12 de julho de 2022

O gangue das churrascadas e roçadoras


1) Proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais, caminhos rurais e outras vias que os atravessem;

Esta é a primeira de um conjunto de 5 medidas preventivas definidas pelos serviços de Protecção Civil no âmbito da Declaração da Situação de Alerta devido às altas temparaturas e ao risco de incêndios.

Parece-me, a mim, ao contrário das demais medidas (que abaixo transcrevo), despropositada, abusiva e atentatória de liberdades, direitos e garantias.

Desde logo porque assenta em pressupostos naturalmente errados de que todos somos uma cambada de irresponsáveis e criminosos a ponto de não podermos circular livremente nas nossas florestas e caminhos públicos. 

Pegando nos mesmos pressupostos de quem determinou essa desproporcionada e mesmo abusiva medida, porque não proibir os condutores de utilizarem estradas e auto-estradas sob o argumento de poderem causar acidentes ou serem vítimas deles? Em rigor qual a diferença? É que acidentes nas estradas são diários e com consequências de ferimentos, mortes e prejuizos materiais.

Por outro lado: Há dias foi detido o presumível autor do maior incêndio florestal deste ano, e isto porque houve testemunhas. Ora proibindo as pessoas de acederem aos espaços florestais, mesmo e apenas para simples caminhadas, os criminosos podem agir à vontade sem risco de serem testemunhados.

Ou seja, quando seria de aumentar a vigilância das florestas e com ela a dissuasão dos criminosos, constata-se e promove-se o contrário.

Recordo-me, de aqui há alguns anos, um colega estar a fazer BTT numa floresta da zona e detectou o início de um incêndio. Conseguiu combater o seu alastramento bem como deu o imediato alerta às autoridades e bombeiros. Não fora isso, e proibido que fosse de andar por ali, o incêndio tinha alastrado e atingido naturalmente outras proporções.

Mas as nossas autoridades pensam de maneira diferente e por isso não surpreende que de ano para ano, apesar de medidas e mais medidas, proibições e mais proibições, obrigações e mais obrigações, de limpezas e outras que tais, os incêndios sejam sempre um fartote. Os criminosos, autores comprovados dos maiores incêndios florestais, esses são relevados. Os cidadãos, esses são os criminosos que só pensam em churrascadas e roçar mato, como autênticos gangues de malfeitores e, por isso,  há que lhes pôr a rédea curta. O Estado não confia, de todo, nos seus cidadãos. Devemos nós confiar no Estado?

É o que temos.



Restantes medidas:

2) Proibição da realização de queimadas e queimas de sobrantes de exploração;

3) Proibição de realização de trabalhos nos espaços florestais com recurso a qualquer tipo de maquinaria, com exceção dos associados a situações de combate a incêndios rurais;  

4) Proibição de realização de trabalhos nos demais espaços rurais com recurso a motorroçadoras de lâminas ou discos metálicos, corta-matos, destroçadores e máquinas com lâminas ou pá frontal.

5) Proibição total da utilização de fogo-de-artifício ou outros artefactos pirotécnicos, independentemente da sua forma de combustão, bem como a suspensão das autorizações que tenham sido emitidas;

A proibição não abrange:

1) Os trabalhos associados à alimentação e abeberamento de animais, ao tratamento fitossanitário ou de fertilização, regas, podas, colheita e transporte de culturas agrícolas, desde que as mesmas sejam de carácter essencial e inadiável e se desenvolvam em zonas de regadio ou desprovidas de florestas, matas ou materiais inflamáveis, e das quais não decorra perigo de ignição;

2) A extração de cortiça por métodos manuais e a extração (cresta) de mel, desde que realizada sem recurso a métodos de fumigação obtidos por material incandescente ou gerador de temperatura;

3) Os trabalhos de construção civil, desde que inadiáveis e que sejam adotadas as adequadas medidas de mitigação de risco de incêndio rural.

10 de julho de 2022

Desprezo



Bem sabemos que, por novos modos e estilos de vida, algumas coisas perderam a sua importância quanto à sua finalidade. Todavia, e tome-se como exemplo este antigo lavadouro com fonte, mesmo já sem utilização, frequente ou mesmo residual, parece-me que continua a ser um elemento do património colectivo e rural de uma terra. Afina de contas, parte intrínseca da sua cultura e identidade. 

Ora quando tal é desprezado ao ponto de nem merecer, sequer,  uma limpeza envolvente, então algo está mal e quem tem essa responsabilidade e quem representa essa terra e comunidade, não tem muito como justificação. 

O problema, apesar de tudo, é que a maioria dos cidadãos que elegem esses tais representantes, e que lhes conferem a legitimidade, padece, ela própria, de falta de sentido de comunidade e de orgulho e amor à terra. 

A coisa está a ser erodida há muito e já pouco mais há a fazer. 

