7 de fevereiro de 2022

Só nós dois é que sabemos...

Creio que já o disse ou escrevi por aqui: O nosso sistema eleitoral só benefecia os dois grandes partidos e daí os mesmos não terem interesse particular em mudar a coisa. Não surpreende, por isso, que o Partido Socialista com 41% do total de votos tenha conseguido a maioria de deputados. Parece anedótico e contrário às leis da matemática, mas é a realidade.

Ainda com este sistema, em Portugal e para as legislativas são cerca de meio milhão de votos que valem absolutamente nada em termos de representatividade, apenas para dar uns trocos aos respectivos partidos. Em distritos pouco populosos, como Bragança, Guarda ou Portalegre, por exemplo, qualquer cidadão que for às urnas votar em qualquer partido que não o PS ou PSD, é, na prática, uma pura perda de tempo. Valerá apenas o valor que os partidos recebem por cada voto, 13 euros, o que até nem é mau e vai dando argumentos para a existência de partidos residuais que assim, para além do tempo de antena, sacam umas massas ao Estado.

Outro exemplo dos paradoxos do nosso sistema, no caso o CDS que no global do país teve muitos mais votos que o Livre (cerca de mais 13 mil) e no entanto não elegeu nenhum deputado. Dá que pensar?

É claro que este deficiente sistema não é exclusivo de Portugal. Há outros sistemas igualmente esquisitos, incluindo os Estados Unidos. No Reino Unido, por exemplo, com um sistema de 650 distritos, em que cada um elege um único deputado (o vencedor). Com tal sistema, um partido até pode ter menos votos que o adversário, no global, e alcançar a maioria dos deputados, o que de resto já aconteceu.

Em ambos os casos ou em sistemas onde existem estas anormalidades e paradoxos, em regra beneficiam sempre os dois grandes partidos de cada país, daí não interessar aos mesmo alterar as respectivas leis eleitorais, no fundo, as leis do jogo. É, em resumo, uma espécie de batota em que os meninos grandes enxotam os meninos pequenos da roda do jogo. Como numa sala para assistir a um filme pornográfico, só entrem os de maior idade.