. Sem um controlo eficiente e disciplinado, as coisas não vão lá e um dia destes acontecerá mesmo uma tragédia.

O Estado, no papel das escolas, faz de conta que a coisa tem pouca importância, apenas desentendimentos esporádicos e inconsequentes entre alunos. As escolas fecham-se em copas ao escrutínio, permitindo que centenas de crianças sofram e vejam a escola como algo negativo e um local perigoso.

Não devemos generalizar nem dramatizar, pois não,  mas convém que se atalhe o problema.

Quanto à questão judicial, não sei até que ponto este aparato mediático a pretexto de apenas uma suposta intenção de crime, é saudável. De resto nem é norma. Todos os dias as autoridades evitam crimes e não é por isso que lhes é dada importância. Tudo na justa medida. Com um bom advogado o jovem será solto apenas com uns beliscões. Afinal de contas o que é que cometeu? Posse de armas ilegais? E quem as não tem? 

Não quero menorizar o contexto e até considero que no essencial as autoridades trabalharam e agiram bem, mas o mediatismo por algo que não chegou a acontecer é que é inusitado e extemporâneo. De resto, neste raciocínio, Cândida Almeida, ex-directora do DCIAP criticou a PJ, referindo que "...Não é normal nem aconselhável” que se divulguem tentativas de ataque evitadas.

Mas é disto que a casa gasta e por vezes as autoridades parece que padecem de uma necessidade doentia de alimentar a agenda da comunicação social.

Não havia necessidade.

9 de fevereiro de 2022

Aguentar e carinha alegre

 


Para quê voltar a falar no assunto e queixarmo-nos constantemente da subida do preços dos combustíveis, sendo aqui em Portugal dos mais caros na Europa, nomeadamente sabendo que uma grande parte do bolo do custo refere-se a taxas ou impostos? Se amanhã se realizassem novas eleições legislativas voltaríamos todos sorridentes e sem hesitações a votar nos mesmos. E claro, com maioria absoluta para que não restassem dúvidas de que queremos que continue a ser assim.

Em resumo e em boa verdade, gostamos disto mais do que chocolate. Vamos, pois, como gente crescida, deixar de refilar e reclamar, aguentando a coisa com boa disposição e carinha alegre!

[fonte e imagem: DN]

7 de fevereiro de 2022

O tacho das taxas

Por regra este tipo de coisas passa-nos ao lado, mas em recente estudo da consultora EY e da Sociedade de Advogados Sérvulo, chegou-se à conclusão que em Portugal existem mais de 4300 taxas, 2900 das quais relacionadas a empresas ou organismos públicos. A APA (Agência Portuguesa do Ambiente) é a entidade que mais contribui para esta "poluição", cobrando um total de 600, algumas das quais redundantes. As Câmaras Municipais são igualmente entidades eficientes neste "venha a nós", com um bom cardápio de taxas, licenças e coimas.

Temos, pois, no geral, um Estado vocacionado para sacar dinheiro as contribuintes, dê por onde der, e tudo  e mais alguma coisa é motivo para pagamento de taxas e taxinhas, multas e coimas. 

Como agravante, o mesmo estudo aponta a complexidade do sistema e a inerente falta de transparência sobre as respectivas taxas, bem como a dificuldade na identificação das suas bases legais aplicáveis. Algumas entidades chegam mesmo a desconhecer as taxas cobradas por si próprias.

Juntando a este caldo os habituais  e crónicos ingredientes da lentidão da Justiça, a dificuldade de acesso à mesma ao comum dos cidadãos, o emaranhado da burocracia, o incumprimento de prazos, o abuso de poder, a falta de concorrência nas entidades públicas, etc, etc, temos o mesmo, o caldo, verdadeiramente entornado.

O estudo conclui por isso que o sistema fiscal cá da terra é tudo menos claro e objectivo e com ele são os cidadãos e as empresas as principais vítimas. Mas podemos ficar satisfeitos no que diz respeito à imaginação para criar motivos para tantas taxas.

Em suma, ao Estado tudo parece justificar-se para sacar dinheiro ao contribuinte e sobretudo a quem gera riqueza, trabalha e poupa. Pelo contrário, quem vive de artimanhas administrativas e labirintos legais, bem como quem vive habilidosamente da subsídio-dependência, em suma, quem dá apenas prejuízo ao Estado e aos contribuintes pagantes, colectivos ou singulares, esses têm um vasto campo para o oportunismo e para beneficiar de algo que não produzem. 

Não surpreende, com tudo isto, que a filosofia e a ideologia reinantes vão caminhando no sentido de acabar com os ricos em vez de acabar com os pobres por via do crescimento e produção de riqueza. Face a este estado de coisas, as empresas e pessoas que geram desenvolvimento, investimento, riqueza, trabalho e poupança, esses vão sendo os maus da fita, a quem tudo se justifica para o "assalto".

Só nós dois é que sabemos...

Creio que já o disse ou escrevi por aqui: O nosso sistema eleitoral só benefecia os dois grandes partidos e daí os mesmos não terem interesse particular em mudar a coisa. Não surpreende, por isso, que o Partido Socialista com 41% do total de votos tenha conseguido a maioria de deputados. Parece anedótico e contrário às leis da matemática, mas é a realidade.

Ainda com este sistema, em Portugal e para as legislativas são cerca de meio milhão de votos que valem absolutamente nada em termos de representatividade, apenas para dar uns trocos aos respectivos partidos. Em distritos pouco populosos, como Bragança, Guarda ou Portalegre, por exemplo, qualquer cidadão que for às urnas votar em qualquer partido que não o PS ou PSD, é, na prática, uma pura perda de tempo. Valerá apenas o valor que os partidos recebem por cada voto, 13 euros, o que até nem é mau e vai dando argumentos para a existência de partidos residuais que assim, para além do tempo de antena, sacam umas massas ao Estado.

Outro exemplo dos paradoxos do nosso sistema, no caso o CDS que no global do país teve muitos mais votos que o Livre (cerca de mais 13 mil) e no entanto não elegeu nenhum deputado. Dá que pensar?

É claro que este deficiente sistema não é exclusivo de Portugal. Há outros sistemas igualmente esquisitos, incluindo os Estados Unidos. No Reino Unido, por exemplo, com um sistema de 650 distritos, em que cada um elege um único deputado (o vencedor). Com tal sistema, um partido até pode ter menos votos que o adversário, no global, e alcançar a maioria dos deputados, o que de resto já aconteceu.

Em ambos os casos ou em sistemas onde existem estas anormalidades e paradoxos, em regra beneficiam sempre os dois grandes partidos de cada país, daí não interessar aos mesmo alterar as respectivas leis eleitorais, no fundo, as leis do jogo. É, em resumo, uma espécie de batota em que os meninos grandes enxotam os meninos pequenos da roda do jogo. Como numa sala para assistir a um filme pornográfico, só entrem os de maior idade.