Os mais velhos, aqueles que ainda sentem nos pés e na alma o apego das suas raízes, e conhecem os lavadouros e as fontes, e as memórias a elas associadas, são cada vez menos e as suas vozes e estados de alma  já pouco são considerados porque, por questões naturalmente compreensíveis, não são dados a fazerem-se ouvir pelas redes sociais. São raros os casos e mesmo esses, pregando no deserto, acabam por desistir .

É pena, mas, como diz o meu amigo Pinto, numa sentença como pé para toda a chinela, "...as coisas são como são!!

2 de julho de 2022

Grupo da LIAM em Fátima



O grupo da LIAM de Guisande está a participar neste fim-de-semana, 2 e 3 de Julho de 2022, na Peregrinação a Fátima da Família Espiritana, sob o lema “Um nós cada vez maior” .

Programa:

Sábado, 2 de julho

17:30 Saudação a Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições

18:15 Missa, na Basílica da Santíssima Trindade

21:30 Terço e Procissão de Velas, no Recinto

23:00 Vigília, na Basílica Nossa Senhora do Rosário


Domingo, 3 de julho

07:00 Via-sacra, aos Valinhos

10:00 Rosário, na Capelinha das Aparições

11:00 Missa, no Recinto, presidida por D. António Marto

14:30 Sessão Missionária, no Centro Paulo VI


Guião da Peregrinação de 2022

30 de junho de 2022

Furiosamente fixe


Portugal parece estar na moda como local e cenário para filmagens de cenas de exterior para diversos filmes. O caso recente de "Velocidade Furiosa 10", com cenas a gravar em Portugal, tem sido público e já deu azo a polémicas, nomeadamente em Lisboa, com o corte previsto de ruas.

O país, pelo Estado ou pelas autarquias, investe milhões em incentivos à vinda destas produções e dizem que o retorno é superior. 

A verdade, porém, porque há números e aspectos contratuais que serão sempre segredo, em rigor qualquer proveito é sempre residual e apenas para alguns. O comum dos portugueses, como eu e quem eventualmente lê estas palavras, nunca verá no seu bolso um cêntimo que seja resultado da coisa.

Depois há sempre uma certa (muita) parolice só porque alguns locais do país são palco de filmagens. Na realidade, as cenas destes filmes, como o caso de "Velocidade Furiosa", são sempre muito rápidas e curtas e muitas delas alteradas digitalmente pelo que em rigor quando alguém assiste ao filme não vai estar a apreciar a paisagem e muito menos saber que é de Portugal, Itália ou de outro sítio qualquer. Um dia de filmagens pode resultar numa cena de 5 segundos. Vai é ver tiros, muitos, explosões, a potes, choques à fartazana, etc, etc. De resto o "Velocidade Furiosa" é tudo menos cinema para apreciar a natureza. Para isso, temos o BBC, Vida Selvagem ou o National Geographic.

Mas, ok, vamos fazendo de conta que é uma coisa fixe ter cá o Vin Diesel e Companhia, e que Portugal e todos os portugueses ganham balúrdios de massa com isto. Pessoalmente estou a contar que me dê para pagar umas férias de sonho numa qualquer ilha paradisíaca.Não quero por menos. Obrigado Toretto!

Mas, ok, agora a sério: Apesar de não ser o que parece, não deixa de ser positiva esta exposição mediática do nosso país, com uma indústria que rende milhões e milhões a vir cá aproveitar incentivos, serviços e mão-de-obra baratucha. Com este mediatismo, de algum modo, há sempre excursões a quererem vir ver as novidades, e por onde passam vão deixando algum, no Porto e em Lisboa, sobretudo. 

Pena que Guisande não seja palco de filmagens, nem sequer do Domingão da SIC.

Tretas! Bullsith!

26 de junho de 2022

O sabor das coisas



Faz-me sempre confusão que algumas pessoas teçam elogios à paisagem e aos lugares, quando passam por elas e por eles a correr, apressados, com minutos contados e metas por destino. É, pois, um quase paradoxo, senão total. 

Não poder ver ao longe uma torre de igreja a rasgar o verde, nem um ponto branco de uma capela a luzir na crista do monte, o apreciar uma flor, o pormenor e contraste de uma folha, ver um lagarto a absorver o sol, seguir com o olhar um pássaro a saltitar de ramo em ramo, ouvir o canto lamuriento, alegre ou impetuoso de um regato ou ribeira é tudo menos saborear a natureza. E nestas coisas não podemos estar com Deus e com o diabo. São incompatíveis e os meios termos são apenas pretextos filosóficos.

Quem engole apressado um prato de assado no forno, sem se deter nos pormenores que levaram a isso, desde o que esteve na origem daquele animal sacrificado para nosso deleite, o lavrar, o semear e o colher dos ingredientes, até ao saber e paixão de quem preparou, confeccionou e serviu, não pode simplesmente exclamar, de boca cheia - Isto está bom p´ra caralho! Quem assim procede está a passar pela vida demasiado apressado, sem se deter a questionar se aquele aroma e sabor é de tomilho, de hortelã ou alecrim..

Em suma, há coisas que só nos são plenas se absorvidas da mesma forma, cheia e intensa. O resto são cantigas de trovadores mal amanhados.

