8 de junho de 2018

Casamentos

Uma opinião de Henrique Raposo, que diz tudo e diz muito sobre a actual realidade do casamento.

"...Quase nada no casamento obedece a uma lista predefinida de prazeres, projetos ou ambições. E não vale a pena pedir pausas ou fugas. A felicidade não está num fim de semana num hotel em Paris ou numa semana de praia sem os miúdos. Isso não é felicidade, é a negação da realidade. Um casamento que não encontra a felicidade na rotina instável do dia a dia é uma granada pousada na cómoda (já sem cavilha). 
Quem não aceita esta desordem criativa da vida não consegue estar casado muito tempo. E a maioria das pessoas do nosso tempo não consegue de facto lidar com esta instabilidade que destrona o controlo absoluto do “eu”. O “eu” pós-moderno herdado do Maio de 68 quer o controlo absoluto. Mas claro que o absoluto controlo acaba na absoluta solidão, numa taxa de divórcios a rondar os 70%, em famílias minúsculas, em filhos únicos, velhos sozinhos ou abandonados. 
Mas então qual é o segredo? Não há segredo. Há sacrifício e muito trabalho. As pessoas que se mantêm casadas não nasceram com um feitio casadoiro; estão é disponíveis para a renúncia e para mudar.""

[fonte e resto do artigo: RR]

Certificação da F&%#$)/%#


Bonito exemplar de uma saborosa F&%#$)/%#

Parece que anda por aí alguma celeuma à volta do processo de certificação dos fabricantes de fogaça no concelho de Santa Maria da Feira. Atento ao que tem vindo na imprensa, parece-me que há razões de fundo de ambos os lados, mas parece-me, igualmente, que há também algum quase fundamentalismo inerente, sobretudo aquele que em princípio impedirá e penalizará o fabrico e venda de fogaça (com tal designação) não certificada a próprios produtores do próprio concelho. É que nestas coisas corporativistas e de confrades, bem sabemos como,  sob o proteccionismo da lei,  é fácil resvalar para uma posição de poder face aos desalinhados, Bem sei que tudo foi feito dentro das normas regulamentares e legais e que o assunto até esteve em discussão pública, dela não se registando oposição. De resto, na realidade quase ninguém toma conhecimento destes procedimentos legais, de avisos e editais, não passando de formalismos burocráticos.

Mesmo que legais e regulamentadas, as certificações de produtos, alimentares e agrícolas, não deixam de ter alguns vícios de criação de elites, de interesses locais, de clubes e outros alinhados. A invocada defesa dos produtos e dos consumidores, uma coisa tão bonita, muitas vezes não passa de panegíricos e argumentos legais para justificar o injustificável ou legitimar alguma injustiça.

Num tempo em que se privilegiam cada vez mais as liberdades e garantias, sobretudo quanto às escolhas pessoais, não faz sentido algum que os consumidores deixem de ter a liberdade de escolher de comprar e consumir o que querem, certificado ou não. É que antes da certificação já havia fogaça e esta é um património colectivo e não do município, de algum agrupamento ou associação de fabricantes ou de alguma bucólica confraria. A apropriação desse património, (mesmo que dentro dos procedimentos legais) para com ela retirar ou condicionar esse direito a fabricantes com historial, só porque não alinharam no clube, por dificuldades financeiras (fala-se em valores exorbitantes), logísticas ou de mera opção, parece-me, no mínimo, injusto. Compreende-se e aceita-se (tal como outros produtos de origem ou denominação geográfica específicas) que este património e a sua produção se confinem ao território da Feira, mas que se condicione alguns dos produtores feirenses e localizados no próprio concelho, só porque fora do clube dito agrupamento, é que me parece pouco natural.

Apesar das virtudes de princípio de uma certificação e concretamente quanto ao produto fogaça, e não as ignoro ou relevo, estas por si só não garantem a qualidade intrínseca quanto ao gosto particular por parte de cada um dos consumidores e apreciadores. Não há laboratório que o garanta, porque gostos não se discutem, nem quanto ao que vestimos, nem quanto ao que comemos. Por outro lado, a não certificação não significa que um fabricante experiente e com história na arte não produza uma fogaça de qualidade mesmo que não certificada, quiçá de melhor qualidade e sabor do que a que venha a ser certificada. Aceito, óbvia e naturalmente, que não se venda com equívocos quanto a certificada ou não certificada, de modo a que o consumidor compre informado da diferença, mas que se impeça de vender com o nome de "Fogaça", mesmo que não de "Fogaça da Feira", acho uma injustiça, porque pode defender, seguramente, o interesse de uma dúzia de fabricantes alinhados num agrupamento ou mesmo de alguns confrades iluminados, mas também seguramente em detrimento de centenas ou milhares de consumidores. É que estas coisas ditas certificadas não ficam mais baratas a quem as compra, e tudo, vire-se e revire-se, resume-se ao dinheirinho. Aquele selinho vai ter um "preço".

Se na prática vai ser assim, ou não, veremos. Por mim, continuarei a comprar a "Fogaça", mesmo que sem o pingarelho da "Feira", no sítio do costume, certificada ou não, chame-se-lhe fogaça, fogacilha, fogaçona ou outra qualquer designação como um ilegível F&%#$)/%#, porque tanto quanto se saiba, a certificação não é ingrediente nem segredo de confecção e por isso diferenciadora. Supor que só a certificada assegura o cumprimento das boas práticas de confecção e garantia de qualidade é um pressuposto subjectivo e de passagem de menoridade a quem a  fabrica com igual qualidade desde há décadas. De resto parte-se do princípio legal que todos os fabricantes da indústria de pastelaria e panificação já cumprem as regras de higiene e qualidade. Ou estas vão passar a ser exclusivo dos fogaceiros certificados?
Pelo que dizem, para quem não alinhar no clube ou no agrupamento, a ASAE vai ser chamada como polícia a fazer cumprir os bons costumes e a assegurar a moralidade.
Esperemos que as notícias que se vão lendo estejam exageradas e que na verdade vai-se respeitar a liberdade tanto na venda como na compra e que os consumidores comprem informados e cientes da diferença, mas que acima de tudo, comprem, como sempre, a fogaça, com ou sem selo, até porque o selo não será comestível, suponho.

Um gato não deixa de ser gato só porque não é persa ou siamês. Mas lá virá o dia em que, não estando certificado, terá que ser vendido por lebre.

7 de junho de 2018

Desnorte


Diz-nos o DN:

"Dificuldade em usar rosa-dos-ventos, em prova de aferição do 5.º ano, ilustra problemas para analisar e interpretar informação

É apenas um indicador analisado, entre centenas, num relatório que abrange dois anos de provas de aferição - 2016 e 2017 - de várias disciplinas e anos de escolaridade. Mas não deixa de ser preocupante. Pelo menos do ponto de vista simbólico. Entre os mais de 90 mil alunos que realizaram as provas de aferição de História e Geografia do 2.º ciclo, no ano passado, 45% não conseguiram localizar Portugal continental em relação ao continente europeu utilizando os pontos colaterais da rosa-dos-ventos. Ou seja: não conseguiram localizar o país no Sudoeste da Europa."

Pelos vistos há quem conclua que, ...pelo menos do ponto de vista simbólico, é preocupante. Simbolismos à parte, é mais do que isso: É ignorância, pura e dura. Mesmo não se exigindo que, como nos tempos da "velha senhora" se saiba de cor-e-salteado os nomes dos principais rios, suas nascentes e fozes, bem como as serras e suas alturas, linhas de caminhos-de-ferro, suas estações e apeadeiros (, não só de Portugal Continental como das províncias ultramarinas, como ainda sabe o meu tio de 93 anos) seria elementar e básico que qualquer aluno da 4ª classe, pelo menos soubesse localizar Portugal no mapa, bem como a sua morada.

Esta ignorância é ainda mais grave quando hoje em dia qualquer criança ou adolescente tem nas suas mãos (constantemente) um equipamento capaz de, entre muitas inutilidades, ter também muitas apps de ensino e cultura e mapas, muitos mapas. E quanto a mapas, o do Google até nos entre pela porta adentro
De quem é então a culpa? Do Estado, do sistema, dos professores, dos pais, dos alunos? Porventura todos com responsabilidades porque a pretexto do uso das tecnologias, porque estas nos respondem a tudo ao toque de um dedo, deixaram-se de se ensinar certas matérias, ou então passam sobre elas como gato por brasas.

Mas é o que temos. Deixa andar!