23 de junho de 2022

Marco dos quatro concelhos



O "Marco dos Quatro Concelhos" é um sítio amplamente referido e conhecido como correspondendo ao local de junção dos limites dos territórios dos concelhos de Santa Maria da Feira (freguesia de Canedo, Vale e Vila Maior), pelo poente, Arouca (S. Miguel do Mato), pelo sul, Castelo de Paiva (Pedorido, Raiva e Paraíso), pelo nascente e Gondomar (Lomba), pelo norte. Localiza-se nas coordenadas 41°00'06.8"N 8°23'24.3"W ou 41.001888, -8.390090.

O local pode ser acedido mais facilmente  a partir do lugar do Viso, na freguesia de S. Miguel do Mato, mas também pelo estradão que sobe pelo lugar de Rebordelo, em Canedo, ou mesmo pelo lado da Inha,  Labercos ou mesmo por Pedorido a partir das localidade da Póvoa.

O sítio, com base pavimentada, é composto por dois elementos em granito: O marco, uma espécie de pilar, com quatro faces, em cada uma delas com a inscrição de um dos quatro concelhos, apoiado numa base aproximadamente quadrangular e encimado por um elemento piramidal. Ainda uma mesa em granito ladeada por quatro bancos também em granito, um em cada lado.

Os actuais elementos foram reimplantados em 14 de Maio de 2004, supondo-se que no lugar onde noutros tempos existiriam elementos semelhantes mas desaparecidos.

As informações sobre as origens são escassas ou inexistentes. Por isso, eventualmente baseado em factos, mas já numa quase espécie de lenda, diz-se que em tempos antigos ali se reuniam ocasionalmente os administradores dos quatro concelhos para tomarem entre si decisões que a ambos dissessem respeito. A mesa, então seria redonda e não quadrada como a actual.

Não parece crível que pudessem existir assuntos do interesse simultâneo dos quatro concelhos, mas certamente, que enquanto territórios confinantes, teriam assuntos a tratar se não com todos, pelo menos com algumas das partes. Talvez sobre estradas ou caminhos comuns. Nesses tempos antigos pouco mais haveria a combinar.

Todavia e apesar de se designar de "Marco dos Quatro Concelhos, a verdade é que não existe um ponto único e comum aos quatro municípios. É certo que os limites estão muito próximos mas não são coincidentes num único vértice. De resto, por exemplo, Santa Maria da Feira não chega sequer a confinar com Castelo de Paiva.

A ter em conta os limites administrativos constantes em alguma cartografia, os atrás referidos elementos, o marco e a mesa, estão implantados na sua totalidade em terreno da freguesia da Lomba, do concelho de Gondomar, embora muito próximo do limite deste concelho com Santa Maria da Feira e logo de seguida a Arouca.

Por conseguinte, o local e os seus elementos são notoriamente simbólicos, e de facto localizados muito próximos entre os diferentes limites mas, como se disse, não coincidentes, apesar de essa ser uma ideia propagada e tida como verdadeira.

O local fica próximo do marco geodésico do Sobreiro ou Cabeço do Sovereiro, a uma altitude de aproximadamente 470 m. Sem os eucaliptos que predominam  nesse monte do Sobreiro e da serra do Camouco ou monte de Meda, que se interligam, é possível avistar paisagens longínquas, icluindo, do lado norte, trechos do rio Douro.

Tenho fotos próprias do lugar, que já visitei em várias ocasiões, a pé, de jipe e de bicicleta, mas utilizo, no entanto, pelo seu significado, uma foto de autoria do Pe. António Machado, ex-pároco de Caldas de S. Jorge, numa visita que em 2010 fez ao local com o saudoso Pe. Domingos Moreira, nessa altura já em estado de debilidade (faleceu em 10 de Janeiro de 2011).

21 de junho de 2022

O deixa andar...

Hoje em dia não é politicamente correcto dizer-se que alguém é tolo, ou muito menos atrasado mental. E nem deficiente. Quando muito, e correndo riscos de más interpretações, devemos dizer que é alguém especial com particularidades especiais ou apenas algumas dificuldades mentais ou motoras. Ou seja, já não há tolos. Quando muito, toleirões.

Passe a questão da semântica, importa que cada um tenha o devido respeito, enquadramento e tratamento de acordo com a sua condição.

Não me parece é que seja acertado nem correcto que a alguém nessas condições, tudo se permita, num deixa andar à vontade a fazer o que lhe apetece, a causar danos a terceiros e ao bem público, sem qualquer controlo ou vigilância, seja parental seja institucional. Só porque é "especial" não se podem fechar os olhos.

Enquanto isso, enquanto quem tem responsabilidades nesta matéria andar a assobiar para o lado em nome do politicamente correcto, andamos para aqui feitos anjinhos a ver disparates que ultrapassam a razoabilidade.

De repente parece que não há autoridade nem autoridades. Uma espécie de anarquia do disparate em que este por mais grosseiro que seja, é desculpável porque é engraçadinho e feito por alguém "especial". 

Até quando?