Ai Junho, Junho

6 de junho de 2018

A Chica partiu




A Chica partiu. Repousa agora ao fundo do quintal, entre moutas de cidreira e ervas de S. Roberto e à sombra dos loureiros. A chorá-la terá sempre um regato, lamuriento, que passa logo à beira, um pouco abaixo.
Fica o consolo de ter tido cá por casa (desde que, ali por volta de 2009/2010, apareceu pequenita - foto abaixo -, sem se saber de onde) quase uma década de anos bem vividos e felizes, nada lhe faltando, nem mesmo o esforço emocional e financeiro de ainda se poder fazer algo num final em que problemas de saúde se agravaram muito rapidamente. Possivelmente mazelas de três semanas em que desaparecida ou rapinada, deixou de aparecer por casa antes do último Natal. Já quando se tinham perdido as esperanças, entrou de rompante em casa, magra, debilitada e faminta. Recuperou, passou o Natal em casa e como de costume entrava no presépio pernoitando ao lado do burro e da vaca, certamente também a aconchegar o Menino Jesus, sempre frio na sua túnica de barro. Depois disso teve uma recaída mas novamente cuidados veterinários devolveram-na à rotina diária, sempre perto de casa.
Mas pronto, agora partiu, não sem surpresa pois ainda há poucos dias andava na sua rotina habitual. Como um familiar chegado, a Chica deixa saudades e uma mágoa de tristeza e vazio. Mesmo tentados a recordar os momentos e peripécias alegres de um já passado, as suas manchas pretas laterais que pareciam dois grandes olhos, o seu rabo preto a terminar num branco pom-pom, que agitava sempre que lhe chamávamos pelo nome, só agravam a tristeza.
Fica a saudade de uma gata, que até nunca foi de mimos ou de deixar passar a mão pelo pêlo. De algum modo de uma natureza algo selvagem e daí o ter sido sempre livre. Afinal, cumpriu o seu destino de gato. Dorme agora à sombra do loureiro que algumas vezes trepou sorrateira à cata de algum pardal distraído.
É certo que um animal não merecerá nunca mais feição e carinho que uma pessoa, mas também, principalmente quando ao longo de dez anos faz parte da casa e da família e vive e partilha os momentos bons e menos bons.

6 de Junho de 2018

4 de junho de 2018

Charadas, pensamentos e chapéus

1 - E lá se foi a salsa-burra. Está reposta a circulação nos dois sentidos. Mas há por aí mais passadiços.

2 - E é este um mês de Junho? O de outros tempos, recuando aí uns 30 ou 40 anos, morreria de vergonha.

3 - O progresso diz-nos que os caminhos passam a estradas. Ora quando as estradas, ou parte destas, passam a caminhos, algo está mal ou o conceito de progresso está invertido, como quem diz, de pernas-para-o-ar. Mas se há coisa que de pouco vale, é chover no molhado ou malhar em ferro frio, até porque, como alguém dizia, "ovelhas não são para mato". Ora há rebanhos dos quais não faz sentido fazer parte enquanto neles houver velhos carneiros que já não mudam hábitos, não fazendo nem deixando fazer, pastando apenas onde a erva lhes cheira a viçosa. Quando assim é, mais vale deixar de mansinho o redil e deixar entregue o mesmo à "carneirada", como saberia dizer o indefectível presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, também ele um mestre em muitos ofícios e outras artes, incluindo a da autocracia. 

4 - Portugal, 2 - Tunísia, 2 ; Bélgica, 0 - Portugal, 0. A coisa promete. Afinal, no Europeu de 2016 a coisa foi mais ou menos por ali, tremida mas sem partir.

5 - O chapéu (vocábulo que deriva do francês antigo chapel, atual chapeau) é um item do vestuário, com inúmeros variantes, que tem a função principal de proteger ou enfeitar a cabeça.
Várias palavras estão relacionadas ao chapéu e seu uso, confecção e tipos. Chapeleiro é aquele que confecciona o chapéu, ao passo que a chapelaria é o local onde este é feito ou vendido. Já chapeleira é a caixa onde o mesmo é acondicionado. O hábito antigo de saudar alguém tirando-se o chapéu era denominado chapelada.
Nas casas, no comércio e em repartições públicas até meados do século XX o porta-chapéus era um móvel presente e indispensável - uma vez que as regras de etiqueta não permitiam o uso do adereço em lugares cobertos. [fonte: wikipédia]